MESAS TEMÁTICAS COORDENADAS AS LICÕES DE OUTUBRO PARA O BRASIL: classe e raça na especiÞcidade da revolução brasileira
CRISE ESTRUTURAL DO CAPITAL E A LUTA DE CLASSES Marcos Antônio Silva do Nascimento1 Resumo Este artigo tem como objetivo discutir sobre a crise estrutural do capital. Com base na análise marxista, pretende demonstrar que o modo de produção do capital já se constitui como um sistema em crise estrutural logo na segunda metade do século XIX. Com a formação da fase imperialista que empurra a humanidade para uma época de crises, guerras e revoluções, inicia um processo acentuado de destruição das forças produtivas, sempre em uma quantidade superior à desenvolvida na sua fase de boom. O artigo traz, também, uma reflexão sobre o papel das direções da classe trabalhadora que, embora tenham se rendido ao reformismo e ao revisionismo, abandonando a perspectiva da revolução socialista, a luta de classe não deixou de ser o motor da sociedade. Logo, o sistema capitalista, de crise em crise constrói maior degradação ambiental, além de, por meio do uso dos modelos macroeconômicos administram as crises cíclicas, jogando o preço (para) sobre os ombros da classe produtora.
Palavras-chave: Crise, Capital, classe social e imperialismo.
STRUCTURAL CRISIS OF CAPITAL AND CLASS FIGHTING Abstract This article aims to discuss the structural crisis of capital. On the basis of Marxist analysis we intend to demonstrate that the mode of production of capital 1
Bacharel em Serviço Social e Licenciado em História, Mestrando no Programa de PósGraduação em Desenvolvimento Sócio Espacial e Regional na Universidade Estadual do Maranhão (UEMA), Funcionário da Companhia de saneamento ambiental do Maranhão (CAEMA). E-mail:
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Artigo recebido em: 26/03/2018 Aprovado em: 09/05/2018
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already constitutes a system of structural crisis soon in the second half of the nineteenth century. With the formation of the imperialist phase that empowers mankind to a time of crises, wars and revolutions, begins a marked process of destruction of the productive forces, always in a higher amount than developed in its boom phase. The article also reflects on the role of the working class leadership, which, while surrendering to reformism and revisionism, abandoning the perspective of the socialist revolution, class struggle has not ceased to be the engine of capitalist society. Thus, the capitalist system from crisis to crisis builds a greater environmental degradation, in addition to using macroeconomic models to manage cyclical crises, throwing the price to the shoulders of the producing class. Keywords: Crisis, Capital, social class and imperialism.
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INTRODUÇÃO
Este artigo discute o tema da crise estrutural do capital e a luta de classes. Empreende um esforço em compreender o perfil desse fenômeno a partir de Marx, expresso em suas publicações O Manifesto Comunista e O Capital. Também se apoia na colaboração de outros intelectuais e ativistas do campo marxista que trataram da questão. Porém, diferente do expressado por alguns autores, que apontam o início da crise estrutural somente nos anos 19701 do século XX, aqui se tenta demonstrar que a crise estrutural já é parte orgânica da estrutura do capital desde os anos 70 do século XIX, como demonstra Lênin nos seus estudos sobre imperialismo fase superior do capitalismo, e expressada pelo próprio Marx já nos seus escritos iniciais. Nesse aspecto tentaremos entender a influência da crise estrutural do capital e os resultados que afetam a sociedade como parte do constante processo de destruição das forças produtivas e ao mesmo tempo observamos como se comportam as classes sociais diante do desenvolvimento do modo de produção do capital. Assim, o empenho será de levantar inquietações sobre as crises cíclicas e sua participação como complemento da crise estrutural: surgimento, desenvolvimento e fim. Qual a situação da classe trabalhadora enquanto classe social dominada ideologicamente na ordem societária burguesa? Entre quais teorias se moveram as classes exploradas e oprimidas nestes mais de 150 anos de crises capitalistas? Como tem sido possível manter o domínio do capital sobre as mentes da classe social produtora de riqueza por meio do trabalho humano para ampliar os lucros e
