AROSTEGUI, Julio, A pesquisa histórica

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EDUSC SUMÁRIO A711'1'1p

Aróstegui, Julio. A pesquisa histórica: teoria e método / Julio Aróstegui ; tradução Andréa Dore ; revisão técnica José ]obson de Andrade Arruda. -Bauru, SP : Edusc, 2006. 592 p. ; 23 em. -- (Coleção História) Inclui bibliografia. Tradução de: La investigación histórica: teoria y método, c1995. ISBN 85-7460-300-7 1. Historiografia. l. Titulo. II Série.

2. História - Metodologia.

INPI("I'.

3. História - Teoria.

DIl QUADROS

A I'IU'.SIlNTAÇAO II bt6ria ou histriografia?

CDD 907.2

II

Ciência ou arte?

PI((~1.0GO À NOVA EDIÇAO

PARTE 1 'Icoria, história e historiografia ISBN (original) 84-8434-137-1

Copyright© 1995 Y 2001, Julio Aróstegui Copyright© 2001 de Ia presente edición para Espana y América: Editorial Crítica, S.L., Provença, 260, 08008 Barcelona Copyright© de tradução - EDUSC, 2G06

Tradução realizada a partir da edição de 2001. Direitos exclusivos de publicação em língua portuguesa para o Brasil adquiridos pela EDITORA DA UNIVERSIDADE DO SAGRADO CORAÇAO . Rua Irmã Arminda, 1O~50 CEP 17011-160 - Bauru - SP Fone (14) 3235-7111 - Fax (14) 3235-7219 e-mail: [email protected]

1 Ilistória e historiografia:

CAPITULO

".\

,~ '"'

os fundamentos

H~I

A história, a historiografia e o historiador A historiografia, a ciência e a ciência social O conteúdo da teoria e os fundamentos do métod? historiográfico

97

APITULO 2 O nascimento e o desenvolvimento da historiografia: os grandes paradigmas

/()() O surgimento-da "ciência da história" I.IX A época dos grandes paradigmas

-,

Parte 1 Teoria, histôria e historiografia

Capítulo 1

teresse tem sua própria essência, distinta da teoria, e nã.o é nosso objetivo aqui, ainda que à história da historiografia devarnos dedicar uma atenção preliminar c complementar, pelas razões que no devido momento Da mesma forma, uma porção importante dica a expor, de maneira circunstanciada, lidade todo um corpus de doutrinas, ado fundamentar

também exporemos.

desta primeira

parte se de-

corno se tem constituído até a atua-

ORlA E HISTORIOGRAFIA:

escolas, preceitos e teorias que tem bus-

a disciplina da historiografia

desde suas origens conternpo-

OS FUNDAMENTOS

râneas, já na segunda metade do século 19, até os mais recentes aportes dos últimes anos do século 20, quando começa um novo século e quando, sem dúvida, não se superou plenamente social. Procurar-se-á fundamentos

uma crise generalizada

do conhecimento do

expor quais são e corno têm sido entendidos

até agora os

para elaborar uma teoria da natureza do histórico, e mais do que

isso, do conhecimento

" /.,1

da História, ainda que sem propor agora um delinea-

mente próprio em profundidade,

{1//lV"II/

Podemos, no entanto, adiantar uma conclu-

!'I.toprovisória: no nosso modo de ver, o conhecimento historiográfico

ti" tli5lór;a [...} o estado inorgânico dos estudos históricos [00'] do fato de que um número excessivo de historiadores jamais refletiu sobre a natureza de sua ciência.

consti-

tui hoje mais uma espécie no camp.o das ciências sociais, Mais tarde desenvolveremos suficientemente

HENRl BERR

A síntese em História

esta idéia. oIitlcll j'lIlOlltrar palavras mais apropriadas

e significativas

que

"'(l11I 1111IIlI1IO deste capítulo, com as quais o historiador francês Iri

COIIII'\.\V.Ium livro dedicado

à prática da historiografia

e à ade-

llil\,~fl d\~lIllIk.1 do hístortador, para qualificar um mal comum do ij

PII\ 1111.tfilll1.IÇà.o, cuja aut.oridade

111I!I" \1111dOI>primeiros

renovadores

illlolll.\tica a causa atribuída

repousa no fato de ter sido da hist.ori.ografia no século por Berr para a crise do que a

ilihlol l.ulorcs não rcüctern sobre os fundament.os hi!lIil'".

I'INO

i

nutinua

profundos

sendo válido quase noventa anos depois des-

le(e"l ~ldo"s(1 ilas? Infelizmente,

não parece que haja razões para

111 idll No IIOSSOmodo de ver, e levando-se em conta todas as re-

d,. "l'I ,11\111.11 is111 o" que se tem feito recentemente, apesar das dis 1\0 f.li'cr hoje entre diferentes hístoríograflas. o problc

1:1i,I 1'1n

1'ltlL II ,,,

1/11/"".\ ,'/I "'5/(/1/11.

México: Uichu, 1061.(Colccción 1.1 HvolllCiÓIl d,'1.1

'11~III,t.I") 1'1I11u'j 11I ,'dl\IIO ~'llIl'\P,lllhol,

I"

IntdllZid,1 da SI'gllnd,\ cdi~·.IUlr.lml'\,1

IO~), CillIl 11111 IInvu I'r6ln!\o \. Apt'l1din' do .iutor, p. XIV.

ma da reflexão, ao menos, sua ciência" continua Um progresso

da maioria

I

C"/J/tll/O

Parte 1 Teoria, história e historiografia

llistár'" e /,istOrJogmfia: os ["",tll/llflltos

dos historiadores

"sobre a natureza

,~\I IloIrtir do problema

de

do nome adequado

para a disciplina I

em pé.' sustentado

da disciplina

sem que se leve a efeito essa reflexão

da historiografia

q~e Henri

dele, solicitou.

Infelizmente,

nos próprios

rou-se durante

muito tempo

que o historiador

é impeosávcl

Berr, e outros

círculos

antes e depois

dos historiadores

não é um teórico,

HIA, A IIISTORIOGRAFIA rURIADOR

conside-

que sua ocu

pação não é filosofar, que historiar é narrar as coisas como realmente acontece, rtun, e outras

coisas semelhantes.

.idequação e renovação do historiador

da linguagem

continua

n.to parece necessário

dificultar

sofrendo reafirmar

de forma determinante

w c "científico"

do histórico

11Iio trabalho.

de uma flagrante que posições

11I1 i11' \t'

11\111'.1 própria

mas deve também "teo-

fundamentos

gerais a respeito

E isso afeta essen por mais que uma nuvem de tcó

críticos e "novos historicistas"

que surjam

não mais do que literatura.'

pretende-se,

f,ll'~ lo, na medida

metodológica

bons historiadores.

Icur iza r sobre a História,

tenha recentemente

justamente,

pretendido

Sem uma certa prepa

que não se limite a rotinas nao

Mas o que quer dizer exatamente

sobre a historiografia

e sobre seu método?

introduzir

do possível, no contexto

o assunto.

E se

do que fazem outras

1'1114'(.(' 1"",lvcl

de forma

alguma,

I'H~~ I' IIIV('1lIelucidar 1m' jllvnll~\,1

,I

1I1(lil;uh'lIdl'lIdo

preliminar

desde já. Encarando

preciso tratar primeiro Ilistória",

questão

a problemas

lIi

hllhlll ••tlOt', '1111111,,"111 neste aspecto a historiografia .

1',11,1evitar umu IOllglldl,I\.IO dI' pIOI1(I,\I,I\d,1 11í,ló,i.! WIlW g~llcm lill'nl, tu, 'li dil ,I "t' IIhlÍ\ ,\ Ircntc li ill'III dl'di\ 11110 IHI"pm 'lIodl" nismu", .,•••• illl lOlllll ()~11111111' dl'III1II)1I'~1I1111011.WIIIII', I' A"I""~"'III " I) 1.1<:''1111''1'lIln' olllru~.

distinto,

da polissemia à "dis-

à própria

I)"nll1l"

I'IA:

\\Ill'SSlvamente.

<)

abordar

profissional

mu-

o "perfil"

e técnica

joga seu futuro.

I

dis-

imbri-

por profundas

pertinente

intelectual,

de

mais de uma vez.

ligados

dl' 11m tempo como o nosso, marcado

procurar.í

QlI.H1toàs recomendações de pragmatismo, aludimos ao livro de NOIRIEL, C, Su) /11 "crise" de l'Histoire. Paris: Berlin, 1996. A "perspectiva pragmatista" para li solu ~'.IOde lodos os problemas da fragmentação da disciplina e certa renúncia :\ !,CMIIII ~,I teórica vão se concretizando em muitas passagens do livro. Ver também ~II,I "Conclusión" (versão espanhola: Sobre Ia crisis de la Ilistoria. Madrid: FróncsiN/<' icdru, 1997). Cf. a critica desta obra de autoria de Madelcinc Rcbérioux, CIIl 1\111 pile Prochasson y [ordi Canal em LI' Mouvcmeut social, Paris, n. 11111,p, W 110, )lIil.l~epl. 19911.

e espírito

que foi discutida

mais estritamente

1IIIIhll do século 21, parece bastante

,

de duas questões im-

o problema

Neste pri so

uma definição

11. IIi"I' 11H1~\I.ln'l c como uma reflexão mais atual, diretamente plllltkllhl~

com

ambiva-

do nome conveniente

tlHt".,_IIAIII-, d.1 1IIII\I,I~'
ciências

_4

de

inútil e que não escla-

ain,da que com terminologia

evitar o tratamento

I Ilj~Ic'II.I,lteli.1

historio-

de História e sobre o sentido

I)IH' M' trata de um esforço inteiramente

Ui~hlllll:1I1111.Porém,

de seu pr

de "perspectiva"

de Langlois e Seignobos,

e de outras obras mais recentes

definição

JíIII,IVI'1.Aqui não se buscará,

práti

111

"escreve" a História,

todos os tratados

dll~ obras clássicas de Droysen,

I~ 11.1111'1, de nosso Altamira,

desse tipo só podem

para o aperfeiçoamento

Sem teoría não há avanço do conhecimento.

ril~·.lo teórica e sem uma prática

un-ire capitulo

11~ldlJ Ihl\lil ual começar

No entanto,

e, além disso, sobre o alcance explicativo

f,I1cr da escrita da história (, posslvcl

precariedade.

e realidades

todo impulso

i.ilmcnte inclusive a prática historiográfica,

I ilOS literários,

a uma mera

sendo muito forte. A formação

sobre ela, quer dizer, refletir e descobrir

d,1 natureza

l

continua

quase instintiva

da historiografia.

m efeito, o historiador 11/,\1"

,A resistência

do

Vejamos

'I'Jl.RMO E O CONCEITO

h8CIVI.llt11...•primeiro

que o nome que se dá ao conhecimento

lilllll.1 h'IIIIH) oferece problemas

e, a nosso ver, necessita

HI"IIII,()CS. A palavra História é objet?

da His-

ainda hoje de

de usos anfibológicos

en-

,ilililllll!lIh! dI' IOdus eles se ralará mais tarde em nossa passagem nos capítulos 2 ,IIII!II leu111,1\.10 d.1disciplina historiográfica nos séculos 19 e 20.

25

:"1'111I111 I J lisrória e hisroriograf;,,; os (",,,I"'I/wros

_ Parte 1 Teoria, história e historiografia

tre

OS

quais

O

mais comum é sua aplicação

1I11~ I'~pl'dficos da economia

a duas

entidades

diferentes: uma,

a realidade do histórico, e outra, a disciplina que estuda a História. Praticamente, nenhum .problemas ponderando

historiador

que tenha dedicado algumas linhas para comentar

!,1~II.III".IÇ
que a precisão do vocabulário

aceitos. Em todo caso, no entan-

é hoje uma das questões mais problemáticas

os 1111'"d.ls c.:.i~nciassociais . i I I'IIIblem3 terminológico

inerentes à sua prática deixou de destacar essa questão. Iniciemos a importância

e da lingüística, por exemplo, que são bas-

!1'~IIIt'dslicos e foram absolutamente

tem para uma prá-

tica como a pesquisa histórica.

IHI~,.I.esse é o primeiro jMlld.I que o emprego Ihlluh'l,.,pedfica

A linguagem específica das ciências

na ciência se manifesta

1111 do nome que uma disciplina constituída problema

gens particulares,

vão criando lingua-

que vamos abordar, Tem-se dito com

como o conhecimento

de que se tem dela constituiria

A ciência,

já se afirmou algumas vezes, é, em

última instância, uma linguagem. A terminologia

filosófica pode ser um bom

exemplo do que significa esse "jargão" especializado

no caso de linguagens

verbais. As ciências "duras" recorrem hoje à forrnalização não matemática,

de suas proposições

para a elaboração

não verbal, quando e desenvolvimento

de

suas operações cognoscitivas." Em um nível' bem mais modesto, . fruem esse instrumento guramente

da linguagem

com importantes

as chamadas

própria

diferenças

em menor ou maior grau, se-

com cada disciplina. Todas elas, porém, possuem

e analogias distintas do linguajar ordinário.

. do que foi obtido

te, sem dúvida, uma certa homogeneidade ciais, imposta a partir

de acordo

um corpus mais ou menos

extenso e preciso de termos, conceitos, proposições metáforas

ciências sociais usu-

no seu desenvolvimento

específicas, e também

de

Num nível básico exis-

na linguagem

11111_ 111\11 I>,lo possíveis avanços fundamentais

de conceituações

uma

claras, se~ as

no método e nas descobertas

da

I" ill. I ressa forma, sempre que um certo tipo de estudo da realidade define

repletas de termos específicos, que podem transformar-se

em complexos sistemas formais.'

a

de uma mesma palavra para designar tanto urna

pVII.mll' dificuldade para o estabelecimento Como regra geral, as ciências ao se constituírem

primeiramente

deve adotar. No que concer-

dessas ciências . so-

pelas disciplinas mais desenvolvidas.

1111IIkvida clareza seu campo, seu âmbito, seu objeto, quer dizer, o tipo de 1I!"IIIIl'nosa que se dedica, e se vai desenhando

a forma de neles penetrar, ou

)11. ~l'\I método, surge a nçcessídade de estabelecer uma distinção, pelo meIII)ít

relativa, entre esse campo que se pretende conhecer - a sociedade, a com-

0_,\.\0 da matéria, a vida, os números,

a mente humana,

1I1II1I1"dode conhecimentos e de do.utrinas sobre tal ~ampo. A criação de um vocabulário específico para uma determinada IIhrdmento 111

começa aí: na forma de diferenciar

de conhecimento

e a disciplina cognoscitiva

J'rilla-se, simplesmente,

na linguagem (científica)

ICIIlrcva bem seu objeto e o caráter do seu conhecimento. ,iil~ sno inventados; qücntc

ItI,I!/lI,

desde então seja composto

. 6 A natureza particular da linguagem científica é analisada tanto pela própria epistemologia e metodologia da ciência, como pela filosofia da linguagem. Cf. o antigo, porém interessante estudo de GRANGER, G. G. Formalismo y ciencias humanas. Barcelona: Ariel, 1965. Também trata do assunto o pequeno livro de. RORTY, R. El giro lingüfstico. Barcelona: Paidós- UAB, 199Ó. Para as diferentes concepções de ciência, cf. ECHEVARRlA, J. Introducci6n a Ia metodologia de Ia ciencia. La filosofia de Ia Ciencia en el sigla XX. Madrid: Cátedra, 1999.

originário

que dele se ocu

Os nomes das ciên

foi isso o que ocorreu a partir do século 18. Assim, é Ire-

que o nome de muitas-ciências

10 lIlorrida

área de

um certo ob

de dotar cada disciplina de um nome genérico que

nascidas da expansão do conhecimende uma partícula que descreve a maté-

11.1••\ qual se acrescenta um sufixo que é um neologismo 5 Falamos de "linguagem formal" como a linguagem construída pelo homem de maneira planejada de acordo com regras estritas e em oposição à "linguagem natural", o falar do homem que se insere no próprio processo de hominização.

etc. - e o conjunto

qualificativo

comum:

do grego logos. Sociologia, filosofia, geologia, etc. Ou, às vc-

l", gmfia, descrição:

geografia, cristalografia.

1IH'lIto muito mais clássicas, com nomes

Há, porém,

particulares:

áreas de conheci-

a .Física é um bom

I~XI'llIplode uma antiga denominação grega, aplicada já por Aristóteles. E há ainda um outro fenômeno nada incomum: quando o nome de 11111.1 disciplina

acabou criando

qlll' eSlllda: a implantação

um adjetivo novo para designar

a realidadt

da psicologia resultou na criação do termo "psico

lú~i(.()", a geologia, no termo "geológico", a geografia, no "geográfico". O

nOl11"

2

Parte 1 Teoria, história e historiografia

de uma determinada ciência, constituído por um neologismo, dá lugar, às vezes, a um nome diferenciado para o tipo de realidade à qual se dedica.

Anfibologia do termo "História" As considerações sumárias que acabamos de fazer são úteis para analisar um problema análogo e real de nossa disciplina, a saber: o da denominação mais adequada e distintiva para a pesquisa da Histôria e para o discurso histórico normatizado que ela produz. A "históriografia" é uma disciplina afetada em diversos··sentidos pelo problema da linguagem em que sua pesquisa e seu "discurso" se plasmam. Por isso é preciso dele tratar agora. A questão começa com o fato, comum a outras disciplinas, certamente, de que uma só palavra, História, designou tradicionalmente duas coisas distintas: a História como realidade na qual o homem está inserido e o conhecimento e registro das situações e sucessos que assinalam e man~festam essa inserção. É verdade que o termo istorie, empregado pelo grego Heródoto com-o título da mítica obra que todos conhecemos, significava justamente "pesquisa': Etimologicamente, portanto, uma "História" é uma "pesquisa";" Mas logo a palavra História passou a ter um significado muito mais amplo' e . a identificar-se com o transcurso temporal das coisas. A erudição tradicional alude sempre a esta incômoda anfibologia estabelecendo a conhecida distinção entre História corno res gestae - coisas suce-didas - e História como histeria rerum gestarum - relação das coisas sucedidas-, distinção para a qual Hegel, pela primeira vez, chamou a atenção: "a palavra historia" - disse o filósofo - "reúne em nossa língua o sentido objetivo e o subjetivo: significa tanto historia rerum gestarum como as próprias res gestae, tanto a narrativa histórica como os fatos e acontecimentos'" Na atualidade,

7 HERODOTO. Historia. Introducción de F. RodriguezAdrados, traducción y notas de Carlos Schrader.Madrid: Gredos, 1977(e ediçõessucessivas).Lembre-sede que o texto de Heródoto em seu livro I começa.dizendo:"Essa é a exposição do resultado das pesquisasde Heródoto de Halicarnaso,para evitar que com o tempo os fatos humanos caiam no esquecimento..". 8 HEGEL,G. W. F.Lecciones sobre Ia FilosoJfa de Ia Historia Universal. Madrid: Alianza, 1989.p. 137.Hegel acreditava que esse fato era muito mais do que uma casualidade.

Irl! Whitt, assinalou que o termo História aplica-se "aos aconteciment Illi~lltdll, .10registro desses acontecimentos, à cadeia de acontecimentos que litUi 11111 processo temporal compreendendo os acontecimentos do passa\!. I'IIVlIlc, assim como os do futuro, aos relatos sistematicamente ordehl~ 111 ontccimentos atestados pela pesquisa, às explicações desses relal_h.HIItIIlI,llllcnle ordenados, etc'" Essa não é uma miscelânea qualquer. rlll 11pensamento positivista que estabeleceu a necessidade de que a: '1MtIVI·"e.'1llum nome próprio diferente daquele de seu campo de estu li!IIlt:\ I'"id.lde parece obedecer à idéia, típica do positivismo clássico, de 1" Ítlll'ÍIII se.'descobrem os fatos e em seguida se constrói a ciência, ou, ( M 1111IIII'SIllO,que a ciência busca, encontra e relaciona entre si "fatos' 11111.1 lI~llcia de algo se há um fato específico que a justifique, identif IIMliIlH",Toda ciência deve ter um nome inconfundível e daí que não s· lIl"" nx orrer a lodo tipo de neologismo para atribuir-lhe esse nome. pll~itivisll1o buscou adefinição da história na descoberta, é claro, d. llit)~tll fO/(I histórico. O problema terrninológico vem, assim, de rnuiu • p.t1.lVr,.//istória designa, para dizê-lo de alguma forma, um conjur 'hlllu dt, "(atos históricos"; mas designa também o processo das opera IItll.I ••s" que revelam e estudam tais fatos. Que a mesma palavra d Ih/l'lu" t' "ciência" pode parecer uma questão menor, mas na realidad 1'11' !lI" embaraçosa e abre espaço a dificuldades reais de ordem epist "'u'ftMkll, n,ll CII,HO de que se tenha também ensaiado prontamente a adoçãi te ••1I11cvpccífico que designasse a pesquisa da História. I_tel po~I(), resulta que Q fato de que o vocábulo História designe ai \Ir 14'1111'0 lima realidade e seu conhecimento não é o único exemplo q~ lue .dl/tll de uma situação desse tipo. Na realidade, uma dificulda 1";1.101l1r.1Sdisciplinas das ciências sociais e naturais. Com efeito.j """111100((11I" corn ti economia, por exemplo, e a linguagem comum fez col IIfle~~,: 1.1I11~)él11 no caso da psi~ologia, d~ geologia e da ~eografin: ,~ lu" c11~(lpllllas passaram a designar realidades, como dissemos. I~

1111'1, 11.til cantenldo de Ia forma. Narrativa, discurso y representaciôn "isI6, it 1I"II.tllIlI.e1'.lid6s.1992.p. 159.O titulo espanhol dessa publicação confunde () i~ \'t'1 •• 11Ielligillul.que é The content of the formo Narrative Discourse and l list» ,II/"/"""'/Ill1lic/II. Escamoteiaa expressão"discurso narrativo",que é fundnrncn ;,flllllllil.I\.lu.

p(w(o I

, Parte I Teoria, história e historíograjia

IliSlória e I,isloriograjitl: os frmdllm""IOS

HiVld.ltlc cognoscitiva nosso caso, a palavra grega istorie (pesquisa) temporal

cumulativo

É freqüente

da Humanidade.

palavras com significados

múltiplos

passou a designar também

o processo

o uso de certas

nas ciências sociais, como ocorre com

economia ou politica, entre- outras. De nossa parte', e para o momento, portante

assinalar que este problema terminológico

ráter específico da historiografia.

não corresponde

Mas vale destacar, igualmente,

ção referente à História não há razão para que essa polissemia

é im-

1111\,111 '''I forma de uma série de afirmações mf'lh'

no .caso

de outros vocábulos que designam ciências, como com a política ou a polito-

lidade "material", tangível. A "História"

\li!! 1""'1l1is,Idor" e o "resultado

que estudam

nomes bastante precisos: óptica, botânica,

zoologia ou medicina.

É essencial

deixar claro, desde a palavra que o designa, o que quer dizer "pesquisar a História". Não se pode negar que no caso do estudo da História existem razões suficientes para supor que grandes esclarecimentos

h,,\lII~ ,Ilfcscentar

elucidação

11:111 elimina, a nosso ver, a vantagem I't

foi destacado há tempos por correntes historiográficas



l'l'll.1

li

Mia

etimologia.

() l

,

palavras ou rodeios espe-

semânticos. Assim ocorre com a

UllllO vocábulo já foi proposto

11I,11111 IIH,li>,.demasiado

polskyassinalou

metodológicos.

}erzy To-,

para cumprir essa função: Historiologia.

IIí'p,ôivl'lque, do ponto de vista filológico, essa palavra desempenharia Illll,lI'lI'llll'

às quais se soma em seguida a palavra "llisdos problemas

é óbvia, apesar de que supõe uma certa

onccito de "Historiografia": pesquisa e escrita da História

chichte" como seu conhecimento, ao tratamento

o autor, ao não indicar ne-

como a dos Annales, ou

clara distinção que faz o alemão atual entre "Historie" como realidade e "Gestorik" referindo-se

da pesquisa". E

1ti1lk d.III.·/a".'l

A palavra História tem, pois, como já se disse, um duplo significado, ciais para expressar seus diversos conteúdos

do tomate" ou "Histo-

de que a palavra Historiografia

No entanto, continua

"~'1I111Ilistór;a, mais uniforme,

a marxista, e ambas falaram de uma "ciência da História". pelo menos. Às vezes, porém, tem-se introduzido

à qual

lilllll 1'1IIIl'dimento de pesquisa, o termo não tem encontrado ampla aceita111:11I /!l'qucr no seu sentido mais estrito". Para ele, "a tendência de empre-

- e .depois, natural-

mente, de todas as demais. O caráter não trivial da questão terminológica

nela que

auxiliar que assinala To-

IIlil.l ,il-\lIificação unívoca: "refere-se apenas ao resultado

podem ser esperados de uma

eficaz dessa questão terminológica

E é [ustamente

outras, como "Historiografia

1'1 •• dlls canários", por exemplo. Esse sentido

j' ••

primeira

de pesquisa". Em al- '

1,,1\;1111.' .iuxiliar, em expressões como "História da Historiografia",

das coisas." Portanto, é mais que, por outro lado, têm'

três significados

11111\11m deter aqui com maior ênfase. 11I1'"l,ky afirma igualmente que' a palavra em questão tem um uso es-

de uma rea-

não tem o mesmo caráter corpóreo

essas outras realidades,

de seus resul-

nada banais dessa

dos fatos do passado tem

11'~1t\II,l\lopor outra palavra, a historiograjia.

urgente atribuir à escrita da História um nome inequívoco do que fazê-Io com as disciplinas

sobre os

uma vez que

de pesquisa realizadas

das ditas operações

11'"1111',,Icrcscenta Topolsky, o conhecimento

que têm, por exemplo, a luz e as lentes, as plantas, os animais ou a saúde. A História não é uma "coisa", mas uma "qualidade"

de uma construção as conseqüências

'JII IIl1lrhologia. Em suma, Topolsky acaba distinguindo

plina da História, é, sem dúvida, de suma importância. falamos de História é evidente que não tratamos

dos hist~riadbres

,.I,.VI,IlI "I()ria: os "fatos passados", as "operações

logia. Ainda que a q~estão não seja exclusiva, nem, talvez, crucial para a disciQuando

,,,10 há pesquisa desvinculada

i l,l'~I" vução ajuda a compreender

que na situa-

da mesma forma que à tendência tem sido no sentido de eliminá-Ia

o resultado dessa pesquisa como

1'~~~lltllI~"."Mesmo sendo esta uma sutileza desnecessária,

a um ca-

se mantenha,

do histórico, encerra já um duplo significado:

i 1'"1\ l'~'() de pesquisa, mas também

.1

per-

tarefa de designar a "ciência da História". Mas possui, no entanpretensioso:

o de supor que a pesquisa histórica pode

I' i,lIlI\ll1l",lda, sem maiores justificativas,

uma "ciência". Foi Ortega y Gasset

que a palavra História, ainda que seja usada apenas para deII

10 No capitulo 4, na segunda parte dessa obra, voltaremos li u.unr de q\lc~IIW~ '('1(, rentes à própria entidade dn III~tól'ill.

