EDUSC SUMÁRIO A711'1'1p
Aróstegui, Julio. A pesquisa histórica: teoria e método / Julio Aróstegui ; tradução Andréa Dore ; revisão técnica José ]obson de Andrade Arruda. -Bauru, SP : Edusc, 2006. 592 p. ; 23 em. -- (Coleção História) Inclui bibliografia. Tradução de: La investigación histórica: teoria y método, c1995. ISBN 85-7460-300-7 1. Historiografia. l. Titulo. II Série.
2. História - Metodologia.
INPI("I'.
3. História - Teoria.
DIl QUADROS
A I'IU'.SIlNTAÇAO II bt6ria ou histriografia?
CDD 907.2
II
Ciência ou arte?
PI((~1.0GO À NOVA EDIÇAO
PARTE 1 'Icoria, história e historiografia ISBN (original) 84-8434-137-1
Copyright© 1995 Y 2001, Julio Aróstegui Copyright© 2001 de Ia presente edición para Espana y América: Editorial Crítica, S.L., Provença, 260, 08008 Barcelona Copyright© de tradução - EDUSC, 2G06
Tradução realizada a partir da edição de 2001. Direitos exclusivos de publicação em língua portuguesa para o Brasil adquiridos pela EDITORA DA UNIVERSIDADE DO SAGRADO CORAÇAO . Rua Irmã Arminda, 1O~50 CEP 17011-160 - Bauru - SP Fone (14) 3235-7111 - Fax (14) 3235-7219 e-mail:
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1 Ilistória e historiografia:
CAPITULO
".\
,~ '"'
os fundamentos
H~I
A história, a historiografia e o historiador A historiografia, a ciência e a ciência social O conteúdo da teoria e os fundamentos do métod? historiográfico
97
APITULO 2 O nascimento e o desenvolvimento da historiografia: os grandes paradigmas
/()() O surgimento-da "ciência da história" I.IX A época dos grandes paradigmas
-,
Parte 1 Teoria, histôria e historiografia
Capítulo 1
teresse tem sua própria essência, distinta da teoria, e nã.o é nosso objetivo aqui, ainda que à história da historiografia devarnos dedicar uma atenção preliminar c complementar, pelas razões que no devido momento Da mesma forma, uma porção importante dica a expor, de maneira circunstanciada, lidade todo um corpus de doutrinas, ado fundamentar
também exporemos.
desta primeira
parte se de-
corno se tem constituído até a atua-
ORlA E HISTORIOGRAFIA:
escolas, preceitos e teorias que tem bus-
a disciplina da historiografia
desde suas origens conternpo-
OS FUNDAMENTOS
râneas, já na segunda metade do século 19, até os mais recentes aportes dos últimes anos do século 20, quando começa um novo século e quando, sem dúvida, não se superou plenamente social. Procurar-se-á fundamentos
uma crise generalizada
do conhecimento do
expor quais são e corno têm sido entendidos
até agora os
para elaborar uma teoria da natureza do histórico, e mais do que
isso, do conhecimento
" /.,1
da História, ainda que sem propor agora um delinea-
mente próprio em profundidade,
{1//lV"II/
Podemos, no entanto, adiantar uma conclu-
!'I.toprovisória: no nosso modo de ver, o conhecimento historiográfico
ti" tli5lór;a [...} o estado inorgânico dos estudos históricos [00'] do fato de que um número excessivo de historiadores jamais refletiu sobre a natureza de sua ciência.
consti-
tui hoje mais uma espécie no camp.o das ciências sociais, Mais tarde desenvolveremos suficientemente
HENRl BERR
A síntese em História
esta idéia. oIitlcll j'lIlOlltrar palavras mais apropriadas
e significativas
que
"'(l11I 1111IIlI1IO deste capítulo, com as quais o historiador francês Iri
COIIII'\.\V.Ium livro dedicado
à prática da historiografia
e à ade-
llil\,~fl d\~lIllIk.1 do hístortador, para qualificar um mal comum do ij
PII\ 1111.tfilll1.IÇà.o, cuja aut.oridade
111I!I" \1111dOI>primeiros
renovadores
illlolll.\tica a causa atribuída
repousa no fato de ter sido da hist.ori.ografia no século por Berr para a crise do que a
ilihlol l.ulorcs não rcüctern sobre os fundament.os hi!lIil'".
I'INO
i
nutinua
profundos
sendo válido quase noventa anos depois des-
le(e"l ~ldo"s(1 ilas? Infelizmente,
não parece que haja razões para
111 idll No IIOSSOmodo de ver, e levando-se em conta todas as re-
d,. "l'I ,11\111.11 is111 o" que se tem feito recentemente, apesar das dis 1\0 f.li'cr hoje entre diferentes hístoríograflas. o problc
1:1i,I 1'1n
1'ltlL II ,,,
1/11/"".\ ,'/I "'5/(/1/11.
México: Uichu, 1061.(Colccción 1.1 HvolllCiÓIl d,'1.1
'11~III,t.I") 1'1I11u'j 11I ,'dl\IIO ~'llIl'\P,lllhol,
I"
IntdllZid,1 da SI'gllnd,\ cdi~·.IUlr.lml'\,1
IO~), CillIl 11111 IInvu I'r6ln!\o \. Apt'l1din' do .iutor, p. XIV.
ma da reflexão, ao menos, sua ciência" continua Um progresso
da maioria
I
C"/J/tll/O
Parte 1 Teoria, história e historiografia
llistár'" e /,istOrJogmfia: os ["",tll/llflltos
dos historiadores
"sobre a natureza
,~\I IloIrtir do problema
de
do nome adequado
para a disciplina I
em pé.' sustentado
da disciplina
sem que se leve a efeito essa reflexão
da historiografia
q~e Henri
dele, solicitou.
Infelizmente,
nos próprios
rou-se durante
muito tempo
que o historiador
é impeosávcl
Berr, e outros
círculos
antes e depois
dos historiadores
não é um teórico,
HIA, A IIISTORIOGRAFIA rURIADOR
conside-
que sua ocu
pação não é filosofar, que historiar é narrar as coisas como realmente acontece, rtun, e outras
coisas semelhantes.
.idequação e renovação do historiador
da linguagem
continua
n.to parece necessário
dificultar
sofrendo reafirmar
de forma determinante
w c "científico"
do histórico
11Iio trabalho.
de uma flagrante que posições
11I1 i11' \t'
11\111'.1 própria
mas deve também "teo-
fundamentos
gerais a respeito
E isso afeta essen por mais que uma nuvem de tcó
críticos e "novos historicistas"
que surjam
não mais do que literatura.'
pretende-se,
f,ll'~ lo, na medida
metodológica
bons historiadores.
Icur iza r sobre a História,
tenha recentemente
justamente,
pretendido
Sem uma certa prepa
que não se limite a rotinas nao
Mas o que quer dizer exatamente
sobre a historiografia
e sobre seu método?
introduzir
do possível, no contexto
o assunto.
E se
do que fazem outras
1'1114'(.(' 1"",lvcl
de forma
alguma,
I'H~~ I' IIIV('1lIelucidar 1m' jllvnll~\,1
,I
1I1(lil;uh'lIdl'lIdo
preliminar
desde já. Encarando
preciso tratar primeiro Ilistória",
questão
a problemas
lIi
hllhlll ••tlOt', '1111111,,"111 neste aspecto a historiografia .
1',11,1evitar umu IOllglldl,I\.IO dI' pIOI1(I,\I,I\d,1 11í,ló,i.! WIlW g~llcm lill'nl, tu, 'li dil ,I "t' IIhlÍ\ ,\ Ircntc li ill'III dl'di\ 11110 IHI"pm 'lIodl" nismu", .,•••• illl lOlllll ()~11111111' dl'III1II)1I'~1I1111011.WIIIII', I' A"I""~"'III " I) 1.1<:''1111''1'lIln' olllru~.
distinto,
da polissemia à "dis-
à própria
I)"nll1l"
I'IA:
\\Ill'SSlvamente.
<)
abordar
profissional
mu-
o "perfil"
e técnica
joga seu futuro.
I
dis-
imbri-
por profundas
pertinente
intelectual,
de
mais de uma vez.
ligados
dl' 11m tempo como o nosso, marcado
procurar.í
QlI.H1toàs recomendações de pragmatismo, aludimos ao livro de NOIRIEL, C, Su) /11 "crise" de l'Histoire. Paris: Berlin, 1996. A "perspectiva pragmatista" para li solu ~'.IOde lodos os problemas da fragmentação da disciplina e certa renúncia :\ !,CMIIII ~,I teórica vão se concretizando em muitas passagens do livro. Ver também ~II,I "Conclusión" (versão espanhola: Sobre Ia crisis de la Ilistoria. Madrid: FróncsiN/<' icdru, 1997). Cf. a critica desta obra de autoria de Madelcinc Rcbérioux, CIIl 1\111 pile Prochasson y [ordi Canal em LI' Mouvcmeut social, Paris, n. 11111,p, W 110, )lIil.l~epl. 19911.
e espírito
que foi discutida
mais estritamente
1IIIIhll do século 21, parece bastante
,
de duas questões im-
o problema
Neste pri so
uma definição
11. IIi"I' 11H1~\I.ln'l c como uma reflexão mais atual, diretamente plllltkllhl~
com
ambiva-
do nome conveniente
tlHt".,_IIAIII-, d.1 1IIII\I,I~'
ciências
_4
de
inútil e que não escla-
ain,da que com terminologia
evitar o tratamento
I Ilj~Ic'II.I,lteli.1
historio-
de História e sobre o sentido
I)IH' M' trata de um esforço inteiramente
Ui~hlllll:1I1111.Porém,
de seu pr
de "perspectiva"
de Langlois e Seignobos,
e de outras obras mais recentes
definição
JíIII,IVI'1.Aqui não se buscará,
práti
111
"escreve" a História,
todos os tratados
dll~ obras clássicas de Droysen,
I~ 11.1111'1, de nosso Altamira,
desse tipo só podem
para o aperfeiçoamento
Sem teoría não há avanço do conhecimento.
ril~·.lo teórica e sem uma prática
un-ire capitulo
11~ldlJ Ihl\lil ual começar
No entanto,
e, além disso, sobre o alcance explicativo
f,I1cr da escrita da história (, posslvcl
precariedade.
e realidades
todo impulso
i.ilmcnte inclusive a prática historiográfica,
I ilOS literários,
a uma mera
sendo muito forte. A formação
sobre ela, quer dizer, refletir e descobrir
d,1 natureza
l
continua
quase instintiva
da historiografia.
m efeito, o historiador 11/,\1"
,A resistência
do
Vejamos
'I'Jl.RMO E O CONCEITO
h8CIVI.llt11...•primeiro
que o nome que se dá ao conhecimento
lilllll.1 h'IIIIH) oferece problemas
e, a nosso ver, necessita
HI"IIII,()CS. A palavra História é objet?
da His-
ainda hoje de
de usos anfibológicos
en-
,ilililllll!lIh! dI' IOdus eles se ralará mais tarde em nossa passagem nos capítulos 2 ,IIII!II leu111,1\.10 d.1disciplina historiográfica nos séculos 19 e 20.
25
:"1'111I111 I J lisrória e hisroriograf;,,; os (",,,I"'I/wros
_ Parte 1 Teoria, história e historiografia
tre
OS
quais
O
mais comum é sua aplicação
1I11~ I'~pl'dficos da economia
a duas
entidades
diferentes: uma,
a realidade do histórico, e outra, a disciplina que estuda a História. Praticamente, nenhum .problemas ponderando
historiador
que tenha dedicado algumas linhas para comentar
!,1~II.III".IÇ
que a precisão do vocabulário
aceitos. Em todo caso, no entan-
é hoje uma das questões mais problemáticas
os 1111'"d.ls c.:.i~nciassociais . i I I'IIIblem3 terminológico
inerentes à sua prática deixou de destacar essa questão. Iniciemos a importância
e da lingüística, por exemplo, que são bas-
!1'~IIIt'dslicos e foram absolutamente
tem para uma prá-
tica como a pesquisa histórica.
IHI~,.I.esse é o primeiro jMlld.I que o emprego Ihlluh'l,.,pedfica
A linguagem específica das ciências
na ciência se manifesta
1111 do nome que uma disciplina constituída problema
gens particulares,
vão criando lingua-
que vamos abordar, Tem-se dito com
como o conhecimento
de que se tem dela constituiria
A ciência,
já se afirmou algumas vezes, é, em
última instância, uma linguagem. A terminologia
filosófica pode ser um bom
exemplo do que significa esse "jargão" especializado
no caso de linguagens
verbais. As ciências "duras" recorrem hoje à forrnalização não matemática,
de suas proposições
para a elaboração
não verbal, quando e desenvolvimento
de
suas operações cognoscitivas." Em um nível' bem mais modesto, . fruem esse instrumento guramente
da linguagem
com importantes
as chamadas
própria
diferenças
em menor ou maior grau, se-
com cada disciplina. Todas elas, porém, possuem
e analogias distintas do linguajar ordinário.
. do que foi obtido
te, sem dúvida, uma certa homogeneidade ciais, imposta a partir
de acordo
um corpus mais ou menos
extenso e preciso de termos, conceitos, proposições metáforas
ciências sociais usu-
no seu desenvolvimento
específicas, e também
de
Num nível básico exis-
na linguagem
11111_ 111\11 I>,lo possíveis avanços fundamentais
de conceituações
uma
claras, se~ as
no método e nas descobertas
da
I" ill. I ressa forma, sempre que um certo tipo de estudo da realidade define
repletas de termos específicos, que podem transformar-se
em complexos sistemas formais.'
a
de uma mesma palavra para designar tanto urna
pVII.mll' dificuldade para o estabelecimento Como regra geral, as ciências ao se constituírem
primeiramente
deve adotar. No que concer-
dessas ciências . so-
pelas disciplinas mais desenvolvidas.
1111IIkvida clareza seu campo, seu âmbito, seu objeto, quer dizer, o tipo de 1I!"IIIIl'nosa que se dedica, e se vai desenhando
a forma de neles penetrar, ou
)11. ~l'\I método, surge a nçcessídade de estabelecer uma distinção, pelo meIII)ít
relativa, entre esse campo que se pretende conhecer - a sociedade, a com-
0_,\.\0 da matéria, a vida, os números,
a mente humana,
1I1II1I1"dode conhecimentos e de do.utrinas sobre tal ~ampo. A criação de um vocabulário específico para uma determinada IIhrdmento 111
começa aí: na forma de diferenciar
de conhecimento
e a disciplina cognoscitiva
J'rilla-se, simplesmente,
na linguagem (científica)
ICIIlrcva bem seu objeto e o caráter do seu conhecimento. ,iil~ sno inventados; qücntc
ItI,I!/lI,
desde então seja composto
. 6 A natureza particular da linguagem científica é analisada tanto pela própria epistemologia e metodologia da ciência, como pela filosofia da linguagem. Cf. o antigo, porém interessante estudo de GRANGER, G. G. Formalismo y ciencias humanas. Barcelona: Ariel, 1965. Também trata do assunto o pequeno livro de. RORTY, R. El giro lingüfstico. Barcelona: Paidós- UAB, 199Ó. Para as diferentes concepções de ciência, cf. ECHEVARRlA, J. Introducci6n a Ia metodologia de Ia ciencia. La filosofia de Ia Ciencia en el sigla XX. Madrid: Cátedra, 1999.
originário
que dele se ocu
Os nomes das ciên
foi isso o que ocorreu a partir do século 18. Assim, é Ire-
que o nome de muitas-ciências
10 lIlorrida
área de
um certo ob
de dotar cada disciplina de um nome genérico que
nascidas da expansão do conhecimende uma partícula que descreve a maté-
11.1••\ qual se acrescenta um sufixo que é um neologismo 5 Falamos de "linguagem formal" como a linguagem construída pelo homem de maneira planejada de acordo com regras estritas e em oposição à "linguagem natural", o falar do homem que se insere no próprio processo de hominização.
etc. - e o conjunto
qualificativo
comum:
do grego logos. Sociologia, filosofia, geologia, etc. Ou, às vc-
l", gmfia, descrição:
geografia, cristalografia.
1IH'lIto muito mais clássicas, com nomes
Há, porém,
particulares:
áreas de conheci-
a .Física é um bom
I~XI'llIplode uma antiga denominação grega, aplicada já por Aristóteles. E há ainda um outro fenômeno nada incomum: quando o nome de 11111.1 disciplina
acabou criando
qlll' eSlllda: a implantação
um adjetivo novo para designar
a realidadt
da psicologia resultou na criação do termo "psico
lú~i(.()", a geologia, no termo "geológico", a geografia, no "geográfico". O
nOl11"
2
Parte 1 Teoria, história e historiografia
de uma determinada ciência, constituído por um neologismo, dá lugar, às vezes, a um nome diferenciado para o tipo de realidade à qual se dedica.
Anfibologia do termo "História" As considerações sumárias que acabamos de fazer são úteis para analisar um problema análogo e real de nossa disciplina, a saber: o da denominação mais adequada e distintiva para a pesquisa da Histôria e para o discurso histórico normatizado que ela produz. A "históriografia" é uma disciplina afetada em diversos··sentidos pelo problema da linguagem em que sua pesquisa e seu "discurso" se plasmam. Por isso é preciso dele tratar agora. A questão começa com o fato, comum a outras disciplinas, certamente, de que uma só palavra, História, designou tradicionalmente duas coisas distintas: a História como realidade na qual o homem está inserido e o conhecimento e registro das situações e sucessos que assinalam e man~festam essa inserção. É verdade que o termo istorie, empregado pelo grego Heródoto com-o título da mítica obra que todos conhecemos, significava justamente "pesquisa': Etimologicamente, portanto, uma "História" é uma "pesquisa";" Mas logo a palavra História passou a ter um significado muito mais amplo' e . a identificar-se com o transcurso temporal das coisas. A erudição tradicional alude sempre a esta incômoda anfibologia estabelecendo a conhecida distinção entre História corno res gestae - coisas suce-didas - e História como histeria rerum gestarum - relação das coisas sucedidas-, distinção para a qual Hegel, pela primeira vez, chamou a atenção: "a palavra historia" - disse o filósofo - "reúne em nossa língua o sentido objetivo e o subjetivo: significa tanto historia rerum gestarum como as próprias res gestae, tanto a narrativa histórica como os fatos e acontecimentos'" Na atualidade,
7 HERODOTO. Historia. Introducción de F. RodriguezAdrados, traducción y notas de Carlos Schrader.Madrid: Gredos, 1977(e ediçõessucessivas).Lembre-sede que o texto de Heródoto em seu livro I começa.dizendo:"Essa é a exposição do resultado das pesquisasde Heródoto de Halicarnaso,para evitar que com o tempo os fatos humanos caiam no esquecimento..". 8 HEGEL,G. W. F.Lecciones sobre Ia FilosoJfa de Ia Historia Universal. Madrid: Alianza, 1989.p. 137.Hegel acreditava que esse fato era muito mais do que uma casualidade.
Irl! Whitt, assinalou que o termo História aplica-se "aos aconteciment Illi~lltdll, .10registro desses acontecimentos, à cadeia de acontecimentos que litUi 11111 processo temporal compreendendo os acontecimentos do passa\!. I'IIVlIlc, assim como os do futuro, aos relatos sistematicamente ordehl~ 111 ontccimentos atestados pela pesquisa, às explicações desses relal_h.HIItIIlI,llllcnle ordenados, etc'" Essa não é uma miscelânea qualquer. rlll 11pensamento positivista que estabeleceu a necessidade de que a: '1MtIVI·"e.'1llum nome próprio diferente daquele de seu campo de estu li!IIlt:\ I'"id.lde parece obedecer à idéia, típica do positivismo clássico, de 1" Ítlll'ÍIII se.'descobrem os fatos e em seguida se constrói a ciência, ou, ( M 1111IIII'SIllO,que a ciência busca, encontra e relaciona entre si "fatos' 11111.1 lI~llcia de algo se há um fato específico que a justifique, identif IIMliIlH",Toda ciência deve ter um nome inconfundível e daí que não s· lIl"" nx orrer a lodo tipo de neologismo para atribuir-lhe esse nome. pll~itivisll1o buscou adefinição da história na descoberta, é claro, d. llit)~tll fO/(I histórico. O problema terrninológico vem, assim, de rnuiu • p.t1.lVr,.//istória designa, para dizê-lo de alguma forma, um conjur 'hlllu dt, "(atos históricos"; mas designa também o processo das opera IItll.I ••s" que revelam e estudam tais fatos. Que a mesma palavra d Ih/l'lu" t' "ciência" pode parecer uma questão menor, mas na realidad 1'11' !lI" embaraçosa e abre espaço a dificuldades reais de ordem epist "'u'ftMkll, n,ll CII,HO de que se tenha também ensaiado prontamente a adoçãi te ••1I11cvpccífico que designasse a pesquisa da História. I_tel po~I(), resulta que Q fato de que o vocábulo História designe ai \Ir 14'1111'0 lima realidade e seu conhecimento não é o único exemplo q~ lue .dl/tll de uma situação desse tipo. Na realidade, uma dificulda 1";1.101l1r.1Sdisciplinas das ciências sociais e naturais. Com efeito.j """111100((11I" corn ti economia, por exemplo, e a linguagem comum fez col IIfle~~,: 1.1I11~)él11 no caso da psi~ologia, d~ geologia e da ~eografin: ,~ lu" c11~(lpllllas passaram a designar realidades, como dissemos. I~
1111'1, 11.til cantenldo de Ia forma. Narrativa, discurso y representaciôn "isI6, it 1I"II.tllIlI.e1'.lid6s.1992.p. 159.O titulo espanhol dessa publicação confunde () i~ \'t'1 •• 11Ielligillul.que é The content of the formo Narrative Discourse and l list» ,II/"/"""'/Ill1lic/II. Escamoteiaa expressão"discurso narrativo",que é fundnrncn ;,flllllllil.I\.lu.
p(w(o I
, Parte I Teoria, história e historíograjia
IliSlória e I,isloriograjitl: os frmdllm""IOS
HiVld.ltlc cognoscitiva nosso caso, a palavra grega istorie (pesquisa) temporal
cumulativo
É freqüente
da Humanidade.
palavras com significados
múltiplos
passou a designar também
o processo
o uso de certas
nas ciências sociais, como ocorre com
economia ou politica, entre- outras. De nossa parte', e para o momento, portante
assinalar que este problema terminológico
ráter específico da historiografia.
não corresponde
Mas vale destacar, igualmente,
ção referente à História não há razão para que essa polissemia
é im-
1111\,111 '''I forma de uma série de afirmações mf'lh'
no .caso
de outros vocábulos que designam ciências, como com a política ou a polito-
lidade "material", tangível. A "História"
\li!! 1""'1l1is,Idor" e o "resultado
que estudam
nomes bastante precisos: óptica, botânica,
zoologia ou medicina.
É essencial
deixar claro, desde a palavra que o designa, o que quer dizer "pesquisar a História". Não se pode negar que no caso do estudo da História existem razões suficientes para supor que grandes esclarecimentos
h,,\lII~ ,Ilfcscentar
elucidação
11:111 elimina, a nosso ver, a vantagem I't
foi destacado há tempos por correntes historiográficas
já
l'l'll.1
li
Mia
etimologia.
() l
,
palavras ou rodeios espe-
semânticos. Assim ocorre com a
UllllO vocábulo já foi proposto
11I,11111 IIH,li>,.demasiado
polskyassinalou
metodológicos.
}erzy To-,
para cumprir essa função: Historiologia.
