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Description
Disciplina: GEOLOGIA GERAL; Cursos de : Agronomia e Geografia
Tema 5
zona da neve eterna. O limite inferior da zona da neve eterna é variável, em função da latitude. Assim, nos polos, o limite inferior coincide com o nível do mar (0 metros), enquanto que nas zonas tropicais/equatorial, esse limite encontra-se aos 5000 metros (por exemplo, Monte Kilimanjaro, no Quénia). Já nos Alpes (zona temperada) esse limite está aos 2600-3100 metros. Esses limites, além de variarem com a latitude, variam com as estações do ano. Assim, no verão esse limite sobe, enquanto que no inverno desce. Para a formação dos glaciares, há dois requisitos fundamentais, que existem, como se viu, nas regiões polares e em grandes altitudes: Fig. 5.25. Imagem dum glaciar, na Ilha Ellesmer, Canadá
a) precipitação atmosférica (em forma de neve); b) temperaturas suficientemente acumulação de neve.
baixas
para
permitir
a
Quando a temperatura desce abaixo de 0°C, algum vapor atmosférico solidifica, originando cristais de neve (sistema hexagonal, Fig. 3.26). A acumulação destes cristais origina os campos de neve, de textura porosa e fofa, de densidade igual a 0.05, estando os poros cheios de ar. À medida que o tempo passa, a neve vai-se acumulando, e nas zonas mais profundas a neve começa a adiminuir a sua porosidade e a compactar, originando gelo granular (Fig. 5.26). Ou seja, passamos duma situação em que um sedimento solto (neve) passa a uma rocha sedimentar consolidada (gelo). O ar vai sendo expulso dos poros, e a densidade vai aumentando. Quando esta densidade atinge 0.8, passamos a ter uma rocha metamórfica.
Fig. 5.26. Transformação da neve em gelo
É interessante notar que a dureza do gelo é muito variável, consoante a temperatura a que se encontra. Assim, a 0°C, a dureza é de 1-2 (talco-gesso), mas a –50°C a dureza é 6 (ortoclase). O gelo é muito pouco resistente às tensões e por isso move-se e deforma-se facilmente. O movimento dá-se por acção da gravidade e acontece quando as camadas mais inferiores do gelo sobre o substrato rochoso fundem. Neste caso, os movimentos são lentos. Há, contudo, movimentos rápidos, a que se dá o nome de avalanches (Fig. 5.27). Como resultado do seu movimento, os glaciares apresentam à sua superfície inúmeras fendas, algumas das quais chegam a atingir 100 metros de profundidades. O movimento dos glaciares pode ser posto em evidência através dum método simples, como ilustra a Fig. 5.28. Também a mesma figura mostra que a velocidade do movimento do glaciar varia: a)
é maior na parte média (100 m/ano) do que nos flancos;
b)
é maior à superfície que no fundo;
c)
aumenta com o declive.
Fig. 5.28. Movimento de glaciar Fig. 5.27. Imagem duma avalanche
Apesar de serem enormes massas de gelo, os glaciares podem apresentar fenómenos de fusão, quer à superfície, quer nos flancos, quer ainda no seu fundo. A fusão superficial é geralmente causada por variações sazonais do clima, ao passo que a fusão nos flancos é causada por contacto com rochas mais quentes. Por seu lado, a fusão de fundo é causada pela pressão das camadas superiores de gelo sobre as inferiores. 92
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Todos estes fenómenos de fusão levam a que as águas resultantes desçam até ao fundo, constituindo a torrente subglaciar. Os glaciares e acumulações de gelo atingem o seu máximo sobre a Antártida e sobre a Gronelândia. Assim, no continente austral a espessura ultrapassa os 4000 metros e na Gronelândia ultrapassa os 3000 metros. A acção geológica dos glaciares é imensa, desde a erosão, ao transporte e à sedimentação. Como se pode bem imaginar, o deslocamento de milhões de toneladas de gelo sobre um substrato rochoso provoca um desgaste imenso (erosão), levando ao arranque de enormes quantidades de rochas e polindo o substrato onde o gelo se desloca. Também o substrato fica riscado pelo arrasto dos blocos de rocha. Assim, o aparecimento de superfícies rochosas polidas e estriadas são indicativas de antigos leitos de glaciares. Por outro lado, os vales onde em tempos fluiram glaciares têm a forma de um U (Fig. 5.29), em contrapartida aos vales dos rios, que têm a forma de um V. O transporte de sedimentos pelos glaciares dá-se tando à superfície, nos bordos e no fundo, sendo nestes últimos dois locais onde o transporte é maior, por ser aí que se dá o contacto gelo/rocha. A carga aqui transportada é geralmente da dimensão de areia e de silt. Por seu lado, a carga de superfície tem origem na queda Fig. 5.29. Vale glaciar em U de material das encontas dos pontos mais altos do vale, e aí as dimensões dos sedimentos podem ser enormes (algumas toneladas), chamando-se blocos erráticos (Fig. 5.30). A deposição dá-se quando o gelo derrete. Assim, a maior parte dos depósitos glaciares concentra-se na foz dos glaciares, isto é, na sua parte terminal. A acumulação de depósitos glaciares tem o nome de moreias, e podem ser moreias terminais ou moreias laterais. Fig. 5.30.Enorme bloco assente sobre gelo glaciar. Comparar com o tamanho do helicóptero. Ilha de Baffin, Canadá.