1()IIOLSKY,

" Metodologla de Ia Historia. Madrid:

Cátedra,

1985. p. 54-55.

I.' lhul.,p. " ..

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"/1111I101

Parte 1 Teoria. história e historiografia

quem propôs o emprego de termo "Historiologia" para nomear uma atividade que acreditava imprescindível: "Não se pode fazer história se não se dispõe de uma técnica superior, que é uma teoria geral das realidades humanas, o que chamo uma Historioíogio"," "Historiologia" é empregado também por mais ,alguns filósofos no sentido que aqui assinalamos, como pesquisa da História, . enquanto certos historiadores, ao contrário, o tem aplicado no sentido de reflexão meta-histórica que lhe atribui Ortega, como Cláudio Sánchez Alborno ou Manuel Tufión de Lara." Conseqüentemente, a palavra Historiologia não atende ao nosso propósito. Introduz novas dificuldades semânt~cas no lugar de resolvê-Ias. Iean Walch fez algumas considerações extremamente interessantes a respeito 'do uso das expressões História e Historiografia." Para Walch, o recurso aos dicionários antigos ou modernos em qualquer idioma não resolve O problema da distinção entre essas duas palavras. Ele considera bastante perspicaz a ajuda que buscou.Hegel no Iatim=- res gestae, historia rerum gestarum - para distinguir as duas facetas. Mas aepistemologia deve proceder segundo princípios mais estritos que a linguagem comum. Para tanto, Walch propõe que, em todos os casos em que possa haver ambigüidade, seja aceito o term "História" "para designar os fatos e os eventos aos quais se referem os historiadores" e o de historiografia "quando se trata de escritos" - "celui d'historiographie lorsque il s'agit d'écrits"-. Isto explica com grande Clareza o mod como duas palavras podem efetivamente servir para designar duas realidades distintas: História, a entidade ontológica do histórico; historiografia, o fato d escrever a História. Pois bem, os "maus usos" da palavra Historiografia são também Ireqüentes. Certos autores, especialmente em língua francesa, têm atribuído li J



13 ORTEGAY GASSET,J. Una interpretación de Ia Historia Universal. En torno 1\ Toynbee. In: Obras completas. Madrid: Revista de Occidente-Alianza Editorial. 1983.t. IX, p. 147-148.O grifo é do autor. Nesta e em outras obras de reflexão~o bre a História, Ortegaexplicitasua má opinião a respeito dos historiadores jUNti ficada?-, seu julgamentodo pedestrismo intelectual que os atinge. 14 SANCHEZ-ALBORNOZ,C. Historia y libertad. Ensayos di' Ilistoriolog(lI. Mndrld. [Iúcar], 1974.TUJ\TONDE LARA,M. Qué l Iistorie] Algunascucstiones de Ilisto riologta. Sistemas, Madrid, 9, p. 5 et scq, abro1975. 15 WALCII,}. /listoriogmpilit' structurale. PlIris:MUNSOII, I99(). JI.1:1.

1Iistória e flistoriografia: os [undamentos

ril "l hsroriografia"

significações que sua simples etimologia não autori1"1'14IIIIplicam a questão de forma completamente desnecessária, geranIlIi\'1I11I\quanto à sua significação original. Naturalmente, tais erros coIfih IlI'los franceses têm sido de imediato aceitos por seus imitadores esIIM~hl\ll'l\1 pelo menos dois usos impróprios da ralavra Historiografia hUiiH.I'I1I1I1 rus imprecisões menores nada difíceis de evitar, em todo caso. O 111I' o uso da historiografia como sinônimo de reflexões sobre a Histó11111 do que fazia Ortega y Gasset com a palavra Historiografia. O seI ,Ipliçação, como sinônimo e termo coloquial, para designar a His11/\/tI/ ill~rafia, quando não, como se diz em algumas ocasiões também !I'''I~ 11.mccscs, a história da histôria." 11111 .llIlor espanhol atual faz também da palavra em questão objeto de 1!"I,Ivl'l diatribe. "A palavra historiografia" - afirma - "é um neologismo Iild.1 pouco e que se utiliza em algumas poucas ocasiões. Tem a vanta", 11'11'111 -se a um tipo de conhecimento sem confundi-lo - como ocor111.1p,ll,lvra história - com seu objeto de estudo, mas também apresenta 111\11' 1111 unveniente. A distinção analítica entre saber e objeto poderia nos '1111'11'1 II1ICos "fatos do passado" permanecem inseparavelmente uniI 11111111'( uncnto que temos deles. À éscassa beleza e ri&or enganoso do I I,hlll' jOHf,dia soma-se o problema de seus diversos significados ..."17 '1'IIIh'41,que praticamente não necessita de nenhuma exegese, depois de ••.•",,!hll. 111111 muita propriedade, qual a vantagem do termo - referir-se a um hedllll'lIlo srm confundi-lo com seu objeto - adentra em epistemologias lI~hl~r ('111declarações gratuitas, incluindo as estéticas, para concluir diIII qUlJ IH' II i,l um confusionisrno atribuindo diferentes significados ao ter-

olllll~III'retórica expressãotem alcançado certo êxito na França. Elaé empre1,1.1, .'11111' outros casos, por um livro tão pretensioso e vazio, e de tão espantosa 11,,,111\.1,, 1111111 espanhol, como o de LEGOFF,J. Pensar Ia Historia. Barcelona:Paiil(i., 1'}'}I (I. I I, pnssim."História da História" é empregado também, por exemplo, li, 1111 J 111.1 ER,C.; TULARD,J. Cômo preparar un trabajo de Historia (métodos y ,lIi,,") llurcelouu:Oikos-Tau, 1989.p. 13,passim (versão francesa de 1988).Nos ,iII'I,,~ 1111111 ,'M'S urna maneira comum de aludir à "História da historiografia" Itll' dlN~o,(' snbklo que nossos alunos da matéria "História da historiografia",e I~" 1'0111 II~(llIIfe~s()Ies,(Iludema ela como "Historiografia" 111.11/I(lIWES, Jl. Introducción. LII Ilistoriograjia. Ay~r, Madrid, 12,p. 12, 1993. jI~~"

i

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é

\3

CapItulo 1 Hist6ria e historiografia: os fundamentos

Parte 1 Teoria, história e historiograjia

11111 d,I I fistória" com o uso de tal palavra para designar "a História da esmo, confusionismo

para o qual inclusive contribui

título da publicação

de forma notável o próprio

.

O fato de que esses usos, cuja falta de univocidade portante

carência de precisão conceitual

vorecidos por alguns historiógrafos ma bastante

de "Historiografia"

história da historiografia, a questão recentemente ficientemente se respondido:

uma im-

de renome permite sua repetição de forcomo Lawrence

Stone, por

um conjunto variado de reflexões sobre a

o ofício do historiador,

trutivas questões." É justamente

, já denuncia

em quem os pratica, tenham sido fa-

acrítica, Um autor tão celebrado

exemplo, cha~a

d.I II istória", quer dizer, com a História da Historiograjia. M.IS também se diz que a História da Historiografia "passou a conver-

em que aparece essa argumentação."

a prosopografia

e outras ins-

devido a esses usos variados e equívocos que

voltou a ser colocada: "A palavra 'historiografia'

é su-

li••,hilil.lria 111_111I

"no modo dos significados tradicionais

também,

entre outras

da historiografia" .•

Essas considerações

ilustram

relativas ao assunto

O primeiro

pode deixar claro o pouco apreço e atenção que os historiadores reflexão teórica, de forma que devem empregar

dispensam

à

uma palavra específica para

designá-Ia (como se a teoria sociológica se chamasse de forma específica "Soou a teoria política "Politografia").

O se-

gundo, que motiva as reticências de Pasamar, procede, entre outras coisas, da difusão de alguns livros ruins, como o de. Ch. O. Carbonell, versão espanhola

uma difusão muito além da merecida."

o uso simples e etimologicamente

ainda mais este uso específico que sustentamos

da

'''VIII llistória recorre a fórmulas como H l' o curso dos acontecimentos, e H2' 11 ~r.UlI)1)hecimento. Quanto à.palavra Historiografia, concorda que se empre111' 1111

sentido de H2' mas que "também

pode querer dizer teoria ou füosofía

1.1 hi~lória, ou seja, reflexões teóricas a respeito da natureza da história"." s empregos tergiversadores

são e têm sido bastante fr~qüentes também

espanhola, ainda que não sejam universais. Dois exemplos ca-

I,Illl'r!sticos por sua procedência bastarão para dar uma idéia. Um autor mui111 ulIlhecido em seu tempo, o padre jesuíta Zacarías García Villada, dizia, em •. U'Il'

dos maus usos

ao longo dos anos 70",22 o que

'!lII"""~ é a que evidencia Helge Kragh, que para diferenciar os dois usos da pa-

UIII livro metodológico bem as dificuldades

que vão além da simples questão terminológica.

ciografia", ou talvez "Sociomania",

e justificaria

'''I hisloriografia

E essa posição negativa baseia-se, jus-

tamente, no fato de que por essa palavra se denomina coisas, a "história

do vocábulo 'historio-

de pesquisa diferenciado

ill~rafia como pesquisa da História. Mais uma prova da confusão de que

ampla para abarcar uma visão in extenso da disciplina?". E tem-

grafia', a resposta deveria ser negativa'."

nfunde-se

IIUIll domínio

muito recomendado,

que "Historiografia"

ou modo de escrever a História", quer dizer, designaria

significava

uma espécie de

I'rl'leptiv~ dos estilos de escrita da História, o que não deixa de ser uma curio.1 l' rebuscada definição." Outro autor espanhol mais recente inclui sem ne"hum embaraço a "Historiografia" entre "as chamadas ciências auxiliares da 25 II ist6ria", junto com a Geografia, Epigrafia e Bibliografia (sic), entre outras. Em conclusão, a confusão de historiografia com "reflexão teórico-me-

100lológica sobre a pesq~lÍsa histórica"

(Teoria da Historiografia,

para ser

que teve em sua Em certos textos

correto de historiografia

como

18 Publicação que, apressemo-nos em declarar, contém importantes contribuições, como a de J. J.Carreras e a de Justo Serna e Anaclet Pons, que comentaremos mais à frente. 19 STONE, L. EI pasado y el presente. México: PCE, 1986. Trata-se do título que recebe a primeira parte dessa obra, cujo conteúdo descrevemos.

O PASAMAR, G. La Historia Contemporánea. Aspectos teóricos e historiográficos. Madrid: Síntesis, 2000. p. 9. ARBONELL, C. O. La Historiografia. México: FCE, 1986 (edição francesa de 1981). Trata-se de um breve tratado de "História da Historiografia" que constitui um dos textos mais confusos, vulgares e, felizmente, breves, escritos sobre o assunto, que, nau ohstantc, pode circular desde Ileródoto att li "llllltl·III.lti:r.IÇ.tO"(sic) da

disciplina, com a notável particularidade

de que a "história da Historiografia"

é

chamada pelo autor sistematicamente de "Historiografia". 22 PASAMAR, G. La Historia Contemporánea. Aspectos teóricos e historiográficos. Madrid: Síntesis, 2000. p. 9. 3 KRAGII, H. Introducción

a Ia Historia de Ia Cienci{l. Barcelona: Crítica, 1989.

p.33-34. 4 GARCtA VI LLADA, Z. Metodologfa y' Critica históricas. Barcelona: EI Albir, 1977. p. 31. original desse livro é de 1921 e ainda se editava em of! set na data indicada, o que uma magnífica prova de muitas das carências que destacamos no livro. ESCANDELL, B. Teor(a dei Discurso Historiográfico. Hacia una práctica cientlfica WItSC;CIt/(' de Sll método. Oviedo: Vniversidad de Oviedo, 1992. p. 147. Parece claro que (\ próprio título concede ao
llisloriografia.

1"'"/II,IIj",1t/lilil;l.',"I/'l'/,lfi,i

/

dos modos de pcsquisnr

mais preciso) ou com "História ria" (História

questão crucial da disciplina, representa, entre os profissionais

palavra historiografia

e os estudantes

modernarnente

- que têm o seu nome já perfeitamente

do absolutamente

a etimologia

disso, não apresenta

do termo

concomitância

que propomos.

nem confusão

da História", atividade que, nem é necessário costumam

violentan-

A palavra,

além

alguma com a "Filosofia'

assinalar, os historiadores

não

cultivar.

Topolsky, sem dúvida, destacou o problema propôs uma solução. Parece-nos como Historiografia

difundida

adequado,

de forma precisa, mas não

hoje plausível que uma palavra já bastante seja

a

aceita. A palavra historiografia

seria,

como sugere também Topolsky, a que melhor resolveria a necessidade

de um

termo para designar a tarefa da investigação e escrita da História, frente ao termo História,

que denominaria

a realidade histórica. Historiografia

acepção mais simples, "escrita da História". E historicamente versas formas de escrita da História

que se sucederam

clássica. Pode-se falar de "historiografia

é, na sua

pode aludir às di-

desde a Antiguidade

grega", "chinesa" ou positivista,

por

III I11,ti l'lIIpregada. Não é assim, de forma alguma. Importantes

'" 11'(onhccida capacidade, influência e persistente 1,lh'I Il'6rico-metodológico, t

li , E

esse o magistério

(lI"'PO dos historiadores,

disciplina intelectual e acadêmica por eles constituída. afirmou

Ferrater Mora, para dissipar a ambigüidade

e também a

É a solução proposta, existente entre os dois

sentidos principais da palavra História. Isso tenderia a ser suficiente, acrescenta, "mas não é assim'."

aceito, ainda que alguns descordem,

(

nossa disciplina em sentido moderno,

Benedetto

te6ricos de ,

no vasto

o que é uma boa notícia.

A questão do nome não é o único problema do da História.

A pesquisa

gem especializada,

histófica

o que é também

que a historiografia

praticamente

terminológico

no estu-

não criou uma lingua-

um sintoma

do nível de mero conheci-

tem mantido

desde muito tempo como

Existem apenas termos construídos histofenômenos específicos. Algumas conotações

da pesquisa -histórica.

riograficamente cronológicas

para designar

_ expressões

como "Idade Média" -, alguns qualificativos

tegorias para determinadas mas de sociedade

conjunturas

- "Feudalismo",

"longa duração;', "conjuntura",

. Foi essa a significação que deu à palavra um dos primeiros

da pesquisa e escrita da História

A linguagem da historiografia

disciplina

da atividade dos historiadores

J. Fontana, J. Topolsky,

que se deve impor. Além disso, o uso da expressão his-

sendo progressivamente

em determinadas

grafia seria a atividade e o produto

têm-na utilizado sempre no seu sentido correto-

lor /II~mjia para designar a função disciplinar

VI''''

historiadores,

dedicação aos temas de ca-

,1'111 ~~.s Lefebvre, P. Vilar, Thomas Kuhn, R. Samuel,

mento comum

-,

de uma obra básica da "filosofia

1,,111111 .r" d,I História," e é de uso comum em língua inglesa. Sl'Iia falsa a impressão de que a palavra historiografia é universalmen-

exemplo, para referir-se a certas práticas bem definidas de escrever a história épocas, âmbitos culturais ou tradições científicas. Historio-

da "l lis No mun-

com a mesma acepção que lhe

,,11-110s.Ix.lo, essa palavra foi introduzida

da matéria. De fato, a

- Teoria da História e História da

escrita acerca de temas históricos)"."

'I Iltllllllll'; pelo filósofo W. H. Walsh, autor

a nosso ver, um sintoma das impre-

tem sido aplicada, não se sabe muito bem por que ra-

zão, a coisas que surgiram .Historiografia

"BIIlt1.1 (isto é, a produção

mesmo que não seja, como dissemos, uma

da Historiografia),

cisões correntes

II1 1111 ,".1 lIlais correta accpção, ao [alur em um texto conhecido

e escrever a l Iistó-

.

dem da linguagem

comum,

históricas

"Capitalismo"

e ca-

- "Renascimento"

-, for-

- e conceituações

como

e algumas outras, são termos que não prece\

ou aos quais se tem dado uma significação

es-

Croce, em seu Teoria e His-

tória da Historiografia; em italiano Storíografia tem o sentido preciso de escrita da História. Esse é o uso que lhe atribui também Pierre Vilar em seus mais conhecidos

textos teóricos e metodológicos.

26 FERRATER MORA, p.373.

J. Fontana,

por sua vez, utilizou a

J. Diccionario de Filosofia de bolsillo. Madrid:

Alianza, 1987. I,

27 FONTANA,

J. Historia:

Análisis del pasado y proyecto social. Barcelona: Crítica,

1982. p. 9. 28 WALSH, W. H: Introducción a Iafilosofia de Ia Historia. México: Siglo XXI, 1968 (a primeira edição é de 1951). Pode-se verificar os comentários que a este respeito faz DRAY, W. H. Perspectives sur l'Histoire. Ottawa: Les Presses de l'Université d'Ottawa, 1988. p. 153 et seq.

37 36 ,\

pecífica, e que têm surgido e se consolidado vcstigativa

(01110

produto

da atividade

( ) 11111111.'

da historiografia.

Mas é preciso desde já advertir para algo importante

guagem formal ou matemática básica, não é absolutamente a construção

de uma disciplina.

do vocabulário

adequadamente

comum

a fim de evitar

ainda que seja uma lin-

confusões: a criação de uma linguagem especializada,

emprego

1""1* "Ido pelo recurso cada vez maior à linguagem de outras ciências so-

in-

indispensável

para

Pode existir uma ciência social baseada no sempre que seja capaz de "conceitualizar"

seu objeto de estudo. É preciso reconhecer, , no entanto, que o

mais comum é que o desenvolvimento linguagem particular,

das ciências leve à 'construção

no âmbito historiográfico

a respeito da ne-

não preocupou

de maneira direta a ninguém

.até que se atingiu um certo grau de maturidade

disciplinar, o que não apare-

ce antes da reação anti-positivista

arquetipicamente

representada

dos Annales. Além desta, apenas a linguagem suas peculiaridades.

do marxismo

pela escola

manteve sempre

da escola dos Annales estavam di-

Os próprios integrantes

com muita freqüência,

outros conceitos heurísticos:

i~k''','' que 11""

a historiografia

,od.lis. Assim, pois, a linguagem

empregada

pela historiografia

to d.1 questão da pesquisa histórica dever ou não criar sua própria linguagem, • u-sposta precisa ser matizada. Por si mesmo, o objetivo sistemático 11111

vocabulário

carece inteiramente

de sentido e ninguém

guagem empregada

portanto,

I!OVOS

pela historiografia?

tra: é realmente importante para ~ pesquisa da História! os historiadores

como esta: qual a lin-

E dito isto, acompanhada

de uma ou-

a existência de uma linguagem própria e peculiar Com relação à primeira,

a resposta não é difícil:

têm adotado uma linguagem comum e quando desejam aper-

dade, gênero, etc. A vitalidade capacidade

to, a proposta

teórico-metodológica

real de uma disciplina histotiográfica

teúdo metafórico

quais se expressam;

mos desse tipo. Por isso não se deve estranhar atual crítica lingüística e literária pós-modernista tória" é mais uma forma de representação foi proposta

que uma parte importante tenha entendido

literária."

da

Há exem-

prosopografia,

mentali-

se mostra, entre outras coisas, em sua

guém pode pretender

de que os esforços para a formalização não esqueçam nunca a estreita relação

claras e operativas

e os termos

específicos pelos

Mas é uma questão que deve permanecer

aberta. Nin-

ter em mãos uma solução.

que "a His-

Quando' a historiografia

como atividade "científica': o aperfeiçoamento

de sua expressão

As

INSUFICI~NCIAS

TEORICO-METODOLOGICAS

Há também um outro problema, 29 O mais conhecido defensor dessà posição é, sem dúvida, Hayden White, 'no que é acompanhado, porém, por muitos outros, Voltaremos a esse assunto de forma mais detida nos capítulos 2, 5 e 6.

38

adotado.

e adjetivos de significação mais

Eco-história,

de uma disciplina

entre as conceitualizações

"ocaso': e muitos outros ter-

no vocabulário

de criar uma Íinguagern, como dissemos. É preciso fazer, portan-

feiçoá-la recorrem à linguagem literária e, sempre, a um discurso de forte con- "evolução': "florescimento",

poderia propô-lo

campos e setores ou, em último caso, a aplicação de novas técnicas, é o

ou menos precisa como Micro-história,

colocar-se uma pergunta

de criar

dI' maneira sensata. A questão é outra: o surgijnento de novas formas de teortzação do conhecimento da História, o aparecimento de progressos metodológicos gerais ou parciais ou, como um efeito mais imediato, a exploração de

ção adotada por Henri Berr, que propunha É pertinente,

não é, de ma-

.ilguma, específica, mas isso é um probleD?-a? Cremos que não. A respei-

plos evidentes: o uso freqüente de substantivos

História de "empregar a linguagem comum".

etc., e

ação social, câmbio,

emprega da mesma forma que as demais discipli-

que haverá de dar lugar a uma mudança

do "privilégio" da

de uso geral: revolução,

modo de produção,

vididos a respeito do assunto. Lucien Febvre chamava a atenção sobre a posia permanência

têm

por outras ciêricias. O acervo comum

cultura, classe, transição, processo, socialização, capitalismo,

,,"1111.1,

.IHII""

111,'11••

essidade de uma linguagem especializada. Na realidade, a questão do vocabulário específico aos historiadores

10 runh.rdos,

e as categorias que estuda a historiografia

1••_ I Ic\lIl i.ls sociais possui hoje conceitos descritivos

de uma

com o amplo emprego de termos específicos.

Nunca houve unanimidade

dos fenômenos

este sim de importância

quejá destacamos, referente à fundamentação , na da historiografia.

DA HISTORIOGRAFIA

teórico-metodológica

decisiva. É o da discipli-

Com efeito, por pouco que se obs:Fve o panorama,

vê-se

39

A'/I/IIII"

1'11I,,' I

I iistôri« e hiSloriogmlil/:

Teoria, /,imjnl/ r h/I'''''''H'''/III

claramente que ~ fundamentação

da historiografia

com praticamente

todas as

OS(,,,,liml/el/IOS

lllllll'iro espírito científico, mais ou menos arraigado, custou muito a se ma-,

parece estar ainda hoje mui-

to menos estabelecida e desenvolvida se comparada

I

f••~IIII.A compreensão

de uma "ciência" da História por parte dos historiado-

demais ciências sociais. A discussão continua viva na atualidade e presumivel-

tlll diílcil mesmo depois de ter-se profissionalizado,

mente assim permanecerá,

til' historiar, A verdade é que a historiografia

sobretudo depois que as posições decididamente

lativistas, como as do pós-modernismo, outro lado, a intenção de apunhalar bilidade do conhecimento

teoricamente

a especificidade e a irreduti-

_30

referirmos à antiguidadeque

com o empreendido

tem origens sabidamente

de seu

por Émile Durkheim

antigas. Isso para não nos

tem também a própria atividade de historiar, que

111••1 ,k preocupação

fundador

na figura e obra. de Heródoto

.paráveis com o de Heródoto, e que tampouco veis dá historiografia Talvez, porém,

são comparáveis figuras discutí-

a mesma antiguidade

das manifestações

História e das formas históricas que tal escrita têm adquirido, "História

Filosófica': é o que tem propiciado

e disciplinar da historiografia

da escrita da da Cronística à

que a fundamentação

científica

tenha tido, como dissemos, um roteiro tão pou-

co conclusivo, É certo, porém, que desde o século 18 não faltaram esforços, e êxitos, por, parte de historiadores, fos, para a construção damentada.

escolas historiogrãficas,

sociólogos e filóso-

de uma disciplina da pesquisa histórica mais bem fun-

Por que, então, o grau de formalízação,

conhecimento da História, ou seja, a Historiografia, Iras áreas paralelas da ciência 'social?

c?erência e articulação

do

é menor do que em ou-

Esperamos que ao longo desta obra possam surgir certos esboços de res-

teória no

'111"1110das ciências sociais, a "filosofia" da História e do seu conhecimento,

r nhra de historiadores mas de outros tipos de estudiosos: filósofos e filóso-

11_0

11,1lÍ~ncia, metodólogos, teóricos de outras disciplinas sociais, etc. () historiador britânico Raphael Samuel referiu-se a essa situação afir""1110 que "os historiadores I \,10 sobre seu trabalho

não são dados, ao menos em público, à intros-

e, excetúando

os momentos

solenes, como as con-

Irl c'm i,IS inaugurais, por exemplo, evitam a exposição geral de seus objetivos: Nílo buscam, tampouco,

do século 18, como Voltaire, ou do 19, como Ranke.

Dessa forma, não raro a produção

IIhlll ,1\,\0 de análises sobre a situação, significação e papel da historiografia

de Halicarnaso, no século 5° a.C. A si-

Adam Smith na economia ou de Augusto Comte na sociologia são pouco com-

metodológica.