IIí'p,ôivl'lque, do ponto de vista filológico, essa palavra desempenharia Illll,lI'lI'llll'
às quais se soma em seguida a palavra "llisdos problemas
é óbvia, apesar de que supõe uma certa
onccito de "Historiografia": pesquisa e escrita da História
chichte" como seu conhecimento, ao tratamento
o autor, ao não indicar ne-
como a dos Annales, ou
clara distinção que faz o alemão atual entre "Historie" como realidade e "Gestorik" referindo-se
da pesquisa". E
1ti1lk d.III.·/a".'l
A palavra História tem, pois, como já se disse, um duplo significado, ciais para expressar seus diversos conteúdos
do tomate" ou "Histo-
de que a palavra Historiografia
No entanto, continua
"~'1I111Ilistór;a, mais uniforme,
a marxista, e ambas falaram de uma "ciência da História". pelo menos. Às vezes, porém, tem-se introduzido
à qual
lilllll 1'1IIIl'dimento de pesquisa, o termo não tem encontrado ampla aceita111:11I /!l'qucr no seu sentido mais estrito". Para ele, "a tendência de empre-
- e .depois, natural-
mente, de todas as demais. O caráter não trivial da questão terminológica
nela que
auxiliar que assinala To-
IIlil.l ,il-\lIificação unívoca: "refere-se apenas ao resultado
podem ser esperados de uma
eficaz dessa questão terminológica
E é [ustamente
outras, como "Historiografia
1'1 •• dlls canários", por exemplo. Esse sentido
j' ••
primeira
de pesquisa". Em al- '
1,,1\;1111.' .iuxiliar, em expressões como "História da Historiografia",
das coisas." Portanto, é mais que, por outro lado, têm'
três significados
11111\11m deter aqui com maior ênfase. 11I1'"l,ky afirma igualmente que' a palavra em questão tem um uso es-
de uma rea-
não tem o mesmo caráter corpóreo
essas outras realidades,
de seus resul-
nada banais dessa
dos fatos do passado tem
11'~1t\II,l\lopor outra palavra, a historiograjia.
urgente atribuir à escrita da História um nome inequívoco do que fazê-Io com as disciplinas
sobre os
uma vez que
de pesquisa realizadas
das ditas operações
11'"1111',,Icrcscenta Topolsky, o conhecimento
que têm, por exemplo, a luz e as lentes, as plantas, os animais ou a saúde. A História não é uma "coisa", mas uma "qualidade"
de uma construção as conseqüências
'JII IIl1lrhologia. Em suma, Topolsky acaba distinguindo
plina da História, é, sem dúvida, de suma importância. falamos de História é evidente que não tratamos
dos hist~riadbres
,.I,.VI,IlI "I()ria: os "fatos passados", as "operações
logia. Ainda que a q~estão não seja exclusiva, nem, talvez, crucial para a disciQuando
,,,10 há pesquisa desvinculada
i l,l'~I" vução ajuda a compreender
que na situa-
da mesma forma que à tendência tem sido no sentido de eliminá-Ia
o resultado dessa pesquisa como
1'~~~lltllI~"."Mesmo sendo esta uma sutileza desnecessária,
a um ca-
se mantenha,
do histórico, encerra já um duplo significado:
i 1'"1\ l'~'() de pesquisa, mas também
.1
per-
tarefa de designar a "ciência da História". Mas possui, no entanpretensioso:
o de supor que a pesquisa histórica pode
I' i,lIlI\ll1l",lda, sem maiores justificativas,
uma "ciência". Foi Ortega y Gasset
que a palavra História, ainda que seja usada apenas para deII
10 No capitulo 4, na segunda parte dessa obra, voltaremos li u.unr de q\lc~IIW~ '('1(, rentes à própria entidade dn III~tól'ill.
1()IIOLSKY,
" Metodologla de Ia Historia. Madrid:
Cátedra,
1985. p. 54-55.
I.' lhul.,p. " ..
,~ 1
"/1111I101
Parte 1 Teoria. história e historiografia
quem propôs o emprego de termo "Historiologia" para nomear uma atividade que acreditava imprescindível: "Não se pode fazer história se não se dispõe de uma técnica superior, que é uma teoria geral das realidades humanas, o que chamo uma Historioíogio"," "Historiologia" é empregado também por mais ,alguns filósofos no sentido que aqui assinalamos, como pesquisa da História, . enquanto certos historiadores, ao contrário, o tem aplicado no sentido de reflexão meta-histórica que lhe atribui Ortega, como Cláudio Sánchez Alborno ou Manuel Tufión de Lara." Conseqüentemente, a palavra Historiologia não atende ao nosso propósito. Introduz novas dificuldades semânt~cas no lugar de resolvê-Ias. Iean Walch fez algumas considerações extremamente interessantes a respeito 'do uso das expressões História e Historiografia." Para Walch, o recurso aos dicionários antigos ou modernos em qualquer idioma não resolve O problema da distinção entre essas duas palavras. Ele considera bastante perspicaz a ajuda que buscou.Hegel no Iatim=- res gestae, historia rerum gestarum - para distinguir as duas facetas. Mas aepistemologia deve proceder segundo princípios mais estritos que a linguagem comum. Para tanto, Walch propõe que, em todos os casos em que possa haver ambigüidade, seja aceito o term "História" "para designar os fatos e os eventos aos quais se referem os historiadores" e o de historiografia "quando se trata de escritos" - "celui d'historiographie lorsque il s'agit d'écrits"-. Isto explica com grande Clareza o mod como duas palavras podem efetivamente servir para designar duas realidades distintas: História, a entidade ontológica do histórico; historiografia, o fato d escrever a História. Pois bem, os "maus usos" da palavra Historiografia são também Ireqüentes. Certos autores, especialmente em língua francesa, têm atribuído li J
•
13 ORTEGAY GASSET,J. Una interpretación de Ia Historia Universal. En torno 1\ Toynbee. In: Obras completas. Madrid: Revista de Occidente-Alianza Editorial. 1983.t. IX, p. 147-148.O grifo é do autor. Nesta e em outras obras de reflexão~o bre a História, Ortegaexplicitasua má opinião a respeito dos historiadores jUNti ficada?-, seu julgamentodo pedestrismo intelectual que os atinge. 14 SANCHEZ-ALBORNOZ,C. Historia y libertad. Ensayos di' Ilistoriolog(lI. Mndrld. [Iúcar], 1974.TUJ\TONDE LARA,M. Qué l Iistorie] Algunascucstiones de Ilisto riologta. Sistemas, Madrid, 9, p. 5 et scq, abro1975. 15 WALCII,}. /listoriogmpilit' structurale. PlIris:MUNSOII, I99(). JI.1:1.
1Iistória e flistoriografia: os [undamentos
ril "l hsroriografia"
significações que sua simples etimologia não autori1"1'14IIIIplicam a questão de forma completamente desnecessária, geranIlIi\'1I11I\quanto à sua significação original. Naturalmente, tais erros coIfih IlI'los franceses têm sido de imediato aceitos por seus imitadores esIIM~hl\ll'l\1 pelo menos dois usos impróprios da ralavra Historiografia hUiiH.I'I1I1I1 rus imprecisões menores nada difíceis de evitar, em todo caso. O 111I' o uso da historiografia como sinônimo de reflexões sobre a Histó11111 do que fazia Ortega y Gasset com a palavra Historiografia. O seI ,Ipliçação, como sinônimo e termo coloquial, para designar a His11/\/tI/ ill~rafia, quando não, como se diz em algumas ocasiões também !I'''I~ 11.mccscs, a história da histôria." 11111 .llIlor espanhol atual faz também da palavra em questão objeto de 1!"I,Ivl'l diatribe. "A palavra historiografia" - afirma - "é um neologismo Iild.1 pouco e que se utiliza em algumas poucas ocasiões. Tem a vanta", 11'11'111 -se a um tipo de conhecimento sem confundi-lo - como ocor111.1p,ll,lvra história - com seu objeto de estudo, mas também apresenta 111\11' 1111 unveniente. A distinção analítica entre saber e objeto poderia nos '1111'11'1 II1ICos "fatos do passado" permanecem inseparavelmente uniI 11111111'( uncnto que temos deles. À éscassa beleza e ri&or enganoso do I I,hlll' jOHf,dia soma-se o problema de seus diversos significados ..."17 '1'IIIh'41,que praticamente não necessita de nenhuma exegese, depois de ••.•",,!hll. 111111 muita propriedade, qual a vantagem do termo - referir-se a um hedllll'lIlo srm confundi-lo com seu objeto - adentra em epistemologias lI~hl~r ('111declarações gratuitas, incluindo as estéticas, para concluir diIII qUlJ IH' II i,l um confusionisrno atribuindo diferentes significados ao ter-
olllll~III'retórica expressãotem alcançado certo êxito na França. Elaé empre1,1.1, .'11111' outros casos, por um livro tão pretensioso e vazio, e de tão espantosa 11,,,111\.1,, 1111111 espanhol, como o de LEGOFF,J. Pensar Ia Historia. Barcelona:Paiil(i., 1'}'}I (I. I I, pnssim."História da História" é empregado também, por exemplo, li, 1111 J 111.1 ER,C.; TULARD,J. Cômo preparar un trabajo de Historia (métodos y ,lIi,,") llurcelouu:Oikos-Tau, 1989.p. 13,passim (versão francesa de 1988).Nos ,iII'I,,~ 1111111 ,'M'S urna maneira comum de aludir à "História da historiografia" Itll' dlN~o,(' snbklo que nossos alunos da matéria "História da historiografia",e I~" 1'0111 II~(llIIfe~s()Ies,(Iludema ela como "Historiografia" 111.11/I(lIWES, Jl. Introducción. LII Ilistoriograjia. Ay~r, Madrid, 12,p. 12, 1993. jI~~"
i
(l
é
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CapItulo 1 Hist6ria e historiografia: os fundamentos
Parte 1 Teoria, história e historiograjia
11111 d,I I fistória" com o uso de tal palavra para designar "a História da esmo, confusionismo
para o qual inclusive contribui
título da publicação
de forma notável o próprio
.
O fato de que esses usos, cuja falta de univocidade portante
carência de precisão conceitual
vorecidos por alguns historiógrafos ma bastante
de "Historiografia"
história da historiografia, a questão recentemente ficientemente se respondido:
uma im-
de renome permite sua repetição de forcomo Lawrence
Stone, por
um conjunto variado de reflexões sobre a
o ofício do historiador,
trutivas questões." É justamente
, já denuncia
em quem os pratica, tenham sido fa-
acrítica, Um autor tão celebrado
exemplo, cha~a
d.I II istória", quer dizer, com a História da Historiograjia. M.IS também se diz que a História da Historiografia "passou a conver-
em que aparece essa argumentação."
a prosopografia
e outras ins-
devido a esses usos variados e equívocos que
voltou a ser colocada: "A palavra 'historiografia'
é su-
li••,hilil.lria 111_111I
"no modo dos significados tradicionais
também,
entre outras
da historiografia" .•
Essas considerações
ilustram
relativas ao assunto
O primeiro
pode deixar claro o pouco apreço e atenção que os historiadores reflexão teórica, de forma que devem empregar
dispensam
à
uma palavra específica para
designá-Ia (como se a teoria sociológica se chamasse de forma específica "Soou a teoria política "Politografia").
O se-
gundo, que motiva as reticências de Pasamar, procede, entre outras coisas, da difusão de alguns livros ruins, como o de. Ch. O. Carbonell, versão espanhola
uma difusão muito além da merecida."
o uso simples e etimologicamente
ainda mais este uso específico que sustentamos
da
'''VIII llistória recorre a fórmulas como H l' o curso dos acontecimentos, e H2' 11 ~r.UlI)1)hecimento. Quanto à.palavra Historiografia, concorda que se empre111' 1111
sentido de H2' mas que "também
pode querer dizer teoria ou füosofía
1.1 hi~lória, ou seja, reflexões teóricas a respeito da natureza da história"." s empregos tergiversadores
são e têm sido bastante fr~qüentes também
espanhola, ainda que não sejam universais. Dois exemplos ca-
I,Illl'r!sticos por sua procedência bastarão para dar uma idéia. Um autor mui111 ulIlhecido em seu tempo, o padre jesuíta Zacarías García Villada, dizia, em •. U'Il'
dos maus usos
ao longo dos anos 70",22 o que
'!lII"""~ é a que evidencia Helge Kragh, que para diferenciar os dois usos da pa-
UIII livro metodológico bem as dificuldades
que vão além da simples questão terminológica.
ciografia", ou talvez "Sociomania",
e justificaria
'''I hisloriografia
E essa posição negativa baseia-se, jus-
tamente, no fato de que por essa palavra se denomina coisas, a "história
do vocábulo 'historio-
de pesquisa diferenciado
ill~rafia como pesquisa da História. Mais uma prova da confusão de que
ampla para abarcar uma visão in extenso da disciplina?". E tem-
grafia', a resposta deveria ser negativa'."
nfunde-se
IIUIll domínio
muito recomendado,
que "Historiografia"
ou modo de escrever a História", quer dizer, designaria
significava
uma espécie de
I'rl'leptiv~ dos estilos de escrita da História, o que não deixa de ser uma curio.1 l' rebuscada definição." Outro autor espanhol mais recente inclui sem ne"hum embaraço a "Historiografia" entre "as chamadas ciências auxiliares da 25 II ist6ria", junto com a Geografia, Epigrafia e Bibliografia (sic), entre outras. Em conclusão, a confusão de historiografia com "reflexão teórico-me-
100lológica sobre a pesq~lÍsa histórica"
(Teoria da Historiografia,
para ser
que teve em sua Em certos textos
correto de historiografia
como
18 Publicação que, apressemo-nos em declarar, contém importantes contribuições, como a de J. J.Carreras e a de Justo Serna e Anaclet Pons, que comentaremos mais à frente. 19 STONE, L. EI pasado y el presente. México: PCE, 1986. Trata-se do título que recebe a primeira parte dessa obra, cujo conteúdo descrevemos.
O PASAMAR, G. La Historia Contemporánea. Aspectos teóricos e historiográficos. Madrid: Síntesis, 2000. p. 9. ARBONELL, C. O. La Historiografia. México: FCE, 1986 (edição francesa de 1981). Trata-se de um breve tratado de "História da Historiografia" que constitui um dos textos mais confusos, vulgares e, felizmente, breves, escritos sobre o assunto, que, nau ohstantc, pode circular desde Ileródoto att li "llllltl·III.lti:r.IÇ.tO"(sic) da
disciplina, com a notável particularidade
de que a "história da Historiografia"
é
chamada pelo autor sistematicamente de "Historiografia". 22 PASAMAR, G. La Historia Contemporánea. Aspectos teóricos e historiográficos. Madrid: Síntesis, 2000. p. 9. 3 KRAGII, H. Introducción
a Ia Historia de Ia Cienci{l. Barcelona: Crítica, 1989.
p.33-34. 4 GARCtA VI LLADA, Z. Metodologfa y' Critica históricas. Barcelona: EI Albir, 1977. p. 31. original desse livro é de 1921 e ainda se editava em of! set na data indicada, o que uma magnífica prova de muitas das carências que destacamos no livro. ESCANDELL, B. Teor(a dei Discurso Historiográfico. Hacia una práctica cientlfica WItSC;CIt/(' de Sll método. Oviedo: Vniversidad de Oviedo, 1992. p. 147. Parece claro que (\ próprio título concede ao
llisloriografia.
1"'"/II,IIj",1t/lilil;l.',"I/'l'/,lfi,i
/
dos modos de pcsquisnr
mais preciso) ou com "História ria" (História
questão crucial da disciplina, representa, entre os profissionais
palavra historiografia
e os estudantes
modernarnente
- que têm o seu nome já perfeitamente
do absolutamente
a etimologia
disso, não apresenta
do termo
concomitância
que propomos.
nem confusão
da História", atividade que, nem é necessário costumam
violentan-
A palavra,
além
alguma com a "Filosofia'
assinalar, os historiadores
não
cultivar.
Topolsky, sem dúvida, destacou o problema propôs uma solução. Parece-nos como Historiografia
difundida
adequado,
de forma precisa, mas não
hoje plausível que uma palavra já bastante seja
a
aceita. A palavra historiografia
seria,
como sugere também Topolsky, a que melhor resolveria a necessidade
de um
termo para designar a tarefa da investigação e escrita da História, frente ao termo História,
que denominaria
a realidade histórica. Historiografia
acepção mais simples, "escrita da História". E historicamente versas formas de escrita da História
que se sucederam
clássica. Pode-se falar de "historiografia
é, na sua
pode aludir às di-
desde a Antiguidade
grega", "chinesa" ou positivista,
por
III I11,ti l'lIIpregada. Não é assim, de forma alguma. Importantes
'" 11'(onhccida capacidade, influência e persistente 1,lh'I Il'6rico-metodológico, t
li , E
esse o magistério
(lI"'PO dos historiadores,
disciplina intelectual e acadêmica por eles constituída. afirmou
Ferrater Mora, para dissipar a ambigüidade
e também a
É a solução proposta, existente entre os dois
sentidos principais da palavra História. Isso tenderia a ser suficiente, acrescenta, "mas não é assim'."
aceito, ainda que alguns descordem,
(
nossa disciplina em sentido moderno,
Benedetto
te6ricos de ,
no vasto
o que é uma boa notícia.
A questão do nome não é o único problema do da História.
A pesquisa
gem especializada,
histófica
o que é também
que a historiografia
praticamente
terminológico
no estu-
não criou uma lingua-
um sintoma
do nível de mero conheci-
tem mantido
desde muito tempo como
Existem apenas termos construídos histofenômenos específicos. Algumas conotações
da pesquisa -histórica.
riograficamente cronológicas
para designar
_ expressões
como "Idade Média" -, alguns qualificativos
tegorias para determinadas mas de sociedade
conjunturas
- "Feudalismo",
"longa duração;', "conjuntura",
. Foi essa a significação que deu à palavra um dos primeiros
da pesquisa e escrita da História
A linguagem da historiografia
disciplina
da atividade dos historiadores
J. Fontana, J. Topolsky,
que se deve impor. Além disso, o uso da expressão his-
sendo progressivamente
em determinadas
grafia seria a atividade e o produto
têm-na utilizado sempre no seu sentido correto-
lor /II~mjia para designar a função disciplinar
VI''''
historiadores,
dedicação aos temas de ca-
,1'111 ~~.s Lefebvre, P. Vilar, Thomas Kuhn, R. Samuel,
mento comum
-,
de uma obra básica da "filosofia
1,,111111 .r" d,I História," e é de uso comum em língua inglesa. Sl'Iia falsa a impressão de que a palavra historiografia é universalmen-
exemplo, para referir-se a certas práticas bem definidas de escrever a história épocas, âmbitos culturais ou tradições científicas. Historio-
da "l lis No mun-
com a mesma acepção que lhe
,,11-110s.Ix.lo, essa palavra foi introduzida
da matéria. De fato, a
- Teoria da História e História da
escrita acerca de temas históricos)"."
'I Iltllllllll'; pelo filósofo W. H. Walsh, autor
a nosso ver, um sintoma das impre-
tem sido aplicada, não se sabe muito bem por que ra-
zão, a coisas que surgiram .Historiografia
"BIIlt1.1 (isto é, a produção
mesmo que não seja, como dissemos, uma
da Historiografia),
cisões correntes
II1 1111 ,".1 lIlais correta accpção, ao [alur em um texto conhecido
e escrever a l Iistó-
.
dem da linguagem
comum,
históricas
"Capitalismo"
e ca-
- "Renascimento"
-, for-
- e conceituações
como
e algumas outras, são termos que não prece\
ou aos quais se tem dado uma significação
es-
Croce, em seu Teoria e His-
tória da Historiografia; em italiano Storíografia tem o sentido preciso de escrita da História. Esse é o uso que lhe atribui também Pierre Vilar em seus mais conhecidos
textos teóricos e metodológicos.
26 FERRATER MORA, p.373.
J. Fontana,
por sua vez, utilizou a
J. Diccionario de Filosofia de bolsillo. Madrid:
Alianza, 1987. I,
27 FONTANA,
J. Historia:
Análisis del pasado y proyecto social. Barcelona: Crítica,
1982. p. 9. 28 WALSH, W. H: Introducción a Iafilosofia de Ia Historia. México: Siglo XXI, 1968 (a primeira edição é de 1951). Pode-se verificar os comentários que a este respeito faz DRAY, W. H. Perspectives sur l'Histoire. Ottawa: Les Presses de l'Université d'Ottawa, 1988. p. 153 et seq.
37 36 ,\
pecífica, e que têm surgido e se consolidado vcstigativa
(01110
produto
da atividade
( ) 11111111.'
da historiografia.
Mas é preciso desde já advertir para algo importante
guagem formal ou matemática básica, não é absolutamente a construção
de uma disciplina.
do vocabulário
adequadamente
comum
a fim de evitar
ainda que seja uma lin-
confusões: a criação de uma linguagem especializada,
emprego
1""1* "Ido pelo recurso cada vez maior à linguagem de outras ciências so-
in-
indispensável
para
Pode existir uma ciência social baseada no sempre que seja capaz de "conceitualizar"
seu objeto de estudo. É preciso reconhecer, , no entanto, que o
mais comum é que o desenvolvimento linguagem particular,
das ciências leve à 'construção
no âmbito historiográfico
a respeito da ne-
não preocupou
de maneira direta a ninguém
.até que se atingiu um certo grau de maturidade
disciplinar, o que não apare-
ce antes da reação anti-positivista
arquetipicamente
representada
dos Annales. Além desta, apenas a linguagem suas peculiaridades.
do marxismo
pela escola
manteve sempre
da escola dos Annales estavam di-
Os próprios integrantes
com muita freqüência,
outros conceitos heurísticos:
i~k''','' que 11""
a historiografia
,od.lis. Assim, pois, a linguagem
empregada
pela historiografia
to d.1 questão da pesquisa histórica dever ou não criar sua própria linguagem, • u-sposta precisa ser matizada. Por si mesmo, o objetivo sistemático 11111
vocabulário
carece inteiramente
de sentido e ninguém
guagem empregada
portanto,
I!OVOS
pela historiografia?
tra: é realmente importante para ~ pesquisa da História! os historiadores
como esta: qual a lin-
E dito isto, acompanhada
de uma ou-
a existência de uma linguagem própria e peculiar Com relação à primeira,
a resposta não é difícil:
têm adotado uma linguagem comum e quando desejam aper-
dade, gênero, etc. A vitalidade capacidade
to, a proposta
teórico-metodológica
real de uma disciplina histotiográfica
teúdo metafórico
quais se expressam;
mos desse tipo. Por isso não se deve estranhar atual crítica lingüística e literária pós-modernista tória" é mais uma forma de representação foi proposta
que uma parte importante tenha entendido
literária."
da
Há exem-
prosopografia,
mentali-
se mostra, entre outras coisas, em sua
guém pode pretender
de que os esforços para a formalização não esqueçam nunca a estreita relação
claras e operativas
e os termos
específicos pelos
Mas é uma questão que deve permanecer
aberta. Nin-
ter em mãos uma solução.
que "a His-
Quando' a historiografia
como atividade "científica': o aperfeiçoamento
de sua expressão
As
INSUFICI~NCIAS
TEORICO-METODOLOGICAS
Há também um outro problema, 29 O mais conhecido defensor dessà posição é, sem dúvida, Hayden White, 'no que é acompanhado, porém, por muitos outros, Voltaremos a esse assunto de forma mais detida nos capítulos 2, 5 e 6.
38
adotado.
e adjetivos de significação mais
Eco-história,
de uma disciplina
entre as conceitualizações
"ocaso': e muitos outros ter-
no vocabulário
de criar uma Íinguagern, como dissemos. É preciso fazer, portan-
feiçoá-la recorrem à linguagem literária e, sempre, a um discurso de forte con- "evolução': "florescimento",
poderia propô-lo
campos e setores ou, em último caso, a aplicação de novas técnicas, é o
ou menos precisa como Micro-história,
colocar-se uma pergunta
de criar
dI' maneira sensata. A questão é outra: o surgijnento de novas formas de teortzação do conhecimento da História, o aparecimento de progressos metodológicos gerais ou parciais ou, como um efeito mais imediato, a exploração de
ção adotada por Henri Berr, que propunha É pertinente,
não é, de ma-
.ilguma, específica, mas isso é um probleD?-a? Cremos que não. A respei-
plos evidentes: o uso freqüente de substantivos
História de "empregar a linguagem comum".
etc., e
ação social, câmbio,
emprega da mesma forma que as demais discipli-
que haverá de dar lugar a uma mudança
do "privilégio" da
de uso geral: revolução,
modo de produção,
vididos a respeito do assunto. Lucien Febvre chamava a atenção sobre a posia permanência
têm
por outras ciêricias. O acervo comum
cultura, classe, transição, processo, socialização, capitalismo,
,,"1111.1,
.IHII""
111,'11••
essidade de uma linguagem especializada. Na realidade, a questão do vocabulário específico aos historiadores
10 runh.rdos,
e as categorias que estuda a historiografia
1••_ I Ic\lIl i.ls sociais possui hoje conceitos descritivos
de uma
com o amplo emprego de termos específicos.