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o próprio capital? Esses são alguns questionamentos que se busca analisar neste texto. 2
DA ESCASSEZ À CRISE ESTRUTURAL DO CAPITAL
As primeiras crises que interferiram nas satisfações das necessidades básicas alimentares com as quais a humanidade se deparou foram as de escassez, muito em função das intempéries da natureza, a falta de conhecimentos e técnicas para serem utilizados pela espécie humana na construção do relacionamento com a natureza, na busca de recursos naturais para serem transformados em meios de subsistências. Na infância do gênero humano, os homens permaneciam nos bosques tropicais ou subtropicais e viviam, pelo menos parcialmente, nas árvores. Só isso explica que continuassem a existir em meio às grandes feras selvagens. Os frutos, as nozes e as raízes serviam de alimento. O principal progresso desse período é a formação da linguagem articulada. Nenhum dos povos conhecidos no período histórico estava nessa fase primitiva de evolução. (ENGELS, 1984). Para Engels (1984), a espécie humana passa por fases que vão desde o aprendizado da caça de peixes, coleta de nozes e outras frutas que possibilitassem a alimentação, mas as coisas começam a ter um avanço significativo com a descoberta do fogo e construção das armas tipos lanças que serviram para facilitar na caça de grandes animais, assim como na defesa de outros ataques. Contudo, a espécie humana permaneceu por milhares de anos vivendo espalhada pelo mundo nas condições de nômade, sempre em busca de um lugar mais adequado para garantir a sua sobrevivência, e nada mais comum que as localidades próximas ou às margens dos rios e lagos. Assim, passadas essas fases, a humanidade caminhou para o seu futuro com o surgimento de novas invenções, fortalecendo-se cada vez mais diante da natureza, a ponto de construir o domínio sobre técnicas de produção capazes de garantir a alimentação e até excedente. A história de todas as sociedades que existiram até nossos dias tem sido a história da luta de classe. Homem livre e escravo, patrício e plebeu, senhor e servo, mestre de corporação e oficial, numa palavra, opressores e oprimidos, em constante oposição, tem vivido numa guerra ininterrupta, ora franca, ora disfarçada, uma guerra que terminou sempre, ou por uma transformação revolucionária
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da sociedade inteira, ou pela destruição de suas classes em luta. (MARX, 2010, p. 7).
É baseada na ideia de permanente transformação social e do desenvolvimento das forças produtivas que a humanidade passará por vários momentos históricos que vêm do comunismo primitivo, barbárie, modo de produção conhecido como asiático, o escravismo e o feudalismo. Mas, somente com as revoluções burguesas é que a humanidade dará um salto gigantesco no desenvolvimento das forças produtivas. A burguesia, durante seu domínio de classe, apenas secular, criou forças produtivas mais numerosas e mais colossais que todas as gerações passadas em conjunto. A subjugação das forças da natureza, as máquinas, a aplicação da química à Indústria e à agricultura, a navegação a vapor, as estradas de ferro, o telégrafo elétrico, a exploração de continentes inteiros, a canalização dos rios, populações inteiras brotando na terra como por encanto - que século anterior teria suspeitado que semelhantes forças produtivas estivessem adormecidas no selo do trabalho social? (MARX, 2010, p. 15).