IIl1'lodológica, ou que se pretende como tal, sobre História e historiografia,

11

conta na cultura ocidental, como é bastante conhecido, com um marco e mito tuação é bem diferente em outras ciências sociais, em que "mitos" como os de

comple-

11'111", ,llé hoje, da velha tradição da cronística, da descrição narrativa e da au-

caíram num progressivo descrédito. Por

da História e de definir as regras fundamentais

método - o que se pode comparar para o caso da sociologia

re-

no século 19, a ativida-

nunca se desvinculou

1III\1\1'ir"semelhante:

teorizar suas pesquisas","

"O aspecto metodológico

1111111111I coxos é o da teoria ... Os historiadores 11

Carlo M. Cipolla disse de

no qual os historiadores têm-se preocupado

con-

muito pou-

1'," explicar, não apenas frente aos demais, mas também para si mesmos, a

11'11'

i"

.1

partir da qual recompõem

os dados básicos recolhidos","

Há filósofos,

'li ""\1\1, que afirmam que os historiadores atuais "não costumam se colocar I'lo"\tolllas de método"," É certo, porém, que se atravessaram quase três déca",I~, desde 1945 a 1975, de contínuo "'" progresso espetacular

avanço da historiografia

no contexto de

das ciências sociais no -seu conjunto.

IIII~~,Iopinião, não foi suficiente. ) progresso real da historiografia IlIlpoll.\llIe, o progresso da transmissão

Mas isso,' em

como disciplina e, o que não é menos e ensino dos fundamentos

disciplinares

posla a essa pergunta, na qual não podemos nos deter agora com maior profun-

li'" ( IIrSOSuniversitários

didade. Talvez se deva assinalar que no mundo dos próprios historiadores

1111,,10cuidado o que significa um progresso da reflexão teórica e metodológica li" C1""não passa de ampliação do campo do "historiável", a expansão das temá-

um

\0 Refiro-me, claro está, ao célebre texto de É. Durkheim, Las regias dei método sociológico, cuja primeira edição francesa é de 1895, da mesma época em que apareciam alguns manuais de fundamentação historiográfica, os de Langlois-Seignobos e Bernheim, por exemplo: Da obra de Durkheim existem várias versões espanholas, muito mais numerosas do que as de Seignobos ou Bernheim, de cada lima das quais existe apenas uma, o que já é sintomático.

11I

estão longe de ser evidentes. É preciso distinguir com

\ I SAM UEL, R. (Ed.). Historia popular y teoria socialista. Barcelona: Crítica, 1984. p. 48.

CIPOLLA, C. M. Entre Ia Historia y Ia Economia. Introducciôn

a Ia historia econó-

mim. Barcelona: Critica, 1991. p. 51. \ \ I I 1\1>('), E. Lellgunje e historia. Barcelona: Aricl, 1977. p. 9.

til

;lIplllllo 1 Ilistória e I,istoriogmlill: os r/llltll/lllclltos

Parte 1 Teoria, história e historiografia

!lil,-,tipo de pensadores, de literatos e de filósofos. Os cronistas, no entan-

ticas e dos centros de interesse, ainda que não se possa negar que tais ampliações acabam acarretando,

no mínimo, modificações

metodológicas.

h11ililil

Mas isso não é

suficiente. Tudo isso justifica, ao final das contas, toda uma longa tradição de "ingenuidade

metodológica"

são. O "metodólogo"

"111

que constitui uma das piores tradições da profis-

é, entre os historiadores,

um personagem

que se seguiram à Segunda Guerra Mundial, de um momento ciência social, e quando muitas disciplinas construíam da historiografia,

esp,etacular da

que com

, ('VI""

seus melhores edifícios

1'0001e. Não foi durante

metodológico

responde unicamente

às carências, ou

à inércia

dos historiado-

res. A própria história social da disciplina, como a de qualquer outra, mostra que o estado alcançado por uma ciência tem razões objetivas explicáveis historicamente.

A história da historiografia

mostra que a disciplina foi se consti-

tuindo por um processo que tem claras divergências com o resto das ciências sociais que hoje estão constituídas.

A historiografia,

muito antiga, como dissemos, acalentou o d;s,o positiva" mais tardiamente,

de converter-se

em "ciência

e com resultados menos visívies, do que outras dis-

ciplinas sociais. Conseqüentemente, de hístoriogrãfica

uma atividade intelectual

o atraso teórico-metodológico

da ativida-

pode obedecer a fatores complexos que cremos serem de três

tipos: a própria natureza de seu objeto, a função social e ideológica que vem desempenhado historiadores.

desde há muito tempo e, somente em terceiro lugar, a atitude dos Dediquemos

algumas linhas para cada um desses três aspectos:

A História não éuma matéria objeto 'de conhecimento

de índole análo-

ga à que constitui as outras ciências sociais. A História é uma "qualidade" inse- ' rida nas coisas, uma qualidade do social, sem dúvida, mas não é ela mesma uma

coisa, como pensara Durkheim a respeito dos fatos sociais. Não existe um fato histórico por natureza." Como conseqüência, nunca foi um .objeto filosófico, analítico ou, inclusive, empírico de fácil apreensão. A natureza do histórico foi, desde muito tempo, um ponto de reflexão de extrema complexidade

caíssem no esquecimento". A ao humano,

séculos objeto de um conhecimento

mas antes uma forma de "auto-conhecimento".

11I'1110,

no teórico-

tempo os fatos humanos

o homcm da 'natureza, mas apenas os "fatos memoráveis"

"1(111" 1111

O

foi sempre tida como um "legado" consubstancial

II\ri"

ainda que isso pareça paradoxal. mais bem estabelecida e apetrechada

A Histó-

li xerviço do poder, não constituía um conhecimento como o dos as~ , W'IIHI.dia ou a matemática. E somente Heródoto confessou escrever

Em todo caso, seria um completo erro supor que este atraso na constituição de uma historiografia

sempre ou quase sempre uma função instrumental.

e

HIIÜHI

teóricos, não era muito habitual tratar - talvez com exceção do marxismo -,dos fundamentos

sempre a História com os "fatos da História", os fatos do pas-

filósofos os primeiros a refletir sobre sua natureza e essência. 01111'0 lado, escrever a crônica dos fatos sucedidos, pesquisá-Ios ()~

illlll III~teve

suspeito de su-

ou, ao menos, um .espécime atípico. Em outros tempos, como os

perfluidade

.1I,1I1l

iÍlI,1I1I

r

li.,

conjetural,

Podia ser objeto de

"rll,lo filosófica, não teórica. E as~im foi, inclusive muito tempo

depois de

ituído uma ciência da História. Essa ciência era conhecimento

\ll1I~I

'''Im'',

que

dela for-

de

análise da sua natureza. A teoria era, portanto, insultada como coidI' filósofos ... A História era e é urna expressão de identidade e por isso teve

1111'1('

Itt(1t

11.10

lima função subordinada:

,

"i'~;

seu conhecimento

ao poder, às ideologias sociais, políticas ou

tem estado ligado à elite dominante,

à nação e no

11,,10. Por não ser um conhecimento desinteressado, dificilmente pôde ser 11111 ",111'1 imento teórico. Por isso, a história da historiografia não se entende l(ll,' do tOllll'xto geral das formas sociais e das idéias de cada momento." A própria vontade, enfim, a atitude do cronista e depois do 11;5101 ;1/1111I IiVI'I,II11

por muito tempo apoiadas nessas duas características:

1I.,d •. do histórico como fato puramente ,,111'1

cultural e a subordinação

a irnatcri.ili de seu

(O

imcnto a interesses externos. Por isso sua figura se limitou quase sempre

,I

i;1 ., dl' quem pesquisa os sucessos do passado e os coloca na forma de um dis 1,111

~o lOcrcntc c útil. Como já afirmamos,

01 l('il~ilO

o historiador,

como uma inequlvo

a certas tendências do século 19, tem desejado livrar-se da "filosofia"

f'III~,I que praticamente

nenhuma

outra ciência social tem feito. A função ano

Iltil ,I xobre n I lislória como realidade global, a tarefa de desentranber sua 16gi 1,.1.u-m se limitado, no melhor dos casos, ao propósito de esclarecer "as C.IUSOS"

que ocuA esse.' respeito, ver PASAMAR, G. La invención deI método histórico y Ia hislcll li, 1l11'lócliça cn cl sigla XIX. JJistoria COl1temporánea, Bilbao, n. 11, cspcci,t11l1l'1llt'

34 Esse aspecto já foi advertido por Langlois e Seignobos em 1898. Referimo-nos a ele de forma mais extensa na segunda parte da obra,

p. 11\5 ct scq, 1994.

'D

Parte 1 Teoria, história e historiografia

."p/trllul História e Iristoriogrnjin: os [nndnnientos

I

,,111111

dos fatos. Corno disse Lucien Febvre, com sua habitual lucidez, houve alguns "metodólogos

impenitentes"

que descobriram,

desde 1880-1890, que "ao fim e

ao cabo, a história não era mais do que um método. Um mét~do histórico': Portanto,

não era, em absoluto,

um patrimônio

exclusivo da historiografia,

"coisa que, entre parênteses, dispensava os historiadores pinhosa questão: O que é a Históriai"," Mas, justamente,

de se colocarem a es-

da historiografia

paulatina, porém resoluta, dessas três condições ou dimen-

sões. Produziu-se

uma preocupação

objeto próprio propósito

da historiografia

e daí ~enorme

independente,

auto-suficiente,

não vinculado

ça na própria imagem do historiador,

e determinante ampliação

de fazer com ela um conhecimento

relativa ao

de seu campo. Um

"científico" e, por conseguinte,

da pesquisa histórica, deve partir, conseqüentemente,

1""

também com a reflexão sobre o método. O método é con-

\l'gue em seu trabalho

ou os' que os outros seguem, O método comprováveis

111 l~

é uma

e de sua efetiva comprovação.

como um procedimento

o de <:onhecimentos que não se confunde

ba-

E, ad-

para a aquisi-

com as técnicas - cuja aprendiza-

também iniludível-,

mas que as emprega sistematicamente. Em suma, a reflexão sobre a disciplina historiográfica é essencial na pre-

p",.I~·'\() do historiador, ainda que não seja, infelizmente, freqüente. E é preci-

à prática,

de dois pressupostos

preocupada

1I imos desde já, deve ser entendido

teórico-meto~ológi-

da História, ou como um manual introdutório

com a "Filosofia da História". Tanto o te-

,1" r,1110, muitas vezes, como pouco mais que um conjunto de' receitas; em ouIII usióes, o historiador é incapaz de algo mais do que descobrir QS passos

a expressão, objetivo . ca ao conhecimento

.leixar de fazer, se confundam

que esta

não pode em ab-

I! ,I~

peculiar e, se se permite

É por isso que um texto como este, de introdução

a práxis, por mais importante

se deve temer quê essas reflexões, que o historiador

«uno a própria confusão, seria uma prova a mais de imaturidade. Sq;undo: a articulação de uma boa prática historiográfica tem de estar.

1111'1'1'

desde as condições de sua profissionali-

seou-se no esforço por fazer dela um conhecimento

11.\0

1!II'~I.hlde pressuposições

a fins ulteriores. E uma mudan-

zação até sua bagagem intelectual e técnica. O progresso da historiografia

.'

111110

se fundamen-

tou na eliminação

progressiva

I'

estão acostuma-

repensar a própria idéia de História: quer dizer, fazer uma re-

~ohre a teoria e não apenas sobre

ltl

"I. 101

Seria difícil expressá-lo melhor ...

o progresso histórico

"estados da questão", que é ao que os historiadores

uuludível

bá-

iI

eliminar radicalmentedesse

'tlllvl'ncionalismo

tipo dereflexão

toda' tentação retórica e todo

trivializador."

sicos como os que seguem: Primeiro: o esforço teórico do historiador

deve basear-se na, e dirigir-se

à, análise suficiente da natureza da História, do histórico. E o tratamento tema deve' integrar-se

inevitavelmente

desse

>RMAÇAO CIENTíFICA DO HISTORIADOR

)I(

ao de qual conhecimento da História é

possível. Já se disse que os historiadores raras vezes refletem sobre a essência da I Iistória, Pelo contrário, pode-se citar o exemplo de outras ciências sociais, como a sociologia, na qual a "ontologia

do ser social" constitui

sempre um

tema teórico recorrente." Por que a natureza do "ser histórico" deve ser uma preocupação

A

dos filósofos?.. Além de refletir sobre a prática historiográfica

'e

Depois de mais de um século e meio de- existência de uma disciplina uormalizada

nmu das questões

pieparação dt'IIIO

36 FEBVRE, L. Hacia otra Historia. In: Combates por Ia Historia. Barcelona: Ariel, 1970. (A primeira edição desse conjunto de escritos é de 1953.) 37 São muitas as publicações de~onstrativas dessa afirmação. Ver o sempre inspirador texto de MOYA, C. Sociólogos y Sociologia. Madrid: Siglo XXI, 1970. O de ALEXANDER, J. C. Las teorias sociológicas desde Ia segunda guerra mundial. Análisis multidimensional. Barcelona: Gedisa, 1989. E LAMO DE ESPINOSA, E.; RODRfGUEZ I13ÁNEZ, J. E. (Ed.). Problemas de teoria social contemporânea. Mndi id: eiS, 1993.

da Historiografia,

escrita e da confortável

11 "

de um ofício profissionalizado instalação

que, seguramente,

de seu ensinamento

sofreu menos alterações

e o perfil intelectual do historiador,

roi-se desenhando

de sua pesquina Universidade, foi a própria

A imagem do historiador

em seus traços mais característicos

mo-

ao longo do sé-

11110 19 c o professor de História, tal como o conhecemos hoje, é uma figura j.\ delirnitada ao começar o século 20, Fundamentava-se na continuidade da

lli Quantns vezes não observamos que o "objeto e método" da disciplina não é senão UIl1i1 mera retórica ou liturgia no decorrer de um concurso a um posto de funcioU(II io ou na própria progressão na carreira funcional, sem maiores conseqüências!

<1'\

Capitulo 1 História e historiografia: os fundamentos

Parte J Teoria, história e historiografia

considerados em conjunto, os historiadores jamais reconheceram a necessidade de dedicar-se a estudos preliminares bastante amplos, que Ihes permitissem abarcar o assunto em todas as suas relações naturais. Por essa razão, vemos, não sem espanto, um historiador ignorante em economia política; outro que desconhece as leis; um terceiro que não sabe uma palavra a respeito dos assuntos eclesiásticos ou das mudanças da opinião pública e outros que descuidam da filosofia da estatística ou das ciências físicas, apesar dessas matérias serem as mais importantes de todas, posto que compreendem as circunstâncias principais que afetam o temperamento e a natureza da espécie humana ...; perdeu-se, portanto, o auxilio que se teria podido obter mediante a analogia e a comparação, não tendo sido exercitada a concentração desses. trabalhos na história, da qual são, na realidade, partes constitutivas indispensáveis." .

tradição erudita do século 18, mas a ela se somava então a convicção de se praticar uma "ciência" e, através das notáveis modificações lo 19, o historiador da História"

havia adquirido

Com, o influxo da concepção

rido também

o afã de aperfeiçoar

O fato paradoxal

introduzidas

novas habilidades

positivista da ciência, havia adqui-

seus métodos.

é que até um momento

20, a 'própria "escrita" da narrativa

históricà

bastante avançado do século

experimentou

raras mudanças,

quiçá com algumas

exceções, entre as quais caberia

Synthêse, promovida

por Henri Berr." Nunca se impôs ao historiador

sidade de uma formação disciplinas

filosófica, um conhecimento

afins, nem uma formação

sempre para a melhora

destacar conveniente

dos documentos.

do historiador,

a historiografia

suas linhas mais clássicas, talvez com o acréscimo razoada" e, inclusive na "história

nunca se equiparou

a necesde outras

Ao alterar pouco a

própria concepção da escrita da História e, conseqüentemente,

na "história

a escola da

científica específica. O ofício dirigiu-se

do tratamento

peito do perfil profissional

no sécu-

em "ciências auxiliares

à figura dos praticantes

Que ressonância I

não têm essas palavras, ~e um século e meio atrás"

quando são postas em relação com a formação toriadores

de hoje recebem (pelo menos na Espanha)!

seguiu melhor em'

lutamente

insuficiente,

de que então se acreditava'

sincera"," O historiador

quase

das outras ciências sociais antes

da segunda metade do século 20.

além de inadequada

esforço para deveria ten-

der para a consecução

e práticas historiográficas

de um objetivo pragmático tem de experimentar

da mais da idoneidade sustentar

a justificada

dúvida sobre a imagem

de certa realidade social e fará duvidar ain-

de sua formação

atual, Exi~tem razões de peso para

essas dúvidas.

Pouco depois de meados do século 19, o historiador Thomas Buckle dizia, a propósito vale a pena ser transcrito

e absolutamente

britânico

Henry

da maneira de abordar a História, algo que

na íntegra:

40 "Históriasincera" faz referência ao título de uma conhecida obra de Charles Seignobos. J Jistoire sincêre de Ia nation [rançaise (1933), que despertou comentários entre divertidos e sarcásticos de Lucien Febvre.' Ver L. Febvre, Comhatcs, p, 13\ c seguintes.

em que se fundamenta

univerde orien-

no ofício de histoem qualquer contínuo

uma de da for- .

a sensação de indi-

gência intelectual que oferece essa ..... preparação universitária não são difíceis de enumerar. Uma exposição, sem a pretensão de/ser exaustiva, teria de assinalar, inicialmente,

três aspectos claros do problema.

O primeiro

deles, 'provavel-

mente o mais grave ainda que possa não parecer, é a...incrível e esterilizadoraunilateralidade,

o constrangimento

tudos universitários 39 BERR,.H. La sintesís en historia. México: Uteha, 1061. (Colección Ia Evolución deIa Humanidad). Não se deve tampouco esquecer o trabalho desenvolvido pela revista dirigida pelo próprio Berr, Revue de Synthêse Historique.

mudança

qualitativo

passa por um aperfeiçoamento

mação científica do historiador. Os. argumentos principais

básico: a

A preparação

uma profunda

riar. Todo processo efetivo na disciplina historiográfica, suas múltiplas ramificações,

O que foi dito fará compreender

por culpa daqueles

urna renovação eficaz dos pressupostos

tação se se deseja alcançar um salto realmente

como pesquisador

Essa formação é abso-

e, certamente,

revisão da formação de que é dotado hoje o historiador.

Atuais insuficiências na preparação do historiador

que os jovens his-

que definem e toleram os planos de estudo existentes. O primeiro

sitária do historiador

do historiador

acadêmica

as idéias a res-

míope com que estão programados

do futuro historiador,

os es-

que se limitam aos conhecimentos

41 BUCKLE. H. T. History of Civilization in England. London: J. W. Parker and Son, 1857-1861. A citação foi retirada de ALTAMIRA, R. La ensefianza de Ia Historia. Madrid: Akal, 1997. p. 169 (A primeira edição do livro de Altamira é de 1894). A obra de Bucklc foi continuamente reeditada até os anos 1960.

Parte 1 Teoria, história e historiografia

Capitulo 1 História e historiografia: os fundamentos

'\

1

"de História", sem praticamente

nenhuma

, tante, de outros tipos de conhecimentos

outra perspectiva, e depráticas,"

próxima ou dis-

tanto em seus funda-

Daí resulta a inócua preparação teórica e científica que recebe o aspirante a pesquisador da História, a historiador." E, em terceiro lugar, o oferecimento praticamente inexistente do ensino de um "ofício" __ É palpável que essa tripla carência se insere em um

contexto extensivo a outras muitas carências da universidade se exemplificar de forma arquetípica,

igualmente,

atual e que pode

nos estudos em ciências so-

ciais e, ainda mais, nas chamadas "humanidades". O fato de que a História

necessite de apoio e de um amplo conheci-

mento de todas as ciências sociais afins, das mais próximas, tipo de pesquisa social que pratica a historiografia, belecida. Na Espanha, praticamente

desapareceu

pelo menos, ao

não é hoje uma idéia estados currículos

toda referên-

cia - com exceção talvez da Geografia - ao amplo campo das disciplinas que integram as "ciências do homem". Do primeiro "História':

E nem sequer se tem mantido

ção. O futuro historiador

desconhece

par~ não falar da demografia, Quando

as disciplinas de maior especializa-

a sociologia, a economia,

a politologia,

1i~II,()cSem determinadas IIh fllH' ·1IVrI.

teórica que se oferece a um historiador

estamos nos referindo, na realidade, a algo que simples-

11

outras profissio-

ciências sociais. Não é demais advertir, no entan-

assunto da inadequação

da formação historiográfica

o mais extremo, das deficiências estruturais

é um exemplo,

e operacionais

do ensino e

IlIl\lk.I tias ciências sociais na Espanha, campo este em que são muito mais 1lIlI!ll.mles os mitos beatíficos e inatingíveis,

os ídolos midiáticos

Illh!llores de ideologia, do que os pesquisadores

que trabalham

e os dissecom rigor e

Ii'III.llIcirajndependente. () terceiro aspecto assinalado é tão claro como o precedente

n-levante. Nossa situação atual é de ausência praticamente

110"

e não me-

total, na for-

do historiador, do ensino mínimo de um "ofício", ofício cujas habilida-

11I1'\'\0

IIlIic1t'veriam atender tanto a uma formação baseada em princípios

e pressu-

I'[l~tos como em métodos; tanto às "técnicas" como à capacidade discursiva. O II~IIIOda historiografia ir

1\

na Universidade

um mero verbalismo

tem muitas vezes quase que se redu-

- não sempre, naturalmente

-, a uma exegese da

I'llIIIuç41o escrita existente, a uma leitura de "livros de História", de informa\1\0

do latim, da estatística, etc.

falamos da formação

hoje na Universidade,

ao último curso só se aprende

ampla e sólida; completa. Não se pode' igno-

" 1.1"(' problemas desse tipo também afetam, e gravemente,

mentos como em seus produtos.

nos centros universitários

I~u mação científico-social

lIi

eventual, e não à transmissão

Itlll matérias cujo conteúdo (' t

de alguma tradição científica. Quando exis-

é a "teoria", o "método" e questões afins, longe de

Ollverterem, como seria imprescindível,

Im.lis na formação

"teórica" planejada

I'Clil~ricas, meramente complementares e nem sempre bem distribuídas." Necessariamente, a conclusão sobre este estado de coisas não pode ser

uma idéia dominante

sobre o "campo" científico-social

tro do qual se deve procurar gráfica que possa desempenhar lidades sociais. Infelizmente, os profissionais

den-

teoria historio-

o papel que a teoria ocupa em outras especia-

continua

da historiografia

ve o estabelecimento

ou humanístico

sua formação. Não há nenhuma

sem existir uma consciência geral entre

a respeito da importância

de um objetivo planejado

crucial que envol-

para dotar o historiador

de

continuam

IIl1lito otimista. Nossos jovens saídos da Universidade, I ill, raras vezes estão adequadamente

preparados

I

n-, Ainda nos resta, seguramente,

1111\

convencimento

IA

1\1\

matérias

em Histó-

na teoria e no método histoe é mais que medío-

um longo caminho a percorrer

comum de que o ofício do historiador

at~ que haja

não é o de "contar

por mais na moda que esteja hoje semelhante

Nl'II' mesmo quando essas histórias refletiram

43 Mas isso não vale só para quem vai se dedicar a "pesquisar" Vale para todo "Licenciado" érn História e o qual se supõe contar com uma mínima formação especializada.

licenciados

IjoW.\ficos. A formação recebida ~ de pura mernorização

IlIsll'lrins", obviamente, 42 A questão torna-se ainda mais patente, se isso fosse possível, n~s revisões a que têm sido submetidos os planos de estudo de 1993. O âmbito dos planos tem se restringido mais às "áreas de conhecimento" estritamente ligadas 'ao historiográfico. Mas o assunto é demasiado amplo para que se possa desenvolvê-Io aqui.

sendo, ao contrário,

estru-

mente pode-se dizer que não existe. Não. apenas não existe uma preparação e regulada, como não há sequer, ao menos de forma clara,

do historiador,

em matérias absolutamente

visão.

de verdade, o que é muito im-

Os currlculos de J 993 consideraram como disciplina fundamental e, portanto, obrigulória, a "Introdução aos métodos de pesquisa histórica", mas por não existir IIIlHlárea espe<;lfica de conhecimento sobre a questão e, portanto, um professora dlll'Spcclfico, sua distribuição é bastante aleatória. Isso conduz muitas vezes ~ per sl~t~tlcin dn irrclcvüncin da matéria.

CapItulo 1 História e historiograjia: os fundamentos

Parte 1 Teoria. história e historiograjia .:'

provável, as coisas "como realmente abrandada

segundo a tão fortemente

expressão de L. von Ranke. Nessas condições,

pulso e motivação os profissionais

,--

aconteceram",

suficientes, que exista fundamentação

da História, para enfrentar

é difícil que haja imcientífica séria entre

a idéia comum em âmbitos como

à político ou o midiático de que a História não é mais do que uma questão de opinião ..: Será incompleta to do historiador

e, seguramente,

dedicado

estéril, uma pretendida

formação tan-

da sociedade e, atrás disso, de um fundamento ma suficiente

suficiente das ciências

da natureza,

das dificuldades

de visões do histórico. Que não conheça de for-

o processo histórico

da historiografia.

que se.