Nunca houve unanimidade
dos fenômenos
este sim de importância
quejá destacamos, referente à fundamentação , na da historiografia.
DA HISTORIOGRAFIA
teórico-metodológica
decisiva. É o da discipli-
Com efeito, por pouco que se obs:Fve o panorama,
vê-se
39
A'/I/IIII"
1'11I,,' I
I iistôri« e hiSloriogmlil/:
Teoria, /,imjnl/ r h/I'''''''H'''/III
claramente que ~ fundamentação
da historiografia
com praticamente
todas as
OS(,,,,liml/el/IOS
lllllll'iro espírito científico, mais ou menos arraigado, custou muito a se ma-,
parece estar ainda hoje mui-
to menos estabelecida e desenvolvida se comparada
I
f••~IIII.A compreensão
de uma "ciência" da História por parte dos historiado-
demais ciências sociais. A discussão continua viva na atualidade e presumivel-
tlll diílcil mesmo depois de ter-se profissionalizado,
mente assim permanecerá,
til' historiar, A verdade é que a historiografia
sobretudo depois que as posições decididamente
lativistas, como as do pós-modernismo, outro lado, a intenção de apunhalar bilidade do conhecimento
teoricamente
a especificidade e a irreduti-
_30
referirmos à antiguidadeque
com o empreendido
tem origens sabidamente
de seu
por Émile Durkheim
antigas. Isso para não nos
tem também a própria atividade de historiar, que
111••1 ,k preocupação
fundador
na figura e obra. de Heródoto
.paráveis com o de Heródoto, e que tampouco veis dá historiografia Talvez, porém,
são comparáveis figuras discutí-
a mesma antiguidade
das manifestações
História e das formas históricas que tal escrita têm adquirido, "História
Filosófica': é o que tem propiciado
e disciplinar da historiografia
da escrita da da Cronística à
que a fundamentação
científica
tenha tido, como dissemos, um roteiro tão pou-
co conclusivo, É certo, porém, que desde o século 18 não faltaram esforços, e êxitos, por, parte de historiadores, fos, para a construção damentada.
escolas historiogrãficas,
sociólogos e filóso-
de uma disciplina da pesquisa histórica mais bem fun-
Por que, então, o grau de formalízação,
conhecimento da História, ou seja, a Historiografia, Iras áreas paralelas da ciência 'social?
c?erência e articulação
do
é menor do que em ou-
Esperamos que ao longo desta obra possam surgir certos esboços de res-
teória no
'111"1110das ciências sociais, a "filosofia" da História e do seu conhecimento,
r nhra de historiadores mas de outros tipos de estudiosos: filósofos e filóso-
11_0
11,1lÍ~ncia, metodólogos, teóricos de outras disciplinas sociais, etc. () historiador britânico Raphael Samuel referiu-se a essa situação afir""1110 que "os historiadores I \,10 sobre seu trabalho
não são dados, ao menos em público, à intros-
e, excetúando
os momentos
solenes, como as con-
Irl c'm i,IS inaugurais, por exemplo, evitam a exposição geral de seus objetivos: Nílo buscam, tampouco,
do século 18, como Voltaire, ou do 19, como Ranke.
Dessa forma, não raro a produção
IIhlll ,1\,\0 de análises sobre a situação, significação e papel da historiografia
de Halicarnaso, no século 5° a.C. A si-
Adam Smith na economia ou de Augusto Comte na sociologia são pouco com-
metodológica.
IIl1'lodológica, ou que se pretende como tal, sobre História e historiografia,
11
conta na cultura ocidental, como é bastante conhecido, com um marco e mito tuação é bem diferente em outras ciências sociais, em que "mitos" como os de
comple-
11'111", ,llé hoje, da velha tradição da cronística, da descrição narrativa e da au-
caíram num progressivo descrédito. Por
da História e de definir as regras fundamentais
método - o que se pode comparar para o caso da sociologia
re-
no século 19, a ativida-
nunca se desvinculou
1III\1\1'ir"semelhante:
teorizar suas pesquisas","
"O aspecto metodológico
1111111111I coxos é o da teoria ... Os historiadores 11
Carlo M. Cipolla disse de
no qual os historiadores têm-se preocupado
con-
muito pou-
1'," explicar, não apenas frente aos demais, mas também para si mesmos, a
11'11'
i"
.1
partir da qual recompõem
os dados básicos recolhidos","
Há filósofos,
'li ""\1\1, que afirmam que os historiadores atuais "não costumam se colocar I'lo"\tolllas de método"," É certo, porém, que se atravessaram quase três déca",I~, desde 1945 a 1975, de contínuo "'" progresso espetacular
avanço da historiografia
no contexto de
das ciências sociais no -seu conjunto.
IIII~~,Iopinião, não foi suficiente. ) progresso real da historiografia IlIlpoll.\llIe, o progresso da transmissão
Mas isso,' em
como disciplina e, o que não é menos e ensino dos fundamentos
disciplinares
posla a essa pergunta, na qual não podemos nos deter agora com maior profun-
li'" ( IIrSOSuniversitários
didade. Talvez se deva assinalar que no mundo dos próprios historiadores
1111,,10cuidado o que significa um progresso da reflexão teórica e metodológica li" C1""não passa de ampliação do campo do "historiável", a expansão das temá-
um
\0 Refiro-me, claro está, ao célebre texto de É. Durkheim, Las regias dei método sociológico, cuja primeira edição francesa é de 1895, da mesma época em que apareciam alguns manuais de fundamentação historiográfica, os de Langlois-Seignobos e Bernheim, por exemplo: Da obra de Durkheim existem várias versões espanholas, muito mais numerosas do que as de Seignobos ou Bernheim, de cada lima das quais existe apenas uma, o que já é sintomático.
11I
estão longe de ser evidentes. É preciso distinguir com
\ I SAM UEL, R. (Ed.). Historia popular y teoria socialista. Barcelona: Crítica, 1984. p. 48.
CIPOLLA, C. M. Entre Ia Historia y Ia Economia. Introducciôn
a Ia historia econó-
mim. Barcelona: Critica, 1991. p. 51. \ \ I I 1\1>('), E. Lellgunje e historia. Barcelona: Aricl, 1977. p. 9.
til
;lIplllllo 1 Ilistória e I,istoriogmlill: os r/llltll/lllclltos
Parte 1 Teoria, história e historiografia
!lil,-,tipo de pensadores, de literatos e de filósofos. Os cronistas, no entan-
ticas e dos centros de interesse, ainda que não se possa negar que tais ampliações acabam acarretando,
no mínimo, modificações
metodológicas.
h11ililil
Mas isso não é
suficiente. Tudo isso justifica, ao final das contas, toda uma longa tradição de "ingenuidade
metodológica"
são. O "metodólogo"
"111
que constitui uma das piores tradições da profis-
é, entre os historiadores,
um personagem
que se seguiram à Segunda Guerra Mundial, de um momento ciência social, e quando muitas disciplinas construíam da historiografia,
esp,etacular da
que com
, ('VI""
seus melhores edifícios
1'0001e. Não foi durante
metodológico
responde unicamente
às carências, ou
à inércia
dos historiado-
res. A própria história social da disciplina, como a de qualquer outra, mostra que o estado alcançado por uma ciência tem razões objetivas explicáveis historicamente.
A história da historiografia
mostra que a disciplina foi se consti-
tuindo por um processo que tem claras divergências com o resto das ciências sociais que hoje estão constituídas.
A historiografia,
muito antiga, como dissemos, acalentou o d;s,o positiva" mais tardiamente,
de converter-se
em "ciência
e com resultados menos visívies, do que outras dis-
ciplinas sociais. Conseqüentemente, de hístoriogrãfica
uma atividade intelectual
o atraso teórico-metodológico
da ativida-
pode obedecer a fatores complexos que cremos serem de três
tipos: a própria natureza de seu objeto, a função social e ideológica que vem desempenhado historiadores.
desde há muito tempo e, somente em terceiro lugar, a atitude dos Dediquemos
algumas linhas para cada um desses três aspectos:
A História não éuma matéria objeto 'de conhecimento
de índole análo-
ga à que constitui as outras ciências sociais. A História é uma "qualidade" inse- ' rida nas coisas, uma qualidade do social, sem dúvida, mas não é ela mesma uma
coisa, como pensara Durkheim a respeito dos fatos sociais. Não existe um fato histórico por natureza." Como conseqüência, nunca foi um .objeto filosófico, analítico ou, inclusive, empírico de fácil apreensão. A natureza do histórico foi, desde muito tempo, um ponto de reflexão de extrema complexidade
caíssem no esquecimento". A ao humano,
séculos objeto de um conhecimento
mas antes uma forma de "auto-conhecimento".
11I'1110,
no teórico-
tempo os fatos humanos
o homcm da 'natureza, mas apenas os "fatos memoráveis"
"1(111" 1111
O
foi sempre tida como um "legado" consubstancial
II\ri"
ainda que isso pareça paradoxal. mais bem estabelecida e apetrechada
A Histó-
li xerviço do poder, não constituía um conhecimento como o dos as~ , W'IIHI.dia ou a matemática. E somente Heródoto confessou escrever
Em todo caso, seria um completo erro supor que este atraso na constituição de uma historiografia
sempre ou quase sempre uma função instrumental.
e
HIIÜHI
teóricos, não era muito habitual tratar - talvez com exceção do marxismo -,dos fundamentos
sempre a História com os "fatos da História", os fatos do pas-
filósofos os primeiros a refletir sobre sua natureza e essência. 01111'0 lado, escrever a crônica dos fatos sucedidos, pesquisá-Ios ()~
illlll III~teve
suspeito de su-
ou, ao menos, um .espécime atípico. Em outros tempos, como os
perfluidade
.1I,1I1l
iÍlI,1I1I
r
li.,
conjetural,
Podia ser objeto de
"rll,lo filosófica, não teórica. E as~im foi, inclusive muito tempo
depois de
ituído uma ciência da História. Essa ciência era conhecimento
\ll1I~I
'''Im'',
que
dela for-
de
análise da sua natureza. A teoria era, portanto, insultada como coidI' filósofos ... A História era e é urna expressão de identidade e por isso teve
1111'1('
Itt(1t
11.10
lima função subordinada:
,
"i'~;
seu conhecimento
ao poder, às ideologias sociais, políticas ou
tem estado ligado à elite dominante,
à nação e no
11,,10. Por não ser um conhecimento desinteressado, dificilmente pôde ser 11111 ",111'1 imento teórico. Por isso, a história da historiografia não se entende l(ll,' do tOllll'xto geral das formas sociais e das idéias de cada momento." A própria vontade, enfim, a atitude do cronista e depois do 11;5101 ;1/1111I IiVI'I,II11
por muito tempo apoiadas nessas duas características:
1I.,d •. do histórico como fato puramente ,,111'1
cultural e a subordinação
a irnatcri.ili de seu
(O
imcnto a interesses externos. Por isso sua figura se limitou quase sempre
,I
i;1 ., dl' quem pesquisa os sucessos do passado e os coloca na forma de um dis 1,111
~o lOcrcntc c útil. Como já afirmamos,
01 l('il~ilO
o historiador,
como uma inequlvo
a certas tendências do século 19, tem desejado livrar-se da "filosofia"
f'III~,I que praticamente
nenhuma
outra ciência social tem feito. A função ano
Iltil ,I xobre n I lislória como realidade global, a tarefa de desentranber sua 16gi 1,.1.u-m se limitado, no melhor dos casos, ao propósito de esclarecer "as C.IUSOS"
que ocuA esse.' respeito, ver PASAMAR, G. La invención deI método histórico y Ia hislcll li, 1l11'lócliça cn cl sigla XIX. JJistoria COl1temporánea, Bilbao, n. 11, cspcci,t11l1l'1llt'
34 Esse aspecto já foi advertido por Langlois e Seignobos em 1898. Referimo-nos a ele de forma mais extensa na segunda parte da obra,
p. 11\5 ct scq, 1994.
'D
Parte 1 Teoria, história e historiografia
."p/trllul História e Iristoriogrnjin: os [nndnnientos
I
,,111111
dos fatos. Corno disse Lucien Febvre, com sua habitual lucidez, houve alguns "metodólogos
impenitentes"
que descobriram,
desde 1880-1890, que "ao fim e
ao cabo, a história não era mais do que um método. Um mét~do histórico': Portanto,
não era, em absoluto,
um patrimônio
exclusivo da historiografia,
"coisa que, entre parênteses, dispensava os historiadores pinhosa questão: O que é a Históriai"," Mas, justamente,
de se colocarem a es-
da historiografia
paulatina, porém resoluta, dessas três condições ou dimen-
sões. Produziu-se
uma preocupação
objeto próprio propósito
da historiografia
e daí ~enorme
independente,
auto-suficiente,
não vinculado
ça na própria imagem do historiador,
e determinante ampliação
de fazer com ela um conhecimento
relativa ao
de seu campo. Um
"científico" e, por conseguinte,
da pesquisa histórica, deve partir, conseqüentemente,
1""
também com a reflexão sobre o método. O método é con-
\l'gue em seu trabalho
ou os' que os outros seguem, O método comprováveis
111 l~
é uma
e de sua efetiva comprovação.
como um procedimento
o de <:onhecimentos que não se confunde
ba-
E, ad-
para a aquisi-
com as técnicas - cuja aprendiza-
também iniludível-,
mas que as emprega sistematicamente. Em suma, a reflexão sobre a disciplina historiográfica é essencial na pre-
p",.I~·'\() do historiador, ainda que não seja, infelizmente, freqüente. E é preci-
à prática,
de dois pressupostos
preocupada
1I imos desde já, deve ser entendido
teórico-meto~ológi-
da História, ou como um manual introdutório
com a "Filosofia da História". Tanto o te-
,1" r,1110, muitas vezes, como pouco mais que um conjunto de' receitas; em ouIII usióes, o historiador é incapaz de algo mais do que descobrir QS passos
a expressão, objetivo . ca ao conhecimento
.leixar de fazer, se confundam
que esta
não pode em ab-
I! ,I~
peculiar e, se se permite
É por isso que um texto como este, de introdução
a práxis, por mais importante
se deve temer quê essas reflexões, que o historiador
«uno a própria confusão, seria uma prova a mais de imaturidade. Sq;undo: a articulação de uma boa prática historiográfica tem de estar.
1111'1'1'
desde as condições de sua profissionali-
seou-se no esforço por fazer dela um conhecimento
11.\0
1!II'~I.hlde pressuposições
a fins ulteriores. E uma mudan-
zação até sua bagagem intelectual e técnica. O progresso da historiografia
.'
111110
se fundamen-
tou na eliminação
progressiva
I'
estão acostuma-
repensar a própria idéia de História: quer dizer, fazer uma re-
~ohre a teoria e não apenas sobre
ltl
"I. 101
Seria difícil expressá-lo melhor ...
o progresso histórico
"estados da questão", que é ao que os historiadores
uuludível
bá-
iI
eliminar radicalmentedesse
'tlllvl'ncionalismo
tipo dereflexão
toda' tentação retórica e todo
trivializador."
sicos como os que seguem: Primeiro: o esforço teórico do historiador
deve basear-se na, e dirigir-se
à, análise suficiente da natureza da História, do histórico. E o tratamento tema deve' integrar-se
inevitavelmente
desse
>RMAÇAO CIENTíFICA DO HISTORIADOR
)I(
ao de qual conhecimento da História é
possível. Já se disse que os historiadores raras vezes refletem sobre a essência da I Iistória, Pelo contrário, pode-se citar o exemplo de outras ciências sociais, como a sociologia, na qual a "ontologia
do ser social" constitui
sempre um
tema teórico recorrente." Por que a natureza do "ser histórico" deve ser uma preocupação
A
dos filósofos?.. Além de refletir sobre a prática historiográfica
'e
Depois de mais de um século e meio de- existência de uma disciplina uormalizada
nmu das questões
pieparação dt'IIIO
36 FEBVRE, L. Hacia otra Historia. In: Combates por Ia Historia. Barcelona: Ariel, 1970. (A primeira edição desse conjunto de escritos é de 1953.) 37 São muitas as publicações de~onstrativas dessa afirmação. Ver o sempre inspirador texto de MOYA, C. Sociólogos y Sociologia. Madrid: Siglo XXI, 1970. O de ALEXANDER, J. C. Las teorias sociológicas desde Ia segunda guerra mundial. Análisis multidimensional. Barcelona: Gedisa, 1989. E LAMO DE ESPINOSA, E.; RODRfGUEZ I13ÁNEZ, J. E. (Ed.). Problemas de teoria social contemporânea. Mndi id: eiS, 1993.
da Historiografia,
escrita e da confortável
11 "
de um ofício profissionalizado instalação
que, seguramente,
de seu ensinamento
sofreu menos alterações
e o perfil intelectual do historiador,
roi-se desenhando
de sua pesquina Universidade, foi a própria
A imagem do historiador
em seus traços mais característicos
mo-
ao longo do sé-
11110 19 c o professor de História, tal como o conhecemos hoje, é uma figura j.\ delirnitada ao começar o século 20, Fundamentava-se na continuidade da
lli Quantns vezes não observamos que o "objeto e método" da disciplina não é senão UIl1i1 mera retórica ou liturgia no decorrer de um concurso a um posto de funcioU(II io ou na própria progressão na carreira funcional, sem maiores conseqüências!
<1'\
Capitulo 1 História e historiografia: os fundamentos
Parte J Teoria, história e historiografia
considerados em conjunto, os historiadores jamais reconheceram a necessidade de dedicar-se a estudos preliminares bastante amplos, que Ihes permitissem abarcar o assunto em todas as suas relações naturais. Por essa razão, vemos, não sem espanto, um historiador ignorante em economia política; outro que desconhece as leis; um terceiro que não sabe uma palavra a respeito dos assuntos eclesiásticos ou das mudanças da opinião pública e outros que descuidam da filosofia da estatística ou das ciências físicas, apesar dessas matérias serem as mais importantes de todas, posto que compreendem as circunstâncias principais que afetam o temperamento e a natureza da espécie humana ...; perdeu-se, portanto, o auxilio que se teria podido obter mediante a analogia e a comparação, não tendo sido exercitada a concentração desses. trabalhos na história, da qual são, na realidade, partes constitutivas indispensáveis." .
tradição erudita do século 18, mas a ela se somava então a convicção de se praticar uma "ciência" e, através das notáveis modificações lo 19, o historiador da História"
havia adquirido
Com, o influxo da concepção
rido também
o afã de aperfeiçoar
O fato paradoxal
introduzidas
novas habilidades
positivista da ciência, havia adqui-
seus métodos.
é que até um momento
20, a 'própria "escrita" da narrativa
históricà
bastante avançado do século
experimentou
raras mudanças,
quiçá com algumas
exceções, entre as quais caberia
Synthêse, promovida
por Henri Berr." Nunca se impôs ao historiador
sidade de uma formação disciplinas
filosófica, um conhecimento
afins, nem uma formação
sempre para a melhora
destacar conveniente
dos documentos.
do historiador,
a historiografia
suas linhas mais clássicas, talvez com o acréscimo razoada" e, inclusive na "história
nunca se equiparou
a necesde outras
Ao alterar pouco a
própria concepção da escrita da História e, conseqüentemente,
na "história
a escola da
científica específica. O ofício dirigiu-se
do tratamento
peito do perfil profissional
no sécu-
em "ciências auxiliares
à figura dos praticantes
Que ressonância I
não têm essas palavras, ~e um século e meio atrás"
quando são postas em relação com a formação toriadores
de hoje recebem (pelo menos na Espanha)!
seguiu melhor em'
lutamente
insuficiente,
de que então se acreditava'
sincera"," O historiador
quase
das outras ciências sociais antes
da segunda metade do século 20.
além de inadequada
esforço para deveria ten-
der para a consecução
e práticas historiográficas
de um objetivo pragmático tem de experimentar
da mais da idoneidade sustentar
a justificada
dúvida sobre a imagem
de certa realidade social e fará duvidar ain-
de sua formação
atual, Exi~tem razões de peso para
essas dúvidas.
Pouco depois de meados do século 19, o historiador Thomas Buckle dizia, a propósito vale a pena ser transcrito
e absolutamente
britânico
Henry
da maneira de abordar a História, algo que
na íntegra:
40 "Históriasincera" faz referência ao título de uma conhecida obra de Charles Seignobos. J Jistoire sincêre de Ia nation [rançaise (1933), que despertou comentários entre divertidos e sarcásticos de Lucien Febvre.' Ver L. Febvre, Comhatcs, p, 13\ c seguintes.
em que se fundamenta
univerde orien-
no ofício de histoem qualquer contínuo
uma de da for- .
a sensação de indi-
gência intelectual que oferece essa ..... preparação universitária não são difíceis de enumerar. Uma exposição, sem a pretensão de/ser exaustiva, teria de assinalar, inicialmente,
três aspectos claros do problema.
O primeiro
deles, 'provavel-
mente o mais grave ainda que possa não parecer, é a...incrível e esterilizadoraunilateralidade,
o constrangimento
tudos universitários 39 BERR,.H. La sintesís en historia. México: Uteha, 1061. (Colección Ia Evolución deIa Humanidad). Não se deve tampouco esquecer o trabalho desenvolvido pela revista dirigida pelo próprio Berr, Revue de Synthêse Historique.
mudança
qualitativo
passa por um aperfeiçoamento
mação científica do historiador. Os. argumentos principais
básico: a
A preparação
uma profunda
riar. Todo processo efetivo na disciplina historiográfica, suas múltiplas ramificações,
O que foi dito fará compreender
por culpa daqueles
urna renovação eficaz dos pressupostos
tação se se deseja alcançar um salto realmente
como pesquisador
Essa formação é abso-
e, certamente,
revisão da formação de que é dotado hoje o historiador.
Atuais insuficiências na preparação do historiador
que os jovens his-
que definem e toleram os planos de estudo existentes. O primeiro
sitária do historiador
do historiador
acadêmica
as idéias a res-
míope com que estão programados
do futuro historiador,
os es-
que se limitam aos conhecimentos
41 BUCKLE. H. T. History of Civilization in England. London: J. W. Parker and Son, 1857-1861. A citação foi retirada de ALTAMIRA, R. La ensefianza de Ia Historia. Madrid: Akal, 1997. p. 169 (A primeira edição do livro de Altamira é de 1894). A obra de Bucklc foi continuamente reeditada até os anos 1960.