O avanço da razão e do conhecimento científico possibilitou o surgimento de uma teoria revolucionária que criou um ambiente capaz de assegurar uma ampla unidade envolvendo: burgos, artesãos, intelectuais, servos do regime feudal e setores da aristocracia estatal teocêntrica, em processo de luta para romper com a estagnação do desenvolvimento das forças produtivas, sob a direção da burguesia, já conformada enquanto classe social especializada nas práticas de mercado e com acúmulo de riquezas em ouro, prata e outros objetos de valor. A burguesia soube aproveitar esse momento histórico, tomando em suas mãos a direção das lutas revolucionárias sob o lema: liberdade, igualdade e fraternidade. Assim, consegue arrastar os demais setores oprimidos do antigo regime para formação do modo de produção que se transformaria em capitalismo. Diferente da ideologia burguesa, não é o capital que desenvolve as forças produtivas, mas o capital se faz existir com a constituição de meios de produção capazes de massificar a produção de mercadorias, combinados com o avanço da luta pela emancipação humana. Contudo, é no apogeu do capitalismo que passa a existir uma forte aptidão para desenvolver com maior velocidade as forças produtivas e garantir para a humanidade a sua plena realização das necessidades básicas fundamentais para a sobrevivência em perfeita harmonia com as técnicas e a natureza. Entretanto, o caráter social
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da produção e a apropriação privada levariam necessariamente a um processo de desigualdades econômicas e, ao mesmo tempo, fariam com que a classe social controladora da economia também passasse a ser a classe socialmente dominante na sociedade. (MARX, 1984). 2.1 Destruições das forças produtivas bases da crise estrutural do capital Esse processo seria ajustado pelas contradições do trabalho social e apropriação privada de toda riqueza socialmente produzida. O desenvolvimento do capital, longe de realizar as necessidades humanas em totalidade, terminou por mostrar sua face desigual e contraditória ao ser um sistema de mercado, onde além de produzir um excedente apropriado pela burguesia, faz com que todas as necessidades humanas se realizem cada vez mais em uma relação mercantil entre os que se encontram em condições de comprar e vender. As relações burguesas de produção e de troca, o regime burguês de propriedade, a sociedade burguesa moderna, que conjurou gigantescos meios de produção e de troca, assemelha-se ao feiticeiro que já não pode controlar as potências internas que pôs em movimento com suas palavras mágicas. Há dezenas de anos, a história da indústria e do comércio não é senão a história da revolta das forças produtivas modernas contra as modernas relações de produção e de propriedade que condicionam a existência da burguesia e seu domínio. Basta mencionar as crises comerciais que, repetindo-se periodicamente, ameaçam cada vez mais a existência da sociedade burguesa. Cada crise destrói regularmente não só uma grande massa de produtos já fabricados, mas também uma grande parte das próprias forças produtivas já desenvolvidas. (MARX, 1984, p. 16-17).
O modo de produção do capital, que significa a estrutura econômica da sociedade capitalista, de início serviu para estimular a liberalização do desenvolvimento das forças produtivas, e, sem dúvida, ainda hoje possui tais condições, mesmo que seja de forma contraditória. Contudo, no mesmo nível que reproduz forças produtivas, também precisa destruir em uma velocidade nunca vista na história da humanidade. É, portanto, uma permanente contradição que gera danos ambientais e degradação de parte do meio ambiente natural de forma cada vez mais irracional. Nos empurra para ambientes artificiais. Porém, em todas as crises, é a classe trabalhadora, segmento social
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que vive da venda de sua força de trabalho, construindo valor para o capital, a que sempre paga o preço mais alto das crises, juntamente com a sua própria pauperização. 2.2 Crises cíclicas e sua inevitabilidade e alicerce da crise estrutural Segundo Marx (1983, p. 183-184): O capital se constitui na medida em que as mercadorias produzidas em um processo social são apropriadas por uma parte minoritária da sociedade - a burguesia, pois a parte que detém o controle dos meios de produção se sente no direito de propriedade sobre as mercadorias e até a força de trabalho também tida como tal, logo assim os capitalistas transformam as mercadorias em dinheiro e uma parte do dinheiro é transformada em novo capital: capital constante (máquinas, prédios, ferramentas, insumos, matéria prima e etc.) e capital variável (força de trabalho), ou seja, o excedente, a mais-valia tem uma parte que se transforma em lucros e outra na constituição de um novo capital, mais capital. Por outro lado, à medida que a taxa de valorização do capital global, a taxa de lucro, é o aguilhão da produção capitalista (assim como a valorização do capital é sua finalidade), sua queda retarda a formação de novos capitais autônomos, e assim aparece como ameaça para o desenvolvimento do processo de produção capitalista; ela promove superprodução, especulação, crises, capital supérflua.