"ao modo da ciência", para o que será preciso conhecer técnicas de

tratamento

dos dados, das que hoje os historiadores

tam. A formação

humanística

deve ser entendido,

111 . .lI' sua história e da história do pensamento

de um historiador,

como infelizmente

ocorre

comum ente não se do-

assunto incontornável, com freqüência,

\li'

I1lógica e a teoria do conhecimento

111~1Ili.II e, portanto,

,

certas técnicas e de um ofício. Muitos conhecimentos ria não são, de modo algum, um substitutivo

para o historiador.

não de

sobre o curso da Histó-

De maneira concreta e pragmática, cien~ista social hoje, compreendendo

M.Is não há nada mas nocivo do que çntender

1I1~1 11 Ii

t'

I'lhlllpios

pode-se dizer que na formação

do

nessa categoria de forma inquestionável

teriam de convergir, numa síntese correta, três dimensões imprescindíveis:

a formação

básicos do trabalho

II dllas dimensões hlllll,llIismo

intelectuais

"de Letras", deveria dotar o currículo

humanística,

mero amontoado

formativo

outro especialista em ciências humanas,

ciente da cultura clássica, em primeiro

for-

a científica e a

do historiador,

de matérias

culturais

I'(IIIII,I~.I()mínima nos problemas

irremediavelmente

do conhecimento

e ciência ciência ..

unidas." Uma

científico deve ser acorn

das condições atuais da ciência social. Todo accs

I'or menor que seja, aos procedimentos

da ciência deve começar pela com

1'11'('11,,10de que o trabalho científico acarreta a aquisição de uma "linH",l 11\", de certa maneira formalizada, mas que não se reduz de forma algunl,l .) genérica e ampla deve permitir

que, IIIl

I~IIIS((1111 desenvoltura,

tendo em vista que do conhecimento

III.lilllcntar de certas ciências sociais poderá depender ~,'lIlOncreta

que o historiador

1l'lIu'tica estabelecida

de um 'conhecimento

não pode prescindir

em parte a especiali:nl

pretenda. Mas aquele que deve presidir essa sis

da formação científica do historiador mais global, do que constituiu

.I"t1l', quer dizer, a teoria aplicada do conhecimento 1

pouco mais que

é preciscmcntc

o

a ciência da soci«

do social, ou a tcoru d,l

,l'lIda nplicada à ciência social.

como o de sufi-

lugar, de onde se alimenta a substância

cultural de nossa civilização. O humanista

que humanismo

diferentes e opostas. Pelo contrário,

são hoje dimensões

P"lllh,Ida do conhecimento

nos

científico. Não existe na cultura de hoje, toda

• 111\1erro mais nefasto do que o de considerar

"1'1'(10 mais generalizante,

e não o tópico das "humanidades",

que a formação hurna

alheia, ou está em luta, como se crê às vezes, com a formação

caso, o historiador se familiarize, pelo menos; com a situação das d~1l I),,, sociais mais próximas da historiografia e inclusive, se possível, circule 1'01

Em primeiro lugar, a formação humanística, a verdadeira formação hu-

qualquer

social não poder.

111,,"1

técnica. manística

para todo cien-

de todo o anterior.

Humanidades, ciência e técnicas

I

Um cientista

Mlill.

1I11ltllagcmmatemática. A formação científico-social

mativas inteiramente

são imprescindíveis

1111111 prt'scindir do humanismo clássico, das concepções do homem que se I 1IIIIIsmitido até hoje, e da disciplina intelectual que representa o hábito fi-

como algo

à existência de um desejo de busca de verdades comprováveis,

o historiador,

clássico. Mas prova~elmen-

do que a cultura filológica seja a filosofia. Como se pode I ;,linguagem científica sem uma mínima formação filosófica? Especial-

li,

contrário

de um contato com as línguas da cultura greco-

IIhll~IIllportante

Que careça, enfim, das

bases necessárias a respeito da forma de proceder de um conhecimento pretenda

mínimos,

à pesquisa como o que se dedica ao ensino, que

/

não seja capaz de dotar o sujeito de um conhecimento de análises e da multiplicidade

1..- tillllógicos

de conheci-

ti

Sobre esse aspecto, ver as convincentes considerações de um cientista, FF.I~NAN DEZ-RANADA, A. Los muchos rostros de Ia cicncia. Oviedo: Nobcl, 199'\.

r,

(;11/,(/11/111

Parte 1 Teoria, história e historiograjia

A forma São nos fundamentos ser acompanhada de orientação

llistór;a e /,;storiogrtljill; ." j""",,"t<"11t>

lógicos e epistemológicos

de uma formação prática em métodos de investigação social

diversa, e em técnicas que vão desde a arquivística

à pesquisa de

campo. No que foi dito, não se deve ver menosprezo pelo fato de que, naturalmente, a própria formação historiográfica específica é o objetivo último e cen-

,

tral de qualquer

reforma do sistema de preparação

Em todo caso, uma formação

tl\~ ~lIli.\is respondem

da ciência deve

sem prejuízo das especializações que a prática aconselhe e que,

cenciatura

.\S ciências sociais. I hnu resolução adequada das duas considerações

lIilP Importante

II lunçâo

\U(1

IlIh"l

não é nenhum

des-

extrair a conclusão de que não haverá uma séria formação de histo-

'.011"

para concluir seriam aqui pertinentes mais duas proposições

que reforçam o

que acabamos de expor. Uma refere-se à necessidade de reconsiderar a significação completa do que entendemos

por "formação

são e de apropriação

de um historiador"

no que ela tem de imer-

de uma tradição, um estilo de pensamento,

dade de trabalho específico e uma preparação instrumental preparação

espanhola,

tecer, certamente,

uma capaci-

adequada. A atual

a despeito dos progressos que não deixaram

e em clara contradição

com as profundas

ocorridas na concepção social da atividade de historiar, soleta, carregada de procedimentos

de acon-

modificações

está inteiramente

ob-

ter uma historiografia

Obrigaria

de um historiador

anteriores significaria

a aceitar definitivamente é a de nele inculcar, não

imcnto do que aconteceu na História, isso está nos livros ... mas como rói o discurso historiográfico

de sua pesquisa. O ensino das práticas

11-\,'11\das \1"11I0

químicos existem. É no decorrer da apren-

não que produtos

técnicas de construção

discurso, e não o contrário;

do discurso histórico que se aprende esse deve-se, certamente.

aprender

os fatos,

", ••_ sohretudo como se estabelecem os fatos. E eis que os jovens historiadores que hoje saem de nossa.s universida

\c••

SilO,

em geral, vítimas do "ingenuísmo"

1!\lIIm C que

teórico e metodológico

ali lhes é incutido. Ele tem sido denunciado

de que

e as disciplinas ao seu redor, se o objetivo é ob-

mais de acordo com o nosso tempo. Esse segundo as-

pecto tem recebido soluções cambiantes. A relação entre a historiografia

c.\

por não poucos gl.ln

Il'~ mestres de nossa profissão, mas, pelo que se vê, esse protesto foi suficicn Ir. Ainda continuam I'0d,' responder

sendo de uso corrente asserções como a de que "não ~..

exaustivamente

Irl-\lIillla que seja, se nãose I

à questão sobre o que é a História,

passa pelo plano estritamente

ilOSfilósofos a's respostas que o próprio historiador

por mais

filosófico"." Rem

deve buscar, afastando

do discurso fUosófico, é o mais freqüente exemplo de "ingenuísmo".

rotineiros.

A Outra pretende chamar a atenção para a releitura que é preciso fazer das relações entre o historiador

de perspectiva.

básica da formação

o~ q"lmicos,

nar e da metodologia da pesquisa histórica um hábito prático de reflexão e de toda preparação ernpírica e técnica. Nesse sentido,

mudança

tipo dentlfico Se baseia nisso: conhecer a química é saber como são os pro-

riadores se não se fizer da teoria historiográfica o centro da formação discipliprova que acompanhem

no nosso ponto de vista, em condições de aparecer no con-

iõncias sociais sem nenhum elemento de distinção pejorativa ou de

,,:,,1/1.1

em História.

Portanto, como recapitulação dessas considerações, propósito

da li-

e onde a

,~" ~"hsidiária. A definição "científica" da pesquisa social é problemática

e técnica

hoje em dia, ainda que pareça inconcebível, estão excluídas do currículo

muito distintas

dessas disciplinas não fizeram senão dificultar as relações. A

10I1~11-\11I1i.\está,

ilO dll~ ,

adequada é o que cabe reivindicar de~de já para se estabelecer um novo perfil do historiador,

e trajetórias

ei"W.di.\ dificilmente pôde ser vista como uma prática científica." Os

p"I.I' iVISII10S

dos jovens historiadores.

humanística, teórica, metodológica

a tradições

10 iom isso, é justo celebrar como se deve aquela proposição d or da velha escola, H. L Marrou, pllll()"ica, coloquemos

quando

nos frontispícios

dizia que "Parodiando de nossos Propileus

E, jun

de um história a máxima

esta inscriç.to:

e as

demais ciências sociais tem levado a situações bastante diversas. Uma paradigmática é, sem dúvida, a da França dos anos 50 'e 60, quando

a hegemonia

da

escola dos Artnali; impôs uma prevalência do "espírito histórico" no conjunto das investigações sobre a sociedade. Mas situação contrária

é a dos Estados

Unidos quase no mesmo período, onde a pesquisa histórica convencional

I\h

Sobre esse efeito é muito instrutiva a confrontação

apresentada no conhecido livro

de FOGEL, R. W.; ELTON, R. W. Cuál de dos caminos ai posado! Dos vis/r)//('.I tlrl« I/istoria. México: FCE, 1989. SArnA, A. Gula critica de Ia I Tistoria y Ia IIistoriogrn({a. México: FCE, 19119.p. 11.

e as

..I

Capitulo 1 História e historiografim os fundamentos

Parte 1 Teoria, história e histonogrofia

Que ninguém

entre se não for filósofo, se antes não meditou sobre a natureza

da história e a condição do historiador"."

111111evitar .' a ausência até hoje de uma posição unânime sobre o as"_.'q(lI'lIlemente, hoje em dia, essa resposta não pode ser, como não IIle!>,1.llcgórica. Em nenhum

sentido, nem positivo nem negativo.

111,1111\\1 primeira constatação

-,

que nos parece inquestionável:

II I'spécie não pode tampouco ser procurada

A HISTORIOGRAFIA) A CIÊNCIA E A CIÊNCIA SOCIAL

I

'1"1' enquadra

fi

um problema

fora de um marco

que, de uma forma ou de outra, é

""1.10 por lod~s as ciências sociais: é possível um conhecimento h."IIl'tII? E, em todo caso, o que se deve entender rigorosamente

Por que uma discussão sobre o caráter do conhecimento

da História,

e seus limites, deve começar falando da ciência? As ra-

de suàs possibilidades

zões existentes para que seja indicado

agir assim são de importância

inques-

tionável, mas é certo que não há unanimidade

de critério sobre elas. Desde

muito tempo, difundiu-se

uma atitude ascética ou reti-

entre os historiado~es

cente, quando não francamente de desse gênero de especulações historiadores

contrária,

a respeito da pertinência

em relação à historiografia.

nunca houve acordo sobre a qualificação

cidade cognoscitiva

e utilida-

No mundo

intelectual

ou a capa-

própria da atividade de historiar. A questão se a historioseriamente

sos, a resposta a perguntas meramente

conhecimento

Em outros ca-

desse gênero não recebeu mais do que conteúdos

formais, que não procediam

É imprescindível, de problemas

a maioria dos historiadores.

de uma reflexão realmente

detida.

no entanto, que se dedique certa atenção a esse tip

quando se espera entender

o que é em seu núcleo a essência do

que aporta, .ou deve aportar, o historiador.

Para uma conside-

ração como essa, não parece que haja um marco a~equado, partida melhor que o do conhecimento

ou um ponto de

científico, com uma determinação

tarn

bérn essencial: o conhecimento' científico aplicado à sociedade. Quer dizer, o marco da ciência social. Que tipo de conhecimento cabe esperar da historin grafiai

É possível um conhecimento

científico da realidade

gatoriamente,

desse gênero, estamos no terreno em que se situa, obri

a nosso ver, a discussão sobre a natureza do conhecimento

, tórico. No presente capítulo se busca estabelecer balizamentos te desse gênero e para uma resposta que, necessariamente,

• Ollhl'l'imento? Na resposta a essa pergunta estará incluída, sem dúIclllelwafia. Tentemos, pois, começar, enfocando

MARROU,

11.

I. m couorimicut«

IrisltI,im,IIí1I'lI'hlllll:

11111111,

essa última questão

,~1'111.

1%" I IA ClnNCIA E AS CI~NCIAS SOCIAIS I'I0hl"III.\tica do conhecimento

científico, que é a vertente específica

1t1{IIII.1 '1"1' aqui nos interessa, é abordada de maneira concreta por uma II11('111 i.1tio conhecimento que é a Epistemoíogia-" Ciência é "um tertil 1111\'.1tradição

filosófica e mundana

tem significàdos

muitof dis-

I!I.I p"lavra, em seu sentido mais preciso e correto, que é o que em\l1"i, Iksigna o que chamamos

"ciência moderna"

por antonomá-

di".'I,1 illncia como o resultado da "revolução científica" que teve iníIH\~\

IIIH'nlO e produziu

a Mecânica newtoniana,

1'1" IX, eiSavanços no conhecimento

ou a Química, dos

da eletricidade

"IIIolt'I~~il'.ISno século 20, etc. I •••• 11\I'rlsl ica mais decisiva e a diferenciação

no século 19, as

mais explícita do conhe-

to I \c'1I1I1i1llcom respeito a todas as outras formas de conhecer são a de .\!'I \ls/t""lltico

e sua sujeição a regras de comprovação de tudo o que se

his

para um deba

deve ser provisóri»

do conteúdo da Epistem<:>logia,BUNGE, M. Epistem'ología. Ciencia lIulI:l'Ionn: Miei, 1981; MONSERRAT, J. Epistemología evolutiva y teoria i". Mlldrid: Publicaciones de Ia Universidad Pontificia de Comillas, 1987;

i', fi I'ltlpúsllo

"O,.", ;"

~I.,

f /,.11I

"(.1 1" I' I (11'sllllrlltra de Ia ciencia. Problemas de Ia lógica de [a investigación cie/l' (it'" 1""'IICl~ Ai"I's: Poidós, 1974; PIAGET, J. Tratado de Lógica y conocimiento ciel/a I/Iti. 11111""" Ai,cs: Pllid6s, 1979.1: Naturalcza y métodos de Ia Epistcmologl . /i'm/II

48

por

socio-temporul,

ou seja, da realidade histórica? Com perguntas

cien-

dos

grafia é ou não uma atividade "científica", ou que outro" tipo de conhecimento é, nunca preocupou

uma

(/('/ riem' cn/cgorial. Ovicdo: Pcnlnlfn, 1992. I: tmroduccion

Gc-

I'11tH, p. I~. 1:1

Capitulo 1 História e historiografia: os fundamentos

Parte 1 Teoria, história e historiogrofia

'\

afirma como pretensa verdade dentífica.

Como todo conhecimento,

a ciência

"" ••li" ,/., lnnncm, em uma dicotomia que 'chegou a ter um caráter mais pro1111.11 mero referenteao âmbito estudado. di."inção entre ciência da natureza e ciência do homem

parte, ao menos em seu aspecto lógico, da observação, mas partindo da observação ou, se quisermos, partindo do conhecimento

comum das coisas até esse ou-

".1

surgiu ou-

tro nível do científico, é preciso percorrer um caminho sujeito a um método," A

1111';'1' 1I11110U ainda mais clássica, e mais decisiva, ainda que acabe sendo

adiantar que a ciência se define como uma for-

l'''Ihlt'IlI,Hica, uma vez que prevê de forma irreversível a necessidade de I d11l iéncia uma categoria única de conhecimento. Esta influente dis-

título de introdução, poderíamos

m,a de conhecimento sistemático-explicativo, não contraditório, fático (não valorativo) e testável. Vejamos com maiores detalhes o que querem dizer esses termos. Com efeito, não há conhecimento for conhecimento

sistemático,

científico, em primeiro

que se baseia na observação

lugar, se não

dirigida e organi-

zada da realidade, que constrói

os "dados" e os organiza dando respostas

perguntas

respostas, porém, com alto grau de generali-

sobre os fenômenos,

às

dade. A ciência, em segundo lugar, produz explicações, quer dizer, algo diferente de descrições e, também, de interpretações. As explicações têm de ser universais, coerentes em todas as suas partes e não contraditórias; perfeita adquirem identidade,

a forma de teorias. Os fenômenos

não têm mais do que uma

"de fatos" não "de valores', que

não julga do ponto de vista ético ou de qualquer outro a realidade que explica. Tampouco nalmente,

é um conhecimento

e esta é provavelmente

ser "demonstrado",

de "essências", mas sim de fenômenos. a característica

O epistemólogo

neopositivista

l'

ciências é a que teve sua origem na filosofia alemã de tradição historicista

de finais do século 19, e foi a que estabeleceu a di-

1\111.:1111\' dois grandes tipos: ciências nomotéticas - do grego nomos, norii I{,i ,( iências do geral, e ciências idiográficas - do grego idios, caracte-

i'" ~11I~ularidade -, 111

ddillilivamente

ciências dos comportamentos

estabelecida

por W. Windelband"

011111111 em todos os tratamentos

singulares. Tal distine passou a ser um

a respeito do caráter da ciência e a co-

III relação com dois tipos de resultados da ciência: o que se apresen11101'\/,/II·IIÇtioe o que o faz como

compreensão.55

"~~III1. enquanto as ciências nomotéticas ou nomológicas, que se tem muito tempo com a ciência natural, teriam como. função 1'"\.\1,.11' (I',.klilren); à ciência idiográfica, identificada com as ciências do HljH (111l i~lIcias da' cultura, estaria reservada a compreensão tversteheni." 1~lId;l~ do homem não estariam capacitadas para dar explicações na forlll! /t'm/lls mas deveriam dedicar-se a compreender o significado das ações

!Ir" .1110durante

que se enun-

C. G. Hempel

falou de

e as não empíricas." Mas

de ciências: as empíricas

a classificação mais conhecida

,IS

ou não como verdadeiras.

e metodólogo

dois grupos fundamentais

Fi-

mais decisiva, é testável, pode

explicita o caminho pelo qual as proposições

ciam podem ser consideradas

np",'nulillll,I

em sua forma mais

não podem ser e não ser uma coisa ao mesmo tempo." O conhe-

cimento da ciência é [âtico, é um conhecimento

11Ili'

e talvez a mais útil, mesmo a partir de um cri-

tério mais externo, é a que começou

distinguindo,

desde finais do século 19,

entre dois âmbitos do saber científico: o da natureza edo homem. Daí deduziu-se, após sucessivas matizações,

a distinção

entre ciências da natureza e

WINIII'.LIIAND, W. Geschichte und Naturwissenschaft (Strasburg Rektorrcdc, P,II\-!) 111:Prãluden, Aufsiitze und Reden zur Philosophie und ihrer Geschichte. TOl.illtll.1I J. C. B. Mohr, 1921. Bd. 2, p. 136 et seq. Há as traduções francesa (publica1,11111IlI'vl/(' de Synthêse) e inglesa (na revista History and Theory) desse texto, mas, 111 qlll' snibumos, nunca foi traduzido para o espanhol. Os neologismos nornotéti(11 I· Idiuf\I"Micose lransformam às vezes em alguns textos espanhóis, em nornotédt' forma errônea, em "ideogrãfico" I1nunpreensõo, em alemão verstehen, existem muitos estudos. Pode-se ver a 1IIIIIpllil~I\()dos escritos de WEBER, M. Ensayos sobre metodologia sociológica. Buc"'" AUt's; Amorrortu, 1982; GADAMER, H. G. Verdad y método. Salamanca: Síguc /111 .. 1'/77.2 V., IIABERMAS, J. La lógica de Ias ciencias sociales. Madrid: Tccnos, 1'11I/\ if\lIl1lmcnlc útil para introduziro assunto, MACElRAS, M.; TREBOLLE, J. 1., l/fl1/1I'//(~I//iclI cOIII.emporál1ea. Madrid: Cincel, 1990.

,"

&I '.,

'IIlltll'

51 Toda a terceira parte desta obra dedica-se ao método. 52 Em todo caso, isso não quer dizer que a ciência possa ou deva estabelecer uma ('x plicação única para os fenômenos. O conhecimento humano é mais limitado que isso. A ciência não estabelece nunca uma verdade para sempre, nem sequer nu I gica, nem se pode dizer que um conjunto de fenômenos 11l1oadmita diferentes cx plicações. Mas não se limita a descrever, nem deve ser confundido (Um intrt fI'CI,II. 53 HpMPEL, C. G. Filosofia de Ia cicncia nuturul. Mndrid: Alium.u. 11J119. p. I I.

n

" 1"1111 Ipio, lima boa explicação dessa oposição se encontra no livro de WRIGII'I', 11 VIIII 1>\I"iwciólI y cOlllprclIsiólI. Madrid: Alianza, 1989 (a primeira edição inl-\I" .1 f' di' 11)/1), em SCU capítulo I intitulado "Dos tradicioncs"

1 I/I/d/

Parte 1 Teoria, história e historiografia

'"

('lIf1l'"111 1 c ItíslOrlo8",n,,: IIS 11I"11","c"Ws

lIi",C' \ llilH.ide com o caminho particular que os cientistas perIMIO!d.1 ( 1('lIda mostra que se chegou aos grandes descobrimen- . \11111'11 ,I~diferentes. Mas se nos atermos no que é a "arquitetura", dll 1III'I0do da ciência" é preciso dizer que toda busca parte de ".1111tentar respondê-Ia se começa observando a realidade

humanas: Isso está estreitamente relacionado com a filosofia hermenêutica. Como o fato de explicar ou compreender a realidade é o objetivo, último de todo conhecimento humano e a ciência aspira precisamente a .ser o conhecimento humano mais fiável de todos, convém deter-se na maneira pela qual a ciência dá conta da realidade do mundo, seja o natural, seja o social. Em tempos mais recentes, mesmo com freqüência, recorreu-se a uma tríplice distinção entre ciência natural ou físico-natural, ciência social, ou ciência do homem, e ciência formal, sendo este·último o gênero de conhecimento científico que, como a matemática ou a lógica - recen!emente ampliado a campos como a computação, por exemplo, ou a semiótica, que apresentam um caráter próprio ainda que derivados daqueles· outros - explora um mundo de elementos simbólicos ou ordenações formais que não têm referentes nas coisas materiais. [on Elster, por sua vez, falou de uma tríplice classificação dos \ campos de investigação da ciência, fazendo distinção entre a física, a biologia e a ciência social, assinalando que o qlW d~stingue realmente as ciências é seu método. Referiu-se, portanto, a três métodos essenciais: o hipotético-dedutivo, o hermenêutico e o dialético, e a três formas típicas de explicação: a causal, a funcional e a intencional." .

1_11C' dllllOrnndo conceitos ou, como poderíamos dizer de forma bs coisas. Logo se constroem enunciados ou propo,,!,I.' I.I/('nl afirmações ou negações sobre as coisas e as relações

1.lIulll IIO"le

!iliwlII IIII.~(""c"tos. Finalmente,

o conheçimento

que pretende

IlIiÍl.I~ ,~tHI~l'q(\~ncias propõe certas explicações. plkll~:I"l', definitivamente, um conjunto de proposições \rI/li'

I'

ql/c

I>C

orde-

cncadeia por meio de um raciócínio do tipo da in-

;/"'/"1"0, pelo qual se estabelece uma hierarquia de proposições, "11id.I~ "1/1IlIS para formar uma argumentação

fundamentada.

O

III1U'\~1I111c'll'lIdc, que é verdadeira (mas a verdade pretendida deve 1!Í1)1I~11'~\lIa, mesmo que ainda não o esteja), deve ser contrastável I,'

I';I~\I,.uucs da demonstração

"hl dl'lllllllStração

matemática

da verdade, seja por meio do ou de outro

caminho,

e~tamos

Clíl'lh 11\.10 IIipotética. A explicação mais complexa, a que pretenIIHlln "I\lV"~ e a que, no caso mais perfeito, estabelece leis às quais,

Inu

o procedimento

I\'!llllll~tl u, os fenômenos

da ciência

obedecem, é a que se chama uma teoria.

Ililll~ 'ij,11pks, as teorias são aqueles conjuntos Para caracterizar o funcionamento da ciência, ainda que de forma extre mamente simplificada," a primeira coisa que se deve dizer é que o procedirncn to adotado para a construção do conhecimento científico tem um caminho I

illl.t.\lIt., 011seja, explicar um fenômeno

ti IIIIIJI/nto de proposições

J. El cambio tecnológico. Investigaciones sobre Ia racionalidad y Ia transtut maciôn social. Barcelona: Gedisa, 1992. p. 19-20.

58 Existe uma vasta literatura a respeito da estrutura do conhecimento científico e do procedimento da pesquisa científica. Limitaremo-nos a assinalar alguns tltulos h'I\ tante conhecidos de diferentes graus de dificuldade. A apreensão pode começar to 111 os livros de um bom divulgador, CHALMERS, A. S. Qué es esa cosa llamada ci('III/I/ Madrid: Siglo XXI, 1988 (e edições posteriores) e La ciencia y C0ll10se elabor«. Mil drid: Siglo XXI, 1992. Um clássico manual bastante conhecido é o de nUNCE, M La investigación científica. Barcelona: Ariel, 1975. Um livro mais complexo, cnl quc se expõe e analisa o que se chamou a "concepção herdada da ciência', quer dil('I, 11 idéia de ciência nascida com o neopositivismo no alvorecer dos anos triU!.1c qUI' do minou praticamente todo o século 20, SUPPE, E/,tI esttuctuu) dt: 1m I/'mll/\ 11/'1111/1 caso Madrid: Univcrsidad Nacional de Edll"l'dón n l)i~t"'llill, II)I)().

reglo-

o~ grupo de fenômenos

que constitui

"H,i~t~"1 "I interna e uma dessas proposições 57 ELSTER,

de proposições,

,Ii.t.\llr ('llIpfrica, que tentam dar conta do comportamento

a teoria deve ter uma deve estar formulada

IIJllki""" () que caberia concluir a partir disso como ensinamento

11".'111"1 111111 t 1

qlll' 1\ Li~lIcia constrói uma linguagem com a qual aborda o t:I/ IIwl.lnislllO pode ser esquematizado de acordo com o qua-

I!li11 I•• 111 ii!l

II~

IIhsl'l vaçõcs sobre este assunto presentes na terceira parte, dedica

(IIrl"d".