Parte 1 Teoria, história e historiografia
Capitulo 1 História e historiografia: os fundamentos
'\
1
"de História", sem praticamente
nenhuma
, tante, de outros tipos de conhecimentos
outra perspectiva, e depráticas,"
próxima ou dis-
tanto em seus funda-
Daí resulta a inócua preparação teórica e científica que recebe o aspirante a pesquisador da História, a historiador." E, em terceiro lugar, o oferecimento praticamente inexistente do ensino de um "ofício" __ É palpável que essa tripla carência se insere em um
contexto extensivo a outras muitas carências da universidade se exemplificar de forma arquetípica,
igualmente,
atual e que pode
nos estudos em ciências so-
ciais e, ainda mais, nas chamadas "humanidades". O fato de que a História
necessite de apoio e de um amplo conheci-
mento de todas as ciências sociais afins, das mais próximas, tipo de pesquisa social que pratica a historiografia, belecida. Na Espanha, praticamente
desapareceu
pelo menos, ao
não é hoje uma idéia estados currículos
toda referên-
cia - com exceção talvez da Geografia - ao amplo campo das disciplinas que integram as "ciências do homem". Do primeiro "História':
E nem sequer se tem mantido
ção. O futuro historiador
desconhece
par~ não falar da demografia, Quando
as disciplinas de maior especializa-
a sociologia, a economia,
a politologia,
1i~II,()cSem determinadas IIh fllH' ·1IVrI.
teórica que se oferece a um historiador
estamos nos referindo, na realidade, a algo que simples-
11
outras profissio-
ciências sociais. Não é demais advertir, no entan-
assunto da inadequação
da formação historiográfica
o mais extremo, das deficiências estruturais
é um exemplo,
e operacionais
do ensino e
IlIl\lk.I tias ciências sociais na Espanha, campo este em que são muito mais 1lIlI!ll.mles os mitos beatíficos e inatingíveis,
os ídolos midiáticos
Illh!llores de ideologia, do que os pesquisadores
que trabalham
e os dissecom rigor e
Ii'III.llIcirajndependente. () terceiro aspecto assinalado é tão claro como o precedente
n-levante. Nossa situação atual é de ausência praticamente
110"
e não me-
total, na for-
do historiador, do ensino mínimo de um "ofício", ofício cujas habilida-
11I1'\'\0
IIlIic1t'veriam atender tanto a uma formação baseada em princípios
e pressu-
I'[l~tos como em métodos; tanto às "técnicas" como à capacidade discursiva. O II~IIIOda historiografia ir
1\
na Universidade
um mero verbalismo
tem muitas vezes quase que se redu-
- não sempre, naturalmente
-, a uma exegese da
I'llIIIuç41o escrita existente, a uma leitura de "livros de História", de informa\1\0
do latim, da estatística, etc.
falamos da formação
hoje na Universidade,
ao último curso só se aprende
ampla e sólida; completa. Não se pode' igno-
" 1.1"(' problemas desse tipo também afetam, e gravemente,
mentos como em seus produtos.
nos centros universitários
I~u mação científico-social
lIi
eventual, e não à transmissão
Itlll matérias cujo conteúdo (' t
de alguma tradição científica. Quando exis-
é a "teoria", o "método" e questões afins, longe de
Ollverterem, como seria imprescindível,
Im.lis na formação
"teórica" planejada
I'Clil~ricas, meramente complementares e nem sempre bem distribuídas." Necessariamente, a conclusão sobre este estado de coisas não pode ser
uma idéia dominante
sobre o "campo" científico-social
tro do qual se deve procurar gráfica que possa desempenhar lidades sociais. Infelizmente, os profissionais
den-
teoria historio-
o papel que a teoria ocupa em outras especia-
continua
da historiografia
ve o estabelecimento
ou humanístico
sua formação. Não há nenhuma
sem existir uma consciência geral entre
a respeito da importância
de um objetivo planejado
crucial que envol-
para dotar o historiador
de
continuam
IIl1lito otimista. Nossos jovens saídos da Universidade, I ill, raras vezes estão adequadamente
preparados
I
n-, Ainda nos resta, seguramente,
1111\
convencimento
IA
1\1\
matérias
em Histó-
na teoria e no método histoe é mais que medío-
um longo caminho a percorrer
comum de que o ofício do historiador
at~ que haja
não é o de "contar
por mais na moda que esteja hoje semelhante
Nl'II' mesmo quando essas histórias refletiram
43 Mas isso não vale só para quem vai se dedicar a "pesquisar" Vale para todo "Licenciado" érn História e o qual se supõe contar com uma mínima formação especializada.
licenciados
IjoW.\ficos. A formação recebida ~ de pura mernorização
IlIsll'lrins", obviamente, 42 A questão torna-se ainda mais patente, se isso fosse possível, n~s revisões a que têm sido submetidos os planos de estudo de 1993. O âmbito dos planos tem se restringido mais às "áreas de conhecimento" estritamente ligadas 'ao historiográfico. Mas o assunto é demasiado amplo para que se possa desenvolvê-Io aqui.
sendo, ao contrário,
estru-
mente pode-se dizer que não existe. Não. apenas não existe uma preparação e regulada, como não há sequer, ao menos de forma clara,
do historiador,
em matérias absolutamente
visão.
de verdade, o que é muito im-
Os currlculos de J 993 consideraram como disciplina fundamental e, portanto, obrigulória, a "Introdução aos métodos de pesquisa histórica", mas por não existir IIIlHlárea espe<;lfica de conhecimento sobre a questão e, portanto, um professora dlll'Spcclfico, sua distribuição é bastante aleatória. Isso conduz muitas vezes ~ per sl~t~tlcin dn irrclcvüncin da matéria.
CapItulo 1 História e historiograjia: os fundamentos
Parte 1 Teoria. história e historiograjia .:'
provável, as coisas "como realmente abrandada
segundo a tão fortemente
expressão de L. von Ranke. Nessas condições,
pulso e motivação os profissionais
,--
aconteceram",
suficientes, que exista fundamentação
da História, para enfrentar
é difícil que haja imcientífica séria entre
a idéia comum em âmbitos como
à político ou o midiático de que a História não é mais do que uma questão de opinião ..: Será incompleta to do historiador
e, seguramente,
dedicado
estéril, uma pretendida
formação tan-
da sociedade e, atrás disso, de um fundamento ma suficiente
suficiente das ciências
da natureza,
das dificuldades
de visões do histórico. Que não conheça de for-
o processo histórico
da historiografia.
que se.
"ao modo da ciência", para o que será preciso conhecer técnicas de
tratamento
dos dados, das que hoje os historiadores
tam. A formação
humanística
deve ser entendido,
111 . .lI' sua história e da história do pensamento
de um historiador,
como infelizmente
ocorre
comum ente não se do-
assunto incontornável, com freqüência,
\li'
I1lógica e a teoria do conhecimento
111~1Ili.II e, portanto,
,
certas técnicas e de um ofício. Muitos conhecimentos ria não são, de modo algum, um substitutivo
para o historiador.
não de
sobre o curso da Histó-
De maneira concreta e pragmática, cien~ista social hoje, compreendendo
M.Is não há nada mas nocivo do que çntender
1I1~1 11 Ii
t'
I'lhlllpios
pode-se dizer que na formação
do
nessa categoria de forma inquestionável
teriam de convergir, numa síntese correta, três dimensões imprescindíveis:
a formação
básicos do trabalho
II dllas dimensões hlllll,llIismo
intelectuais
"de Letras", deveria dotar o currículo
humanística,
mero amontoado
formativo
outro especialista em ciências humanas,
ciente da cultura clássica, em primeiro
for-
a científica e a
do historiador,
de matérias
culturais
I'(IIIII,I~.I()mínima nos problemas
irremediavelmente
do conhecimento
e ciência ciência ..
unidas." Uma
científico deve ser acorn
das condições atuais da ciência social. Todo accs
I'or menor que seja, aos procedimentos
da ciência deve começar pela com
1'11'('11,,10de que o trabalho científico acarreta a aquisição de uma "linH",l 11\", de certa maneira formalizada, mas que não se reduz de forma algunl,l .) genérica e ampla deve permitir
que, IIIl
I~IIIS((1111 desenvoltura,
tendo em vista que do conhecimento
III.lilllcntar de certas ciências sociais poderá depender ~,'lIlOncreta
que o historiador
1l'lIu'tica estabelecida
de um 'conhecimento
não pode prescindir
em parte a especiali:nl
pretenda. Mas aquele que deve presidir essa sis
da formação científica do historiador mais global, do que constituiu
.I"t1l', quer dizer, a teoria aplicada do conhecimento 1
pouco mais que
é preciscmcntc
o
a ciência da soci«
do social, ou a tcoru d,l
,l'lIda nplicada à ciência social.
como o de sufi-
lugar, de onde se alimenta a substância
cultural de nossa civilização. O humanista
que humanismo
diferentes e opostas. Pelo contrário,
são hoje dimensões
P"lllh,Ida do conhecimento
nos
científico. Não existe na cultura de hoje, toda
• 111\1erro mais nefasto do que o de considerar
"1'1'(10 mais generalizante,
e não o tópico das "humanidades",
que a formação hurna
alheia, ou está em luta, como se crê às vezes, com a formação
caso, o historiador se familiarize, pelo menos; com a situação das d~1l I),,, sociais mais próximas da historiografia e inclusive, se possível, circule 1'01
Em primeiro lugar, a formação humanística, a verdadeira formação hu-
qualquer
social não poder.
111,,"1
técnica. manística
para todo cien-
de todo o anterior.
Humanidades, ciência e técnicas
I
Um cientista
Mlill.
1I11ltllagcmmatemática. A formação científico-social
mativas inteiramente
são imprescindíveis
1111111 prt'scindir do humanismo clássico, das concepções do homem que se I 1IIIIIsmitido até hoje, e da disciplina intelectual que representa o hábito fi-
como algo
à existência de um desejo de busca de verdades comprováveis,
o historiador,
clássico. Mas prova~elmen-
do que a cultura filológica seja a filosofia. Como se pode I ;,linguagem científica sem uma mínima formação filosófica? Especial-
li,
contrário
de um contato com as línguas da cultura greco-
IIhll~IIllportante
Que careça, enfim, das
bases necessárias a respeito da forma de proceder de um conhecimento pretenda
mínimos,
à pesquisa como o que se dedica ao ensino, que
/
não seja capaz de dotar o sujeito de um conhecimento de análises e da multiplicidade
1..- tillllógicos
de conheci-
ti
Sobre esse aspecto, ver as convincentes considerações de um cientista, FF.I~NAN DEZ-RANADA, A. Los muchos rostros de Ia cicncia. Oviedo: Nobcl, 199'\.
r,
(;11/,(/11/111
Parte 1 Teoria, história e historiograjia
A forma São nos fundamentos ser acompanhada de orientação
llistór;a e /,;storiogrtljill; ." j""",,"t<"11t>
lógicos e epistemológicos
de uma formação prática em métodos de investigação social
diversa, e em técnicas que vão desde a arquivística
à pesquisa de
campo. No que foi dito, não se deve ver menosprezo pelo fato de que, naturalmente, a própria formação historiográfica específica é o objetivo último e cen-
,
tral de qualquer
reforma do sistema de preparação
Em todo caso, uma formação
tl\~ ~lIli.\is respondem
da ciência deve
sem prejuízo das especializações que a prática aconselhe e que,
cenciatura
.\S ciências sociais. I hnu resolução adequada das duas considerações
lIilP Importante
II lunçâo
\U(1
IlIh"l
não é nenhum
des-
extrair a conclusão de que não haverá uma séria formação de histo-
'.011"
para concluir seriam aqui pertinentes mais duas proposições
que reforçam o
que acabamos de expor. Uma refere-se à necessidade de reconsiderar a significação completa do que entendemos
por "formação
são e de apropriação
de um historiador"
no que ela tem de imer-
de uma tradição, um estilo de pensamento,
dade de trabalho específico e uma preparação instrumental preparação
espanhola,
tecer, certamente,
uma capaci-
adequada. A atual
a despeito dos progressos que não deixaram
e em clara contradição
com as profundas
ocorridas na concepção social da atividade de historiar, soleta, carregada de procedimentos
de acon-
modificações
está inteiramente
ob-
ter uma historiografia
Obrigaria
de um historiador
anteriores significaria
a aceitar definitivamente é a de nele inculcar, não
imcnto do que aconteceu na História, isso está nos livros ... mas como rói o discurso historiográfico
de sua pesquisa. O ensino das práticas
11-\,'11\das \1"11I0
químicos existem. É no decorrer da apren-
não que produtos
técnicas de construção
discurso, e não o contrário;
do discurso histórico que se aprende esse deve-se, certamente.
aprender
os fatos,
", ••_ sohretudo como se estabelecem os fatos. E eis que os jovens historiadores que hoje saem de nossa.s universida
\c••
SilO,
em geral, vítimas do "ingenuísmo"
1!\lIIm C que
teórico e metodológico
ali lhes é incutido. Ele tem sido denunciado
de que
e as disciplinas ao seu redor, se o objetivo é ob-
mais de acordo com o nosso tempo. Esse segundo as-
pecto tem recebido soluções cambiantes. A relação entre a historiografia
c.\
por não poucos gl.ln
Il'~ mestres de nossa profissão, mas, pelo que se vê, esse protesto foi suficicn Ir. Ainda continuam I'0d,' responder
sendo de uso corrente asserções como a de que "não ~..
exaustivamente
Irl-\lIillla que seja, se nãose I
à questão sobre o que é a História,
passa pelo plano estritamente
ilOSfilósofos a's respostas que o próprio historiador
por mais
filosófico"." Rem
deve buscar, afastando
do discurso fUosófico, é o mais freqüente exemplo de "ingenuísmo".
rotineiros.
A Outra pretende chamar a atenção para a releitura que é preciso fazer das relações entre o historiador
de perspectiva.
básica da formação
o~ q"lmicos,
nar e da metodologia da pesquisa histórica um hábito prático de reflexão e de toda preparação ernpírica e técnica. Nesse sentido,
mudança
tipo dentlfico Se baseia nisso: conhecer a química é saber como são os pro-
riadores se não se fizer da teoria historiográfica o centro da formação discipliprova que acompanhem
no nosso ponto de vista, em condições de aparecer no con-
iõncias sociais sem nenhum elemento de distinção pejorativa ou de
,,:,,1/1.1
em História.
Portanto, como recapitulação dessas considerações, propósito
da li-
e onde a
,~" ~"hsidiária. A definição "científica" da pesquisa social é problemática
e técnica
hoje em dia, ainda que pareça inconcebível, estão excluídas do currículo
muito distintas
dessas disciplinas não fizeram senão dificultar as relações. A
10I1~11-\11I1i.\está,
ilO dll~ ,
adequada é o que cabe reivindicar de~de já para se estabelecer um novo perfil do historiador,
e trajetórias
ei"W.di.\ dificilmente pôde ser vista como uma prática científica." Os
p"I.I' iVISII10S
dos jovens historiadores.
humanística, teórica, metodológica
a tradições
10 iom isso, é justo celebrar como se deve aquela proposição d or da velha escola, H. L Marrou, pllll()"ica, coloquemos
quando
nos frontispícios
dizia que "Parodiando de nossos Propileus
E, jun
de um história a máxima
esta inscriç.to:
e as
demais ciências sociais tem levado a situações bastante diversas. Uma paradigmática é, sem dúvida, a da França dos anos 50 'e 60, quando
a hegemonia
da
escola dos Artnali; impôs uma prevalência do "espírito histórico" no conjunto das investigações sobre a sociedade. Mas situação contrária
é a dos Estados
Unidos quase no mesmo período, onde a pesquisa histórica convencional
I\h
Sobre esse efeito é muito instrutiva a confrontação
apresentada no conhecido livro
de FOGEL, R. W.; ELTON, R. W. Cuál de dos caminos ai posado! Dos vis/r)//('.I tlrl« I/istoria. México: FCE, 1989. SArnA, A. Gula critica de Ia I Tistoria y Ia IIistoriogrn({a. México: FCE, 19119.p. 11.
e as
..I
Capitulo 1 História e historiografim os fundamentos
Parte 1 Teoria, história e histonogrofia
Que ninguém
entre se não for filósofo, se antes não meditou sobre a natureza
da história e a condição do historiador"."
111111evitar .' a ausência até hoje de uma posição unânime sobre o as"_.'q(lI'lIlemente, hoje em dia, essa resposta não pode ser, como não IIle!>,1.llcgórica. Em nenhum
sentido, nem positivo nem negativo.
111,1111\\1 primeira constatação
-,
que nos parece inquestionável:
II I'spécie não pode tampouco ser procurada
A HISTORIOGRAFIA) A CIÊNCIA E A CIÊNCIA SOCIAL
I
'1"1' enquadra
fi
um problema
fora de um marco
que, de uma forma ou de outra, é
""1.10 por lod~s as ciências sociais: é possível um conhecimento h."IIl'tII? E, em todo caso, o que se deve entender rigorosamente
Por que uma discussão sobre o caráter do conhecimento
da História,
e seus limites, deve começar falando da ciência? As ra-
de suàs possibilidades
zões existentes para que seja indicado
agir assim são de importância
inques-
tionável, mas é certo que não há unanimidade
de critério sobre elas. Desde
muito tempo, difundiu-se
uma atitude ascética ou reti-
entre os historiado~es
cente, quando não francamente de desse gênero de especulações historiadores
contrária,
a respeito da pertinência
em relação à historiografia.
nunca houve acordo sobre a qualificação
cidade cognoscitiva
e utilida-
No mundo
intelectual
ou a capa-
própria da atividade de historiar. A questão se a historioseriamente
sos, a resposta a perguntas meramente
conhecimento
Em outros ca-
desse gênero não recebeu mais do que conteúdos
formais, que não procediam
É imprescindível, de problemas
a maioria dos historiadores.
de uma reflexão realmente
detida.
no entanto, que se dedique certa atenção a esse tip
quando se espera entender
o que é em seu núcleo a essência do
que aporta, .ou deve aportar, o historiador.
Para uma conside-
ração como essa, não parece que haja um marco a~equado, partida melhor que o do conhecimento
ou um ponto de
científico, com uma determinação
tarn
bérn essencial: o conhecimento' científico aplicado à sociedade. Quer dizer, o marco da ciência social. Que tipo de conhecimento cabe esperar da historin grafiai
É possível um conhecimento
científico da realidade
gatoriamente,
desse gênero, estamos no terreno em que se situa, obri
a nosso ver, a discussão sobre a natureza do conhecimento
, tórico. No presente capítulo se busca estabelecer balizamentos te desse gênero e para uma resposta que, necessariamente,
• Ollhl'l'imento? Na resposta a essa pergunta estará incluída, sem dúIclllelwafia. Tentemos, pois, começar, enfocando
MARROU,
11.
I. m couorimicut«
IrisltI,im,IIí1I'lI'hlllll:
11111111,
essa última questão
,~1'111.
1%" I IA ClnNCIA E AS CI~NCIAS SOCIAIS I'I0hl"III.\tica do conhecimento
científico, que é a vertente específica
1t1{IIII.1 '1"1' aqui nos interessa, é abordada de maneira concreta por uma II11('111 i.1tio conhecimento que é a Epistemoíogia-" Ciência é "um tertil 1111\'.1tradição
filosófica e mundana
tem significàdos
muitof dis-
I!I.I p"lavra, em seu sentido mais preciso e correto, que é o que em\l1"i, Iksigna o que chamamos
"ciência moderna"
por antonomá-
di".'I,1 illncia como o resultado da "revolução científica" que teve iníIH\~\
IIIH'nlO e produziu
a Mecânica newtoniana,
1'1" IX, eiSavanços no conhecimento
ou a Química, dos
da eletricidade
"IIIolt'I~~il'.ISno século 20, etc. I •••• 11\I'rlsl ica mais decisiva e a diferenciação
no século 19, as
mais explícita do conhe-
to I \c'1I1I1i1llcom respeito a todas as outras formas de conhecer são a de .\!'I \ls/t""lltico
e sua sujeição a regras de comprovação de tudo o que se
his
para um deba
deve ser provisóri»
do conteúdo da Epistem<:>logia,BUNGE, M. Epistem'ología. Ciencia lIulI:l'Ionn: Miei, 1981; MONSERRAT, J. Epistemología evolutiva y teoria i". Mlldrid: Publicaciones de Ia Universidad Pontificia de Comillas, 1987;
i', fi I'ltlpúsllo
"O,.", ;"
~I.,
f /,.11I
"(.1 1" I' I (11'sllllrlltra de Ia ciencia. Problemas de Ia lógica de [a investigación cie/l' (it'" 1""'IICl~ Ai"I's: Poidós, 1974; PIAGET, J. Tratado de Lógica y conocimiento ciel/a I/Iti. 11111""" Ai,cs: Pllid6s, 1979.1: Naturalcza y métodos de Ia Epistcmologl . /i'm/II
48
por
socio-temporul,
ou seja, da realidade histórica? Com perguntas
cien-
dos
grafia é ou não uma atividade "científica", ou que outro" tipo de conhecimento é, nunca preocupou
uma
(/('/ riem' cn/cgorial. Ovicdo: Pcnlnlfn, 1992. I: tmroduccion
Gc-
I'11tH, p. I~. 1:1
Capitulo 1 História e historiografia: os fundamentos
Parte 1 Teoria, história e historiogrofia
'\
afirma como pretensa verdade dentífica.
Como todo conhecimento,
a ciência
"" ••li" ,/., lnnncm, em uma dicotomia que 'chegou a ter um caráter mais pro1111.11 mero referenteao âmbito estudado. di."inção entre ciência da natureza e ciência do homem
parte, ao menos em seu aspecto lógico, da observação, mas partindo da observação ou, se quisermos, partindo do conhecimento
comum das coisas até esse ou-
".1
surgiu ou-
tro nível do científico, é preciso percorrer um caminho sujeito a um método," A
1111';'1' 1I11110U ainda mais clássica, e mais decisiva, ainda que acabe sendo
adiantar que a ciência se define como uma for-
l'''Ihlt'IlI,Hica, uma vez que prevê de forma irreversível a necessidade de I d11l iéncia uma categoria única de conhecimento. Esta influente dis-
título de introdução, poderíamos
m,a de conhecimento sistemático-explicativo, não contraditório, fático (não valorativo) e testável. Vejamos com maiores detalhes o que querem dizer esses termos. Com efeito, não há conhecimento for conhecimento
sistemático,
científico, em primeiro
que se baseia na observação
lugar, se não
dirigida e organi-
zada da realidade, que constrói
os "dados" e os organiza dando respostas
perguntas
respostas, porém, com alto grau de generali-
sobre os fenômenos,
às
dade. A ciência, em segundo lugar, produz explicações, quer dizer, algo diferente de descrições e, também, de interpretações. As explicações têm de ser universais, coerentes em todas as suas partes e não contraditórias; perfeita adquirem identidade,
a forma de teorias. Os fenômenos
não têm mais do que uma
"de fatos" não "de valores', que
não julga do ponto de vista ético ou de qualquer outro a realidade que explica. Tampouco nalmente,
é um conhecimento
e esta é provavelmente
ser "demonstrado",
de "essências", mas sim de fenômenos. a característica
O epistemólogo
neopositivista
l'
ciências é a que teve sua origem na filosofia alemã de tradição historicista
de finais do século 19, e foi a que estabeleceu a di-
1\111.:1111\' dois grandes tipos: ciências nomotéticas - do grego nomos, norii I{,i ,( iências do geral, e ciências idiográficas - do grego idios, caracte-
i'" ~11I~ularidade -, 111
ddillilivamente
ciências dos comportamentos
estabelecida
por W. Windelband"
011111111 em todos os tratamentos
singulares. Tal distine passou a ser um
a respeito do caráter da ciência e a co-
III relação com dois tipos de resultados da ciência: o que se apresen11101'\/,/II·IIÇtioe o que o faz como
compreensão.55
"~~III1. enquanto as ciências nomotéticas ou nomológicas, que se tem muito tempo com a ciência natural, teriam como. função 1'"\.\1,.11' (I',.klilren); à ciência idiográfica, identificada com as ciências do HljH (111l i~lIcias da' cultura, estaria reservada a compreensão tversteheni." 1~lId;l~ do homem não estariam capacitadas para dar explicações na forlll! /t'm/lls mas deveriam dedicar-se a compreender o significado das ações
!Ir" .1110durante
que se enun-
C. G. Hempel
falou de
e as não empíricas." Mas
de ciências: as empíricas
a classificação mais conhecida
,IS
ou não como verdadeiras.
e metodólogo
dois grupos fundamentais
Fi-
mais decisiva, é testável, pode
explicita o caminho pelo qual as proposições
ciam podem ser consideradas
np",'nulillll,I
em sua forma mais
não podem ser e não ser uma coisa ao mesmo tempo." O conhe-
cimento da ciência é [âtico, é um conhecimento
11Ili'
e talvez a mais útil, mesmo a partir de um cri-
tério mais externo, é a que começou
distinguindo,
desde finais do século 19,
entre dois âmbitos do saber científico: o da natureza edo homem. Daí deduziu-se, após sucessivas matizações,
a distinção
entre ciências da natureza e
WINIII'.LIIAND, W. Geschichte und Naturwissenschaft (Strasburg Rektorrcdc, P,II\-!) 111:Prãluden, Aufsiitze und Reden zur Philosophie und ihrer Geschichte. TOl.illtll.1I J. C. B. Mohr, 1921. Bd. 2, p. 136 et seq. Há as traduções francesa (publica1,11111IlI'vl/(' de Synthêse) e inglesa (na revista History and Theory) desse texto, mas, 111 qlll' snibumos, nunca foi traduzido para o espanhol. Os neologismos nornotéti(11 I· Idiuf\I"Micose lransformam às vezes em alguns textos espanhóis, em nornotédt' forma errônea, em "ideogrãfico" I1nunpreensõo, em alemão verstehen, existem muitos estudos. Pode-se ver a 1IIIIIpllil~I\()dos escritos de WEBER, M. Ensayos sobre metodologia sociológica. Buc"'" AUt's; Amorrortu, 1982; GADAMER, H. G. Verdad y método. Salamanca: Síguc /111 .. 1'/77.2 V., IIABERMAS, J. La lógica de Ias ciencias sociales. Madrid: Tccnos, 1'11I/\ if\lIl1lmcnlc útil para introduziro assunto, MACElRAS, M.; TREBOLLE, J. 1., l/fl1/1I'//(~I//iclI cOIII.emporál1ea. Madrid: Cincel, 1990.