A produção do capital obedece a um caminho chamado ciclo econômico, o qual passa por um processo de crescimento até a superprodução e, em seguida, vem a estagnação da capacidade de venda do produzido, onde se inicia a crise, levando à recessão e à depressão. Para os economistas burgueses, todo o processo é naturalizado, mas o problema são os efeitos e os resultados desse ciclo, aqueles que se apropriam da riqueza produzida têm se beneficiado do modo de produção do capital em todos os momentos do funcionamento do sistema, até nas crises, onde na atualidade se faz uso dos ajustes recessivos. A crise é a confirmação do rebaixamento das condições socioeconômicas oferecidas à classe trabalhadora e das contradições do modo de produção do capital, onde a produção social é cada vez mais apropriada de forma privada. Essa lógica de funcionamento da estrutura econômica vigente leva a uma crescente concentração de renda por meio da ampliação dos excedentes no controle dos capi-
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talistas, agigantando os lucros e a massa de capital global; por outro lado, constitui uma grande massa de pessoas com menos poder de compra, ampliando as desigualdades e o desequilíbrio econômico entre grupos e classes sociais. A participação do trabalho na renda nacional vem declinando em todas as principais economias capitalistas (OCDE – Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico) desde 1980. A defasagem tem sido particularmente grande nos EUA, onde a produtividade cresceu 83% entre 1973 e 2007, enquanto os salários reais médios aumentaram apenas 5%. A parte do rendimento nacional que vai para os salários caiu aos seus níveis mais baixos desde que estes registros começaram a ser feitos depois da II Guerra Mundial. (SEWELL, 2013, p. 1).
As crises do capital, além dos danos realizados na vida dos trabalhadores, também geram danos ao meio ambiente. É cada vez mais constante, pois quanto mais se desenvolvem forças produtivas na fase de crescimento do capital, maior é a exploração irracional dos recursos naturais, bem como a composição de tecnologias e técnicas com uso de produtos químicos que agridem diretamente a vida de muitas espécies, incluindo a humanidade, em sintonia com uma degradação ambiental. Lênin, no final do século XIX, anunciou em seus estudos sobre o desenvolvimento do capitalismo, que a integração de muitos ramos econômicos em um único capital leva a fase dos monopólios dos capitalistas sobre as mercadorias que servem de base para as necessidades humanas. As correntes revisionistas passaram a acreditar que as crises iriam ser raras, e que a nova fase de trustes e cartéis dos bancos levaria à eliminação total das crises do capital. Também após a crise dos anos 70 do século XIX, o capital iniciou um processo de crescimento marcado por melhorias nas condições de vida das populações dos países capitalistas centrais. Então, esta situação influenciou no fortalecimento das concepções reformistas e revisionistas assumidas por intelectuais e ativistas pertencentes ao campo marxista. Assim, os mesmos passaram à defesa do capitalismo como ordem econômica permanente e infinita. A partir de 1880, produz-se o salto mais fantástico, até então, das forças produtivas. O desenvolvimento da produção é colossal. Nos países capitalistas avançados, produz-se uma imensa acumulação de capitais. Essa época de auge prepara a decadência do sistema
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capitalista. Como produto dessa tremenda acumulação de capitais, surgem os monopólios e o imperialismo. (MORENO, 2003, p. 34).