IO"'II~I(IN.

J.

C/I11ap 105 y teorias e/1 Ia ciellcia. Madrid: Alianza, 1968.

Sl

Par/e

;"pl/1l10 J

1

J

Teoria, história e historiograiia

ICONCEITOsl

• I PROPO~IÇOES

Generalizações empíricas

~

.

EXPLICAÇÕES

I

TEORIAS

7'

I

Considera-se, normalmente, que a explicação científica obedece a um desses três modelos, segundo afirmava Elster, os chamados causal, funcional intencional, que corresponderiam respectivamente às ciências físicas, às ciências biológicas e às sociais." As tradições positivista, racionalista e analítico têm sempre defendido a superioridade da primeira delas, a explicação causal baseada no mecanismo causa e efeito, que implica a presença de leis univer sais, seja sob um modelo nomológico-dedutivo, seja sob o probabilístico-in dutivo. Outra tradição da ciência, mais difícil de rotular, a idealista, antiposi tivista ou, mais comumente, hermenêutica, é a q?e tem defendido que o m canismo causa e efeito não esgota a explicação de fatos, no que diz respeito ~s intenções, aos objetivos, ao significado; etc. Quer dizer, todos os tipos de ações humanas. Para essas ações serviria muito mais a que Von Wright chama expli cação teleológica, uma forma de explicação funcional. Um grupo importante de autores tem defendido também que a explicação adequada para as ciências sociais é a intencional, se bem que com proposições que diferem em ponto, consideráveis e com o acréscimo de alguns elementos - a eleição racional, a 16 gica da situação, de certa forma a teoria dos jogos, etc. - qU,e as fazem divci

61 ELSTER, J. El cambio tecnolágico. Investigaciones sobre Ia mcionalidad y maciôn social. Barcelona: Gedisa, 1992. p, 15.

os ['/IIdalllclI/os

1IIII'IIlionais convertem-se, em alguns casos, em "explica1111,l!rll,,'~·,Jenquanto a explicação causal é, justamente, a que I~~o tem importância considerável para a explicação na

Quadro 1- A elaboração da linguagem científica

r

IIm!ríll r IIislOríogmjill:

111 IIII/II}III

illllH VI;II'mos no devido momento. hl(.jjI,1 dOI I~)(plkllçao na ciência social se relaciona, naturalmente, hh)lilll '1111:M' .iprcscnta também na ciência natural: o da predição, hfljl 1,;llilllllll' .rbordado entre os metodólogos em relação ao coi.11 (;.1HIII maior intensidade, ao caso das "leis da História". Há Illl"l'1lill'l os comportamentos humanos? Esse problema, por It1 \Iil d,l I'l)s~ibilidade de descobrir relações constantes entre as Í!\l'iVe" 11I IIOSfenômenos humanos. A resposta é imprecisa, mas II~IId.· 'I"l' .1ciência pode "predizer" a ocorrência de fatos sin! li Ch~1I1 1.1Ilska. A predição é sempre algo relacionado com as 11111"(1111" 1'1IIIl'SSOse desencadeia e com nosso conhecimento ou 1\I{l111'011111,1111,'" Condições e leis, no caso das ciências sociais, são illtt.:!IIII·lIto problemático dado que o homem concede sempre 1111 "~iUllilll.lllo":"

11I iJ 11 I ollu,j

to das ciências sociais

!f!O 1'/ dl'lI ~I' 1\ viragem intelectual de aceitar o modelo da desfluI d" 1IIIIIIdo ílsico para elaborar também uma "ciência social", !'~II11(il~1I1111do homem. O filósofo Auguste Comte (1798-1857), Indulo;'j do plIl>ilivismo, desempenharia em todo esse processo, ••li! "_1\u-l csscnc ial, A possibilidade e a necessidade de estabel/lil,-t.1.I" 11I11IH'III" suo, em todo caso, idéias anteriores a Augustc

plln!\~I' ,"

1",1 11,ti

í ;'" ,"1'.11'"

til' (:, ltyle cm TI/c concept of Mim/. Ver GLBSON, '01. Mudi id: 'Iccnos, 1969. p, 49 et scq.

Q. LII I

/111/ \(I(

il(1 AIU, I d •. 1'1111. J~'III/II/II(',,/(/ til' 10 nrediccián CII cicucios sociales. México: I Vi)'./;« I t 1111,,11110 di' li. de COII.lrié "Lógic,1de Ia Prcdicción" Ver também 11~"ili IIIlvllI~11I1~(lOS ftoit.l~.mteriormcntc.

i.t.ld, ti •. I.I/I'j vl'nlllddnls plcdiçCICS a partir das ci~ndlls sodllis rOIUIII 11111111111110111" 1'"11'(WI'tl.lt, K.R. Mi.\hill tlcl ft h 111/lcivn«. Madrld: Allan

li I

Parte I Teoria, história e historiografia

Comte. Aparece já durante o Iluminismo e é exposta por tratadistas com Helvetius e o barão de Holbach. Da- mesma forma que a idéia da irredutibilidade alma-corpo impôs cada vez mais a necessidade de se criar uma ciência da alma, as classificações primitivas das ciências, como as de Bacon ou de Am pere, que têm também um significado teórico, insinuam já essa ciência do ho mem-alma. Outro dos grandes pensadores ilustrados, Gianbattista Vico, em seus Princípios de uma Ciência Nova, estabeleceu que não há mais ciência do homem que o estudo da História. Sob a "História" se subsume na obra de Vico o estudo científico do homem como oposto à natureza. , A relação entre ciência natural e ciência social tem sido objeto de espe culação e de resoluções de todo tipo - quer dizer, pronunciamentos que, SClll dúvida, não tem ~ido geralmente aceitos - desde que com Kant aflorou CSM' problema, passando logo pelos delineamentos ftl?sóficos alemães de tradição kantiana do início do século 20, até chegar ao historicismo, à hermenêuticn C' , à polêmica entre positivistas e dialéticos - incluindo os dialéticos marxistas , 6S já na segunda metade do século 20. As ciências sociais registraram um dcscn volvimento espetacular no quarto de século que sucedeu a Segunda Gu<.'1111 Mundial." A ciência do homem se diversificaria progressivamente num conjunto de disciplinas que são chamadas as ciências sociais, ou ciências da socicdudr , diversas disciplinas ou ramificações que abordam os acontecimentos "cicutt ficos" do homem como ser social e que são conhecidas também como Ci~IH111

65 São inúmeros os escritos sobre essa relação entre ciência natural e ciência sm 1111,1 partir das posições que podem ser consideradas mais clássicas,como os dc Winlld band, Rickert, Dilthey ou Weber,em todos os idiomas, Traduzidos para o CilNII"II1d no, além do texto'de Piaget já citado, podem ser consultados FREUND, J. 1,,, 1,'" rias de ciencias humanas. Barcelona: Peninsula, 1975; WELLMER,A. TC/II(" 1/ 111", de-la sociedad y positivismo. Barcelona: Ariel, 1979;HABERMAS,}. {,a ltlJilfll ti" I". ciencias sociales. Madrid: Tecnos, 1988;HOLLIS,M. Filosofia de Ias cientins 10",1/, Una introducciôn. Barcelona: Ariel, 1998 (original inglês de 1994). Ilxisl('1111111 1"';1 antologia de textos de filósofos e cientistas sobre as teorias das ciêncí.rs 1111111111/.'1 em MARDONES, J. M. Filosofia de Ias ciencias humanas e sociales. MI/lI'III/It·, ("I/i! unafundamentación cientifica. Barcelona: Anthropos, 1991.A dlsput.i ('1111(' 1'1I~lIj vistas (analiticos) e dialéticos tem uma publicação chevc.n de ADORNO, 'I W fi aI. La disputa dei positivismo en la sociologia alemana. Barcclonu: (;ri).lIhu, 1'1/ I 66 BELL,D. Las Ciencias Sociales desde Ia sl!J!,//l/da 8//1'''''' I/I/II/tlil/I. Mild,idoAI 1984.A edição original inglesn dc 1979c foi revisada em 19112. é

Capitulo 1 História e historiografia: os fund~mentos

111fUlljllnto de disciplinas acadêmicas cujas fronteiras estão longe l"I'"III'lIle definidas - "ciências", "humanidades", "técnicas sociais", 11'_.h-nominações também atribuídas algumas vezes -, que estuII/plnu número de fenômenos, todos relacionados com a realida, .lu 'l'" humano, como indivíduo e como coletividade. Entre as .I~ maior desenvolvimento atualmente nos âmbitos acadêmiIlhll' ('~t.IO a economia, sociologia, politologia, demografia, psicol'ulu~I", geografia, lingüística, semiótica, história (sic) e outras de IIh;II~~'l'. Os desacordos sobre o caráter "científico" dessas discipliUild.I",tficação e hierarquia, sobre o verdadeiro grau de seu desen\ UhH' seus respectivos campos e suas relações com disciplinas tll/d,I suo objeto de especulações e contínuos debates." 11111/1. (, possível, no sentido próprio, uma ciência do homem, da 1" I~Vhkl1ll'lllcntc, a resposta está sujeita ao 9ue se entenda por ciên111 11111 muior ou menor rigor e ao que se entenda por homem e so1"1"lhllidolde de uma ciência do homem tem recebido, em linhas IIl'm .Il' resposta. A dos que a afirmam; a dos que a negam; e, por IOh '1111'crêem que se pode fazer uma ciência do homem, mas que f""'I/II~ .1.1ciência natural." Não podemos aqui entrar na discussão I!I t r(os posições, mas podemos assinalar que, na realidade, o 111111'111 I,\ se em torno da capacidade de explicar os fenômenos s.. 1••,.11» .1 leis bastante gerais. A possibilidade disso afirma-se a parI.:!! 1'111111 ivistas - com autores como Hempel, Nagel, Rudner, Wal-

".t_

••••••

1"11/11/.111101 1I"Mritivomais completo desse mundo das ciências sociais continuo llil(, 11'1"" oltol('~C}. Piaget, "La situación de Ias ciencias deI hombre dentro dcl 1"'11.1 011'I.,~lll'/Il i,ls",que é o capítulo 1 da obra Tendencias de Ia invesugaciôn CI/ II,';,h \(/"/,/",1. Madrid: Alianza: Unesco, 1975.p. 44-120. Os posicionarncntos 1'''114'"1 01111, "11'totlo caso, muito discutíveis em diversos pontos de suas opiniões IH"tI ,I "1111.1.,11\' li(> l,ld,1uma dessas ciências e de modo particular sobre a Ilistó Illolllllllfll111111). Vel'também MARJ)ONES,}. M. FilosoJfa de Ias ciencius 111I11/(/ "",,1 •.•. M'I/"I illh-s IlIIm una [undmncntnciôn científica. Barcelona: Anthropos, ""1\1d~l1dn social diferente da ciência natural inclui diversos rntlti 1I,,,Ii,.11I1111-11111, que tem seu primeiro expositor em Windelbuud, csiubelecc mlll tllollII,no 1I1.llnll~'IIII~'d.I~, UltlS1\(\\lOstlll.ISque Ul'glllllque 1I1ll,1 wllu'p,',lo I••ti~II".1 1111110 .1 do lIl'OllOSilivislIlO M'j,1.lplk.IVI'1.11Iestudo do 11111111'111. V('I III li II1('" I I" 1110\11/111 ti,' I" IIIVI',\I/~I/(f(SIl \tI(/II/. M('xiw: PC :1\, 1'I1i7, tI!!'I""'" d,'

fi~1

Capitulo 1 História e historiograjia: os fundamentos

Parte 1 Teoria, lrist6ria e historiografia

1IIIIIIdll do homem. Não existiu uma visão absolutamente lace, Braithwaite,

etc, A impossibilidade

- Hughes, Winch, Searle, Habermas.

a partir das antipositivistas

Os partidários

em geral

dessa última visão negam

que as ciências sociais possam explicar como o fazem as naturais. Um caso es clarecedor é o de PeterWinch que, como muitos outros metodólogos culam na linha da hermenêutica

na, adjudica às ciências sociais a capacidade

de "compreensão"

plicação, porque existe a barreira intransponível que têm as ações humanas

que cir

de tradição alemã," ou na tradição, weberia

e que constituiu

e não a de

do "significado':

ex

o "sentido"

a chave de seu entendimento." O~

fatos naturais carecem desse significado ou sentido. Por sua clareza argumentativa,

é a do filósofo da linguagem Iohn Searle, que assinala precisamente "um dos problemas

intelectuais

mais debatidos

de nossa

épOCa".71A caractc

de sua redução a termos Iísicos,

ciais têm uma semântica, além de uma sintaxe ... O dinheiro, as revoluções 011 \

zidos a elementos

'

"

físicos e, portanto,

sociais que nunca poderiam

ser redil

.

rais"" permaneceu,

único e que esta é uma diferencia-

11111,1,1\.10às ciências naturais e um claro indicador 1_111111 IIlHa ciência da sociedade. dll respeito à sua forrnalízação

e grau

IIli'llIdos, existe uma clara hierarquia

das dificulda-

de teorização,

ciências multiparadigmáticas

da segu-

entre as ciências sociais. pelos me-

de Piaget, ainda que discutíveis,

11'1I~~!lI'IIlllln um notável interesse na problemática comum a to18 ,"oei,ais,'" Piaget fez uma peculiar reconversão da distinção en111"'1111'1/('(/5 c idiográficas introduzida por Windelband para caracIId,,~u.uurais e as humanas, respectivamente, estabelecendo que \" 1"'1'11.1'I iências sociais ou humanas existem algumas especificaiit,«, quer dizer, capazes de estabelecer "leis" dentro de seu pró111111."que não alcançam tal nível." Piaget considerava

dos quais não se poderá fazer ciência,

A polêmica em torno do fato das ciências sociais serem "ciências, do ciências, ciências imaturas,

1111xujcitas a um paradigma

liH-n. tl'~fortuna. As formulações

este COl1\o

porque não é possível a redução em matéria de termos mentais. Os fatos so as guerras são, por exemplo, fenômenos

da mesma maneira que existiram es-

""II~ liMas dissecações da relação interna entre as ciências sociais

sociais, afirma, é seu caráter de fenômeno-

rística essencial dos fenômenos

mentais, de onde se deduz a impossibilidade

do humano,

globalizadoras na explicação d~ natureza. O próprio Th. I distinção." Isto conduz a que se diga que as ciências sociais

I~II. vl~tH"

1,11'1111 Piugct propôs, senão entre as mais convincentes,

outro exemplo notável da posição nega

de urna "ciência do social" análoga à ciência natural

tiva sobrea possibilidade

Itihlll.l'xplicati~a ••••

hege-

que as

1_ pllcll.·.•.i••111ser divididas em quatro grupos: as nomotéticas, his-

PS('II

ou ciências 11111

11.',11

I'

Illosóficas,

segundo o que se expressa neste quadro:

,

pois, aberta. As opiniões que negam a possível cicntiíu

dade dessa "ciência social" revestiram-se, sem dúvida, indiscutível

por fim, de múltiplas

formas."

I I,

que as ciências sociais nunca atuaram sob o auspklll

de um único paradigma, no sentido dado por Th. Kuhn a essa palavra, dI' 1

69 MACEIRAS, 1990. .~ 70 WINCH,

M.; TREBOLLE,

J. La hermenéutica contemporânea.

P. La Idea de una ciencia social. Buenos Aires: Amorrortu,

Mndrid:

(1111'

I

1972. p.l) r I ~('I

71 SEARLE, J. Mentes, cerebros y ciencia. Madrid: Cátedra, 1990. p. 81, no C:lJlft ,,111 1'(1 pectivas para Ias ciencias sociaIes. 72 Ibid, p. 83. 73 HBGHES,

J. La filosofia de Ia investigación social. México:

FCE, 191\7. p. .I \ H

74 GIBSON, Q. La lógica de Ia invesügaciôn social. Madrid: 'Iccnos, 1%1\, 'llId,l ,I 1'11 meira parte trata de "Posturas anticicntlficas cn 101no u 111 invCSlil\.ll'iúll Mlll.d

1I11'~1I1U ddillCillllCII\(l (: aceito por IlnhcllllllS. Cr. IIAIU\RMAS, J, Maddd: 'IC:(1I0S, 191\1\.p. 1)11'1scq.

r"

,,,./1, i,,! \/1(/,,/,',.

h"

·aplllllo I I llstôru: e ',isloriogralia: os Iundamentos

Parte 1 Teoria, história e historiografia

1111111 ~t' deve entender, no caso das análises das sociedades, esse Quadro 2 - As ciências sociais, segundo a classificação de [ean Piaget

1,1111/,1110. N,lo se discute, igualmente, "lI 111.11 li de fundamentos

Psicologia científica Sociologia Etnologia Lingüística Economia Demografia

Nomotéticas

11 .1.-dl'lIl'llvolvimento

.Iurldicas

Ito,i.) II~ dilercnças li'

diacrônico

aspectos diacrônicos 'toriográfico,

,

entre as ciências sociais são de tal dimensão

!IIIII1I1V,\vclque se possa dar uma resposta em qualquer

"""11,,0(1" cjl'lIllfÍl.IS"

11.:1111 1Il'lIllOSilivisla, autores como Ernest Nagel, ou o de maior Rkll,lI ti S, Rudner,

que tal tipo de ciência tem relação 11I111 sociais; ocupa-se

de outras ciências lhe concedem, pela historiografia.

ou o histórico, não constituiu

I li

da "rcst ti 111

ciências CSI.,~ 1111" Dessa forma,

um campo autônomo

de

\I

111

I,hl(l

em si mesmo, Tal é o ditame nada lisonjeiro de Piaget.

admitiram

fi 1~/lllItllI"científico"

Ii jVII~1I'.lis:'Va relatividade

••• .,,1114-

11 IIIIhl,lIl\ .\••, Mas a conclusão

I••••••• illli\(llllll~ .1.1 iência I

DIFICULDADES l'EORICO-EPISTEMOLOGICAS

DAS crflNClAS

SOCIAIS1~

as necessidades

dos fenômenos

alguns condi-

culturais

e o viés valorativo

'{lllll 1lIl'IlItlológico, destacavam

epistemológico

humanos,

das formações

UH'/,I ~lIh)l'liv,1 da observação

"••lu I; IIl11llhccimenlo

que no terreno

dos fenômenos

e as leis so-

da explicação sode uma investiga-

sociais como variáveis sem-

final é parecida em ambos os casos:

nalurallêm

também seu campo de aplicação na

1.,1 till 111.11",num estudo mais recente, defendeu 111111 IIhJl'lo lOlllporlamenlos

As

senti-

ao social. Portanto, nenhuma resposta seria hoje IIlh ludcntc e, ao mesmo tempo, o terna já deixou de apaixonar

dos fenômenos

são considerados

as de

I'

ção do concreto", Mas, o mais interessante de tudo: aparentam não ser M'II,III "a dimensão diacrônica" dos fenômenos de que seocupam as demais ciêncui» '" ciais. Dito de outra forma, se a historiografia tem alguma entidade csn ti 1111 .1 da é a que as dimensões

que negam a possibilidade

I pmlíl1 iruu ,'sl,lr compreendidas desde a demografia e a economia h'Mill Il 11I~loriografia, por considerar uma gama muito ampla de

As posições de Piaget sobre a categoria das ciências históricas - aspl'l 111 o desenvolvimento

com outras, Afinal, são irrebatíveis

1.1'11 /., tleI homem: 11I1'1111gllll1Cnlo,que ,11 se deveria utilizar como resposta a tal per-

Lógica? Epistemologia?

que nos interessa aqui - estabelecem

mas que, muito além

científico de seu próprio cam-

Ill!lk~1'\1I~lcmólogos e metodólogos

Direito [ Ciências jurídicas especiais

Filosóficas

e de problemas,

e de domínio

"'IIIII'"!t~,k~IHII.II se comparados

Disciplinas historiográficas Historiografias setoriais

Históricas

que tais disciplinas apresen-

que se originam

1\"'111,~,Io , i~lldas essencialme;lle

que as ciências sonos estados mentais

da "ação", ou da relação entre a cs-

i,~II,I' ,111I.llmcnle não se pode dizer que sigam nem tenham de se Ainda que hoje não se discuta de fato nem a pertinência

sidade de disciplinas que estudem o que é especificamente de procedimento

11('111 111\1'1

humano

Illi1in.~ .1,1' d~lId,ls naturais,

1'01 111

que se diz "científico': está claro que se tornou !ll.li,

"ltll"l\

11111 .1', fli

78 Deve-se entender que prescindimos aqui de todos os prohlcmus mente metodotõgico. pois trataremos dessa questão na parte dn método e, concretamente, no capítulo li,

di' tipo I'!!'\ Ohl,l

llollis faz ver a diferença entre as expli

dl'~tllI,loI

1/1 1'\/1//(////11

tI('

11/

cieuciu.

de 11/16Rim de 11/ illvestiKllciól/ d!'1I finais do livro, XIII, XIV XV, ('stll d.1históri.t (hiSlOriowafi,,), RU1)N ER, It S, Filow

.1,.,11. IIdll IIOS plOhil'III,I~ I.! 1" ,Irl/II,' wu utl, Mud. id: Aliuuzu,

IIII.!,!

Proll/('II/(IS

""I·"o~AIIl'~: I'lIid6s, 1\/71\,d, IISsecçõcs

c

1\/7.1.

(j

.. Parte 1 Teoria, história e historiografia

cações por causas e as explicações por razões e assinala como nas ciências so

mológicas básicas que a construção percurso

comparativo,

jlll di,lIlh' de um problema filosófico, epistemológico,

de uma ciência social apresenta é fazer UI11

de toda forma bastante

IIlh li I' 1J"(' hoje podemos

breve, entre o que fazem "

i 11111 Illh I.

ciências da natureza e os obstáculos que aparecem quando se busca aplicar cs sas mesmas operações ao conhecimento

pretensamente

a) A primeira das dificuldades humanos

científico da socied.i

pois na observação conhecimento fenômeno,

da realidade encontra-se

científico. A impossibilidade

rais," é um dos problemas

dades técnicas, como de específicídades

substantivas

possui, quer dizer, da qualidade fundamental

nalu

que a estrutura

preparadas

e artificiais, tão artificiais que raras vezes as situações sociais 11'111,

para os sujeitos submetidos ou comparável

a tais 'experimentos,

equivuh-nu

um significado

ao de uma situação natural"," No entanto, é ta~bém

cido, de maneira para a obtenção

"é possível unicamente

em condiço,

nos fenômenos

geral, que a possibilidade de um conhecimento

da experimentação

realmente

científico.

não

dhl\

InÍtI

Hhlilllvo_

lil!]

assinalar

:'1!\l\ifkado do conhecimento

IIII,d, II~

(k tal conhecimento

que esteja intei-

afeta mais profun-

do homem

e da socieda-

e seu valor real. Refere-se à pos-

f('I\()lllcnos sociais possam ser efetivamente

explicados,

pUII",', d(',de fins do século 19, a ciência social partidária 11\ I\II~ Idái mos à função ohklllil

e extrcmarnente

Itll8 1'1l1;lgl,tfOs e, ademais,

I

objetivo." Mas não existe

globalmente,

il'!1dilll "Idade que se costuma

rCCOIIl1 é

sociais. A atitude de compro-

1"8 I 1111 ipromissos de quem os propõe.

t'~

perimentaÍ

que o homem ainda hoje não pode, em ge-

1111'1110, 110menos considerado

socrul

A manipulação

umpromisso"

consegue em relação à visão da

11111 obstõculo ao conhecimento

U(I,

da matéria social que é a rej1nl

vidade, ou a consciência que tem de seu comportamento. humanos

lI! '\

humano

lido \1' d(·frollta com fenômenos

Não apenas se trata de dificul

mais importantes.

mais intersubjetiva, quanto mais compartida

11dll conhecimento

neste tipo ti

diferente do que ocorre com a maior parte 'dos fenômenos

absoluta-

101(11 NOIIl!.'rt Elias assinalou a diferença entre o "distanciamen-

a origem de todo o processo dI da experimentação

de reso-

na maior parte dos ca-

!'1111'1JII,IIldo se afirma a verdade a respeito de algo, essa afir-

dclcv,

de uma correta descrição

considerar,

Nuo existe nada parecido ao conhecimento

!H.j~ 1!.lvI·1quanto

refere-se aos modos de observação do

e ao estabelecimento

pelos

111I11'1111 11111 a esfera nem área do saber.

de. Faremos esse percurso da maneira mais sistemática possível. fenômenos

c histor;og",fia: os [undamentos

I"'1'1'110 da realidade não teria de estar "contaminada"

epísre

para captar as reais dificuldades

,ti

leMe jll~, IISpreferências ou os prejuízos do sujeito que conhece.

ciais tem-se tentado ajustar ambos os tipos de explicação' dos atos humanos." Talvez o melhor procedimento

I

:aplllllo

IlIslt"

explicativa

complicado voltaremos

ou compreensiva

da da

para que possa ser resolmais à frente à questão

b) A segunda dificuldade tem sido designada muitas vezes couio « questão da objetividade, que se põe à mesa sempre que se trata de uma illVI;

j

m I!'~•• 111i.tis foi sempre uma questão discutida,

não só no sen-

tigação social. De forma equivocada, sem dúvida, supõe-se às vezes que 0'1111

(')11111 1,lp.11.1.'1\ ou não de fazê-lo, como também

no de que esse

, blema da objetividade

do conhecimento

tividade do conhecimento

humano

afeta apenas a matéria social. A o"i

significaria,

thl I11Nlt1l1,1.O que cabe agora dizer é que a capacidade

livjl I'

em linhas gerais, que C/IIIII

1I,\t1outro. /,'(1/

ills para explicar conjuntos

I\lH'~"IO t.unbérn Esp('dlllllll'lll

\

IK"illlI d"IVl' é. em último caso, a que se refere à própria possibiliI,ihl'll"-I"

80 HOLLIS, M. Filosofia de Ias ciencias socia/es. Barcelona: Ariel, 1998. sua Introdução.

de fenômenos

central da possibilidade

sociais, o

de se estabelecer leis

1111""("I. itu, )can Piagct disse que as ciências sociais se confor11.11111'1111' (11111() estabelecimento

81 Está claro que se excluem de tais fenômenos naturais testávcis os cõsml, n~ 1111 geológicos, por exemplo.

expli-

de "modelos

teóricos" que levem

"

82 WILLER, D. Ia Sociologia cienüfica. Teoria y Método. Bucnos AiH'S: A,IIIIII'-III" 1969. p. 28.

N,

1'1//1/'11111/110

Y

tltlt/l/lcill/l/('/lIO,

1l,lrt'c1l1llil: Pl'lllnsulll,

1990. p. 20

ct seq.

lil)

CapItulo 1 História e historiografia: os fundamentos

Parte 1 Teoria, história e historiografia

a interpretações

efetivamente

verificáveis, mas que não deixam de ser esque

mas lógicos."