,"
&I '.,
'IIlltll'
51 Toda a terceira parte desta obra dedica-se ao método. 52 Em todo caso, isso não quer dizer que a ciência possa ou deva estabelecer uma ('x plicação única para os fenômenos. O conhecimento humano é mais limitado que isso. A ciência não estabelece nunca uma verdade para sempre, nem sequer nu I gica, nem se pode dizer que um conjunto de fenômenos 11l1oadmita diferentes cx plicações. Mas não se limita a descrever, nem deve ser confundido (Um intrt fI'CI,II. 53 HpMPEL, C. G. Filosofia de Ia cicncia nuturul. Mndrid: Alium.u. 11J119. p. I I.
n
" 1"1111 Ipio, lima boa explicação dessa oposição se encontra no livro de WRIGII'I', 11 VIIII 1>\I"iwciólI y cOlllprclIsiólI. Madrid: Alianza, 1989 (a primeira edição inl-\I" .1 f' di' 11)/1), em SCU capítulo I intitulado "Dos tradicioncs"
1 I/I/d/
Parte 1 Teoria, história e historiografia
'"
('lIf1l'"111 1 c ItíslOrlo8",n,,: IIS 11I"11","c"Ws
lIi",C' \ llilH.ide com o caminho particular que os cientistas perIMIO!d.1 ( 1('lIda mostra que se chegou aos grandes descobrimen- . \11111'11 ,I~diferentes. Mas se nos atermos no que é a "arquitetura", dll 1III'I0do da ciência" é preciso dizer que toda busca parte de ".1111tentar respondê-Ia se começa observando a realidade
humanas: Isso está estreitamente relacionado com a filosofia hermenêutica. Como o fato de explicar ou compreender a realidade é o objetivo, último de todo conhecimento humano e a ciência aspira precisamente a .ser o conhecimento humano mais fiável de todos, convém deter-se na maneira pela qual a ciência dá conta da realidade do mundo, seja o natural, seja o social. Em tempos mais recentes, mesmo com freqüência, recorreu-se a uma tríplice distinção entre ciência natural ou físico-natural, ciência social, ou ciência do homem, e ciência formal, sendo este·último o gênero de conhecimento científico que, como a matemática ou a lógica - recen!emente ampliado a campos como a computação, por exemplo, ou a semiótica, que apresentam um caráter próprio ainda que derivados daqueles· outros - explora um mundo de elementos simbólicos ou ordenações formais que não têm referentes nas coisas materiais. [on Elster, por sua vez, falou de uma tríplice classificação dos \ campos de investigação da ciência, fazendo distinção entre a física, a biologia e a ciência social, assinalando que o qlW d~stingue realmente as ciências é seu método. Referiu-se, portanto, a três métodos essenciais: o hipotético-dedutivo, o hermenêutico e o dialético, e a três formas típicas de explicação: a causal, a funcional e a intencional." .
1_11C' dllllOrnndo conceitos ou, como poderíamos dizer de forma bs coisas. Logo se constroem enunciados ou propo,,!,I.' I.I/('nl afirmações ou negações sobre as coisas e as relações
1.lIulll IIO"le
!iliwlII IIII.~(""c"tos. Finalmente,
o conheçimento
que pretende
IlIiÍl.I~ ,~tHI~l'q(\~ncias propõe certas explicações. plkll~:I"l', definitivamente, um conjunto de proposições \rI/li'
I'
ql/c
I>C
orde-
cncadeia por meio de um raciócínio do tipo da in-
;/"'/"1"0, pelo qual se estabelece uma hierarquia de proposições, "11id.I~ "1/1IlIS para formar uma argumentação
fundamentada.
O
III1U'\~1I111c'll'lIdc, que é verdadeira (mas a verdade pretendida deve 1!Í1)1I~11'~\lIa, mesmo que ainda não o esteja), deve ser contrastável I,'
I';I~\I,.uucs da demonstração
"hl dl'lllllllStração
matemática
da verdade, seja por meio do ou de outro
caminho,
e~tamos
Clíl'lh 11\.10 IIipotética. A explicação mais complexa, a que pretenIIHlln "I\lV"~ e a que, no caso mais perfeito, estabelece leis às quais,
Inu
o procedimento
I\'!llllll~tl u, os fenômenos
da ciência
obedecem, é a que se chama uma teoria.
Ililll~ 'ij,11pks, as teorias são aqueles conjuntos Para caracterizar o funcionamento da ciência, ainda que de forma extre mamente simplificada," a primeira coisa que se deve dizer é que o procedirncn to adotado para a construção do conhecimento científico tem um caminho I
illl.t.\lIt., 011seja, explicar um fenômeno
ti IIIIIJI/nto de proposições
J. El cambio tecnológico. Investigaciones sobre Ia racionalidad y Ia transtut maciôn social. Barcelona: Gedisa, 1992. p. 19-20.
58 Existe uma vasta literatura a respeito da estrutura do conhecimento científico e do procedimento da pesquisa científica. Limitaremo-nos a assinalar alguns tltulos h'I\ tante conhecidos de diferentes graus de dificuldade. A apreensão pode começar to 111 os livros de um bom divulgador, CHALMERS, A. S. Qué es esa cosa llamada ci('III/I/ Madrid: Siglo XXI, 1988 (e edições posteriores) e La ciencia y C0ll10se elabor«. Mil drid: Siglo XXI, 1992. Um clássico manual bastante conhecido é o de nUNCE, M La investigación científica. Barcelona: Ariel, 1975. Um livro mais complexo, cnl quc se expõe e analisa o que se chamou a "concepção herdada da ciência', quer dil('I, 11 idéia de ciência nascida com o neopositivismo no alvorecer dos anos triU!.1c qUI' do minou praticamente todo o século 20, SUPPE, E/,tI esttuctuu) dt: 1m I/'mll/\ 11/'1111/1 caso Madrid: Univcrsidad Nacional de Edll"l'dón n l)i~t"'llill, II)I)().
reglo-
o~ grupo de fenômenos
que constitui
"H,i~t~"1 "I interna e uma dessas proposições 57 ELSTER,
de proposições,
,Ii.t.\llr ('llIpfrica, que tentam dar conta do comportamento
a teoria deve ter uma deve estar formulada
IIJllki""" () que caberia concluir a partir disso como ensinamento
11".'111"1 111111 t 1
qlll' 1\ Li~lIcia constrói uma linguagem com a qual aborda o t:I/ IIwl.lnislllO pode ser esquematizado de acordo com o qua-
I!li11 I•• 111 ii!l
II~
IIhsl'l vaçõcs sobre este assunto presentes na terceira parte, dedica
(IIrl"d".
IO"'II~I(IN.
J.
C/I11ap 105 y teorias e/1 Ia ciellcia. Madrid: Alianza, 1968.
Sl
Par/e
;"pl/1l10 J
1
J
Teoria, história e historiograiia
ICONCEITOsl
• I PROPO~IÇOES
Generalizações empíricas
~
.
EXPLICAÇÕES
I
TEORIAS
7'
I
Considera-se, normalmente, que a explicação científica obedece a um desses três modelos, segundo afirmava Elster, os chamados causal, funcional intencional, que corresponderiam respectivamente às ciências físicas, às ciências biológicas e às sociais." As tradições positivista, racionalista e analítico têm sempre defendido a superioridade da primeira delas, a explicação causal baseada no mecanismo causa e efeito, que implica a presença de leis univer sais, seja sob um modelo nomológico-dedutivo, seja sob o probabilístico-in dutivo. Outra tradição da ciência, mais difícil de rotular, a idealista, antiposi tivista ou, mais comumente, hermenêutica, é a q?e tem defendido que o m canismo causa e efeito não esgota a explicação de fatos, no que diz respeito ~s intenções, aos objetivos, ao significado; etc. Quer dizer, todos os tipos de ações humanas. Para essas ações serviria muito mais a que Von Wright chama expli cação teleológica, uma forma de explicação funcional. Um grupo importante de autores tem defendido também que a explicação adequada para as ciências sociais é a intencional, se bem que com proposições que diferem em ponto, consideráveis e com o acréscimo de alguns elementos - a eleição racional, a 16 gica da situação, de certa forma a teoria dos jogos, etc. - qU,e as fazem divci
61 ELSTER, J. El cambio tecnolágico. Investigaciones sobre Ia mcionalidad y maciôn social. Barcelona: Gedisa, 1992. p, 15.
os ['/IIdalllclI/os
1IIII'IIlionais convertem-se, em alguns casos, em "explica1111,l!rll,,'~·,Jenquanto a explicação causal é, justamente, a que I~~o tem importância considerável para a explicação na
Quadro 1- A elaboração da linguagem científica
r
IIm!ríll r IIislOríogmjill:
111 IIII/II}III
illllH VI;II'mos no devido momento. hl(.jjI,1 dOI I~)(plkllçao na ciência social se relaciona, naturalmente, hh)lilll '1111:M' .iprcscnta também na ciência natural: o da predição, hfljl 1,;llilllllll' .rbordado entre os metodólogos em relação ao coi.11 (;.1HIII maior intensidade, ao caso das "leis da História". Há Illl"l'1lill'l os comportamentos humanos? Esse problema, por It1 \Iil d,l I'l)s~ibilidade de descobrir relações constantes entre as Í!\l'iVe" 11I IIOSfenômenos humanos. A resposta é imprecisa, mas II~IId.· 'I"l' .1ciência pode "predizer" a ocorrência de fatos sin! li Ch~1I1 1.1Ilska. A predição é sempre algo relacionado com as 11111"(1111" 1'1IIIl'SSOse desencadeia e com nosso conhecimento ou 1\I{l111'011111,1111,'" Condições e leis, no caso das ciências sociais, são illtt.:!IIII·lIto problemático dado que o homem concede sempre 1111 "~iUllilll.lllo":"
11I iJ 11 I ollu,j
to das ciências sociais
!f!O 1'/ dl'lI ~I' 1\ viragem intelectual de aceitar o modelo da desfluI d" 1IIIIIIdo ílsico para elaborar também uma "ciência social", !'~II11(il~1I1111do homem. O filósofo Auguste Comte (1798-1857), Indulo;'j do plIl>ilivismo, desempenharia em todo esse processo, ••li! "_1\u-l csscnc ial, A possibilidade e a necessidade de estabel/lil,-t.1.I" 11I11IH'III" suo, em todo caso, idéias anteriores a Augustc
plln!\~I' ,"
1",1 11,ti
í ;'" ,"1'.11'"
til' (:, ltyle cm TI/c concept of Mim/. Ver GLBSON, '01. Mudi id: 'Iccnos, 1969. p, 49 et scq.
Q. LII I
/111/ \(I(
il(1 AIU, I d •. 1'1111. J~'III/II/II(',,/(/ til' 10 nrediccián CII cicucios sociales. México: I Vi)'./;« I t 1111,,11110 di' li. de COII.lrié "Lógic,1de Ia Prcdicción" Ver também 11~"ili IIIlvllI~11I1~(lOS ftoit.l~.mteriormcntc.
i.t.ld, ti •. I.I/I'j vl'nlllddnls plcdiçCICS a partir das ci~ndlls sodllis rOIUIII 11111111111110111" 1'"11'(WI'tl.lt, K.R. Mi.\hill tlcl ft h 111/lcivn«. Madrld: Allan
li I
Parte I Teoria, história e historiografia
Comte. Aparece já durante o Iluminismo e é exposta por tratadistas com Helvetius e o barão de Holbach. Da- mesma forma que a idéia da irredutibilidade alma-corpo impôs cada vez mais a necessidade de se criar uma ciência da alma, as classificações primitivas das ciências, como as de Bacon ou de Am pere, que têm também um significado teórico, insinuam já essa ciência do ho mem-alma. Outro dos grandes pensadores ilustrados, Gianbattista Vico, em seus Princípios de uma Ciência Nova, estabeleceu que não há mais ciência do homem que o estudo da História. Sob a "História" se subsume na obra de Vico o estudo científico do homem como oposto à natureza. , A relação entre ciência natural e ciência social tem sido objeto de espe culação e de resoluções de todo tipo - quer dizer, pronunciamentos que, SClll dúvida, não tem ~ido geralmente aceitos - desde que com Kant aflorou CSM' problema, passando logo pelos delineamentos ftl?sóficos alemães de tradição kantiana do início do século 20, até chegar ao historicismo, à hermenêuticn C' , à polêmica entre positivistas e dialéticos - incluindo os dialéticos marxistas , 6S já na segunda metade do século 20. As ciências sociais registraram um dcscn volvimento espetacular no quarto de século que sucedeu a Segunda Gu<.'1111 Mundial." A ciência do homem se diversificaria progressivamente num conjunto de disciplinas que são chamadas as ciências sociais, ou ciências da socicdudr , diversas disciplinas ou ramificações que abordam os acontecimentos "cicutt ficos" do homem como ser social e que são conhecidas também como Ci~IH111
65 São inúmeros os escritos sobre essa relação entre ciência natural e ciência sm 1111,1 partir das posições que podem ser consideradas mais clássicas,como os dc Winlld band, Rickert, Dilthey ou Weber,em todos os idiomas, Traduzidos para o CilNII"II1d no, além do texto'de Piaget já citado, podem ser consultados FREUND, J. 1,,, 1,'" rias de ciencias humanas. Barcelona: Peninsula, 1975; WELLMER,A. TC/II(" 1/ 111", de-la sociedad y positivismo. Barcelona: Ariel, 1979;HABERMAS,}. {,a ltlJilfll ti" I". ciencias sociales. Madrid: Tecnos, 1988;HOLLIS,M. Filosofia de Ias cientins 10",1/, Una introducciôn. Barcelona: Ariel, 1998 (original inglês de 1994). Ilxisl('1111111 1"';1 antologia de textos de filósofos e cientistas sobre as teorias das ciêncí.rs 1111111111/.'1 em MARDONES, J. M. Filosofia de Ias ciencias humanas e sociales. MI/lI'III/It·, ("I/i! unafundamentación cientifica. Barcelona: Anthropos, 1991.A dlsput.i ('1111(' 1'1I~lIj vistas (analiticos) e dialéticos tem uma publicação chevc.n de ADORNO, 'I W fi aI. La disputa dei positivismo en la sociologia alemana. Barcclonu: (;ri).lIhu, 1'1/ I 66 BELL,D. Las Ciencias Sociales desde Ia sl!J!,//l/da 8//1'''''' I/I/II/tlil/I. Mild,idoAI 1984.A edição original inglesn dc 1979c foi revisada em 19112. é
Capitulo 1 História e historiografia: os fund~mentos
111fUlljllnto de disciplinas acadêmicas cujas fronteiras estão longe l"I'"III'lIle definidas - "ciências", "humanidades", "técnicas sociais", 11'_.h-nominações também atribuídas algumas vezes -, que estuII/plnu número de fenômenos, todos relacionados com a realida, .lu 'l'" humano, como indivíduo e como coletividade. Entre as .I~ maior desenvolvimento atualmente nos âmbitos acadêmiIlhll' ('~t.IO a economia, sociologia, politologia, demografia, psicol'ulu~I", geografia, lingüística, semiótica, história (sic) e outras de IIh;II~~'l'. Os desacordos sobre o caráter "científico" dessas discipliUild.I",tficação e hierarquia, sobre o verdadeiro grau de seu desen\ UhH' seus respectivos campos e suas relações com disciplinas tll/d,I suo objeto de especulações e contínuos debates." 11111/1. (, possível, no sentido próprio, uma ciência do homem, da 1" I~Vhkl1ll'lllcntc, a resposta está sujeita ao 9ue se entenda por ciên111 11111 muior ou menor rigor e ao que se entenda por homem e so1"1"lhllidolde de uma ciência do homem tem recebido, em linhas IIl'm .Il' resposta. A dos que a afirmam; a dos que a negam; e, por IOh '1111'crêem que se pode fazer uma ciência do homem, mas que f""'I/II~ .1.1ciência natural." Não podemos aqui entrar na discussão I!I t r(os posições, mas podemos assinalar que, na realidade, o 111111'111 I,\ se em torno da capacidade de explicar os fenômenos s.. 1••,.11» .1 leis bastante gerais. A possibilidade disso afirma-se a parI.:!! 1'111111 ivistas - com autores como Hempel, Nagel, Rudner, Wal-
".t_
••••••
1"11/11/.111101 1I"Mritivomais completo desse mundo das ciências sociais continuo llil(, 11'1"" oltol('~C}. Piaget, "La situación de Ias ciencias deI hombre dentro dcl 1"'11.1 011'I.,~lll'/Il i,ls",que é o capítulo 1 da obra Tendencias de Ia invesugaciôn CI/ II,';,h \(/"/,/",1. Madrid: Alianza: Unesco, 1975.p. 44-120. Os posicionarncntos 1'''114'"1 01111, "11'totlo caso, muito discutíveis em diversos pontos de suas opiniões IH"tI ,I "1111.1.,11\' li(> l,ld,1uma dessas ciências e de modo particular sobre a Ilistó Illolllllllfll111111). Vel'também MARJ)ONES,}. M. FilosoJfa de Ias ciencius 111I11/(/ "",,1 •.•. M'I/"I illh-s IlIIm una [undmncntnciôn científica. Barcelona: Anthropos, ""1\1d~l1dn social diferente da ciência natural inclui diversos rntlti 1I,,,Ii,.11I1111-11111, que tem seu primeiro expositor em Windelbuud, csiubelecc mlll tllollII,no 1I1.llnll~'IIII~'d.I~, UltlS1\(\\lOstlll.ISque Ul'glllllque 1I1ll,1 wllu'p,',lo I••ti~II".1 1111110 .1 do lIl'OllOSilivislIlO M'j,1.lplk.IVI'1.11Iestudo do 11111111'111. V('I III li II1('" I I" 1110\11/111 ti,' I" IIIVI',\I/~I/(f(SIl \tI(/II/. M('xiw: PC :1\, 1'I1i7, tI!!'I""'" d,'
fi~1
Capitulo 1 História e historiograjia: os fundamentos
Parte 1 Teoria, lrist6ria e historiografia
1IIIIIIdll do homem. Não existiu uma visão absolutamente lace, Braithwaite,
etc, A impossibilidade
- Hughes, Winch, Searle, Habermas.
a partir das antipositivistas
Os partidários
em geral
dessa última visão negam
que as ciências sociais possam explicar como o fazem as naturais. Um caso es clarecedor é o de PeterWinch que, como muitos outros metodólogos culam na linha da hermenêutica
na, adjudica às ciências sociais a capacidade
de "compreensão"
plicação, porque existe a barreira intransponível que têm as ações humanas
que cir
de tradição alemã," ou na tradição, weberia
e que constituiu
e não a de
do "significado':
ex
o "sentido"
a chave de seu entendimento." O~
fatos naturais carecem desse significado ou sentido. Por sua clareza argumentativa,
é a do filósofo da linguagem Iohn Searle, que assinala precisamente "um dos problemas
intelectuais
mais debatidos
de nossa
épOCa".71A caractc
de sua redução a termos Iísicos,
ciais têm uma semântica, além de uma sintaxe ... O dinheiro, as revoluções 011 \
zidos a elementos
'
"
físicos e, portanto,
sociais que nunca poderiam
ser redil
.
rais"" permaneceu,
único e que esta é uma diferencia-
11111,1,1\.10às ciências naturais e um claro indicador 1_111111 IIlHa ciência da sociedade. dll respeito à sua forrnalízação
e grau
IIli'llIdos, existe uma clara hierarquia
das dificulda-
de teorização,
ciências multiparadigmáticas
da segu-
entre as ciências sociais. pelos me-
de Piaget, ainda que discutíveis,
11'1I~~!lI'IIlllln um notável interesse na problemática comum a to18 ,"oei,ais,'" Piaget fez uma peculiar reconversão da distinção en111"'1111'1/('(/5 c idiográficas introduzida por Windelband para caracIId,,~u.uurais e as humanas, respectivamente, estabelecendo que \" 1"'1'11.1'I iências sociais ou humanas existem algumas especificaiit,«, quer dizer, capazes de estabelecer "leis" dentro de seu pró111111."que não alcançam tal nível." Piaget considerava
dos quais não se poderá fazer ciência,
A polêmica em torno do fato das ciências sociais serem "ciências, do ciências, ciências imaturas,
1111xujcitas a um paradigma
liH-n. tl'~fortuna. As formulações
este COl1\o
porque não é possível a redução em matéria de termos mentais. Os fatos so as guerras são, por exemplo, fenômenos
da mesma maneira que existiram es-
""II~ liMas dissecações da relação interna entre as ciências sociais
sociais, afirma, é seu caráter de fenômeno-
rística essencial dos fenômenos
mentais, de onde se deduz a impossibilidade
do humano,
globalizadoras na explicação d~ natureza. O próprio Th. I distinção." Isto conduz a que se diga que as ciências sociais
I~II. vl~tH"
1,11'1111 Piugct propôs, senão entre as mais convincentes,
outro exemplo notável da posição nega
de urna "ciência do social" análoga à ciência natural
tiva sobrea possibilidade
Itihlll.l'xplicati~a ••••
hege-
que as
1_ pllcll.·.•.i••111ser divididas em quatro grupos: as nomotéticas, his-
PS('II
ou ciências 11111
11.',11
I'
Illosóficas,
segundo o que se expressa neste quadro:
,
pois, aberta. As opiniões que negam a possível cicntiíu
dade dessa "ciência social" revestiram-se, sem dúvida, indiscutível
por fim, de múltiplas
formas."