2.3.4. O Ciclo Hidrológico Depois de termos falado da água como agente da Geodinâmica Externa, tanto na forma gasosa, como líquida e sólida, convém agora fazermos referência ao Ciclo Hidrológico, definido como o processo de transferência da água de reservatório para reservatório, ou seja, como ela se move de lugar para lugar. A Fig. 5.31 mostra um esquema representativo do ciclo hidrológico.
Fig. 5.31. Ciclo hidrológico
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Na Terra há vários reservatórios de água: oceanos, rios, lagos, glaciares, espaços no subsolo, a atmosfera e a biomassa (seres vivos), dos quais os oceanos contêm a maior parte da água (1350x10 6 km3). A água é anualmente transferida de reservatório para reservatório, mas a quantidade total de água mantém-se constante e em equilíbrio A água que se evapora anualmente dos oceanos, 361x10 3 km3/ano (equivalente a uma camada de água de 1 metro de espessura), é superior à quantidade de precipitação anual sobre os oceanos (324x10 3 km3/ano). O excesso (37x103 km3/ano) é levado para cima dos continentes pela atmosfera. Sobre os continentes, ocorre o oposto: mais água cai (99x10 3 km3/ano) do que sai pela evapotranspiração (62x103 km3/ano). A evapotranspiração engloba as perdas de água por evaporação e por transpiração dos seres vivos. O ciclo fecha-se e equilibra quando os rios removem o excesso de água (37x10 3 km3/ano) para os mares e oceanos. Por seu lado, os glaciares, ao derreterem, contribuem com água líquida que tende a ir também para os oceanos. Os processos vulcânicos, contudo, adicionam continuamente ao ciclo quantidades de vapor de água de que não se sabem os valores. 2.4. OS SERES VIVOS Os seres vivos, tanto animais como plantas, têm um papel extremamente activo na modelação da crusta terrestre. A actuação dos seres vivos sobre a crusta tanto pode ser construtiva como destrutiva (demolidora). 2.4.1. Seres demolidores a)
Animais: entre os animais demolidores, temos a referir os fóladas (teredos), que são moluscos lamelibrânquios que furam as rochas e por isso são chamados de litófagos (Fig. 5.32). Há ainda animais escavadores, como as minhocas, as formigas, as térmites, as toupeiras, os ratos, os coelhos, etc., que revolvem a terra, facilitando uma maior acção dos agentes atmosféricos. Fig. 5.32. Molusco litófago responsável
b)
Plantas: as plantas superiores, por intermédio das suas raízes, colaboram activamente na destruição da crusta (Fig. 5.33). Por um lado, estas raízes, crescendo em fendas das rochas, actuam como verdadeiras cunhas, fazendo desconjuntar as rochas mais resistentes. Por outro lado, as raízes corroem as rochas através das trocas químicas resultantes do seu metabolismo. Aqui intervêm também bactérias, algas, fungos, líquenes e musgos.
Se, por um lado, estes seres têm estas acções destrutivas, eles estão por outro lado a contribuir para a formação de solos, essenciais para a agricultura.
pela destruição de rochas
Fig. 5.33. Acção das raízes duma árvore
2.4.2. Seres construtores a)
Animais: entre os animais construtores, os mais activos são os corais, criando enormes recifes de coral. A Grande Barreira de Coral da costa oriental da Austrália (Fig. 5.34) é o exemplo mais espectacular, com mais de 4000 km de extensão. A maior parte dos organismos com conchas calcárias ou siliciosas – foraminíferos, gasterópodes, lamelibrânquios, etc – ao morrerem, as conchas depositam-se no fundo das águas dos mares e lagos. Ao longo do tempo, essa acumulação pode ser tão grande, que as conchas acabam por consolidar, dando origem a rochas sedimentares calcárias constituídas quase só por restos de conchas.
b)
Plantas: as algas calcárias e as diatomácias (carapaça siliciosa) formam bancos calcários e siliciosos com vários metros de espessura e largas áreas. No sul de Moçambique existem depósitos de diatomitos enormes, resultantes da acumulação de carapaças de diatomácias. Outras rochas têm origem em plantas, como o caso dos carvões.
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Tema 5
Fig. 5.34. Imagem de coral e localização geográfica da Grande Barreira de Coral na Austrália
2.4.3. O Homem A acção humana tanto pode ser demolidora como construtora, e de impedimento da actuação dos agentes da Geodinâmica Externa. Como acção demolidora, falamos da abertura de túneis, de minas, de canais, de estradas, etc. A construção de barragens cria lagos artificiais a montante e diminuição de caudais a jusante, com consequências graves para o ambiente. As desflorestações, quer para o fabrico de carvão de lenha, quer para a abertura de machambas, ou ainda exploração de madeira (Amazónia) contribuem para um aumento da desertificação do planeta, aumentando a erosão. Também o cultivo irracional e intensivo provoca a esterilização de terrenos, aumentando também o grau de erosão. No entanto, o Homem empreende também acções de correcção da Natureza, como seja na correcção dos leitos dos rios, na luta contra a desertificação através da arborização, na protecção de costas (Fig. 5.22). A recente obra de engenharia na barreira da Malanga em Maputo, é um exemplo de construção para deter a erosão por parte dos agentes atmosféricos.
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