11I\I'lItt'a uma presunção

uko

que é incompatível

com esse conhe-

I1de que a História é em si mesma uma realidade da qual

i 1i"'''1O

sui generis que não é equiparável a

1In;tconhecimento

II.II,I~ que pertence a uma categoria própria, a do "conhecirnenCONHECIMENTO

CIENTíFICO-SOCÍAL

il!H "I\.'juizo de voltarmos

E HISTORIOGRAFIA

E entramos agora no ponto nodal de nossa exploração: ra o conhecimento

da História participa

blemas do conhecimento

chamado

de que manei e pro

ou não dessas características

científico

e, em particular,

do conheci

definitivamente, Ressaltamos,

lugar, que afirmações

J. P. Bury,

"a História é uma ciência, nem mais nem menos', Esses voluntarismos

não foram raros, em tC1l1

pos passados se disse muitas vezes coisas parecidas, desde meados do século 19, pelo menos. Antes de Bury, Iohann Gustav Droysen afirmava, em I !V,H, que as "ciências históricas"

eram parte das ciênciãS do homem

chamnd.t

"ciências morais"," Mas ao se iniciarem as três décadas finais do século 20 dia-se dizer que "o estatuto

, lill 1\I'~.n, tarnpouco,

do tipo daquela feita já 111\ expressos .'

da História

como disciplina

vel"," E sobre essa questão citações de autoridades

permanece

pl!

insolu

do homem na totaliepistemológico

e, em outra parte tam-

hjl~vd.h.\II,Il. Mas a alternativa do "vale tudo" pode ter efeitos mais IllIII, NI'III o cicntificismo

a toda prova, nem a postulação

•••• llIttt.'I' ~ W~If\1I111.1 sobre a

l~t(ldl"

flabilidade do conhecimento

que é possfvc1

O ((" to é que só uma rigorosa prática regulada na obtenção

I!I"'~

1I~'I'gllra sua fiabilidade lógica. Deve-se aceitar a condiçau

1\1111"11 dessus "ciências históricas" que lhes é atribuída,

tes de se buscar uma resposta direta à questão de se a História pode ser 011,. como o da ciência. A que queremos abordar agora é ,I qlll

84 PIAGET, J. et aI. Tendencias de Ia investigaci6n en Ias ciencias socialcs. Mnd. 111 Unesco: AIianza, 1975. p. 85.: 85 Essa frase foi pronunciada na seção inaugural de sua cátedra em Oxford \.'1\1li/li!, publicada em The Science o[ History. Foi publicada também em STIlRN, I' (I li I Varieties o[ History. New York: Harper and Row, 1966. p. 210 ct scq. 86 DROYSEN, J. G. Historik: Vorlesungen über Enzyklopãdic und MClhodolllllh ti!" i Geschichte. München: [s.n.], 1974. A edição original apareceu em 111'111 (I d~1 uma versão espanhola parcial. Histôrica. Lecciones sobre Ia J;lIcír/O{1('rlil/ y A1,.,,,.JIIJ,, gía de Ia Historia. Barcelona: Alfa, 1983.)



87 LEFF, G. History and Social Theory. London: Thc Mçrlin P. C~~. 1%9, p, I I,

de um

•••. "" ••"IiI IlIi ,l!e'/lI'1 is ou uma forma a mais de mero conhecimento coII~Iit ti, ~.hl posições satisfatórias como ponto de partida para teu-

podem ser acresccntudu

Há diversos gêneros de questões prévias que deveriam ser elucidadus 1\11

geral

que a velha polêmica sobre o cientiiicismo

1111111 disputa retórica e terminológica

quase indefinidamente.

to de conhecimento

possível do conhecimento

1I11I'I"l'~,quer dizer, dentro do problema

científico-sociais

não podem ser tomadas como algo além de desejos voluntaristas vezes em frases engenhosas."

lll'lIlililidade"

pode ser considerado,

como mais um entre os conhecimentos

em primeiro

muito tempo por

histórico

agora

II'!]I!!dI' lima discussão assim não pode ser feito senão no con-

I

mento científico do social? O conhecimento·

a esse assunto, estabeleçamos

1'1'1 tllco e mais imaterial que seja o objeto historiográfico, seu ';111sentido pleno, conhecimento social, objeto da ciência soliHlI-1hi,tl'lI'ico é uma qualidade do' social. Por conseguinte, o dcli-

como vi

IKOft ," d!'VI' se considerar a historiografià não mais do que um hu IiIlVI~I.I,110nível dos conhecimentos comuns, como o que pro 1\11111111.1 n.irração literária, ou uma forma de descrição filosóf liI ~1111011 do tempo, ou deve-se, ao contrário, considerá-Ia uma plk"liv .r"( li, em suma, qual é a relação entre as ciências sociais !Vulvld,,, I' .1 hlstoriografia] t este o tipo de perguntas que, em nos 1•• IIIIAllj 1'°111-\'1111"iI pena abordar. Itlflllt\I,IIÍ1I\.hq-\Oll u ser, partindo I II~ dl,,,!t".,

d{lndas

da época d,e esplendor que par sociais nos trinta anos que se seguiram J

1','1,I, I ,•• 1111.1\ i(11 I tIL' I••s ,klldus dei homhrc dent ro til'! Si~ll'll1l' dI' lus dl'lI 1'1'" ,)1'1', ), 1'1111. '/bu/e'lIdo.1 til' 10 i//wstiJ.:oci6/11'/I 111Idt'/ltim mdo/t'\, Mil II AliiH'!,11 tl'II·~III. 1117'" p, 1\7 ',(l. !li

Capitulo 1 História e historiografia: os fundamentos

Parte 1 Teoria, história e historiografia

Segunda Guerra Mundial, uma forma de investigação social cada vez mais in tegrada nesse campo do conhecimento. Apesar de suas origens relativamente distintas, no século 20 a historiografia convergiu plenamente com as ciêncin sociais. É, portanto, perfeitamente adequado sustentar que os problemas epis temológicos comuns a essas disciplinas são também os que se apresentam nu historiografia, ainda que existam matizes particulares, na mesma medida CIII que existem em cada disciplina concreta. Isso não tem relação com o fato dI' que se possa discutir se a qualificação de ciências no sentido estrito, "duro". convém a esse conjunto de disciplinas. O que não parece discu~vel é que, (,'111 todo caso, não se pode negar-lhes a condição de práticas organizadas e sisumáticas de tipo científico, sujeitas a um método explícito, aceito e controlado A imputação bastante comum a partir da metodologia da ciência de que o hi toriador não explícita seus pressupostos, seus principias explicativos, pode plI recer precisamente contrária ao que se diz aqui." A única resposta-possível f que, com efeito, não há prática científica sem a explicitação de princípios ('X plicativos e um processo metodológico. ' A pergunta sobre a natureza do conhecimento histórico é, conscqücn temente, dó mesmo nível epistemológico que a que encontramos a prop6~1I11 do conhecimento científico-social em seu conjunto. Poderia-se questionar " é inevitável a disjunção entre conhecimento científico e conhecimento 'fi mum ou outras formas de conhecimento: não existem formas de conlu-, I mento intermediárias? Não, não há situações intermediárias, mistas, 110111 nhecimento, o que ocorre é que, em aparente contradição com o registrud. I 1111 passado, hoje ninguém defende que entre o conhecimento científico e 0111111 formas do saber haja um abismo intransponível ou, dito de outra form.r, '1111 o conhecimento científico seja uma forma monolítica: no conhecimento 111'11 tífico existem diversos níveis." De forma complementar, deve-se ressaltar que no interior das d('IH 1.1 sociais existem profundas descontinuidades. Há ciências desenvolvidus (' tlll

89

90

Com efeito, essa imputação é comum no campo da filosofia analüica dn lIiNIIIII,1, que pretendeelucidar a forma como se constrói O conhecimento hislchh 11.I 1,1 feita por W. H. Walsh, A, Danto e também, em outro terreno, Paul RklH'1I1 São numerosas as argumentações ernbasadas a respeito d(,'ssaidéiu (,' M' 1'111111111.1111 em obras já citadas aqui, como as de Chnlmcrs, Ilughl's c 1111111\(,'. Cf. PHHNANI1I BUEY, P. Ln ilusiôn dei método. ltlrns !'lIm 111I mChl/lllli\llltlllil'1lll'IIIII1'II/1111 1I'lIí'-'''

10,1 I "hjelo da historiografia, como conhecimento que tem como IlIItwllAvcl 11'fllllportamento no tempo dos sujeitos e entidades sociais, Inltr' ,'I através de pegadas e que só pode formalizar por meio de 111duvida, o mais problemático dos objetos da ciência social. I~\ il"ncias sociais, a historiografia, por s~u desenvolvimenlo c li 111'1.,.11 11prcsente enquanto prática científico-social disciplinar, s "do \ olocada nos níveis de baixa forrnalização e generalidadc. !lIl'fI llllllum das ciências sociais que apresenta uma clara sernc ,ltil'llvm l' problemas básicos. Os objetos específicos eondicionam IIvfllvlmc,,'nto desiguais. \lllllll" \.1.,0, cabe perguntar-se: é imprescindível, ou mesmo im I'O~I\.1ll dessa ordem de"questões para o futuro da hístoriogra 1'1'1\111.1 corno disciplina reconhecida e autônoma? Não mais so 1.1. 11I11., ,obrc a pertinência da própria pergunta, as opiniões con 111dúvida, também muito divididas." O ceticismo em torno ti" 1l(,i;C/Í~hl.ldcde "teorias" e de "metodologias" é bastante amplo ~' II!!III ,,'.1111,1tradição entre os historiadores: :g igualmente incgávci, 11"1li dl'o,cnvolvimento de certos setores da pesquisa hístoriogr.í IluI~ j"It'ldisciplinares e outras influências propiciaram também 11l1\"I\IWSrelativas à fundamentação. Disso depreende-sc que 1>(' H~,I"".tr .1()nfiguração disciplinar da historiografia, o trabalho •.••• II~~I!I'j IIl1ltthil.lvelmcnte, pelo tratamento desse tipo de problemas.

11) i iM C(lNIII'.CIMENTO

CIENTíFICO

DA HISTÓRIA?

'hnwh;l{ :\SNi"alou, há anos, com indiscutivel lucidez que "o gr,IIHIt' 11111 ilt:hilll: I omo o que envolve a questão 'é a História uma ci~1Il inf

líli!"•. 1"1'11.IllIIII posiçüo extremamente critica 1\ idéia de ci~nci,1jlrÓpdll dll 111\\1.11111 I' \I d,' IiEYERABEND,p, Contra c/método. Barcelona: Aricl, !I)7,1(11 II,\ 1'111,"111 1\ tlt' 1')70). De tom mais profundo c irônico c do mesmo FI'YI'III 1\11I I"IIII!:II'\01111' I'i ('(I/IIIC;III;('I//I). Madrid: CÓlcdra, 1991. (Tradu'/ldo tll1 lI'xlll !HIIIIIIIII) 11] i'fi~' 1""111111""1 lu\ l10lls wlIsidl'rllçflcs 110livro dI' NOIRII'.I.,C. SOllll' I" 1" 1111/11I'''. MlltlrltI: I'lú/H'sis/C(IH'dnl, 1997. Nl"'(' '''ISO in\l'll'\S.11"1"'1111 \I 111!,1I11111 ',: S.tlH'I,111('11101111, pOdl'I...

'jI'"

Parte 1 Teoria, história e historiografia

//Istória

Cllp/II/IIII c hisloriogrulill:

os (,11I(/11I1/1''''''5

IlInlwdl11ento que pretendem, reside no modo como ajuda a esclarecer a natureza da história (historiografia) e a delimitar o que a história pode e não pode fazer"," A diferença entre o que

do "relativismo", do "princípio

lil 1111I il~() das disciplinas

da incerteza", d~s lógicas confusas e das certe-

lIJc;l'"

a conhecimentos cientificidade

que poderia oferecer um conhecimento

quer outro conhecimento

I~III

pelo caminho, empreendido

sobre o homem,

tipo particular

da História? como qual-

é o erro freqüente

existe um convencimento

profunda

"tio

revisão e por isso mesmo, obviamente,

1\11

por excelência. Para a título

essas posições numa perspectiva histórica, percebe-se deu ao velho - e, na realidade, falso - problema da cientifici-'

IlIilo tI.1 História

da

urna resposta ou solução negativa, fez-se assim, de

fi,l, .1p,lrt ir de uma dessas considerações:

ge-

,n.' 11I1I,truir um conhecimento

a primeira, de ,\uem nega

«científico" da História simplesmen-

I"C 1I.\tI'c' pode alcançá-lo; a segunda, a de quem defende igualmente 11l~lc'II;.111,10 se pode fazer, de modo algum, um conhecimento !I~lllI'orque se trate de um tipo de conhecimento

mais firmes que derivam do progresso das ciências natu-

",h" iur,

conhecimento

t'

cientí-

inalcançável, como

aim por crer que da História só se pode obter um conheci-

~f'lIC'';', quer dizer, um conhecimento histórico, que não é o comum, dC'lIllIilO, nem o'filosófico, n~m pertence a nenhuma outra categoria, li'

por uma

a idéia de ciências da cultu-

ra." Ciência natural e ciência social são equiparáveis

preci-

•••,••'Il,r~,MIIlIi~,II\do

grau em que a cultura humana se vincula às condições da natureza. Esse é um

dos códigos da evolução genética. A idéia d~ cultura está passando

posto que essa teoria constrói-se

\llol I li," «uno defensores dessa posição nomes tão ilustres como os I', luret, G. Duby, G. Elton ou I. Berlin, para falar somente de his-

possível é bem diferente. A ciência da sociedade é um

rais em nos~o mundo, em especial da biologia, do progressivo

como uma ciência. Isso afeta desde as pró-o

1111'0(.'11\que a ciência é o conhecimento

de ciência e está ligado à ciência natural no mesmo sentido e

dos convencimentos

pode-se acres-

que têm negado a possibili-

mO\ .ll'c'II,IS ao último quartel do século 20,96 poderíamos,

de abordá-lo

tantas vezes, em que se pretende a equiparação

ciência social com a ciência natural. Atualmente, ral de que o caminho

do grau de

historiografia

n~dll \c'nd,\ historiográfica,

"seguros","

É inegável,que uma segunda questão prévia a esse problema

ti

bastante distantes.

sociais em seu conjunto,

111,11opiniões de muitos tratadistas

que não deixam de ser uma falácia, que desconhecem absolutamente o que tais coisas significam e, sobretudo, o caudal de trabalho "científico" que é preciso empregar para chegar à própria conclusão de que a ciência não dá lugar

1111

mas de seus objetos se manterem

/i,/'I'/lçil'l'

zas probabilísticas, o que relativizaria a ciência e suas exigências estritas de método e resultados. Tem-se, às vezes, lançado mão desse tipo de argumentos,

1I

epis-

95

faz a física e o que faz a historiografia não pode, é certo, ser banalizada com a idéia de que em décadas recentes do século 20 a ciência natural entrou na era

1:1

no terreno dos principios

Itllldamentos do método. Não se trata do fato de terem ob. n.ro sendo aceitável a dicotomia entre ciência explicativa e

1 11' 111111101 uma categoria própria

em seu sentido profun-

1

entre os conhecimentos

possíveis. A

til' ~C;II.I,junto com a Filosofia, a Ciência ou a Religião uma espécie de hl~dll\l'II'() tI,1 mesma qualidade. Existiriam um "conhecimento 92 MARWICK,A. The Nature of History. London: Macmillan, 1970. p. 98.

11I1!II"'III\O hist6rico, mas não uma disciplina da História. Esta seria a posi-

93 Um caso típico dessa maneira de proceder é o do livro de MARAVALL, J. A. Teorla del saber histórico. Madrid: Revista de Occidente, 1958 (2. ed. 1967), construido a partir da pretensão de que a História não é mais probabilística do que a Física e que

,

sua significação como ciência vê-se fortalecida pela "incerteza" da própria ciência física. 94 Para essa revisão das idéias sobre o significado da cultura, ver algumas obras recentes. No terreno antropológico, CARRITHERS,M. Por qué los hombres tenemos cul turasi Madrid: Alianza, 1995 (1. ed. 1992). A partir da filosofia,MOSTER(N, J. Fi losofta de la Cultura. Madrid: Alianza, 1993, e SAN MARTfN SALA,J. Teorta c/c 11/ Cultura. Madrid: Síntesis, 1999. Uma revisão das velhas idéias sobre li relação entre biologia e cultura WILSON, E.O. Consilience. 1.1/ uuidad dc! cunucuuinu». lI.melo na: Galáxia Gutcnberg Circulo dc Ll'(IOICS, 1999.

histórico"

lo 1!c;llI'tll'lIo Croce, de Collingwood e dos idealistas. NIl u-rrvno oposto, quando a resposta foi positiva, as apostas a favor da illllllllllltlt' foram feitas a partir de posições que apresentam

também notá-

1111'IhOl c:xplicaçãorecente desse problema e das profundas dificuldades da ciên I 1.1 hlllllll~ u de IIOLLlS,M. Filosofía de las ciencias socia/es. Barcelona:Ariel, 1991\. t

'

I )I'~M' mesmo assunto no caso dos tratadistas mais antigos, a partir do século 19,

1f

1.1i.III'IIH1~ IlO capitulo seguinte.

75

Capitulo 1 História e historiograJia: os [undamentos

Parle 1 Teoria, história e historiograJia

veis diferenças tradicional,

entre si. Para começar, um certo setor da historiografia

de caráter "positivista", sempre falou, e continua

mais

rar essa expressão senão como metáfora

J. P. Bury,

Henri Berr, mas também

ou analogia. Seria o caso de G. Mo Q. de

tratadistas

mais recentes como

Halkin, Marrou, E. H. Carr, Federico Suárez ou Iuan Reglá. Outra posição si tua-se na tradição

germânica,

sociais de fundamento

hermenêutico,

de filósofos e tratadistas

entre as ciências

que incluiria a historiografia historicista,

como ciências radicalmen a maneira de julg.u

te distintas da ciência natural. ESta seria particularmente

fora do próprio campo historiográfico,

como Dilthey,

IWII rlll o resultado de tudo isso, a cientificidade, da prática histo1'(1)1111., antes de mais nada, do grau de elaboração e aplicação de )\lê' 1',1.1icipe das características da ciência e se adapte, mediante "'Úl

1~11II1o.portanto,

vista, que defende que a ciência da História

pel,com

sua conhecida

à explicação histórica,"

participam

opiniões

deve operar, ao final das cont.i-,

As posições de metodólogos

como Llcm

de aplicar o modelo nomológico-dedut

iVII

seria a que tem falado de uma "ciência social

ciência social" (Social Science History), corrente provenientes

tanto

l{ll'" ,'quiparílr ciência natural a ciência social, isso reflete uma

realmente,

a posição

do mundo

e, em geral, a chamada mais próxima

isso sem falar dacliometria,

anglo-saxão

de

da situação

plenamente

haveremos

t-\III

como "cientifk ist« .

comentários.

pOI

\1111

E sobre tudo h,.•:,

\1111'1 i.lli/.lçàO da realidade

h, '1"('

,t' encontra

histórica

simplesmente

I 'I'u'

(, ,omum

98 IGGERS, G. G.; PARKER, H. T.llltematiolllll !landbook o! llis!o,iflll SllIlh,'\. I",,, temporary Research and Tlieory. London: Mcthucn, 1979. p, 7. As l·Xpll.'NNI'W~ 111.,,1, são de Georg G. Iggcrs, '

sua prática deve

de explicar a História, mas que aqui não

hn I hl-~,II n se estabelecer como leis. IIh~,1111I'1110 histórico

não pode estabelecer

leis da História nem,

I

i••I'llIIhllir

..",,,dn,

predições sobre a História do futuro. Ambas as coisas

,Iil , l(tlll.i.I no sentido "duro" e estão estreitamente

ligadas

o

Em

1'"1111w íalur, rigorosamente, de uma Ciência da História? No 10 11,1W.IIHil' ciência da natureza, como dissemos, da física em \I

\,\1111'\,incluindo a cosmológica,

a química, e atualmente

uma

não. Mas convém con-

Primeira, que, contra o que acreditava Pia-

\,C".II clm wl1sideráveis hl~I", ji"j

da

na ciência: as generalizações, que são úteis e ab-

,,_.ü~.•.•,hí,IS no sentido

1"111,1111101 IlIIporlantes.

sobre a cxplicaçuo

a partir

recluso na prisão da sin-

irremediavelmente

IIIl'tlSsihilidade de generalizar. Pelo contrário,

1I1~1l1""1111('11Ioutros metodólogos,

ao modelo de Ilcmpcl

mesmo que, mais adiante

11,1hllllllgi.I, por exemplo, evidentemente

de voltar posteriormente.

97 No capítulo 5, nos referiremos

antes? Se nos concentrarmos

•••• "" ••'"(.- \ohn' a natureza do histórico, digamos que mesmo sendo a nhlt:llIs substancial e insolúvel, o historiador não pode fazer a

qllt

das ciências sociais. '1\111 ••

caracterizável

que quase não necessita maiores

n

como discutimos

10 hitílt'lrilO, do objeto historiográfico,

da S(/ool

"escola de Bielefeld","

O empenho da escola francesa dos Annales tem sido tão difundido influência

hl,H08 envolvidos,

111

Science, a família Tilly, D. Landes, M. Postan, Ch. Lloyd, como também di' germânico da história social (a Historische Sozialwissenschachft) os KOl 1,11 Wheler, W. Mommsen

não dispensa, de forma alguma, um trabalho

11t~~I' 11.10existe uma teoria da história. Quanto ao problema da

ou E. Nagel, apóiam essa visão. Enfim, mais uma pu

sição, esta de historiadores, tórica" ou "História

neoposit i

pela metodologia

que todas as demais ciências sociais, assimilávcl,

intenção

de seu objeto. A apli- .

rl1h',. llIetodológico ou supõe uma diferença substan'cial e inso-

Uma terceira posição seria a sustentada com o mesmo mecanismo

rico e suficiente, às peculiaridades

11 11

Iriu, Nun há uma história empírica com pretensões de conheci-

Weber, Gadamer, Ricoeur ou Habermas.

por sua vez, à da ciência natural.

I'crsus "prática científica"

falando, de um"

"ciência" da História sem que haja, em último caso, outra forma de conside nod,

111"

esse é o caso geral das ciências

progressos de algumas delas em direção

hllU", 'lI'p,IIIHlil,que nno cabe ralar de ciência somente quando se ,hdl'II'1 !c-j, univcrsnis e predições do futuro. Pode-se chamar' de 1111\,11'111111\11 (()l\Slruçc)cs cognoscitivas

que não cheguem a certe-

Capitulo 1 História e historiografia: os fundamentos

Parte 1 Teoria, história e historiografia

No nosso modo de ver, o problema

festa-se em três elementos essenciais, ainda que não sejam os únicos, inserido em seu objeto, ou seja, na temporalidade ~pistemológicasainda

do social, que propõem

fico. São elas: a singularidade dos atos humanos,

In~~II\1"" do historiador

para o-conhecimento

IIllulon's,

sua sucessão, A

descoberto tronômica

o homem

ti

1(.'111

mas diz respeito, princi-

um método. Quer dizer, é visível que o trabalho

IllUilf' o rigor metodológico I

científico do social, uma dificuldud

da mudança, para cuja compreensão

essencial' é a explicação

1"1111IICo historiador

trata de buscar, para os processos histó-

IqUt'1 uívcl, explicações demonstráveis,

intersubjetivas,

u d,l d~ncia, e que, conseqüentemente,

até as das partículas elementares.

.luncutos

É, seguraIl}-ente, na análise do sig

e é também aí que, com toda probabilidade.encontra-se

ção de uma verdadeira existência de umavisão

Ihlillll'lIlO de tendências probabilísticas,

ItI.\lI(' da concorrência

tras ciências sociais, se não cabe falar de uma ciência no sentido pleno, podl

se dizer que nos encontramos nuncia a sê-lo, Tentaremos FÓi o historiador

significado dessa situação. da cSIIII,1

dos Annales, quem, nos anos 5.0, falou com cautela e com certa imprccisüu de observação,

do q,ue entendia

como prátiru

d,1

não em leis ou teorias, , de tipologias redundan-

históricas. A isso se chega com o uso de

11110sno completas,

e podem ser produzidas

ex-

refutáveis,falseáveis,

na

são, certamente,

IM••,••• I•• ~k

I'lIppcr, o que é uma prova de sua cientificidade.!" Não se 11111110 tI,I l iência somente pela generalidade de seu resultado; mas 11/I/II/llb;IO e procedimento. Às vezes considera-se

historiografia:

11111111\1'1111' errônea Em minha opinião - escreveria Febvre -, a história é o estudo cielllijiftllllfll/, 'elaborado das diversas atividades e das diversas criações dos homens de outros 11111 pos, captadas em seu momento, no marco de sociedades extremamente val'illlltl A definição é um pouco ampla, (mas) em seus próprios termos descarta, IIH' 1'1111 ce, muitos falsos problemas. A isso se deve, em primeiro lugar, que se quuliliqllt I ,história como estudo cientificamente elaborado e não como ciência."