I I,
que as ciências sociais nunca atuaram sob o auspklll
de um único paradigma, no sentido dado por Th. Kuhn a essa palavra, dI' 1
69 MACEIRAS, 1990. .~ 70 WINCH,
M.; TREBOLLE,
J. La hermenéutica contemporânea.
P. La Idea de una ciencia social. Buenos Aires: Amorrortu,
Mndrid:
(1111'
I
1972. p.l) r I ~('I
71 SEARLE, J. Mentes, cerebros y ciencia. Madrid: Cátedra, 1990. p. 81, no C:lJlft ,,111 1'(1 pectivas para Ias ciencias sociaIes. 72 Ibid, p. 83. 73 HBGHES,
J. La filosofia de Ia investigación social. México:
FCE, 191\7. p. .I \ H
74 GIBSON, Q. La lógica de Ia invesügaciôn social. Madrid: 'Iccnos, 1%1\, 'llId,l ,I 1'11 meira parte trata de "Posturas anticicntlficas cn 101no u 111 invCSlil\.ll'iúll Mlll.d
1I11'~1I1U ddillCillllCII\(l (: aceito por IlnhcllllllS. Cr. IIAIU\RMAS, J, Maddd: 'IC:(1I0S, 191\1\.p. 1)11'1scq.
r"
,,,./1, i,,! \/1(/,,/,',.
h"
·aplllllo I I llstôru: e ',isloriogralia: os Iundamentos
Parte 1 Teoria, história e historiografia
1111111 ~t' deve entender, no caso das análises das sociedades, esse Quadro 2 - As ciências sociais, segundo a classificação de [ean Piaget
1,1111/,1110. N,lo se discute, igualmente, "lI 111.11 li de fundamentos
Psicologia científica Sociologia Etnologia Lingüística Economia Demografia
Nomotéticas
11 .1.-dl'lIl'llvolvimento
.Iurldicas
Ito,i.) II~ dilercnças li'
diacrônico
aspectos diacrônicos 'toriográfico,
,
entre as ciências sociais são de tal dimensão
!IIIII1I1V,\vclque se possa dar uma resposta em qualquer
"""11,,0(1" cjl'lIllfÍl.IS"
11.:1111 1Il'lIllOSilivisla, autores como Ernest Nagel, ou o de maior Rkll,lI ti S, Rudner,
que tal tipo de ciência tem relação 11I111 sociais; ocupa-se
de outras ciências lhe concedem, pela historiografia.
ou o histórico, não constituiu
I li
da "rcst ti 111
ciências CSI.,~ 1111" Dessa forma,
um campo autônomo
de
\I
111
I,hl(l
em si mesmo, Tal é o ditame nada lisonjeiro de Piaget.
admitiram
fi 1~/lllItllI"científico"
Ii jVII~1I'.lis:'Va relatividade
••• .,,1114-
11 IIIIhl,lIl\ .\••, Mas a conclusão
I••••••• illli\(llllll~ .1.1 iência I
DIFICULDADES l'EORICO-EPISTEMOLOGICAS
DAS crflNClAS
SOCIAIS1~
as necessidades
dos fenômenos
alguns condi-
culturais
e o viés valorativo
'{lllll 1lIl'IlItlológico, destacavam
epistemológico
humanos,
das formações
UH'/,I ~lIh)l'liv,1 da observação
"••lu I; IIl11llhccimenlo
que no terreno
dos fenômenos
e as leis so-
da explicação sode uma investiga-
sociais como variáveis sem-
final é parecida em ambos os casos:
nalurallêm
também seu campo de aplicação na
1.,1 till 111.11",num estudo mais recente, defendeu 111111 IIhJl'lo lOlllporlamenlos
As
senti-
ao social. Portanto, nenhuma resposta seria hoje IIlh ludcntc e, ao mesmo tempo, o terna já deixou de apaixonar
dos fenômenos
são considerados
as de
I'
ção do concreto", Mas, o mais interessante de tudo: aparentam não ser M'II,III "a dimensão diacrônica" dos fenômenos de que seocupam as demais ciêncui» '" ciais. Dito de outra forma, se a historiografia tem alguma entidade csn ti 1111 .1 da é a que as dimensões
que negam a possibilidade
I pmlíl1 iruu ,'sl,lr compreendidas desde a demografia e a economia h'Mill Il 11I~loriografia, por considerar uma gama muito ampla de
As posições de Piaget sobre a categoria das ciências históricas - aspl'l 111 o desenvolvimento
com outras, Afinal, são irrebatíveis
1.1'11 /., tleI homem: 11I1'1111gllll1Cnlo,que ,11 se deveria utilizar como resposta a tal per-
Lógica? Epistemologia?
que nos interessa aqui - estabelecem
mas que, muito além
científico de seu próprio cam-
Ill!lk~1'\1I~lcmólogos e metodólogos
Direito [ Ciências jurídicas especiais
Filosóficas
e de problemas,
e de domínio
"'IIIII'"!t~,k~IHII.II se comparados
Disciplinas historiográficas Historiografias setoriais
Históricas
que tais disciplinas apresen-
que se originam
1\"'111,~,Io , i~lldas essencialme;lle
que as ciências sonos estados mentais
da "ação", ou da relação entre a cs-
i,~II,I' ,111I.llmcnle não se pode dizer que sigam nem tenham de se Ainda que hoje não se discuta de fato nem a pertinência
sidade de disciplinas que estudem o que é especificamente de procedimento
11('111 111\1'1
humano
Illi1in.~ .1,1' d~lId,ls naturais,
1'01 111
que se diz "científico': está claro que se tornou !ll.li,
"ltll"l\
11111 .1', fli
78 Deve-se entender que prescindimos aqui de todos os prohlcmus mente metodotõgico. pois trataremos dessa questão na parte dn método e, concretamente, no capítulo li,
di' tipo I'!!'\ Ohl,l
llollis faz ver a diferença entre as expli
dl'~tllI,loI
1/1 1'\/1//(////11
tI('
11/
cieuciu.
de 11/16Rim de 11/ illvestiKllciól/ d!'1I finais do livro, XIII, XIV XV, ('stll d.1históri.t (hiSlOriowafi,,), RU1)N ER, It S, Filow
.1,.,11. IIdll IIOS plOhil'III,I~ I.! 1" ,Irl/II,' wu utl, Mud. id: Aliuuzu,
IIII.!,!
Proll/('II/(IS
""I·"o~AIIl'~: I'lIid6s, 1\/71\,d, IISsecçõcs
c
1\/7.1.
(j
.. Parte 1 Teoria, história e historiografia
cações por causas e as explicações por razões e assinala como nas ciências so
mológicas básicas que a construção percurso
comparativo,
jlll di,lIlh' de um problema filosófico, epistemológico,
de uma ciência social apresenta é fazer UI11
de toda forma bastante
IIlh li I' 1J"(' hoje podemos
breve, entre o que fazem "
i 11111 Illh I.
ciências da natureza e os obstáculos que aparecem quando se busca aplicar cs sas mesmas operações ao conhecimento
pretensamente
a) A primeira das dificuldades humanos
científico da socied.i
pois na observação conhecimento fenômeno,
da realidade encontra-se
científico. A impossibilidade
rais," é um dos problemas
dades técnicas, como de específicídades
substantivas
possui, quer dizer, da qualidade fundamental
nalu
que a estrutura
preparadas
e artificiais, tão artificiais que raras vezes as situações sociais 11'111,
para os sujeitos submetidos ou comparável
a tais 'experimentos,
equivuh-nu
um significado
ao de uma situação natural"," No entanto, é ta~bém
cido, de maneira para a obtenção
"é possível unicamente
em condiço,
nos fenômenos
geral, que a possibilidade de um conhecimento
da experimentação
realmente
científico.
não
dhl\
InÍtI
Hhlilllvo_
lil!]
assinalar
:'1!\l\ifkado do conhecimento
IIII,d, II~
(k tal conhecimento
que esteja intei-
afeta mais profun-
do homem
e da socieda-
e seu valor real. Refere-se à pos-
f('I\()lllcnos sociais possam ser efetivamente
explicados,
pUII",', d(',de fins do século 19, a ciência social partidária 11\ I\II~ Idái mos à função ohklllil
e extrcmarnente
Itll8 1'1l1;lgl,tfOs e, ademais,
I
objetivo." Mas não existe
globalmente,
il'!1dilll "Idade que se costuma
rCCOIIl1 é
sociais. A atitude de compro-
1"8 I 1111 ipromissos de quem os propõe.
t'~
perimentaÍ
que o homem ainda hoje não pode, em ge-
1111'1110, 110menos considerado
socrul
A manipulação
umpromisso"
consegue em relação à visão da
11111 obstõculo ao conhecimento
U(I,
da matéria social que é a rej1nl
vidade, ou a consciência que tem de seu comportamento. humanos
lI! '\
humano
lido \1' d(·frollta com fenômenos
Não apenas se trata de dificul
mais importantes.
mais intersubjetiva, quanto mais compartida
11dll conhecimento
neste tipo ti
diferente do que ocorre com a maior parte 'dos fenômenos
absoluta-
101(11 NOIIl!.'rt Elias assinalou a diferença entre o "distanciamen-
a origem de todo o processo dI da experimentação
de reso-
na maior parte dos ca-
!'1111'1JII,IIldo se afirma a verdade a respeito de algo, essa afir-
dclcv,
de uma correta descrição
considerar,
Nuo existe nada parecido ao conhecimento
!H.j~ 1!.lvI·1quanto
refere-se aos modos de observação do
e ao estabelecimento
pelos
111I11'1111 11111 a esfera nem área do saber.
de. Faremos esse percurso da maneira mais sistemática possível. fenômenos
c histor;og",fia: os [undamentos
I"'1'1'110 da realidade não teria de estar "contaminada"
epísre
para captar as reais dificuldades
,ti
leMe jll~, IISpreferências ou os prejuízos do sujeito que conhece.
ciais tem-se tentado ajustar ambos os tipos de explicação' dos atos humanos." Talvez o melhor procedimento
I
:aplllllo
IlIslt"
explicativa
complicado voltaremos
ou compreensiva
da da
para que possa ser resolmais à frente à questão
b) A segunda dificuldade tem sido designada muitas vezes couio « questão da objetividade, que se põe à mesa sempre que se trata de uma illVI;
j
m I!'~•• 111i.tis foi sempre uma questão discutida,
não só no sen-
tigação social. De forma equivocada, sem dúvida, supõe-se às vezes que 0'1111
(')11111 1,lp.11.1.'1\ ou não de fazê-lo, como também
no de que esse
, blema da objetividade
do conhecimento
tividade do conhecimento
humano
afeta apenas a matéria social. A o"i
significaria,
thl I11Nlt1l1,1.O que cabe agora dizer é que a capacidade
livjl I'
em linhas gerais, que C/IIIII
1I,\t1outro. /,'(1/
ills para explicar conjuntos
I\lH'~"IO t.unbérn Esp('dlllllll'lll
\
IK"illlI d"IVl' é. em último caso, a que se refere à própria possibiliI,ihl'll"-I"
80 HOLLIS, M. Filosofia de Ias ciencias socia/es. Barcelona: Ariel, 1998. sua Introdução.
de fenômenos
central da possibilidade
sociais, o
de se estabelecer leis
1111""("I. itu, )can Piagct disse que as ciências sociais se confor11.11111'1111' (11111() estabelecimento
81 Está claro que se excluem de tais fenômenos naturais testávcis os cõsml, n~ 1111 geológicos, por exemplo.
expli-
de "modelos
teóricos" que levem
"
82 WILLER, D. Ia Sociologia cienüfica. Teoria y Método. Bucnos AiH'S: A,IIIIII'-III" 1969. p. 28.
N,
1'1//1/'11111/110
Y
tltlt/l/lcill/l/('/lIO,
1l,lrt'c1l1llil: Pl'lllnsulll,
1990. p. 20
ct seq.
lil)
CapItulo 1 História e historiografia: os fundamentos
Parte 1 Teoria, história e historiografia
a interpretações
efetivamente
verificáveis, mas que não deixam de ser esque
mas lógicos."
11I\I'lItt'a uma presunção
uko
que é incompatível
com esse conhe-
I1de que a História é em si mesma uma realidade da qual
i 1i"'''1O
sui generis que não é equiparável a
1In;tconhecimento
II.II,I~ que pertence a uma categoria própria, a do "conhecirnenCONHECIMENTO
CIENTíFICO-SOCÍAL
il!H "I\.'juizo de voltarmos
E HISTORIOGRAFIA
E entramos agora no ponto nodal de nossa exploração: ra o conhecimento
da História participa
blemas do conhecimento
chamado
de que manei e pro
ou não dessas características
científico
e, em particular,
do conheci
definitivamente, Ressaltamos,
lugar, que afirmações
J. P. Bury,
"a História é uma ciência, nem mais nem menos', Esses voluntarismos
não foram raros, em tC1l1
pos passados se disse muitas vezes coisas parecidas, desde meados do século 19, pelo menos. Antes de Bury, Iohann Gustav Droysen afirmava, em I !V,H, que as "ciências históricas"
eram parte das ciênciãS do homem
chamnd.t
"ciências morais"," Mas ao se iniciarem as três décadas finais do século 20 dia-se dizer que "o estatuto
, lill 1\I'~.n, tarnpouco,
do tipo daquela feita já 111\ expressos .'
da História
como disciplina
vel"," E sobre essa questão citações de autoridades
permanece
pl!
insolu
do homem na totaliepistemológico
e, em outra parte tam-
hjl~vd.h.\II,Il. Mas a alternativa do "vale tudo" pode ter efeitos mais IllIII, NI'III o cicntificismo
a toda prova, nem a postulação
•••• llIttt.'I' ~ W~If\1I111.1 sobre a
l~t(ldl"
flabilidade do conhecimento
que é possfvc1
O ((" to é que só uma rigorosa prática regulada na obtenção
I!I"'~
1I~'I'gllra sua fiabilidade lógica. Deve-se aceitar a condiçau
1\1111"11 dessus "ciências históricas" que lhes é atribuída,
tes de se buscar uma resposta direta à questão de se a História pode ser 011,. como o da ciência. A que queremos abordar agora é ,I qlll
84 PIAGET, J. et aI. Tendencias de Ia investigaci6n en Ias ciencias socialcs. Mnd. 111 Unesco: AIianza, 1975. p. 85.: 85 Essa frase foi pronunciada na seção inaugural de sua cátedra em Oxford \.'1\1li/li!, publicada em The Science o[ History. Foi publicada também em STIlRN, I' (I li I Varieties o[ History. New York: Harper and Row, 1966. p. 210 ct scq. 86 DROYSEN, J. G. Historik: Vorlesungen über Enzyklopãdic und MClhodolllllh ti!" i Geschichte. München: [s.n.], 1974. A edição original apareceu em 111'111 (I d~1 uma versão espanhola parcial. Histôrica. Lecciones sobre Ia J;lIcír/O{1('rlil/ y A1,.,,,.JIIJ,, gía de Ia Historia. Barcelona: Alfa, 1983.)
•
87 LEFF, G. History and Social Theory. London: Thc Mçrlin P. C~~. 1%9, p, I I,
de um
•••. "" ••"IiI IlIi ,l!e'/lI'1 is ou uma forma a mais de mero conhecimento coII~Iit ti, ~.hl posições satisfatórias como ponto de partida para teu-
podem ser acresccntudu
Há diversos gêneros de questões prévias que deveriam ser elucidadus 1\11
geral
que a velha polêmica sobre o cientiiicismo
1111111 disputa retórica e terminológica
quase indefinidamente.
to de conhecimento
possível do conhecimento
1I11I'I"l'~,quer dizer, dentro do problema
científico-sociais
não podem ser tomadas como algo além de desejos voluntaristas vezes em frases engenhosas."
lll'lIlililidade"
pode ser considerado,
como mais um entre os conhecimentos
em primeiro
muito tempo por
histórico
agora
II'!]I!!dI' lima discussão assim não pode ser feito senão no con-
I
mento científico do social? O conhecimento·
a esse assunto, estabeleçamos
1'1'1 tllco e mais imaterial que seja o objeto historiográfico, seu ';111sentido pleno, conhecimento social, objeto da ciência soliHlI-1hi,tl'lI'ico é uma qualidade do' social. Por conseguinte, o dcli-
como vi
IKOft ," d!'VI' se considerar a historiografià não mais do que um hu IiIlVI~I.I,110nível dos conhecimentos comuns, como o que pro 1\11111111.1 n.irração literária, ou uma forma de descrição filosóf liI ~1111011 do tempo, ou deve-se, ao contrário, considerá-Ia uma plk"liv .r"( li, em suma, qual é a relação entre as ciências sociais !Vulvld,,, I' .1 hlstoriografia] t este o tipo de perguntas que, em nos 1•• IIIIAllj 1'°111-\'1111"iI pena abordar. Itlflllt\I,IIÍ1I\.hq-\Oll u ser, partindo I II~ dl,,,!t".,
d{lndas
da época d,e esplendor que par sociais nos trinta anos que se seguiram J
1','1,I, I ,•• 1111.1\ i(11 I tIL' I••s ,klldus dei homhrc dent ro til'! Si~ll'll1l' dI' lus dl'lI 1'1'" ,)1'1', ), 1'1111. '/bu/e'lIdo.1 til' 10 i//wstiJ.:oci6/11'/I 111Idt'/ltim mdo/t'\, Mil II AliiH'!,11 tl'II·~III. 1117'" p, 1\7 ',(l. !li
Capitulo 1 História e historiografia: os fundamentos
Parte 1 Teoria, história e historiografia
Segunda Guerra Mundial, uma forma de investigação social cada vez mais in tegrada nesse campo do conhecimento. Apesar de suas origens relativamente distintas, no século 20 a historiografia convergiu plenamente com as ciêncin sociais. É, portanto, perfeitamente adequado sustentar que os problemas epis temológicos comuns a essas disciplinas são também os que se apresentam nu historiografia, ainda que existam matizes particulares, na mesma medida CIII que existem em cada disciplina concreta. Isso não tem relação com o fato dI' que se possa discutir se a qualificação de ciências no sentido estrito, "duro". convém a esse conjunto de disciplinas. O que não parece discu~vel é que, (,'111 todo caso, não se pode negar-lhes a condição de práticas organizadas e sisumáticas de tipo científico, sujeitas a um método explícito, aceito e controlado A imputação bastante comum a partir da metodologia da ciência de que o hi toriador não explícita seus pressupostos, seus principias explicativos, pode plI recer precisamente contrária ao que se diz aqui." A única resposta-possível f que, com efeito, não há prática científica sem a explicitação de princípios ('X plicativos e um processo metodológico. ' A pergunta sobre a natureza do conhecimento histórico é, conscqücn temente, dó mesmo nível epistemológico que a que encontramos a prop6~1I11 do conhecimento científico-social em seu conjunto. Poderia-se questionar " é inevitável a disjunção entre conhecimento científico e conhecimento 'fi mum ou outras formas de conhecimento: não existem formas de conlu-, I mento intermediárias? Não, não há situações intermediárias, mistas, 110111 nhecimento, o que ocorre é que, em aparente contradição com o registrud. I 1111 passado, hoje ninguém defende que entre o conhecimento científico e 0111111 formas do saber haja um abismo intransponível ou, dito de outra form.r, '1111 o conhecimento científico seja uma forma monolítica: no conhecimento 111'11 tífico existem diversos níveis." De forma complementar, deve-se ressaltar que no interior das d('IH 1.1 sociais existem profundas descontinuidades. Há ciências desenvolvidus (' tlll
89
90
Com efeito, essa imputação é comum no campo da filosofia analüica dn lIiNIIIII,1, que pretendeelucidar a forma como se constrói O conhecimento hislchh 11.I 1,1 feita por W. H. Walsh, A, Danto e também, em outro terreno, Paul RklH'1I1 São numerosas as argumentações ernbasadas a respeito d(,'ssaidéiu (,' M' 1'111111111.1111 em obras já citadas aqui, como as de Chnlmcrs, Ilughl's c 1111111\(,'. Cf. PHHNANI1I BUEY, P. Ln ilusiôn dei método. ltlrns !'lIm 111I mChl/lllli\llltlllil'1lll'IIIII1'II/1111 1I'lIí'-'''
10,1 I "hjelo da historiografia, como conhecimento que tem como IlIItwllAvcl 11'fllllportamento no tempo dos sujeitos e entidades sociais, Inltr' ,'I através de pegadas e que só pode formalizar por meio de 111duvida, o mais problemático dos objetos da ciência social. I~\ il"ncias sociais, a historiografia, por s~u desenvolvimenlo c li 111'1.,.11 11prcsente enquanto prática científico-social disciplinar, s "do \ olocada nos níveis de baixa forrnalização e generalidadc. !lIl'fI llllllum das ciências sociais que apresenta uma clara sernc ,ltil'llvm l' problemas básicos. Os objetos específicos eondicionam IIvfllvlmc,,'nto desiguais. \lllllll" \.1.,0, cabe perguntar-se: é imprescindível, ou mesmo im I'O~I\.1ll dessa ordem de"questões para o futuro da hístoriogra 1'1'1\111.1 corno disciplina reconhecida e autônoma? Não mais so 1.1. 11I11., ,obrc a pertinência da própria pergunta, as opiniões con 111dúvida, também muito divididas." O ceticismo em torno ti" 1l(,i;C/Í~hl.ldcde "teorias" e de "metodologias" é bastante amplo ~' II!!III ,,'.1111,1tradição entre os historiadores: :g igualmente incgávci, 11"1li dl'o,cnvolvimento de certos setores da pesquisa hístoriogr.í IluI~ j"It'ldisciplinares e outras influências propiciaram também 11l1\"I\IWSrelativas à fundamentação. Disso depreende-sc que 1>(' H~,I"".tr .1()nfiguração disciplinar da historiografia, o trabalho •.••• II~~I!I'j IIl1ltthil.lvelmcnte, pelo tratamento desse tipo de problemas.
11) i iM C(lNIII'.CIMENTO
CIENTíFICO
DA HISTÓRIA?
'hnwh;l{ :\SNi"alou, há anos, com indiscutivel lucidez que "o gr,IIHIt' 11111 ilt:hilll: I omo o que envolve a questão 'é a História uma ci~1Il inf
líli!"•. 1"1'11.IllIIII posiçüo extremamente critica 1\ idéia de ci~nci,1jlrÓpdll dll 111\\1.11111 I' \I d,' IiEYERABEND,p, Contra c/método. Barcelona: Aricl, !I)7,1(11 II,\ 1'111,"111 1\ tlt' 1')70). De tom mais profundo c irônico c do mesmo FI'YI'III 1\11I I"IIII!:II'\01111' I'i ('(I/IIIC;III;('I//I). Madrid: CÓlcdra, 1991. (Tradu'/ldo tll1 lI'xlll !HIIIIIIIII) 11] i'fi~' 1""111111""1 lu\ l10lls wlIsidl'rllçflcs 110livro dI' NOIRII'.I.,C. SOllll' I" 1" 1111/11I'''. MlltlrltI: I'lú/H'sis/C(IH'dnl, 1997. Nl"'(' '''ISO in\l'll'\S.11"1"'1111 \I 111!,1I11111 ',: S.tlH'I,111('11101111, pOdl'I...