O resultado da bonança do capital resultou em novas crises de superprodução que levou inclusive a humanidade a um banho de sangue com uma grande matança realizada na primeira grande guerra da época imperialista. Uma destruição das forças produtivas ao extremo, dando certeza da existência de uma época de crises, guerras ou revoluções. (LÊNIN, 1979). Ou seja, a manifestação mais clara da crise estrutural do capital, visto que as rachaduras se ampliavam na estrutura do processo de formação da economia capitalista. Ora, o próprio Marx anunciou a existência dessa rachadura, em forma de crise estrutural do capital, mas acreditava fortemente na capacidade revolucionária do proletariado de sua época, sendo que a revolução socialista era inevitável em função da produção de crises permanentes nas relações sociais do capital. Assim, resolveram fazer concessões aos trabalhadores tanto no campo econômico como no político, passando a reconhecer a sua participação no parlamento. Dessa forma, a burguesia se relacionava com uma nova organização política da classe trabalhadora com concepções reformistas, fortalecendo o campo da II internacional2, pois com a derrota da Comuna de Paris e a liquidação da I Internacional, construída com a efetiva participação de Marx, uma vanguarda de intelectuais e ativistas iria para a convivência pacífica com o capital no espaço nacional. Isso marcaria uma fase de lutas entre nações, dando bases para o fortalecimento de um movimento revisionista e reformista no seio da luta da classe trabalhadora. [...] os fundadores do socialismo científico tiveram que enfrentar não só poderosos inimigos externos, mas também opositores internos que defendiam ideologias pequeno-burguesas e atuações sectárias e oportunistas. Depois da derrota da Comuna de Paris, essas forças destrutivas se desenvolveram em condições históricas propícias, levando a desintegração e finalmente a dissolução da I internacional em 1878. (SAGRA, 2010, p. 19).
O capital, embora não esteja escrito na história das ciências sociais a necessidade de sua existência, foi importante no seu nascedouro, pois contribuiu para avançar na divisão social do trabalho e, em nome da ganância capitalista, impulsionou o uso das técnicas e do conhecimento como forma de desenvolver as forças produtivas. Entretanto, a sua forma de realizar produção para o mercado levaria
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ao afastamento de milhões do direito de consumir. Ao mercado vai quem tem poder de compra. Além de fazer crescer as desigualdades entre classes sociais e regiões. Muitos afirmam que as técnicas foram produto do modo de produção do capital, mas o processo histórico demonstra ser o contrário, pois o surgimento das técnicas, da ciência, da razão antecede o modo de produção capitalista e foi essa a principal ferramenta que motivou as revoluções burguesas, que ao grito de liberdade, igualdade e fraternidade arrastaram os demais setores explorados e oprimidos do antigo regime para consolidar seu modo de produção e distribuição da riqueza produzida. Sendo a burguesia classe dirigente, se aproveitou para assumir o controle das revoluções, retirando a possibilidade das demais classes sociais terem o direito de decidir sobre o que produzir, como produzir, e para quem produzir. Para Trotsky (2008), esse fenômeno leva ao uso crescente de máquinas e mais matérias-primas na produção do capital com a redução significativa da força de trabalho humana. Assim, os preços das mercadorias tendem a cair, bem como o valor da força de trabalho. E, com essa lógica, haverá um desequilíbrio no ciclo ou fluxo circular da economia, onde os trabalhadores, ao reduzirem sua participação no capital, terão obrigatoriamente que reduzir seu consumo, pois assim as vendas tendem a cair e inicia-se um período de crises com recessão, chegando posteriormente à depressão. Com a queda da taxa de lucro, cresce o mínimo de capital que o capitalista individual precisa ter em mãos para o emprego produtivo do trabalho: o mínimo necessário tanto para a sua exploração em geral, quanto para que o tempo de trabalho necessário à produção das mercadorias, para que não ultrapasse a média do tempo de trabalho socialmente necessário à produção das mercadorias. E, simultaneamente cresce a concentração, além de certos limites, um capital grande com pequena taxa de lucro acumula mais rapidamente que um capital pequeno com taxa grande. Essa concentração crescente provoca por sua vez, em certo nível, nova queda da taxa de lucro. A massa de pequenos capitais fragmentados é em virtude disso forçada a enveredar pela trilha da aventura: especulação, fraude creditícia, fraude acionaria, crises. (MARX, 1983, p. 189).