,

rea-

em. resultados

de elementos constantes e precisos para

1Ill'lrirns, ainda que imperfeitas,

francês Luçien Febvre, um dos fundadores

mas com sagaz capacidade

'"1 I ertus conjunturas

diante de uma prática científica, e que não If

explicaro

desemboque

hilll "'l'lCIxillloçôes científicas que terminam

como com ou

não se deterá. Com a historiografia,

chegar a elas

\lrlll ,I M'r teorias de valor universal nem possam estabelecerpre-

teoria do .histórico, Mas é possível constatar

que o seu aprofundamento

pretende

explícitos e comprovados.

IIIIIll'IIIC possível mesmo quando

a chave da constinn

hoje .I teórica historizadora de tudo o que existe e conjcuu.u

lógicos conhecidos.

contextua-

H..ll'sn'ntar que uma prática científica, ou cientificamente

precisa insistir mui

do

da ciência. E, em

dos procedimentos

até agora um limitado número de leis, desde aquelas de escala u

nificado do tempo histórico que a reflexão historiográfica

porque

de atividades arbi-

IlvhJ,\(I(~sque tendem a estabelecer conjeturas sujeitas a régras ou

tudo isso subjaz, nos parece claro, o fato de que para o conhecimentocientl fico e, sobretudo,

não é um conjunto

II!:IIII'empfricas, subjetivas eficcionais,

cient

a globalidade do meio em qUI

e a temporalidade que constituiu

é possível compreendê-los

.fllll ,I/IH'I//c' dl/borado. Como isso é possível? Primeiramente,

questões

não resolvidas para alcançar um conhecimento

não seria uma ciência mas sim um es-

IIIII'I.lda. A historiografia

de uma ciência da História mani

de explicações,

ou

IHI,IIV.I~de explicar, demonstra

a debilidade

científica de uma

(1111'111 (, justamente

as propostas

de explicação re-

I

lItt"I",hll"

de que uma multiplicidade

corret,a a po-

illq"olÍiI científica

o contrário: sempre

que existe a possibilidade

111111 outras. \tIl illl-\IuIiu, como todo discurso ou produto ! ,,.,11//11I1,

de sua

final que resulta de

ou de uma ciência plena, não reproduz

nem preten-

Como traduzir e desenvolver essas palavras tão perspicazes no CIII'Mllhl ,que desejamos argumentar racterização

aqui? Febvre expressou há cinqüenta

da função e resultado

cogn?scitivos

anos 1111111 I)i

da historiografio

99 FEBVRE, L. Vivir Ia Historia.Palahras de iniciacién, In: Historia. Barcelona: Ariel, 1970. p. 40. O grifo (: IlOSSO.

__

,o

qUI:, 1\ IIU

C(lIII/IIII,'\

/'Il! !II

I,'

1'111'1'1'1

t'llI relação ao falsacionismo

é explicitada em muitas passagens de

Ilu,l \,"1 1'( lt'l'lm. K. R. La légjca de /a Íllvestigaci6n científica. Madrid: Tecnos, I Ir~1'1'I 10111111'1111'os l,IPllul()s IV e X. Do mesmo autor, EI desarro/lo dei conocili ,1,.11I1/11 ct ('ctl/jl'tlUIIIS y rlfullldO/les. Bucnos Aires: Paidós, J 967. p. 293 et '[iI" ,I ""1'111111 ruçuo" de c..i~nthl c mct.lflsica.

I)

Capitulo 1 História e historiograjia: osfundamentos

Parte I

Teoria, história e historiograjia

de reproduzir

o mundo,

soluta complexidade,

o âmbito

gível. A história total, entendida acontece", ou «a reconstrução tomada

de seu campo de exploração

senão que propõe

modelos

como a «história

completa

.1.1 historiografia.

em sua ab-

para torná-Io

ao qual nos referiremos

Christopher

Lloyd escreve que «(Historical in this quasi-positivist

nova-

, Mas o que significaria exatamente sentido quase-positivista

uma «ciência" que não seja considerada

ou positivista

caberia pensar na construção ciência das leis históricas.

science' is a defensible no-

or indeed positivist way?".'?'

da expressão? Inicialmente,

de uma ciência "totalizadora"

Uma ciência não positivista

no

\lI

do histórico, uma

1111

seria não

que poderiam

ser

essenciais para ajudar a explicar o que sucede em nossa vida presente.

Em

todo caso, o trabalho dológicos qualquer

estruturais

historiogrãfico

e a mesma

necessidade

e de práticas humanas

'li

de "teorização"

sobre os fenômenos

que

científico e social. O problema

resi-

de hoje em que, ao inexistir, no campo da historiografia, tável de fato, ao nos movermos te historiográficas, não podemos

uma teorização

mas referidas

genericamente

ao comportamento

falar de uma «ciência", senão, cautelosamente,

mais. ou menos bem sucedida e frutuosa

social,

da aplicação

do «modelo de trabalho"

que existam leis universais às quais se ajuste o desen-

histórico, global, das sociedades, porque não podemos

e, portanto,

predizer em termos científicos, o sentido de uma mudança

a histórica. Mas é uma questão diferente a de que a historiografia equivocada

*

prisioneira

.Ir indivíduos e grupos, o encadeamento

de «fatos sucedidos", não se

r~t,lhc:lccer um conceito como o de historicidade, que dizer, o de ine-

( ) historiador

alemão Reinhart Koselleck, freqüentado r dos problemas

!t1111ll1H'lItcnenhum

escreveu que «a história enquanto objeto de conhecimento'

Iclllll~as ciências sociais e do espírito"!"

1

11111I 111\,\0

ciência não tem

específico, mas o partilha

Essa afirmação,

que subscreve-

illKuma matização, já vale por si só como uma definição completa da

d,l historiografia

no âmbito das ciências sociais e de seu completo

,t!!IH nnento a ele. É certo, porém, que, como já se disse, aqueles que ali-

volvimento

suposta e eternamente

O comportamento regularidades, ao menos

que estudamos.

indubitavelmente,

d,' seus níveis. Se a Hissória não fosse mais que o desenvolvimento

i" d,\ historiografia,

do cientis-

ta à pesquisa historiográfica. Não é presumível

Essa carac-

II IIU
acei-

em um mundo de teorias não especificamen-

mostra,

ou processos históricos.!"

I "IJt'i~,l() ao tempo de tudo o que existe.

rigoroso inclui os mesmos passos meto-

outra parcela do conhecimento

dll\ sociedades

1111\

aquela de alg~mas poucas «leis da História" plausíveis, mas de algumas con-

tinuidades ou rupturas

II"PI'llOS gerais dos fenômenos

"""\1111 depende do nível de fenômenos tllmllllltll

que não

do histórico

his-

oulu-cidos sejam irrepetíveis ou que, sob uma tipologia suficienteurrulizadora, não possam ser explicados'muitos fenômenos particu1I idéia de generalização baseia-se o Idealtypus de Max Weber para

mente mais adiante. tion if is not considered

de pesquisa sócio-históri-

IIj~túl'ia ser «único" não quer dizer que os «tipos" de fenômenos

de tudo o que

íntegra do passado", nas palavras de Michelet,

em seu sentido literal, é um absurdo

Não há possibilidade

nenhum outro tipo, que não faça uso de generalizações. O fato do

mais inteli-

estabelecer como

se encontre

na jaula do singular. Sendo essa apreciaç.ão

é por essa razão que, de certa forma, podemos

11

falar de uma práti-

Em inglês no original. " 'Ciência histórica' é uma noção defensável se não for considerada no sentido quase-positivista ou mesmo positivista do termo" (N.T)

101 LLOYD, C. The Structures of History. Cambridgc: 1993. p. 132.

historiografia no âmbito das ciências sociais sem maiores precisões 1\111 mais um "wishful thinking" um falar mais da historiografia que 1'1" do que da que é.'04 verdade que, na posição de certos autores e escolas que se têm oCU-· ulo .1.1 tl'oria social, o pertencimento da historiografia ao campo das ciê~cias

llillll

Cambridge

Univcrsity Press,

!n~ M Wl'Iwr 1 rala do conceito de idealtypus em muitas passagens de sua extensa obra. , I. 11/IIlIy(ISsobre metodologia sociológica. Buenos Aires: Amorrortu, 1982. Ifll u, i\mdkck, vergangene Zukunft. Apud MOMMSEN, W. J. La storia come sc~enza If/( 11I1/, ~I()/ icu. In: ROSSI, P. (Ed.). La teoria della storiografia oggi. Milano: Mondaflnd, II'HH. p, 85. 101

MARWICK, A. TI//' Nature of Ilistory. London: MacMillan, 1970. p. 103.

~,lllr~~11 Capftll/o J Ilistória e historiografia: os fundamentos

Parte J Teoria, história e historiografia

sociais ou é negado ou é enfocado de maneira bastante problemática. Em di versos tipos de classificações oficiais, supo~tamente científicas e, ao final d.1 contas, próximas do burocrático, a historiografia (ou a "História") não apare ce entre as ciências sociais. Catálogos da UNESCO, guias de estudos uniVCINI tários, catálogos e prateleiras de editoras, livrarias e bibliotecas, etc ... colocmu a "História" em local distinto daquele ocupado pelas ciências sociais. Um li! nhecido sociólogo, Daniel Bell, em seu relato dos progressos das ciências ciais registrados desde o fim da Segunda Guerra Mundial até a década de 19 '() não só não analisa a trajetória da historiografia ~ o que se poderia atribui! ,\ falta de competência ou desejo do autor -, mas esta disciplina não é SCQIlII mencionada entre as tais ciências.'?' Trata-se de uma posição muito amei i\ 01 na. Um dicionário sobre o vocabulário das ciências sociais, editado na E~I',I nha, não inclui como tal a historiografia, nem a palavra "História" nele ap.1I1 ce em nenhuma das acepções que costumamos atribuir-lhe.'?' Já conhecemos a posição de Iean Piaget que, sem expulsar a histoi 11I grafia do seio das ciências sociais, a tinha por uma discipliria problernáticu, dI forma que o historiográfico seria dificilmente algo mais do que um rnéuul« Um sociólogo de destaque como Talcott Parsons, pai do estruto-funcion.rh mo na sociologia, fazia uma nítida distinção entre a "ciência social sistCIlI.ill ca" e a "história" como pesquisa.!" Para algumas das mais acreditadas, 11.ltIi ções teóricas no interior das ciências sociais, a História não é uma cn Iid.ld, passível de ser pesguisada de forma autônoma por uma disciplina, scnuo 1/11 existiria, na verdade, um método "histórico" - geralmente sinônimo (11,1 qüencial, temporal, de trás para frente, e pouco mais do que isso -, I11l',.IIIIt'II te preliminar, de análises das realidades sociais no ternpo.!" Em outros \ ,"')I o historiográfico apresenta-se como uma contribuição a meio caminho t'1l1i ~(I

1

105

AII,III 1984. dllJlli 106 REYES,R. (Ed.). Terminologia científico-social. Aproxunaccián crtticn, 111111 Anthropos,'1988.A palavra História não aparece neste dicionãrio SCJlllo1',11.1 I ,pU car o conceito de "história de vida".A palavra Historiografiu, obviumrnte, '11',11 menos ainda. O mesmo ocorre no Anexo à obra publicado poste. illJ))1('1111 107 PARSONS,T, La estructura de Ia acci611social. Madrid: Gll'dos, 19C1H. 1111 I11I1111 fi 108 N~ realidade, um .dospais da "prcccptiva" historiog: ,\fil.l,Ch.llks Sl'igllClhll"li)) bérn acreditava nisso, o que mereceu de L. Fl'IwI\'o \0111\'111.11 iu CI\\('lllIllllIlii transcrevemos. Mais adi,II'IlI'vOlt.III'J1W\ ,I\'''1' '''\1111111

h, hkologias

políticas, as "antigüidades",

o jornalismo

ou a de-

111•• 11I1"11111 hl\tórico para fins de exaltação nacionalista. NI:~,Il histórico aparece também como uma realidade não re-

111111111,1 em proposições da ciência natural ou de sua filosofia. 1""t'.i_I\i\n \ 1\'11 ti fico-filosóficas atuais" em relação a problemasbási111111 fI~ltll, ou da cosmologia, apóiam claramente a explicação temIIvu c1m processos do universo, o que equivale a dizer a explica\'111outras ocasiões, no entanto, ocorre que o reconhecimenIIslvd 11,\0 leva necessariamente ao reconhecimento da neces,,~~íl'"S" autônoma. O caso de K. R. Popper ao falar da HistóIIVO.Ii" sociólogos é um exemplo ilustre disso."? As posições neihlill 11p,lnorama das diversas teorias ou filosofias das ciências \lOllI"Ill'S tradições na pesquisa social cujo fundamento episteomiti" imcnto da historicidade de todos os fenômenos sociais, ti n~fl kVillldo a um reconhycimento imediato e explícito da ent1vMfilti,Icomo disciplina social, condui à consideração da HisHi! ili1l'l ,'Sl indível de toda pesquisa social, o que já é alguma coi11111, ,I I1.uliçào marxista, a hermenêutica, a tradição weberíana, til ~11ttllltl~i" histórica, ou o estruturacionismo de Anthony GidIII"ÍI~,III1IVl'Il1-Sedentro da consideração Índubitável do perten\i111(1lp,l.tfi)nao próprio campo de pesquisa da ciência social. ,li 11\1'111 " wntrovérsias, com dúvidas e reticências, a agitação 11111111111 Imloriográfico, especialme,nte desde a aparição dos AnI 1\"1' ,I Id,IÇ,\O da historiografia com as ciências sociais mais 11'"'~I'II\\lSSC,sobretudo no mundo francês, sob uma nova 1111111'10 ,1<1progresso da historiografia no século 20, o contato .\Oli c1l:~~," outras disciplinas foi determinante. As "Filosofias da íllnll,"""1 sl'p,lfadas e se buscou classificar a historiografia em

••••

BELL, D, Las ciencias sociales desde Ia segunda guerra mundial. Madi ido

i I.iil.\",.'· dJ1lJ"lwrso hoje lima posição geral da ciência amplamente diIhld !lI")"'til 111110 impllllantc relação com a consideração global dos fenôme IlJhtlll 11.1 ,1111 humunu. A questão da "flecha do tempo", da que fnlará Ed \lIti,(al.í 1\111'1111\11 dn ~1l1l,idcr,lç,l() central de irrevcrsibitidadedos processos l!!f1I1, "'_IJJIIII1I""~ t'\t" q\l\'stilollilld.1que lll'Opossamos discutir aqui suas !,OjJ~ 1''''"1.1"III~'"11\II!.II"'''tI.1SI i~J1ál' ~()d,lis.(:1. PIUCO(;INE, L; STF,N í I ii ,//1111'" ,,1/lIII,'tl Mt'/tl/llmj"", tll'!t, (11'1/111I, M,II"itl·Ali.IJ".I,tt)t)(). ,iírtl" t1r1I/1'I!IIII/j///l1 Mlldticl'AIiIIJIIII,IIIH!.I'. W,I',I~sitll. é

t'1t

Parte 1 Teoria, histôria e historiograjia

algum lugar no conjunto

Capitulo 1 Hist6ria e historiograjia: os fundamentos

dos saberes sociais. E. Le Roy Ladurie destacou h.\

tempos como as ciências sociais se tinham transformado

em uma espécie d('

"terceira cultura" entre a ciência exata e as humanidades,

de onde se pretcn

111111.1110 subjaz, acertadamente, 1t:'lItl:~reside precisamente

científica". A intenção,

uma "transformação

pois, de expulsá-Ia do campo das ciências sociais n.lo

teria futuro. Não seria possível construir

uma ciência humana

sem a dimcn

são do passado.": No mundo anglo-saxão, pondo a possibilidade

D. Landes e C. Tilly enfocaram

de que a historiografia,

cial, atuasse frente aos determinismos

a questão no 11

como prática real de ciência

da ciência social e de outro, de orientação

método

historiográfico

orientado

pelo

inspirado

"humanísta"'"

deiro interesse dessa oposição reside no fato de que responde quada ao que seria um trabalho

M1

da cliometria. Para Landes e Tilly, Sl'11i1

clara a diferença entre a forma de proceder de um historiador métodos

O vcrd.i

de forma ad,

de acordo

C0111

\1111

comum na pesquisa social. Além disso, ambas as práticas, a cientíü

co-social e a humanista,

não são excludentes

em todos os terrenos, ainda ((111

o sejam em alguns. Daí que muitos historiadores tipo de dicotomia

" "h~1Ique se desconhece ~"ttl.tl!~;ltl IUIIII,II historiografia

e "combinem

em seu trabalho

não aceitem como real

('\M

e processo intelectual

"lI

ou cuja inutilidade

dos

E o historiador

1li!I'dlloll, na época contemporânea, iihlillll\l,"

é manifesta

em

constitui, em último caso, um tipo parti-

IIU l'l.lt inls científico-sociais. _nllIlW

nal da década de 60 do século 20 a partir de um ponto de vista diferente, P' (I

de que o periequivocado

ihklll,IS da ciência e do seu estado at~al. Assim, muitas vezes,

dia expulsar a História. Mas o fato é que, "desde os tempos de Bloch, Braudel e Labrousse", diria esse autor, ocorrera na historiografia

a advertência

no entendimento

bem da verdade, nenhuma

em seu pleno exer-

lama maioria qualificada garantia -, tem se consi-

I iUIIIII~do método científico. A História, ou o discurso histo11m (C'IIII nível, produz seus conhecimentos por meio de métoI"i' IlImtituem uma pratica estabelecida, sujeita a regras. O

Udl!dc:

d"S,\l' discurso é ainda baixo e a fragmentação

IIHII',M,IS é um discurso obrigatoriamente •••• 1111111\\'\1\ ~II, corno o de qualquer

\11111111110ciência

das práti-

sujeito à possibi-

ciência. Em todo caso, é inegável

social necessita de fundamentações

mais

1\11'1''''\\lImos hoje. O grau de desenvolvimento , de tais. funI ,11I\'ld,I, mesmo hoje, débil. E continuamos sem consenso tI!til

qlH'

\1' deve

seguir para um progresso sustentado.

mentos de ambas as escolas': " Iosep Fontana, por sua vez, criticou sem rodeios o que chama de "a ilu são científicista"!"

em certos setores da historiografia

atual que leva a "1111

car o auxílio de outras ciências sociais". Fontana parece fazer alusão prl'll~.1 mente àquelas formas de aproximação

cliometria, que têm comumente uso das práticas quantificadoras aos limites das mais esotéricas

da ciência', como a representado

identificado

a atividade

"científica"

1'11.1 COIIIti

ou a outras que.têm levado nossa disciplru« elocubrações

do pós-estruturalismo

Sl'llIlnt

111 Apud LLOYD, C. The Structures of History. Cambridge: Cambridgc Univ, I Press, 1993. p. 124. A citação está em Entre los Historiadores ... 112 LANDES, c.; TILLY, C. History as Social Science. Englcwood Cliffs: Prcntl«: Ildlt 1971. p. 9 et sego 113 FONTANA, J. La Historia después dei fill da Ia l tistoriu, Burcclonn: Crütcu, (il'/ p. 25 et sego

H·I

,*III,Iis que se cultivam hoje, das mais antigas às mais !lI 11111IH'lIm em urna coisa: buscam sempre dotar-se de alplicllll\'1I dl' seu objeto que lenha o maior nível de gcncrali-

Capitulo 1 Ilistória e historiografia: os fundamentos

Parte 1 Teoria, história e historiografia

dade, segurança e consistência

ras vezes ou nunca uma disciplina permanência

estabelecida

e autônoma:

no nível da mera descrição, inventár!o

matéria. Por definição, as matérias disciplinares

reconhece

ou classificação de ~Ihl

pretendem

~stabelecer conln

adquiridos,

costumam

•••••

conhecem

científicas

põem-se o corpo geral dos conhecimentos suas operações de conhecimento.

,,'I

dos contêm

em um dado momento,

adquiridos

li

~1Il'Ol11ade uma carência patente, ao mesmo tempo que seria impossível que um "Tratado de História" históricos"

porque haveria de

ti! Iflll,\ ,I I Estória Universal. Assim, pois, a referência das pat(111I,""0Ssua expressão no sentido literal ou a consideramos I'"dl.ria refletir o estado atual da disciplina, não o conjunto

I••• ,,,ltlm,

I!III suma, isso equivale a dizer que o possível tratado de um tratado de historiografia, um tra-

\0 ~"r IIccessariamente

por ela e o conjunto d tais 11,11,1

como norma geral o tipo duplo' de "teoria" que correspondr

duas dimensões

"111

"'Iil .uiulogia ou uma metáfora, teria de ser um tratado de con-

a possibili.l«

Quer dizer, e isso é o importante,

resposta: o que deveria conter um trata-

IíHlo ,\I\lill dos conheci~entos

somente uma parte dela.!" Nos tratados, que 11

o estado das disciplinas



de

111 Olltmnável:

expostos em um tipo de livro que tem o/ nome ou a disposição de um trot"'/I da disciplina em questão, não se descartando

no entanto,

",.111 isso não passe talvez do nível do anedótico, representa

ê

no geral, expansivas -, o estado dos conhecimentos

de de que sejam dedicados.a

III,tiScomplicada

~lIl

temporal de seu objeto. Os fundamentos analíticos de qualquer disciplina, nas ciências naturn ou nas sociais, seu campo e objeto específico, seu método e suas fronteira cimentos de alcance maior, no sentido espacial

sobre a totalidade

11111,\ que pode e deve ser acompanhada,

e qu.e, se possível, alcance o nível da teoria. !t,l

1\111'(,\ ('

11

que uma ciência abarca: seu objeto de estudo, de um lado, 11

dcscnvo~vimento

da disciplina que estuda a História,

\1 !,mh'ri'l ocupar-se de outra coisa senão da teoria e do méto1'11111'

forma de organizar sua investigação, de outro. O grande historiador nha de um conhecido cos: "tenho

Pierre Vilar escreveu essas palavras na primei I1111

texto sobre questões de vocabulário

sempre sonhado

com um 'tratado

e método

de História"',

e acresccnn«

I

"pois considero irritante ver nas estantes de nossas bibliotecas tantos 'tl'"I.III" de 'sociologia', de 'economia', de 'politologia, história, como se o conhecimento

de 'antropologia',

mas nenlnuu

ti

numa ciência"!" Se a ausência que Pierre Vilar lamentava

responde a \11111:111

e não há dúvida quanto a isso -, por que não se escreve um tmuul«

I

Conviria assinalar que o fato de que nos próprios livros desse tipo nüo IIP,III \ palavra "tratado': termo que, certamente, tende ao desuso no meio ,1('I1I1~1111o nada altera essa situação. Alguns exemplos de caráter variado c' clássico POdlll'lIi! incluir tratados de Economia tão amplamente empregados como o de p, S'"I1I1'! son, Curso de Economía Moderna. Madrid: Aguilar, edições a partir til' 1'1',0 NIi menos conhecida na ciência política é a obra de M. Duvergcr, IlItrOl/lln;ll"/I 1" I lítíca. Barcelona: Ariel, edições desde 1972. Um clássico tratado dc sodoloililll' 11.11 rigido por GURVITCH, G. Tratado de Sociologia. Bucnos Aires: K,lpdu'/, 1'Itt' No fim, não há disciplina sem seu "tratado".

116 VILA R, P. Iniciacián ai vocabulario dct onálisis p. 7. O grifo é do uutor,

11TEORIA DA HISTORIOGRAFIA

It.IIII•.•8, ,'111parágrafos

utr

anteriores,

a conveniência

e a necessida-

ilt· I~1\111,1 rigorosa a realidade da História da disciplina que se

1111111'1 uuento c pesquisa. Os tratados

que desçrevem uma dis-

t,\lIlo de seu objeto - nesse caso a História -, como dos

•••••'''1''. ti"

'i1'\IUlnhccimento - aqui a historiografia. O objeto de co111\1t'l11I1" tI,lo se torna um tratado com o registro do curso da

ílllllll 1Il'I\IH:culação sobre essa pergunta

que Lucien Febvre con-

Inl\Íl~i\' 11IJtIl' é a 11istória? No entanto, essa pergunta, por sua vez,

" llS

(lULA

histórico, que é condição de todos os d.'111111

já que toda sociedade está situada no tempo, fosse incapaz de se comlilllll real-

li"

hisl"'l j

";.\t(~rif(l.