'jI'"
Parte 1 Teoria, história e historiografia
//Istória
Cllp/II/IIII c hisloriogrulill:
os (,11I(/11I1/1''''''5
IlInlwdl11ento que pretendem, reside no modo como ajuda a esclarecer a natureza da história (historiografia) e a delimitar o que a história pode e não pode fazer"," A diferença entre o que
do "relativismo", do "princípio
lil 1111I il~() das disciplinas
da incerteza", d~s lógicas confusas e das certe-
lIJc;l'"
a conhecimentos cientificidade
que poderia oferecer um conhecimento
quer outro conhecimento
I~III
pelo caminho, empreendido
sobre o homem,
tipo particular
da História? como qual-
é o erro freqüente
existe um convencimento
profunda
"tio
revisão e por isso mesmo, obviamente,
1\11
por excelência. Para a título
essas posições numa perspectiva histórica, percebe-se deu ao velho - e, na realidade, falso - problema da cientifici-'
IlIilo tI.1 História
da
urna resposta ou solução negativa, fez-se assim, de
fi,l, .1p,lrt ir de uma dessas considerações:
ge-
,n.' 11I1I,truir um conhecimento
a primeira, de ,\uem nega
«científico" da História simplesmen-
I"C 1I.\tI'c' pode alcançá-lo; a segunda, a de quem defende igualmente 11l~lc'II;.111,10 se pode fazer, de modo algum, um conhecimento !I~lllI'orque se trate de um tipo de conhecimento
mais firmes que derivam do progresso das ciências natu-
",h" iur,
conhecimento
t'
cientí-
inalcançável, como
aim por crer que da História só se pode obter um conheci-
~f'lIC'';', quer dizer, um conhecimento histórico, que não é o comum, dC'lIllIilO, nem o'filosófico, n~m pertence a nenhuma outra categoria, li'
por uma
a idéia de ciências da cultu-
ra." Ciência natural e ciência social são equiparáveis
preci-
•••,••'Il,r~,MIIlIi~,II\do
grau em que a cultura humana se vincula às condições da natureza. Esse é um
dos códigos da evolução genética. A idéia d~ cultura está passando
posto que essa teoria constrói-se
\llol I li," «uno defensores dessa posição nomes tão ilustres como os I', luret, G. Duby, G. Elton ou I. Berlin, para falar somente de his-
possível é bem diferente. A ciência da sociedade é um
rais em nos~o mundo, em especial da biologia, do progressivo
como uma ciência. Isso afeta desde as pró-o
1111'0(.'11\que a ciência é o conhecimento
de ciência e está ligado à ciência natural no mesmo sentido e
dos convencimentos
pode-se acres-
que têm negado a possibili-
mO\ .ll'c'II,IS ao último quartel do século 20,96 poderíamos,
de abordá-lo
tantas vezes, em que se pretende a equiparação
ciência social com a ciência natural. Atualmente, ral de que o caminho
do grau de
historiografia
n~dll \c'nd,\ historiográfica,
"seguros","
É inegável,que uma segunda questão prévia a esse problema
ti
bastante distantes.
sociais em seu conjunto,
111,11opiniões de muitos tratadistas
que não deixam de ser uma falácia, que desconhecem absolutamente o que tais coisas significam e, sobretudo, o caudal de trabalho "científico" que é preciso empregar para chegar à própria conclusão de que a ciência não dá lugar
1111
mas de seus objetos se manterem
/i,/'I'/lçil'l'
zas probabilísticas, o que relativizaria a ciência e suas exigências estritas de método e resultados. Tem-se, às vezes, lançado mão desse tipo de argumentos,
1I
epis-
95
faz a física e o que faz a historiografia não pode, é certo, ser banalizada com a idéia de que em décadas recentes do século 20 a ciência natural entrou na era
1:1
no terreno dos principios
Itllldamentos do método. Não se trata do fato de terem ob. n.ro sendo aceitável a dicotomia entre ciência explicativa e
1 11' 111111101 uma categoria própria
em seu sentido profun-
1
entre os conhecimentos
possíveis. A
til' ~C;II.I,junto com a Filosofia, a Ciência ou a Religião uma espécie de hl~dll\l'II'() tI,1 mesma qualidade. Existiriam um "conhecimento 92 MARWICK,A. The Nature of History. London: Macmillan, 1970. p. 98.
11I1!II"'III\O hist6rico, mas não uma disciplina da História. Esta seria a posi-
93 Um caso típico dessa maneira de proceder é o do livro de MARAVALL, J. A. Teorla del saber histórico. Madrid: Revista de Occidente, 1958 (2. ed. 1967), construido a partir da pretensão de que a História não é mais probabilística do que a Física e que
,
sua significação como ciência vê-se fortalecida pela "incerteza" da própria ciência física. 94 Para essa revisão das idéias sobre o significado da cultura, ver algumas obras recentes. No terreno antropológico, CARRITHERS,M. Por qué los hombres tenemos cul turasi Madrid: Alianza, 1995 (1. ed. 1992). A partir da filosofia,MOSTER(N, J. Fi losofta de la Cultura. Madrid: Alianza, 1993, e SAN MARTfN SALA,J. Teorta c/c 11/ Cultura. Madrid: Síntesis, 1999. Uma revisão das velhas idéias sobre li relação entre biologia e cultura WILSON, E.O. Consilience. 1.1/ uuidad dc! cunucuuinu». lI.melo na: Galáxia Gutcnberg Circulo dc Ll'(IOICS, 1999.
histórico"
lo 1!c;llI'tll'lIo Croce, de Collingwood e dos idealistas. NIl u-rrvno oposto, quando a resposta foi positiva, as apostas a favor da illllllllllltlt' foram feitas a partir de posições que apresentam
também notá-
1111'IhOl c:xplicaçãorecente desse problema e das profundas dificuldades da ciên I 1.1 hlllllll~ u de IIOLLlS,M. Filosofía de las ciencias socia/es. Barcelona:Ariel, 1991\. t
'
I )I'~M' mesmo assunto no caso dos tratadistas mais antigos, a partir do século 19,
1f
1.1i.III'IIH1~ IlO capitulo seguinte.
75
Capitulo 1 História e historiograJia: os [undamentos
Parle 1 Teoria, história e historiograJia
veis diferenças tradicional,
entre si. Para começar, um certo setor da historiografia
de caráter "positivista", sempre falou, e continua
mais
rar essa expressão senão como metáfora
J. P. Bury,
Henri Berr, mas também
ou analogia. Seria o caso de G. Mo Q. de
tratadistas
mais recentes como
Halkin, Marrou, E. H. Carr, Federico Suárez ou Iuan Reglá. Outra posição si tua-se na tradição
germânica,
sociais de fundamento
hermenêutico,
de filósofos e tratadistas
entre as ciências
que incluiria a historiografia historicista,
como ciências radicalmen a maneira de julg.u
te distintas da ciência natural. ESta seria particularmente
fora do próprio campo historiográfico,
como Dilthey,
IWII rlll o resultado de tudo isso, a cientificidade, da prática histo1'(1)1111., antes de mais nada, do grau de elaboração e aplicação de )\lê' 1',1.1icipe das características da ciência e se adapte, mediante "'Úl
1~11II1o.portanto,
vista, que defende que a ciência da História
pel,com
sua conhecida
à explicação histórica,"
participam
opiniões
deve operar, ao final das cont.i-,
As posições de metodólogos
como Llcm
de aplicar o modelo nomológico-dedut
iVII
seria a que tem falado de uma "ciência social
ciência social" (Social Science History), corrente provenientes
tanto
l{ll'" ,'quiparílr ciência natural a ciência social, isso reflete uma
realmente,
a posição
do mundo
e, em geral, a chamada mais próxima
isso sem falar dacliometria,
anglo-saxão
de
da situação
plenamente
haveremos
t-\III
como "cientifk ist« .
comentários.
pOI
\1111
E sobre tudo h,.•:,
\1111'1 i.lli/.lçàO da realidade
h, '1"('
,t' encontra
histórica
simplesmente
I 'I'u'
(, ,omum
98 IGGERS, G. G.; PARKER, H. T.llltematiolllll !landbook o! llis!o,iflll SllIlh,'\. I",,, temporary Research and Tlieory. London: Mcthucn, 1979. p, 7. As l·Xpll.'NNI'W~ 111.,,1, são de Georg G. Iggcrs, '
sua prática deve
de explicar a História, mas que aqui não
hn I hl-~,II n se estabelecer como leis. IIh~,1111I'1110 histórico
não pode estabelecer
leis da História nem,
I
i••I'llIIhllir
..",,,dn,
predições sobre a História do futuro. Ambas as coisas
,Iil , l(tlll.i.I no sentido "duro" e estão estreitamente
ligadas
o
Em
1'"1111w íalur, rigorosamente, de uma Ciência da História? No 10 11,1W.IIHil' ciência da natureza, como dissemos, da física em \I
\,\1111'\,incluindo a cosmológica,
a química, e atualmente
uma
não. Mas convém con-
Primeira, que, contra o que acreditava Pia-
\,C".II clm wl1sideráveis hl~I", ji"j
da
na ciência: as generalizações, que são úteis e ab-
,,_.ü~.•.•,hí,IS no sentido
1"111,1111101 IlIIporlantes.
sobre a cxplicaçuo
a partir
recluso na prisão da sin-
irremediavelmente
IIIl'tlSsihilidade de generalizar. Pelo contrário,
1I1~1l1""1111('11Ioutros metodólogos,
ao modelo de Ilcmpcl
mesmo que, mais adiante
11,1hllllllgi.I, por exemplo, evidentemente
de voltar posteriormente.
97 No capítulo 5, nos referiremos
antes? Se nos concentrarmos
•••• "" ••'"(.- \ohn' a natureza do histórico, digamos que mesmo sendo a nhlt:llIs substancial e insolúvel, o historiador não pode fazer a
qllt
das ciências sociais. '1\111 ••
caracterizável
que quase não necessita maiores
n
como discutimos
10 hitílt'lrilO, do objeto historiográfico,
da S(/ool
"escola de Bielefeld","
O empenho da escola francesa dos Annales tem sido tão difundido influência
hl,H08 envolvidos,
111
Science, a família Tilly, D. Landes, M. Postan, Ch. Lloyd, como também di' germânico da história social (a Historische Sozialwissenschachft) os KOl 1,11 Wheler, W. Mommsen
não dispensa, de forma alguma, um trabalho
11t~~I' 11.10existe uma teoria da história. Quanto ao problema da
ou E. Nagel, apóiam essa visão. Enfim, mais uma pu
sição, esta de historiadores, tórica" ou "História
neoposit i
pela metodologia
que todas as demais ciências sociais, assimilávcl,
intenção
de seu objeto. A apli- .
rl1h',. llIetodológico ou supõe uma diferença substan'cial e inso-
Uma terceira posição seria a sustentada com o mesmo mecanismo
rico e suficiente, às peculiaridades
11 11
Iriu, Nun há uma história empírica com pretensões de conheci-
Weber, Gadamer, Ricoeur ou Habermas.
por sua vez, à da ciência natural.
I'crsus "prática científica"
falando, de um"
"ciência" da História sem que haja, em último caso, outra forma de conside nod,
111"
esse é o caso geral das ciências
progressos de algumas delas em direção
hllU", 'lI'p,IIIHlil,que nno cabe ralar de ciência somente quando se ,hdl'II'1 !c-j, univcrsnis e predições do futuro. Pode-se chamar' de 1111\,11'111111\11 (()l\Slruçc)cs cognoscitivas
que não cheguem a certe-
Capitulo 1 História e historiografia: os fundamentos
Parte 1 Teoria, história e historiografia
No nosso modo de ver, o problema
festa-se em três elementos essenciais, ainda que não sejam os únicos, inserido em seu objeto, ou seja, na temporalidade ~pistemológicasainda
do social, que propõem
fico. São elas: a singularidade dos atos humanos,
In~~II\1"" do historiador
para o-conhecimento
IIllulon's,
sua sucessão, A
descoberto tronômica
o homem
ti
1(.'111
mas diz respeito, princi-
um método. Quer dizer, é visível que o trabalho
IllUilf' o rigor metodológico I
científico do social, uma dificuldud
da mudança, para cuja compreensão
essencial' é a explicação
1"1111IICo historiador
trata de buscar, para os processos histó-
IqUt'1 uívcl, explicações demonstráveis,
intersubjetivas,
u d,l d~ncia, e que, conseqüentemente,
até as das partículas elementares.
.luncutos
É, seguraIl}-ente, na análise do sig
e é também aí que, com toda probabilidade.encontra-se
ção de uma verdadeira existência de umavisão
Ihlillll'lIlO de tendências probabilísticas,
ItI.\lI(' da concorrência
tras ciências sociais, se não cabe falar de uma ciência no sentido pleno, podl
se dizer que nos encontramos nuncia a sê-lo, Tentaremos FÓi o historiador
significado dessa situação. da cSIIII,1
dos Annales, quem, nos anos 5.0, falou com cautela e com certa imprccisüu de observação,
do q,ue entendia
como prátiru
d,1
não em leis ou teorias, , de tipologias redundan-
históricas. A isso se chega com o uso de
11110sno completas,
e podem ser produzidas
ex-
refutáveis,falseáveis,
na
são, certamente,
IM••,••• I•• ~k
I'lIppcr, o que é uma prova de sua cientificidade.!" Não se 11111110 tI,I l iência somente pela generalidade de seu resultado; mas 11/I/II/llb;IO e procedimento. Às vezes considera-se
historiografia:
11111111\1'1111' errônea Em minha opinião - escreveria Febvre -, a história é o estudo cielllijiftllllfll/, 'elaborado das diversas atividades e das diversas criações dos homens de outros 11111 pos, captadas em seu momento, no marco de sociedades extremamente val'illlltl A definição é um pouco ampla, (mas) em seus próprios termos descarta, IIH' 1'1111 ce, muitos falsos problemas. A isso se deve, em primeiro lugar, que se quuliliqllt I ,história como estudo cientificamente elaborado e não como ciência."
,
rea-
em. resultados
de elementos constantes e precisos para
1Ill'lrirns, ainda que imperfeitas,
francês Luçien Febvre, um dos fundadores
mas com sagaz capacidade
'"1 I ertus conjunturas
diante de uma prática científica, e que não If
explicaro
desemboque
hilll "'l'lCIxillloçôes científicas que terminam
como com ou
não se deterá. Com a historiografia,
chegar a elas
\lrlll ,I M'r teorias de valor universal nem possam estabelecerpre-
teoria do .histórico, Mas é possível constatar
que o seu aprofundamento
pretende
explícitos e comprovados.
IIIIIll'IIIC possível mesmo quando
a chave da constinn
hoje .I teórica historizadora de tudo o que existe e conjcuu.u
lógicos conhecidos.
contextua-
H..ll'sn'ntar que uma prática científica, ou cientificamente
precisa insistir mui
do
da ciência. E, em
dos procedimentos
até agora um limitado número de leis, desde aquelas de escala u
nificado do tempo histórico que a reflexão historiográfica
porque
de atividades arbi-
IlvhJ,\(I(~sque tendem a estabelecer conjeturas sujeitas a régras ou
tudo isso subjaz, nos parece claro, o fato de que para o conhecimentocientl fico e, sobretudo,
não é um conjunto
II!:IIII'empfricas, subjetivas eficcionais,
cient
a globalidade do meio em qUI
e a temporalidade que constituiu
é possível compreendê-los
.fllll ,I/IH'I//c' dl/borado. Como isso é possível? Primeiramente,
questões
não resolvidas para alcançar um conhecimento
não seria uma ciência mas sim um es-
IIIII'I.lda. A historiografia
de uma ciência da História mani
de explicações,
ou
IHI,IIV.I~de explicar, demonstra
a debilidade
científica de uma
(1111'111 (, justamente
as propostas
de explicação re-
I
lItt"I",hll"
de que uma multiplicidade
corret,a a po-
illq"olÍiI científica
o contrário: sempre
que existe a possibilidade
111111 outras. \tIl illl-\IuIiu, como todo discurso ou produto ! ,,.,11//11I1,
de sua
final que resulta de
ou de uma ciência plena, não reproduz
nem preten-
Como traduzir e desenvolver essas palavras tão perspicazes no CIII'Mllhl ,que desejamos argumentar racterização
aqui? Febvre expressou há cinqüenta
da função e resultado
cogn?scitivos
anos 1111111 I)i
da historiografio
99 FEBVRE, L. Vivir Ia Historia.Palahras de iniciacién, In: Historia. Barcelona: Ariel, 1970. p. 40. O grifo (: IlOSSO.
__
,o
qUI:, 1\ IIU
C(lIII/IIII,'\
/'Il! !II
I,'
1'111'1'1'1
t'llI relação ao falsacionismo
é explicitada em muitas passagens de
Ilu,l \,"1 1'( lt'l'lm. K. R. La légjca de /a Íllvestigaci6n científica. Madrid: Tecnos, I Ir~1'1'I 10111111'1111'os l,IPllul()s IV e X. Do mesmo autor, EI desarro/lo dei conocili ,1,.11I1/11 ct ('ctl/jl'tlUIIIS y rlfullldO/les. Bucnos Aires: Paidós, J 967. p. 293 et '[iI" ,I ""1'111111 ruçuo" de c..i~nthl c mct.lflsica.
I)
Capitulo 1 História e historiograjia: osfundamentos
Parte I
Teoria, história e historiograjia
de reproduzir
o mundo,
soluta complexidade,
o âmbito
gível. A história total, entendida acontece", ou «a reconstrução tomada
de seu campo de exploração
senão que propõe
modelos
como a «história
completa
.1.1 historiografia.
em sua ab-
para torná-Io
ao qual nos referiremos
Christopher
Lloyd escreve que «(Historical in this quasi-positivist
nova-
, Mas o que significaria exatamente sentido quase-positivista
uma «ciência" que não seja considerada
ou positivista
caberia pensar na construção ciência das leis históricas.
science' is a defensible no-
or indeed positivist way?".'?'
da expressão? Inicialmente,
de uma ciência "totalizadora"
Uma ciência não positivista
no
\lI
do histórico, uma
1111
seria não
que poderiam
ser
essenciais para ajudar a explicar o que sucede em nossa vida presente.
Em
todo caso, o trabalho dológicos qualquer
estruturais
historiogrãfico
e a mesma
necessidade
e de práticas humanas
'li
de "teorização"
sobre os fenômenos
que
científico e social. O problema
resi-
de hoje em que, ao inexistir, no campo da historiografia, tável de fato, ao nos movermos te historiográficas, não podemos
uma teorização
mas referidas
genericamente
ao comportamento
falar de uma «ciência", senão, cautelosamente,
mais. ou menos bem sucedida e frutuosa
social,
da aplicação
do «modelo de trabalho"
que existam leis universais às quais se ajuste o desen-
histórico, global, das sociedades, porque não podemos
e, portanto,
predizer em termos científicos, o sentido de uma mudança
a histórica. Mas é uma questão diferente a de que a historiografia equivocada
*
prisioneira
.Ir indivíduos e grupos, o encadeamento
de «fatos sucedidos", não se
r~t,lhc:lccer um conceito como o de historicidade, que dizer, o de ine-
( ) historiador
alemão Reinhart Koselleck, freqüentado r dos problemas
!t1111ll1H'lItcnenhum
escreveu que «a história enquanto objeto de conhecimento'
Iclllll~as ciências sociais e do espírito"!"
1
11111I 111\,\0
ciência não tem
específico, mas o partilha
Essa afirmação,
que subscreve-
illKuma matização, já vale por si só como uma definição completa da
d,l historiografia
no âmbito das ciências sociais e de seu completo
,t!!IH nnento a ele. É certo, porém, que, como já se disse, aqueles que ali-
volvimento
suposta e eternamente
O comportamento regularidades, ao menos
que estudamos.
indubitavelmente,
d,' seus níveis. Se a Hissória não fosse mais que o desenvolvimento
i" d,\ historiografia,
do cientis-
ta à pesquisa historiográfica. Não é presumível
Essa carac-
II IIU
acei-
em um mundo de teorias não especificamen-
mostra,
ou processos históricos.!"
I "IJt'i~,l() ao tempo de tudo o que existe.
rigoroso inclui os mesmos passos meto-
outra parcela do conhecimento
dll\ sociedades
1111\
aquela de alg~mas poucas «leis da História" plausíveis, mas de algumas con-
tinuidades ou rupturas
II"PI'llOS gerais dos fenômenos
"""\1111 depende do nível de fenômenos tllmllllltll
que não
do histórico
his-
oulu-cidos sejam irrepetíveis ou que, sob uma tipologia suficienteurrulizadora, não possam ser explicados'muitos fenômenos particu1I idéia de generalização baseia-se o Idealtypus de Max Weber para
mente mais adiante. tion if is not considered
de pesquisa sócio-históri-
IIj~túl'ia ser «único" não quer dizer que os «tipos" de fenômenos
de tudo o que
íntegra do passado", nas palavras de Michelet,
em seu sentido literal, é um absurdo
Não há possibilidade
nenhum outro tipo, que não faça uso de generalizações. O fato do
mais inteli-
estabelecer como
se encontre
na jaula do singular. Sendo essa apreciaç.ão
é por essa razão que, de certa forma, podemos
11
falar de uma práti-
Em inglês no original. " 'Ciência histórica' é uma noção defensável se não for considerada no sentido quase-positivista ou mesmo positivista do termo" (N.T)
101 LLOYD, C. The Structures of History. Cambridgc: 1993. p. 132.
historiografia no âmbito das ciências sociais sem maiores precisões 1\111 mais um "wishful thinking" um falar mais da historiografia que 1'1" do que da que é.'04 verdade que, na posição de certos autores e escolas que se têm oCU-· ulo .1.1 tl'oria social, o pertencimento da historiografia ao campo das ciê~cias
llillll
Cambridge
Univcrsity Press,
!n~ M Wl'Iwr 1 rala do conceito de idealtypus em muitas passagens de sua extensa obra. , I. 11/IIlIy(ISsobre metodologia sociológica. Buenos Aires: Amorrortu, 1982. Ifll u, i\mdkck, vergangene Zukunft. Apud MOMMSEN, W. J. La storia come sc~enza If/( 11I1/, ~I()/ icu. In: ROSSI, P. (Ed.). La teoria della storiografia oggi. Milano: Mondaflnd, II'HH. p, 85. 101
MARWICK, A. TI//' Nature of Ilistory. London: MacMillan, 1970. p. 103.