E com a crise vem a destruição das forças produtivas como forma de justificar a constituição de novas forças produtivas, preparando o terreno para o renascimento do capital que renascerá com mais força e mais ganância. (MESZAROS, 2002). É por isso que o ca-
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pital é produtivo, ou seja, uma relação social para o desenvolvimento das forças sociais. Ele cessa de existir enquanto tal, apenas onde o desenvolvimento dessas forças produtivas encontra sua barreira no próprio capital. Desde a segunda metade do século XIX, as crises mundiais no contexto da pluralidade do capital industrial, isto é, na fluidez da conexão e da autonomização das atividades produtivas e improdutivas, reais e ideais fetichizadas, ativas e inativas, etc. de seus grupos funcionais e proprietários específicos, que repartem o lucro gerado na produção, uma vez deduzidos os custos com as condições naturais (meios de produção) e sociais (salários). Existem dois movimentos de totalização, a saber, objetivamente da reprodução a crise do capital e subjetivamente das relações de classe a luta de classes. (FARIAS, 2015, p. 25).
A crise estrutural do capital nasce logo na própria juventude da ordem burguesa com base nas contradições existentes no interior das relações sociais do capital, que faz com que o mesmo precise da permanente destruição e reprodução das forças produtivas, de forma que a crise estrutural não poderia aparecer somente nos anos 70 do século XX. Essa foi uma crise de superprodução com efeitos mais nocivos às economias, em face de sua maior integração econômica no globo e do longo período de crescimento econômico no pós-guerra com o uso do plano Marshall e do modelo Taylorista-fordista3 de produção que levou à superprodução, grande concentração na acumulação de capital e terminou por se transformar em uma crise política entre as nações produtoras de petróleo que trataram de lutar para defender seus territórios. Sendo o seu principal recurso natural esgotável em forma de matéria prima para servir às grandes potências econômicas, aumentou em 400% o preço do barril de petróleo, elevando de 3 para 12 dólares. Para Marx (1983), com o desenvolvimento do capital também cresce a massa de trabalho social, constituindo uma classe trabalhadora mais forte, pois ao crescer a massa de capital global cresce, também, a massa de trabalho. De tal maneira que ao chegar ao seu ápice de crescimento, quanto maior a integração do capital maior será a participação dos trabalhadores, pois assim maiores são as dores causadas nos que sofrem em tempos de crises que aparecem inicialmente em forma de superprodução, abrindo a possibilidade de estagnação e posterior recessão, cujo caminho mais doloroso é a depressão. Então, são inevitáveis os conflitos entre as classes sociais
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e parece ser impossível que o capital faça constantes concessões econômicas e sociais. 2.3 A classe trabalhadora nas crises do capital Na luta entre as classes são oferecidas as condições para uma reflexão sobre a sociedade e o capital. Então, a tarefa dos intelectuais que possuem compromisso com a classe trabalhadora no processo de investigação é expor a situação da atual fase do capital, com o objetivo de estimular os segmentos explorados e oprimidos para mobilizações em defesa de uma ordem societária que supere o modo capitalista de produção e conduza a humanidade para emancipação plena. Nos momentos de crises, quando um trabalhador perde seu emprego, ele recebe um forte choque emocional. Então, quando o capital em momentos de crises entra em falência, o trabalhador também se sente falido. O sentimento de destruição é incorporado pelo trabalhador de forma tamanha que ele busca fazer de tudo para evitar o fechamento da empresa. No contexto das crises o trabalhador tem uma tendência de pensamento à colaboração com os capitalistas na reconstrução de um novo ciclo econômico que possa trazer para ele novamente seu emprego na mesma