1I,1H('hlll,l:('111h .1, 1l1l111

!'lIlIdid.\ 110seio de uma questão mais ampla, a de como é pos1IIIII'IIIIIl'IIlOda História. (> 1\111.1 qucstüo bem diferente

I'

da filosofia. Decididamevte,

o

tlnll 1'11Ih, exerci ta r a função do filósofo, mas é preciso advertir

I~IIflllll.1I sobrc a Ilistória é furíçãó do historiador. Isso não IUIIIiu" (' "Iilnsufin" da l listór ia tenham estado historicamente IOIHldulII~111(',lIlIlIlgamndns no pcnsamcnto

ocidental,

da mes-

"

Capitulo 1 Ilist6ria e historiografia: osfundamentos

Parte 1 Teoria, histôria e historiografia

\1111

• ma maneira

que também

não se tem conseguido

distinguir

uma teoria da Historia de uma teoria da Historiografia. que para encontrar

respostas

a essa tão mencionada

gunta, os próprios

historiadores

busquem

é um erro fundamental, Como também posta em algo bem diferente seu conhecimento; qüência,

ou buscá-Ia

ricamente

sobre a História

e incontornável

PI'I

aos filósofos. JI, ,I

o é pensar que se deva buscar

1I

ti

correto para tornar posstvi l

ainda, o que não acontece da historiografia.

com menor I1

Na realidade,

já equivale a uma primeira

to dela, equivale a se propor

conuuu

É, porém,

ou se remetam

como é o método

no estudo da história

com nitid

refletir h'II

"pesquisa"

a

rrsl'l

I

o que é e como se manifesta. o 111\111

averiguar

teoria da história

o que é e como haveria

e da historiografia?

to científico;

ao falar anteriormente assim, limitemo-nos

pode referir-se

a um fenômeno,

cesso repetitivo

e, também,

tudo. Nesse último nhecimento". teorizações. maior mento

adequado

da História.

a essa questu«

do procedimento

do conhcciuu

caso, nos encontramos

diante

de formular

ou possível a respeito

" 11

a UIlI 1110 11~1

do

leis gerais. Arnbns .I~ d sobre o c:olIllIl

dela, são imprescindíveis

1111I1

clara que dislilllllll

entre essas duas operações. Para o historiador

existem, pois, duas tarefas teóricas: uma,

rar uma teoria constitutiva de seu objeto de trabalho a teoria da natureza do histórico. Isso equivaleria se chama História,o é isso na experiência história

!l1'Iturnos argumentar

sobre nenhuma

li' 11111conhecimento

demonstrável,

1I'~tlll'~

~

próprio

que é a dimensão

di' I LtI

e que não é out 1I1!l1'1I

a pronunciar-se

sobll

IIl!"

histórica para os seres hu 1ll,I11m,11ipi

de-sua vida, como se manifesta

aos sujeitos e às sociedades,

li

de que maneira

essa atribuiç.to

di III!I

se cria c Sl' l'vid!'III!ei

imersão no tempo, e outras questões desse tipo. O que essa tcorin 111111 1',-,(1 rá fazer, como não pode a de nenhuma

uma meta,

dessas coisas com os contrastável,

do que se tem denominado

ernpírico.

a filosofia

"subs-

I"" ulutiva" da História, a que o idealismo alemão do século 19 \I IIhlis ,Ilto grau.!" O propósito

e os meios do historiador

vão

íll' III~/ória refere-se, então,. a isso, e teI? sido sempre uma 11 1'"1I11Il"comumente, é confundida com o "filosofar sobre a 1\' Volt.rire, pelo menos, passando por Kant, Hegel, Marx, Dilli" :'('llllo 20 'estava plenamente

sobre a História.

constituída

uma "disciplinà'

" 1'I'"~.I(,lores sociais, filósofos ou historiadores li IC~.I.(:ollingwood, hlJ((IP

De-

de profissão --

Aron, Heídegger e muitos outtos, prolon-

'1I11'llgamando-a, muitas vezes, com as observações

sobre

IIIMII'"101"('xiSlcntes, sobre seu método e sobre o ofício de histoIVil

1l'.llmcnte em substituir

I )' (~.Issct

os historiadores

nessa elaboração.

não é menos explícito. Ele dirá, como já vimos, que

ti

ambos os t ip"6 iI

como já dissemo

dada e fazê-lo

uma terminologia

(11

II'III!

ti

de uma "teoria

a ciência maneja

uma realidade

E não seria demais

no fato de que

sociais, também

é a possibilidade sobre

SI'

forma em que se pode conhecer

E no caso das ciências teorizar

lugar, o quc

a um.conjunto de fenômenos,

à própria

\1111

referência

agora a insistir

Como vimos repetindo,

dificuldade

mensões,

de se constituir

Mas, em primeiro

tende, com algum rigor, por teoria? Fizemos forma sumária

ao curso da História,

IlIdl'lIMnd, os filósofos têm especulado

rico frente à nossa experiência. Conseqüentemente,

II'II/ido, uma finalidade

ciência em relação n St'U pn'lpl\ll ill

\

mio 11\1'1111'1111' de mais adiante voltarmos a isso, são imprescindíveis algumas "'0 Itlltllllgl ••ílcas clássicas. Foi WALSH, W. H. Introducción a Ia filosofia de M~_h 11:Sil-\Io XXI, 1968, o primeiro a referir-se a duas formas de filoso\t1.1"'1 in, I'sla chamada substantiva ou especulativa e a chamada "filoso11I1( ••.. 1111 Illlk.I. que trata das formas de conhecimento da História. A filoI" UOllltn 11111'1110 da llistória começa com o grupo de pensadores aos quais lul 1\11111 IIf\llIpOllcomo "filosofia crítica da História", à que chamou tarn1~1iI iil ,.11'111.1 d.I história" e que compreendia Dilthey, Rickert, Simmel e We11II\!i! • .I••• ql"lI~ 11.10 são filósofos, ARON, R. La philosophie critique'de Thistoi'11 111I" 111.10111' a/fcmnnde de I'histoire. Paris: J. Vrin, 1969 (há uma tradu111" ,1..) (I plÚpriO Aron praticou esse tipo de filosofia, ARON, R. IntroducI /,/,1\,"/11 '/1' /11 nistoria. Ensayo sobre Ios limites de Ia objetividad histórica, ii/" ,,'rI' 11'110\ ,ecil!l/les, Buenos Aires: Siglo XX, 1984.2 v. Pode-se ver um lil fi' o'lIl!11111110 completo de filosofia da história que inclui ambas perspec'li t~r\\' 111110, I.\ICAS. M, FilosofEa de Ia Historia. Madrid: Síntesis, 1994. A 11íltl tllll 1'1111111"1' muito diferente, CRUZ, M. Filosofia de Ia Bistoria. EI debate //Iill,"" '1//111 Y OlrllS pre)/)/emos mayores. Barcelona: Paidós, 1991. Também II"1it. i1.1 ) 111111\0(111 ti!' /11 1 tister!«. Madrid: Troua, 1993,(Enciclopedia Iberoah ~II.\.I, I IImlllt;I. r,) \

!W

(""1'/11I101

I/;o',h'" r 1''''IIIIOXmlia:

Parte 1

os r,,,,dameoolOs

Teoria, histôria e historiografia

,IIIp,I.llh.I ~obrc a qual se deve chamar a atenção. Há quem "não se pode fazer História se não se possui a técnica superior, que é uma In' ria geral das realidades humanas,

o que eu chamo uma Historíologia"'"

tuidade de parte dessa afirmação alerta sobre a necessidade

orteguiana

não diminui

de que a prática historiográfica

de teoria geral das ciências humanas

A fll ,I

o interesse de

W, 'I lU;,

da História é outra questão, C

da disciplina da historiografia.

daquele conjunto

de características

1~('Idl.I~de

III1-h~

terna que fazem com que uma determinada tinga de outras. Teoria disciplinar plo, a economia

parcela do conhecimento

será a que pretenda

caracterizar,

M'

com nenhuma

nar está em mostrar

di

lise da construção

hi~""illK! .\lilo\

111'

real.!"

,

saberes e se des-

.

dida com a metodologia,

é um.i ,111

tem sido muito menos (1111 IV

com a história da historiografia,

l,íili.lO I,k IlIlH\ estreita relação teórica entre a natureza

a primitiva

de camp~s que hoje se cultivam,

bastant~ entrecortado.

História, apesar das agudas considerações assinalar, para terminar,

e praticamente

11•.1111'11.\ b,lstantc

Nesse C.ISO,fC1lllil

Certas escolas, como a dos Annales já no

na realidade teoria disciplinar,

lI11hl;l~ 11,1prática

1(llH

os historiadores de finais do século 19 os que mais se preocuparam COIII.1til -, ticulação interna, o método e os objetivos do estudo da História c di" I" 0:[1 \1'1

que a pretensão

"história teórica" é um mero disparate retórico, demonstração

científica.

Sem dúvida,

vinculada

aos objetivos

111.1 dhnplin.1 ! {'"",IW'I\"I.did.ltk.

tem também'peculiaridadcs

1'01

o método

Sl'

pretcndidos

de método que

Convém, pois, expor agora algU11l.IS<..11 uc

1l\~I\I,"!>I' pI ('vi.ls sobre o método do trabalho

de Febvre.

de da

do niéuu!«

IIlü, AIIIII.I que existam princípios gerais de método que l,1 liíltlllt' lodo procedimcnto de trabalho que se prrtl'lId.I

li!

nada
fundamentais

de um,I

IIlIlhll, .\, vezes com muita confusão, que teoria e mctodo

.kr.iI,

sucessivamente

que não estiver acompanhada

1I1"I~III",IHI! os princípios

com a mero 1'11111(0

tem abordado

da historiografia.

!ílfllltl h"lmiográlico

do

assim como da necessária distill

oi~u~, I' preciso reforçar agora a impossibilidade

I

wldllll

gação da "temática" que a historiografia um desenvolvimento

IIlSTORIOGRAFICO

IlIlnlU~ dt' ~onhccimento,

ainda que o anterior. A teoria historiográfica,

história política à-amplitude

M fl'I'OI>O

f

da disciplina que estuda a História.

do e mais confundido

Conviria

Estainos, como é no-

Iln!~~1I .IIqllcllpica em que se «hibridam"

a forma como uma disciplina articula e ordena 5('11\(il

Esse tipo de teorização, evidentemente,

20, fizeram

1,11101", A mistura da prática, da teoria e da filosofia, por-

outra. O aspecto medular da teoria di« ",lI

colhidos para mostrar suas conclusões. No caso da historiografia,

liaridades

história teórica preteri entre "teoria da História"

IJIIVII.\ disciplina historiográfica.

lIi

por ('XliII

e a forma como organiza sua pesquisa, assim como os mcio«

experimentado

trabalho. A chamada

e anali

estudando

ou a psicologia como matérias com seu objeto específico '1"

não se confundem nhecimentos

em sua estrutura

so-

scntido, a finalidade da História ou sua íun-

11111111 11111 trabalho "híbrido"

Uma reflexão desse 111",)

próprias

O

liI' I,k 11111 punto de vista metodológico,

I1 tI

teoria disciplinar, que nesse caso seria a teoria da historiografia proprianu-ut-i se ocuparia

a duas tarefas: "uma

e "outra teórica, que os leva a refletir

"Iill'

nln c

gunda das tarefas teóricas, à que de forma genérica temos de considerar dita, uma teorização

hi~\()riadores se dediquem

"111,li ividade e sobre sua profissão". E esta segunda ,I",que se faria a partir de um ponto de vista Illosófi-

M'li

possua essa espl'l 1

que ele chama "Historiologia"

Dito isto, a teoria do conhecimento

()~

1l1,1I111~ hl\lúricos,

hiSloriog"HllI"

de inst i11111'11111

de \1111.1 cr"I("

Ilt- MlolSohr,», IIERMEJO IIi\RltERi\, J. C. HlIIIII,I ti, Mudrid: i\k.II, 1987. p. li. c 1:1//111111111'/1/'11 11)// /,, ;,iHl" /1/ I,,'liltllll 111)1/ 11 111 I/I~/()I ill /1'6/ ;('11. M,Idl id: Akul, 1'lI)I. ". '7,1(111', plirl!l 'VI'I, 1'\111111.1 tlll i0'1,11 1Il'lI te II"llltrmlu,(.Íóll" \10 \"Slllll\llk,,\li~ dOI'" ii

11111.ruuu I' tI\I."

I 'II.Ii')'," /1"

118 ORTEGA Y GASSET, J. Una interpretación de Ia l listoria UnivCI,~1I1, 1'11 1')111; Toynbee. In: Obras completas. Madrid: Revisto de Occidcntc-Allnnzu I:dilfi!ioil 1983. v. IX, p. 147-148.

1//\/11I /11 II·fÍI/m.

"dit.,\'

~)I

C:III'IIII/II I

",,"11 r I""", "'w"Ji": 1 '''"'''"101

Parte I Teoria, história e Iristoriograjia

••

'li

do que depois nos ocuparemos de forma detalhada em toda a terceira IMII desta obra. O primeiro problema que esta análise traz é que a palavra método, I vezes também a palavra metodologia, como ocorre com ciência, com filom/i" com técnica e outras, aplica-se a tantas coisas e integra tantos contextos dll rentes que, cada vez que se quer usá-Ia com rigor, é preciso primeiro umn d puração do sentido em que é empregada. Não apenas na linguagem COIII'III mas também no terreno da produção filosófica ou científica, a palavra I1U'" do acaba sendo muito pouco unívoca. Em sua forma mais primária, na l'IlIltt lógica.rcuja alusão resulta sempre útil na hora de oferecer precisões, m~lllti quer dizer o percurso de um "caminho': o que, por uma associação sirnph não forçada, nos leva à idéia de "processo", "procedimento", maneira ou /111111 de fazer algo. A partir de uma posição um pouco mais restritiva, as fOllllllLi ções filosóficas e técnicas clássicas, por exemplo, falam de método COIIIO prograI?a que regula previamente uma série de operações que devem cumpridas e uma/série de erros que devem ser evitados para se alcanç.n li! resultado deterrninado'l'" ou como "um procedimento que aplica u rnn 111di' j racional e sistemática para a compreensão de um objeto"!" Método de uma determinada forma de conhecimento será, pois. o fl)l junto de prescrições que devem ser observadas e de decisões que devem M I il madas em certa disciplina para garantir, na medida do possível, um ((111111 mento adequado de seu objeto. Dizemos prescrições porque um método •..!!I conjunto de. operações que estã1.1 Illdi soluvelmente ligado: as da lógica. As questões do método histórico foram também objeto de 1-I1.lIldl,1\ ção por parte de muitos historiadores a partir da segunda metade do ~llIil l

II~II

120

LALANDE, A. Vocabuiaire I, p. 624. ,

121

REYES, R. (Dir.). Terminologta cientíjico-social. Aproxintacián ..,1,,1'1I Anthropos, J 988. p. 609, A definição aqui IOO1adn de M. lto COIII'II !lil die ot Social Scieuccs.

technique

et critique de ia Philosopliie.

é

PolI j,

1'1)

I

II,II.:~I , ",,~

(lS

11111

\I,11I1"m'nlo em que a historiografia começou a se (0111, 1I.1i1l,1,llIlÓlloma e seus estudiosos tenderam a se prolis fCIISll1 C~ 11.1 •• universidades. Os debates sobre () método !llll .\,I~ 1"'''LllIisas sociais foram sempre prcsididos por um.i nll\i'\"I.I\.IO de que O que existia realmente, c unicamcn /111que estava à disposição de todas as ciências sociais

'''li

'li,

li" 1IIIIIl'Xtos determinados; ou a consideração de 'lu" lI!lIil !Ii~llplín,1 dCl1tlfica, a historiografia, que era a prutic.m II\IIIII'IIIIIII\.'.em função disso, esta disciplina reclamava UIlI d,l '1Il kd.\de. Veremos que essas alternativas nno S,IO, ~IIlIIknles: existe um método próprio da pesquisa d.1 lU \1'1111'0,uma perspectiva histórica de toda pesquisa do \I11hl 1II'''I','diva sociológica, económíca ou politológic.1 d,I I~ II IlIIlhl'(.Ímcnto da história e seus problemas n.ío M'

\I iH~IIIIIII. " 1111'111I10 d.1 pesquisa histórica é, sem dúvida, urnu 1'.11It~ luh,I d,l ~oul'dadc, da pesquisa social ou, se preferirmos, tb Ocl,III'IIII.IIIIO, o método do historiador coincide. em \)Ilil DIIIIII~drsdp\inas como a economia, a sociologia ou .1.111 !HI'III, ( ) hi~lOriador estuda, como o fazem os esttrdlO\os Jilh,.,~, /I'/ltl,/lC/lOS sociais. Mas existe uma peculiarid.ldl' qur lí,dllp,I,llllO 11\'" cspccificidade inequívoca e é () ["10 dt, qlH' IIlIIIm 1.1111' sociuis scmpre em relação com seu coinno! 11"'/1'/1 01111,I I\"t' 11.1historiografia é normal que mio possa hólVt'1 1NtI"Ilt'IHu (\•. "11\"t'I v.içao direta" da realidade. Por essa c OUII.I'>1;1 ••••Ilh •• ' íl'lll ~IIrhltll iOI\rll!ia é, sem dúvida, a disciplina socia] que li, 111111111I1i'llIdo menos formalizado, menos estruturudo solu

IN~III"I,III1I1S. l'Xi:.le cspcci fica meu te um método

Iri"lúlÍlIl, 1',

Illívd '11H,.1!'esquis., ~1()b.11do processo lelll!'()\.rI d.ls.,1ll ktl. ílith ti dI' lotlll" ilS \ll'squis.ls e por isso n 1lIl'lodololll.I do \1ll1

Parte J Teoria, história e hisloriograJia

tem tendido com bastante freqüência dos os fenômenos

:1'/'/11I10 J J tistôri« c his/oriograJiIl: os [undamentos

a fazer abstração do suceder em que 111

e processos sociais estão imersos. A pesquisa da História

I{llillll~ pr cjudicaram

no passado o progresso disciplinar

IIlli """h' de informação

nunca é neutra, nem é dada de antemão.

sempre que se entenda que é uma pesquisa do passado, estará ligada a alguum

hl!jdl~'" absurda a idéia da "finitude"

peculiaridades

tillii""

e constrangimentos

que não se apresentam,

ou não se apresou poli

tam da mesma forma, em outras ciências sociais. De tais peculiaridades ríamos destacar os problemas temporalidade

derivados

da observação

e os que provêm da globalidade

tarnos, portanto, pode conceber. A primeira

diante da realidade com o maior número de variáveis qll! especificidade

e a mais censurada

sobre a qual o historiador

que o histórico

administrativos,

etc. Tem

1.11

SI'

correto e que o histórico 11,11,

o passado mas o temporal, porém, o fato é que as fontes dnijj

,nit

formação indiretas, o que constitui os vestígios, restos ou testemunhos, matéria informativa normal do historiador. clássico da documentação

to, não seja hoje o único, e se aproximam sido o arquivo. A característica atividade do passado humano dos pela própria

drásticas no futuro,

de todos esses materiais que se referem

atividade do historiador,

suas fontes, elas já se encontram certo, nem na concepção

mudanças

11lIill

a encoutu: "

que deve limitar-se

feitas. Isso não é, tarnpouco,

1[1

nem pll'l'dl

é a ciência social que não pode

1"/1/1'/

absollll,""NiI

do gue significam os dados, que nunca Silo II',dl.l

nem na própria natureza do histórico, pois existe UIIIII/Ii

ria do presente cada vez mais afíançada, onde a questão se apresenta di' 111;111 ra muito distinta. A ligação do método historiogrãfico

ao assunto das

que durante muito tempo a maioria dos tratamentos toriográfico

limitou-se

JO/lIL'~

~

deve, como qualquer

outro

suas fontes, ainda que se encontre no tempo. Pesquisar a

'" mudo algum, transcrever o que as fontes existentes dizem ... h'IIt\lv('1 (' explicável

final do método de pesquisa, tem

o que as fontes oferecem como informação. do método

historiográfico

é a

IlIlwr~IH'1 tiv" essencial da temporalidade como natureza do histó1i1c'lmlll historiográfico

correto é o que entende que investigar e

111~t(lII,111,10é meramente

descobrir coisas ocorridas

no passa-

\(' h.rviu perdido, mas dar conta de como as sociedades se

••111('111 110tempo. Daí que se tenha dito que atuar sempre de 111111 IfI/llI/oR;lI é outra das características 111,1'qll(' .1cronologia

mais determinantes

de forma alguma representa

do

por 'Si rnes-

IId,,,t.-. N.lO há história possível que não esteja pautada pela su-

histórica, ainda que, em ilhMll1I

é que não podem ser procurados

Diz-se, por isso, que a historiografia

des espontâneas,

também

11011,1 J(',lIizá-lo à medida que retrocede

I ia

não pode ser outra coisa scru«

passado"; veremos que isso não é inteiramente

a depósito

h~I,II,"construir"

!Ii!lhl d,l\ grandes determinações

relatos escritos, relatos orais, textos de qllillqlll'l

gênero, vestígios de todo tipo, documentos

. precisamente

1II1

trabalha é de caráter muito peculiar: restos 111.11

riais de atividades humanas, tradicionalmente

do método historiogi

de suas fontes de informação. A "rnureu

das fontes da História, tal

.uuores de preceitos como Langlois e Seignobos. Mes-

1('11'11 vi~l.l não pareça, o historiador

1II11""11 i.t, que é o resultado

co reside, sem dúvida, na natureza

tendido

dJ

e documentação,

de todo o devir histórico. I

011

da histo-

lall 1''111

clássicos do 111(01011" I1

a tratar de forma quase exclusiva o problem, Ik

!' 11 estabelecimento

de "épocas" históricas tem sido tradi-

1111,1 d." lu nçoes da historiografia,

mas a cronologia,

de forma

!ti 1I1"11111('111" do tempo histórico e não acaba nela a necessidade dll IIIl'todo historiográfico

de considerar

todos os fenômenos

Ii I,lvd tempo. 1'11W.lIllk aspecto, no que diz respeito às particularidades ,\lI

Llto de que o processo histórico

Ilhll'lllr, IlIst;\ncia humana

de qualquer

do

sociedade,

específica, tanto como a própria his-

!ti IIlIiv!'",d, suo realidades globais. Quer dizer, a história de uma 1111(1 tHII /11 lor/(/s as atividades que os homens realizam e que estão (1~1I111,1 uulissolúvel. A história de todas as sociedades do muneJ1~11l Ollt ru também entrelaçada, e!IIII"\' global.

a problema

ou tende a estar.Dessa

do método histórico

for-

reside aqui

tOl

tes da História". E isso também deu lugar à criação do conceito dI' '\ jtlll i:1 xiliares da História". Essa falsa idéia de que a [oute é tudo pM., o lIi"IIIII.1

Ipll,"

!li". I,III"U'III1I1,Ibadiante lima atenção especial à natureza do tempo histó-

95

Parte 1 Teoria, história e historiografia

Capítulo 2 em como dar conta ou como representar essa história global, o que contluu , sendo um problema não resolvido, por mais que a idéia de uma história //11/1 tenha sido proposta

muitas vezes. Na prática historiográfica

concreta, o qll

ocorre com maior freqüência é o contrário: a fragmentação da história eUI tores, em especialidades, que ameaçam com fraturas a unidade da discipllu. mas que são inevitáveis na prática científica de hoje. . Um último ponto é a preparação técnica do historiador

E O DESENVOLVIMENTO DA HISTORIOGRAFIA:

a que nos Id

rimos anteriormente. Mas o fato é que um dos problemas mais comuns 'li! afetam a preparação e a prática, não somente do historiador mas de qu.ilqu. pesquisador social, é a freqüente confusão entre método e técnicas. Para (,,,_L, recer esse assunto, que é importante

"



na prática

científica, dedicamos

S GRANDES PARADIGMAS

111:,

adiante espaço suficiente. Podemos aqui adiantar que o método é um (()III"I

o incluídas sob o nome das ciências morais e sao uma parte delas.

to de princípios sempre ligados à teoria, enquanto as técnicas, que são II~"U realmente devem se- adaptar em cada caso à natureza do objeto invc/itlf'"ld podem ser compartilhadas e são intercambiáveis entre diferentes disciplur« Uma boa imagem do que seria a preparação técnica de um "P('\'IIII dor social" foi descrita por J. Hughes nos seguintes termos: "consist i1'1'1 li' malmente em aprender a dominar as técnicas do questionário; os 1'1ill( 11'1 do esquema e da análise da pesquisa; as complexidades da verificação, If I' I' são e correlação estatísticas; análise de trajetória, análise fatorial e, ti!lVI

JOHANN

IIistorik ... (iII' 11'1/' SI/lei

sl/flcientemente estudada a história de nossa ciência.

1,1., nllltlm/el, de preferência, o aspecto externo ... mas não o desc;, volvimento interno da pesquisa e da concepção ";516,;('(/,

programação de computadores, formatação e técnicas similares"!" 1'11111 pese o tom irremediavelmente tecnicista, inclusive mecanicista, dess,1 ti ção, é indubitável que nela se faça um inventário de habilidades sei" II~ til! não se concebe hoje o treinamentoda matéria social. t, tendo em vj~ll' III! historiografia é uma forma de pesquisa social, seria possível pcns.u q\ló I habilidades

se incluiriam

no perfil da formação

de um historiador!

A 111

GUSTAV DROYSIlN

ERNST BEIlNIII'IM

Lehrbuch der historischen Mcthmk .., IllYf'ltlllltlS, este não é um livro de História da Historiogral1.l. In

í'

!,Illll o pluuslvel que o propósito

de estabelecer uma tcoriu

realidade atual, isso poderia não passar de uma perigosa utopia 0\1, lill", clusive, uma profanação ... No entanto, ainda que custe a alguns, () Iuuu« li

ItI I",h 1I10f\1.ifiu possa ser levado a cabo sem uma considcruçao.

porá muitas dessas técnicas também ao historiador. É evidente q\lt ti impor algumas outras, por exemplo a prática da exploração do .lIqllll'lI

flUI

outros tipos de fontes não escritas. Mas seria nos enganar uma suficiente

preparação

metodológica

11l1o

.\111111111 I1

e técnica ocupa um IIIW" (111111

mental no horizonte do futuro da tarefa do historiador. nos condenarmos a fazer uma "má" História.

O conu auu ~lltldi

{(liit.,I. dm (ll~sl'llv()lvimentos prévios do pensamento

e da

ult~';1' ("('gar Õ situaçao atual. A historiografia,

COIllO

social. México: JlCH, 11JI17 \', ~\II

",,\! i a

tO

1i\11·M~.11ravés de um processo cuja análise não pode M'I

11111110 ü,ml 111,11',1111

l'xplk.1I tanto os avanços como as cart:ncias de

lima

disl i

li llll ,111"1 101111,11, tem pouco menos de dois séculos de cx ist~1lli,\. 1 I !nU

1>1 dl'Vl' estur (lcompanhada

11M ,I llilltt"lli,1 do surgilllcllto

li, 1\1',1111 \I'f\I,IIli\ 123 HUGHES, J, Lajilosofí« de Ia. ;/111('51;R(/(;(\II

tal

é,

da história quanto o (01111.\110 da disdplilHI

e dcscnvolvimcnlo

pOI t.uuo, urna tarefa prdilllillllr

c illl'vitilv(·1.

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