ordem econômica. Então, o processo de crise não pode ser visto como estrada natural para uma revolução, mas também como um aprendizado, a depender das atividades da luta direta, da permanente agitação e formação. Isso estimula a classe trabalhadora a assumir seu papel de sujeito social e político, como já de fato é um sujeito social e econômico, vivem igualmente nas mesmas condições de moradia e tem as mesmas realidades econômicas e sobrevive da venda de sua força de trabalho. De tal forma Marx (2010) traz a compreensão que os trabalhadores nada têm a perder no capitalismo, pois tem somete um mundo a ganhar em caso venha a fazer uma revolução social capaz de por fim no modo de produção do capital. O Estado na atualidade continua sendo como Marx (2010) afirmou nada mais que: uma espécie de comitê executivo dos negócios da classe dominante, da classe que controla e domina o capital. Contudo na fase Imperialista onde prevalecem os monopólios, esse Estado não mais representa os interesses de uma burguesia nacional, mas o Estado nacional e sua burguesia passam a ser um setor, ou
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célula do Estado Imperialista, sempre com a hegemonia das nações mais forte economicamente e militarmente do globo. Ou seus organismos instituídos para tal, como uma face oculta do capital imperialista. Para Lênin (1979), as novas características do desenvolvimento do capital são: concentração da produção em poucas empresas por meios de fusões ou compras das empresas menos rentáveis pelas mais poderosas; fusão do capital bancário com o capital industrial; exportação do capital para países periféricos; divisão dos territórios internacionais pelos capitais monopolistas, culminando com a divisão do mundo pelas grandes potências econômicas. Ou seja, poucos países dominavam a vida econômica dos povos, entre eles Alemanha, Inglaterra, França e Itália. Essa situação levou a Alemanha a ser a maior potência econômica imperialista dos anos 1890 a 1900 e abriu caminho para constituição do domínio do capital financeiro que seria produto dessa fase, no entanto era posta uma nova era que iniciaria, também, uma nova época. Para Lênin (1979), época de crises, guerras e revoluções que abriria um período de lutas intensas e o capital levaria à destruição das forças produtivas em uma escala superior nunca vista antes no modo de produção capitalista. Portanto, a crise não mais seria simplesmente conjuntural, mas na estrutura do capital, pois não há mais espaço para lutas por reformas; está na ordem do dia a luta pela tomada do poder para a classe trabalhadora. Um dos grandes problemas do modo de produção do capital são as constantes crises cíclicas que formam as bases para a existência da crise estrutural, pois o fim de uma sempre coincide com o início de outra, que levará a outra crise a futura crise é cada vez mais forte e é constituída como parte de uma maior - a superprodução, e a necessidade de destruição de forças produtivas com maior intensidade- criando sempre danos maiores aos trabalhadores, ao meio ambiente e anunciando mais degradação ambiental. Isso faz com que muitas espécies sejam extintas da biodiversidade, tornando a reprodução da vida cada vez mais complexa e com custos mais elevados, [...] enfatizam a ausência de uma crítica radical e classista à problemática ambiental e o quanto isto tem contribuído para, a construção de um consenso que unifique interesses de classes antagônicas em torno da defesa do desenvolvimento sustentável. Para elas, o desenvolvimento sustentável é aquele que permite reverter a dinâ-
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mica de uso dos recursos e dos serviços ambientais, equilibrando a velocidade de utilização e de recomposição dos ecossistemas; é a conjugação entre a sustentabilidade ambiental e social – faces do mesmo processo –, que apenas se realizarão quando o capitalismo for ultrapassado; e implica o respeito à natureza e à igualdade social. (MOTA; SILVA, 2009 apud NUNES 2012, p. 46).
Compreende-se que o modo de produção do capital sempre vai necessitar no seu processo sistêmico destruir forças produtivas e, consequentemente, danos ao meio ambiente, acarretando degradação social e ecológica. No entanto, foi nas três últimas décadas que as manifestações das insustentáveis relações com o planeta constituíram um conjunto de contradições que levaram à identificação da denominada crise ambiental. (NUNES, 2012). Contudo, para Harvey (2011) o capital ainda evolui e, ao mesmo tempo que gera todos os problemas de ordem social e ambiental, também garante para uma pequena parcela de pessoas condições de vida nunca vistas antes, a exemplo das comunicações, dos antibióticos, da alimentação e todo um arsenal de tecnologia que faz com que as pessoas possam viver em ambientes mais agradáveis. 3
CONCLUSÃO
As contribuições teóricas deixadas por Marx e outros, a exemplo de Lênin, Trotsky e Moreno, constituem um importante referencial teórico no sentido de colaborar para que intelectuais acadêmicos e ativistas possam ampliar suas pesquisas e as coloquem à disposição dos setores oprimidos e explorados da sociedade. Um produto em forma de teoria, capaz de fazer avançar a edificação de uma ordem societária sem dominação de classe e que seja a estrada para a emancipação humana, com respeito ao meio ambiente. Marx não poderia substituir a sua genialidade investigativa, a ter sido um profeta e em seu tempo deparou-se com um avanço da luta revolucionária, com as constantes crises do capital, sendo que acreditava firmemente no potencial revolucionário da jovem classe operária ainda despossuída de grandes influências do pensamento reformista, sem intenções por vocações para as alianças permanentes com os inimigos da classe trabalhadora. Marx parece ter subestimado a capacidade de a burguesia chegar a sua fase imperialista e ampliar o seu domínio econômico, e ao mesmo tempo o controle de mentes de intelectuais de uma importante vanguarda da classe trabalhadora que passaria a revisar o
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pensamento marxista na ideia de tornar ideologicamente impossível a ditadura do proletariado e a internacionalização da luta comunista. Como visto no decorrer deste trabalho, logo nos anos 70 do século XIX as características da crise estrutural no modo de produção do capital, de caráter universal, atingiu vários ramos econômicos: uma maior integração global envolvendo todas as potências econômicas capitalistas e, evidentemente, seu caráter mais duradouro e o resultado em uma grande destruição de forças produtivas, então, incluídas uma guerra civil revolucionária a Comuna de Paris e as jornadas de greves pela regulamentação da jornada de trabalho de 8 horas que resultou no assassinato de lideranças do movimento e demissão com uma brutal repressão em massa aos trabalhadores grevistas. A existência das crises econômicas cíclicas ou estrutural não leva os trabalhadores por si só a uma revolução. Também essa confirmação da crise estrutural não é o suficiente para acreditar na autodestruição do capitalismo, Então, deve-se ter a certeza que o esforço para construir uma sociedade baseada na igualdade e na emancipação humana exige dedicação constante na consolidação de uma teoria revolucionária que supere o individualismo, a concorrência, assim como o pensamento liberal e suas incertezas com o futuro da humanidade e do planeta. Portanto, entende-se como desafio para os intelectuais, acadêmicos, pesquisadores e docentes comprometidos com os interesses da classe trabalhadora e ainda da edificação de uma ordem societária sem explorados e nem oprimidos, o dever com o permanente esforço para estimular estudos e pesquisas que colaborem com os sujeitos sociais produtores da riqueza social a romper a alienação e compreender o funcionamento da sociedade do capital. REFERÊNCIAS ENGELS, F. A origem da família, da propriedade privada e do Estado. Rio de Janeiro. Civilização Brasileira, 1984. FARIAS, F. Crise global: ampulheta fatal. São Paulo: Xãma, 2015. HARVEY, D. O enigma do capital. São Paulo: Boitempo, 2011. LÊNIN, V. I. Imperialismo, fase superior do capitalismo: ensaios popular in obras escolhidas. Tomo 1. São Paulo: Alfa- ômega, 1979.
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