~,lllr~~11 Capftll/o J Ilistória e historiografia: os fundamentos
Parte J Teoria, história e historiografia
sociais ou é negado ou é enfocado de maneira bastante problemática. Em di versos tipos de classificações oficiais, supo~tamente científicas e, ao final d.1 contas, próximas do burocrático, a historiografia (ou a "História") não apare ce entre as ciências sociais. Catálogos da UNESCO, guias de estudos uniVCINI tários, catálogos e prateleiras de editoras, livrarias e bibliotecas, etc ... colocmu a "História" em local distinto daquele ocupado pelas ciências sociais. Um li! nhecido sociólogo, Daniel Bell, em seu relato dos progressos das ciências ciais registrados desde o fim da Segunda Guerra Mundial até a década de 19 '() não só não analisa a trajetória da historiografia ~ o que se poderia atribui! ,\ falta de competência ou desejo do autor -, mas esta disciplina não é SCQIlII mencionada entre as tais ciências.'?' Trata-se de uma posição muito amei i\ 01 na. Um dicionário sobre o vocabulário das ciências sociais, editado na E~I',I nha, não inclui como tal a historiografia, nem a palavra "História" nele ap.1I1 ce em nenhuma das acepções que costumamos atribuir-lhe.'?' Já conhecemos a posição de Iean Piaget que, sem expulsar a histoi 11I grafia do seio das ciências sociais, a tinha por uma discipliria problernáticu, dI forma que o historiográfico seria dificilmente algo mais do que um rnéuul« Um sociólogo de destaque como Talcott Parsons, pai do estruto-funcion.rh mo na sociologia, fazia uma nítida distinção entre a "ciência social sistCIlI.ill ca" e a "história" como pesquisa.!" Para algumas das mais acreditadas, 11.ltIi ções teóricas no interior das ciências sociais, a História não é uma cn Iid.ld, passível de ser pesguisada de forma autônoma por uma disciplina, scnuo 1/11 existiria, na verdade, um método "histórico" - geralmente sinônimo (11,1 qüencial, temporal, de trás para frente, e pouco mais do que isso -, I11l',.IIIIt'II te preliminar, de análises das realidades sociais no ternpo.!" Em outros \ ,"')I o historiográfico apresenta-se como uma contribuição a meio caminho t'1l1i ~(I
1
105
AII,III 1984. dllJlli 106 REYES,R. (Ed.). Terminologia científico-social. Aproxunaccián crtticn, 111111 Anthropos,'1988.A palavra História não aparece neste dicionãrio SCJlllo1',11.1 I ,pU car o conceito de "história de vida".A palavra Historiografiu, obviumrnte, '11',11 menos ainda. O mesmo ocorre no Anexo à obra publicado poste. illJ))1('1111 107 PARSONS,T, La estructura de Ia acci611social. Madrid: Gll'dos, 19C1H. 1111 I11I1111 fi 108 N~ realidade, um .dospais da "prcccptiva" historiog: ,\fil.l,Ch.llks Sl'igllClhll"li)) bérn acreditava nisso, o que mereceu de L. Fl'IwI\'o \0111\'111.11 iu CI\\('lllIllllIlii transcrevemos. Mais adi,II'IlI'vOlt.III'J1W\ ,I\'''1' '''\1111111
h, hkologias
políticas, as "antigüidades",
o jornalismo
ou a de-
111•• 11I1"11111 hl\tórico para fins de exaltação nacionalista. NI:~,Il histórico aparece também como uma realidade não re-
111111111,1 em proposições da ciência natural ou de sua filosofia. 1""t'.i_I\i\n \ 1\'11 ti fico-filosóficas atuais" em relação a problemasbási111111 fI~ltll, ou da cosmologia, apóiam claramente a explicação temIIvu c1m processos do universo, o que equivale a dizer a explica\'111outras ocasiões, no entanto, ocorre que o reconhecimenIIslvd 11,\0 leva necessariamente ao reconhecimento da neces,,~~íl'"S" autônoma. O caso de K. R. Popper ao falar da HistóIIVO.Ii" sociólogos é um exemplo ilustre disso."? As posições neihlill 11p,lnorama das diversas teorias ou filosofias das ciências \lOllI"Ill'S tradições na pesquisa social cujo fundamento episteomiti" imcnto da historicidade de todos os fenômenos sociais, ti n~fl kVillldo a um reconhycimento imediato e explícito da ent1vMfilti,Icomo disciplina social, condui à consideração da HisHi! ili1l'l ,'Sl indível de toda pesquisa social, o que já é alguma coi11111, ,I I1.uliçào marxista, a hermenêutica, a tradição weberíana, til ~11ttllltl~i" histórica, ou o estruturacionismo de Anthony GidIII"ÍI~,III1IVl'Il1-Sedentro da consideração Índubitável do perten\i111(1lp,l.tfi)nao próprio campo de pesquisa da ciência social. ,li 11\1'111 " wntrovérsias, com dúvidas e reticências, a agitação 11111111111 Imloriográfico, especialme,nte desde a aparição dos AnI 1\"1' ,I Id,IÇ,\O da historiografia com as ciências sociais mais 11'"'~I'II\\lSSC,sobretudo no mundo francês, sob uma nova 1111111'10 ,1<1progresso da historiografia no século 20, o contato .\Oli c1l:~~," outras disciplinas foi determinante. As "Filosofias da íllnll,"""1 sl'p,lfadas e se buscou classificar a historiografia em
••••
BELL, D, Las ciencias sociales desde Ia segunda guerra mundial. Madi ido
i I.iil.\",.'· dJ1lJ"lwrso hoje lima posição geral da ciência amplamente diIhld !lI")"'til 111110 impllllantc relação com a consideração global dos fenôme IlJhtlll 11.1 ,1111 humunu. A questão da "flecha do tempo", da que fnlará Ed \lIti,(al.í 1\111'1111\11 dn ~1l1l,idcr,lç,l() central de irrevcrsibitidadedos processos l!!f1I1, "'_IJJIIII1I""~ t'\t" q\l\'stilollilld.1que lll'Opossamos discutir aqui suas !,OjJ~ 1''''"1.1"III~'"11\II!.II"'''tI.1SI i~J1ál' ~()d,lis.(:1. PIUCO(;INE, L; STF,N í I ii ,//1111'" ,,1/lIII,'tl Mt'/tl/llmj"", tll'!t, (11'1/111I, M,II"itl·Ali.IJ".I,tt)t)(). ,iírtl" t1r1I/1'I!IIII/j///l1 Mlldticl'AIiIIJIIII,IIIH!.I'. W,I',I~sitll. é
t'1t
Parte 1 Teoria, histôria e historiograjia
algum lugar no conjunto
Capitulo 1 Hist6ria e historiograjia: os fundamentos
dos saberes sociais. E. Le Roy Ladurie destacou h.\
tempos como as ciências sociais se tinham transformado
em uma espécie d('
"terceira cultura" entre a ciência exata e as humanidades,
de onde se pretcn
111111.1110 subjaz, acertadamente, 1t:'lItl:~reside precisamente
científica". A intenção,
uma "transformação
pois, de expulsá-Ia do campo das ciências sociais n.lo
teria futuro. Não seria possível construir
uma ciência humana
sem a dimcn
são do passado.": No mundo anglo-saxão, pondo a possibilidade
D. Landes e C. Tilly enfocaram
de que a historiografia,
cial, atuasse frente aos determinismos
a questão no 11
como prática real de ciência
da ciência social e de outro, de orientação
método
historiográfico
orientado
pelo
inspirado
"humanísta"'"
deiro interesse dessa oposição reside no fato de que responde quada ao que seria um trabalho
M1
da cliometria. Para Landes e Tilly, Sl'11i1
clara a diferença entre a forma de proceder de um historiador métodos
O vcrd.i
de forma ad,
de acordo
C0111
\1111
comum na pesquisa social. Além disso, ambas as práticas, a cientíü
co-social e a humanista,
não são excludentes
em todos os terrenos, ainda ((111
o sejam em alguns. Daí que muitos historiadores tipo de dicotomia
" "h~1Ique se desconhece ~"ttl.tl!~;ltl IUIIII,II historiografia
e "combinem
em seu trabalho
não aceitem como real
('\M
e processo intelectual
"lI
ou cuja inutilidade
dos
E o historiador
1li!I'dlloll, na época contemporânea, iihlillll\l,"
é manifesta
em
constitui, em último caso, um tipo parti-
IIU l'l.lt inls científico-sociais. _nllIlW
nal da década de 60 do século 20 a partir de um ponto de vista diferente, P' (I
de que o periequivocado
ihklll,IS da ciência e do seu estado at~al. Assim, muitas vezes,
dia expulsar a História. Mas o fato é que, "desde os tempos de Bloch, Braudel e Labrousse", diria esse autor, ocorrera na historiografia
a advertência
no entendimento
bem da verdade, nenhuma
em seu pleno exer-
lama maioria qualificada garantia -, tem se consi-
I iUIIIII~do método científico. A História, ou o discurso histo11m (C'IIII nível, produz seus conhecimentos por meio de métoI"i' IlImtituem uma pratica estabelecida, sujeita a regras. O
Udl!dc:
d"S,\l' discurso é ainda baixo e a fragmentação
IIHII',M,IS é um discurso obrigatoriamente •••• 1111111\\'\1\ ~II, corno o de qualquer
\11111111110ciência
das práti-
sujeito à possibi-
ciência. Em todo caso, é inegável
social necessita de fundamentações
mais
1\11'1''''\\lImos hoje. O grau de desenvolvimento , de tais. funI ,11I\'ld,I, mesmo hoje, débil. E continuamos sem consenso tI!til
qlH'
\1' deve
seguir para um progresso sustentado.
mentos de ambas as escolas': " Iosep Fontana, por sua vez, criticou sem rodeios o que chama de "a ilu são científicista"!"
em certos setores da historiografia
atual que leva a "1111
car o auxílio de outras ciências sociais". Fontana parece fazer alusão prl'll~.1 mente àquelas formas de aproximação
cliometria, que têm comumente uso das práticas quantificadoras aos limites das mais esotéricas
da ciência', como a representado
identificado
a atividade
"científica"
1'11.1 COIIIti
ou a outras que.têm levado nossa disciplru« elocubrações
do pós-estruturalismo
Sl'llIlnt
111 Apud LLOYD, C. The Structures of History. Cambridge: Cambridgc Univ, I Press, 1993. p. 124. A citação está em Entre los Historiadores ... 112 LANDES, c.; TILLY, C. History as Social Science. Englcwood Cliffs: Prcntl«: Ildlt 1971. p. 9 et sego 113 FONTANA, J. La Historia después dei fill da Ia l tistoriu, Burcclonn: Crütcu, (il'/ p. 25 et sego
H·I
,*III,Iis que se cultivam hoje, das mais antigas às mais !lI 11111IH'lIm em urna coisa: buscam sempre dotar-se de alplicllll\'1I dl' seu objeto que lenha o maior nível de gcncrali-
Capitulo 1 Ilistória e historiografia: os fundamentos
Parte 1 Teoria, história e historiografia
dade, segurança e consistência
ras vezes ou nunca uma disciplina permanência
estabelecida
e autônoma:
no nível da mera descrição, inventár!o
matéria. Por definição, as matérias disciplinares
reconhece
ou classificação de ~Ihl
pretendem
~stabelecer conln
adquiridos,
costumam
•••••
conhecem
científicas
põem-se o corpo geral dos conhecimentos suas operações de conhecimento.
,,'I
dos contêm
em um dado momento,
adquiridos
li
~1Il'Ol11ade uma carência patente, ao mesmo tempo que seria impossível que um "Tratado de História" históricos"
porque haveria de
ti! Iflll,\ ,I I Estória Universal. Assim, pois, a referência das pat(111I,""0Ssua expressão no sentido literal ou a consideramos I'"dl.ria refletir o estado atual da disciplina, não o conjunto
I••• ,,,ltlm,
I!III suma, isso equivale a dizer que o possível tratado de um tratado de historiografia, um tra-
\0 ~"r IIccessariamente
por ela e o conjunto d tais 11,11,1
como norma geral o tipo duplo' de "teoria" que correspondr
duas dimensões
"111
"'Iil .uiulogia ou uma metáfora, teria de ser um tratado de con-
a possibili.l«
Quer dizer, e isso é o importante,
resposta: o que deveria conter um trata-
IíHlo ,\I\lill dos conheci~entos
somente uma parte dela.!" Nos tratados, que 11
o estado das disciplinas
•
de
111 Olltmnável:
expostos em um tipo de livro que tem o/ nome ou a disposição de um trot"'/I da disciplina em questão, não se descartando
no entanto,
",.111 isso não passe talvez do nível do anedótico, representa
ê
no geral, expansivas -, o estado dos conhecimentos
de de que sejam dedicados.a
III,tiScomplicada
~lIl
temporal de seu objeto. Os fundamentos analíticos de qualquer disciplina, nas ciências naturn ou nas sociais, seu campo e objeto específico, seu método e suas fronteira cimentos de alcance maior, no sentido espacial
sobre a totalidade
11111,\ que pode e deve ser acompanhada,
e qu.e, se possível, alcance o nível da teoria. !t,l
1\111'(,\ ('
11
que uma ciência abarca: seu objeto de estudo, de um lado, 11
dcscnvo~vimento
da disciplina que estuda a História,
\1 !,mh'ri'l ocupar-se de outra coisa senão da teoria e do méto1'11111'
forma de organizar sua investigação, de outro. O grande historiador nha de um conhecido cos: "tenho
Pierre Vilar escreveu essas palavras na primei I1111
texto sobre questões de vocabulário
sempre sonhado
com um 'tratado
e método
de História"',
e acresccnn«
I
"pois considero irritante ver nas estantes de nossas bibliotecas tantos 'tl'"I.III" de 'sociologia', de 'economia', de 'politologia, história, como se o conhecimento
de 'antropologia',
mas nenlnuu
ti
numa ciência"!" Se a ausência que Pierre Vilar lamentava
responde a \11111:111
e não há dúvida quanto a isso -, por que não se escreve um tmuul«
I
Conviria assinalar que o fato de que nos próprios livros desse tipo nüo IIP,III \ palavra "tratado': termo que, certamente, tende ao desuso no meio ,1('I1I1~1111o nada altera essa situação. Alguns exemplos de caráter variado c' clássico POdlll'lIi! incluir tratados de Economia tão amplamente empregados como o de p, S'"I1I1'! son, Curso de Economía Moderna. Madrid: Aguilar, edições a partir til' 1'1',0 NIi menos conhecida na ciência política é a obra de M. Duvergcr, IlItrOl/lln;ll"/I 1" I lítíca. Barcelona: Ariel, edições desde 1972. Um clássico tratado dc sodoloililll' 11.11 rigido por GURVITCH, G. Tratado de Sociologia. Bucnos Aires: K,lpdu'/, 1'Itt' No fim, não há disciplina sem seu "tratado".
116 VILA R, P. Iniciacián ai vocabulario dct onálisis p. 7. O grifo é do uutor,
11TEORIA DA HISTORIOGRAFIA
It.IIII•.•8, ,'111parágrafos
utr
anteriores,
a conveniência
e a necessida-
ilt· I~1\111,1 rigorosa a realidade da História da disciplina que se
1111111'1 uuento c pesquisa. Os tratados
que desçrevem uma dis-
t,\lIlo de seu objeto - nesse caso a História -, como dos
•••••'''1''. ti"
'i1'\IUlnhccimento - aqui a historiografia. O objeto de co111\1t'l11I1" tI,lo se torna um tratado com o registro do curso da
ílllllll 1Il'I\IH:culação sobre essa pergunta
que Lucien Febvre con-
Inl\Íl~i\' 11IJtIl' é a 11istória? No entanto, essa pergunta, por sua vez,
" llS
(lULA
histórico, que é condição de todos os d.'111111
já que toda sociedade está situada no tempo, fosse incapaz de se comlilllll real-
li"
hisl"'l j
";.\t(~rif(l.
1I,1H('hlll,l:('111h .1, 1l1l111
!'lIlIdid.\ 110seio de uma questão mais ampla, a de como é pos1IIIII'IIIIIl'IIlOda História. (> 1\111.1 qucstüo bem diferente
I'
da filosofia. Decididamevte,
o
tlnll 1'11Ih, exerci ta r a função do filósofo, mas é preciso advertir
I~IIflllll.1I sobrc a Ilistória é furíçãó do historiador. Isso não IUIIIiu" (' "Iilnsufin" da l listór ia tenham estado historicamente IOIHldulII~111(',lIlIlIlgamndns no pcnsamcnto
ocidental,
da mes-
"
Capitulo 1 Ilist6ria e historiografia: osfundamentos
Parte 1 Teoria, histôria e historiografia
\1111
• ma maneira
que também
não se tem conseguido
distinguir
uma teoria da Historia de uma teoria da Historiografia. que para encontrar
respostas
a essa tão mencionada
gunta, os próprios
historiadores
busquem
é um erro fundamental, Como também posta em algo bem diferente seu conhecimento; qüência,
ou buscá-Ia
ricamente
sobre a História
e incontornável
PI'I
aos filósofos. JI, ,I
o é pensar que se deva buscar
1I
ti
correto para tornar posstvi l
ainda, o que não acontece da historiografia.
com menor I1
Na realidade,
já equivale a uma primeira
to dela, equivale a se propor
conuuu
É, porém,
ou se remetam
como é o método
no estudo da história
com nitid
refletir h'II
"pesquisa"
a
rrsl'l
I
o que é e como se manifesta. o 111\111
averiguar
teoria da história
o que é e como haveria
e da historiografia?
to científico;
ao falar anteriormente assim, limitemo-nos
pode referir-se
a um fenômeno,
cesso repetitivo
e, também,
tudo. Nesse último nhecimento". teorizações. maior mento
adequado
da História.
a essa questu«
do procedimento
do conhcciuu
caso, nos encontramos
diante
de formular
ou possível a respeito
" 11
a UIlI 1110 11~1
do
leis gerais. Arnbns .I~ d sobre o c:olIllIl
dela, são imprescindíveis
1111I1
clara que dislilllllll
entre essas duas operações. Para o historiador
existem, pois, duas tarefas teóricas: uma,
rar uma teoria constitutiva de seu objeto de trabalho a teoria da natureza do histórico. Isso equivaleria se chama História,o é isso na experiência história
!l1'Iturnos argumentar
sobre nenhuma
li' 11111conhecimento
demonstrável,
1I'~tlll'~
~
próprio
que é a dimensão
di' I LtI
e que não é out 1I1!l1'1I
a pronunciar-se
sobll
IIl!"
histórica para os seres hu 1ll,I11m,11ipi
de-sua vida, como se manifesta
aos sujeitos e às sociedades,
li
de que maneira
essa atribuiç.to
di III!I
se cria c Sl' l'vid!'III!ei
imersão no tempo, e outras questões desse tipo. O que essa tcorin 111111 1',-,(1 rá fazer, como não pode a de nenhuma
uma meta,
dessas coisas com os contrastável,
do que se tem denominado
ernpírico.
a filosofia
"subs-
I"" ulutiva" da História, a que o idealismo alemão do século 19 \I IIhlis ,Ilto grau.!" O propósito
e os meios do historiador
vão
íll' III~/ória refere-se, então,. a isso, e teI? sido sempre uma 11 1'"1I11Il"comumente, é confundida com o "filosofar sobre a 1\' Volt.rire, pelo menos, passando por Kant, Hegel, Marx, Dilli" :'('llllo 20 'estava plenamente
sobre a História.
constituída
uma "disciplinà'
" 1'I'"~.I(,lores sociais, filósofos ou historiadores li IC~.I.(:ollingwood, hlJ((IP
De-
de profissão --
Aron, Heídegger e muitos outtos, prolon-
'1I11'llgamando-a, muitas vezes, com as observações
sobre
IIIMII'"101"('xiSlcntes, sobre seu método e sobre o ofício de histoIVil
1l'.llmcnte em substituir
I )' (~.Issct
os historiadores
nessa elaboração.
não é menos explícito. Ele dirá, como já vimos, que
ti
ambos os t ip"6 iI
como já dissemo
dada e fazê-lo
uma terminologia
(11
II'III!
ti
de uma "teoria
a ciência maneja
uma realidade
E não seria demais
no fato de que
sociais, também
é a possibilidade sobre
SI'
forma em que se pode conhecer
E no caso das ciências teorizar
lugar, o quc
a um.conjunto de fenômenos,
à própria
\1111
referência
agora a insistir
Como vimos repetindo,
dificuldade
mensões,
de se constituir
Mas, em primeiro
tende, com algum rigor, por teoria? Fizemos forma sumária
ao curso da História,
IlIdl'lIMnd, os filósofos têm especulado
rico frente à nossa experiência. Conseqüentemente,
II'II/ido, uma finalidade
ciência em relação n St'U pn'lpl\ll ill
\
mio 11\1'1111'1111' de mais adiante voltarmos a isso, são imprescindíveis algumas "'0 Itlltllllgl ••ílcas clássicas. Foi WALSH, W. H. Introducción a Ia filosofia de M~_h 11:Sil-\Io XXI, 1968, o primeiro a referir-se a duas formas de filoso\t1.1"'1 in, I'sla chamada substantiva ou especulativa e a chamada "filoso11I1( ••.. 1111 Illlk.I. que trata das formas de conhecimento da História. A filoI" UOllltn 11111'1110 da llistória começa com o grupo de pensadores aos quais lul 1\11111 IIf\llIpOllcomo "filosofia crítica da História", à que chamou tarn1~1iI iil ,.11'111.1 d.I história" e que compreendia Dilthey, Rickert, Simmel e We11II\!i! • .I••• ql"lI~ 11.10 são filósofos, ARON, R. La philosophie critique'de Thistoi'11 111I" 111.10111' a/fcmnnde de I'histoire. Paris: J. Vrin, 1969 (há uma tradu111" ,1..) (I plÚpriO Aron praticou esse tipo de filosofia, ARON, R. IntroducI /,/,1\,"/11 '/1' /11 nistoria. Ensayo sobre Ios limites de Ia objetividad histórica, ii/" ,,'rI' 11'110\ ,ecil!l/les, Buenos Aires: Siglo XX, 1984.2 v. Pode-se ver um lil fi' o'lIl!11111110 completo de filosofia da história que inclui ambas perspec'li t~r\\' 111110, I.\ICAS. M, FilosofEa de Ia Historia. Madrid: Síntesis, 1994. A 11íltl tllll 1'1111111"1' muito diferente, CRUZ, M. Filosofia de Ia Bistoria. EI debate //Iill,"" '1//111 Y OlrllS pre)/)/emos mayores. Barcelona: Paidós, 1991. Também II"1it. i1.1 ) 111111\0(111 ti!' /11 1 tister!«. Madrid: Troua, 1993,(Enciclopedia Iberoah ~II.\.I, I IImlllt;I. r,) \
!W
(""1'/11I101
I/;o',h'" r 1''''IIIIOXmlia:
Parte 1
os r,,,,dameoolOs
Teoria, histôria e historiografia
,IIIp,I.llh.I ~obrc a qual se deve chamar a atenção. Há quem "não se pode fazer História se não se possui a técnica superior, que é uma In' ria geral das realidades humanas,
o que eu chamo uma Historíologia"'"
tuidade de parte dessa afirmação alerta sobre a necessidade
orteguiana
não diminui
de que a prática historiográfica
de teoria geral das ciências humanas
A fll ,I
o interesse de
W, 'I lU;,
da História é outra questão, C
da disciplina da historiografia.
daquele conjunto
de características
1~('Idl.I~de
III1-h~
terna que fazem com que uma determinada tinga de outras. Teoria disciplinar plo, a economia
parcela do conhecimento
será a que pretenda
caracterizar,
M'
com nenhuma
nar está em mostrar
di
lise da construção
hi~""illK! .\lilo\
111'
real.!"
,
saberes e se des-
.
dida com a metodologia,
é um.i ,111
tem sido muito menos (1111 IV
com a história da historiografia,
l,íili.lO I,k IlIlH\ estreita relação teórica entre a natureza
a primitiva
de camp~s que hoje se cultivam,
bastant~ entrecortado.
História, apesar das agudas considerações assinalar, para terminar,
e praticamente
11•.1111'11.\ b,lstantc
Nesse C.ISO,fC1lllil
Certas escolas, como a dos Annales já no
na realidade teoria disciplinar,
lI11hl;l~ 11,1prática
1(llH
os historiadores de finais do século 19 os que mais se preocuparam COIII.1til -, ticulação interna, o método e os objetivos do estudo da História c di" I" 0:[1 \1'1
que a pretensão
"história teórica" é um mero disparate retórico, demonstração
científica.
Sem dúvida,
vinculada
aos objetivos
111.1 dhnplin.1 ! {'"",IW'I\"I.did.ltk.
tem também'peculiaridadcs
1'01
o método
Sl'
pretcndidos
de método que
Convém, pois, expor agora algU11l.IS<..11 uc
1l\~I\I,"!>I' pI ('vi.ls sobre o método do trabalho
de Febvre.
de da
do niéuu!«
IIlü, AIIIII.I que existam princípios gerais de método que l,1 liíltlllt' lodo procedimcnto de trabalho que se prrtl'lId.I
li!
nada
fundamentais
de um,I
IIlIlhll, .\, vezes com muita confusão, que teoria e mctodo
.kr.iI,
sucessivamente
que não estiver acompanhada
1I1"I~III",IHI! os princípios
com a mero 1'11111(0
tem abordado
da historiografia.
!ílfllltl h"lmiográlico
do
assim como da necessária distill
oi~u~, I' preciso reforçar agora a impossibilidade
I
wldllll
gação da "temática" que a historiografia um desenvolvimento
IIlSTORIOGRAFICO
IlIlnlU~ dt' ~onhccimento,
ainda que o anterior. A teoria historiográfica,
história política à-amplitude
M fl'I'OI>O
f
da disciplina que estuda a História.
do e mais confundido
Conviria
Estainos, como é no-
Iln!~~1I .IIqllcllpica em que se «hibridam"
a forma como uma disciplina articula e ordena 5('11\(il
Esse tipo de teorização, evidentemente,
20, fizeram
1,11101", A mistura da prática, da teoria e da filosofia, por-
outra. O aspecto medular da teoria di« ",lI
colhidos para mostrar suas conclusões. No caso da historiografia,
liaridades
história teórica preteri entre "teoria da História"
IJIIVII.\ disciplina historiográfica.
lIi
por ('XliII
e a forma como organiza sua pesquisa, assim como os mcio«
experimentado
trabalho. A chamada
e anali
estudando
ou a psicologia como matérias com seu objeto específico '1"
não se confundem nhecimentos
em sua estrutura
so-
scntido, a finalidade da História ou sua íun-
11111111 11111 trabalho "híbrido"
Uma reflexão desse 111",)
próprias
O
liI' I,k 11111 punto de vista metodológico,
I1 tI
teoria disciplinar, que nesse caso seria a teoria da historiografia proprianu-ut-i se ocuparia
a duas tarefas: "uma
e "outra teórica, que os leva a refletir
"Iill'
nln c
gunda das tarefas teóricas, à que de forma genérica temos de considerar dita, uma teorização
hi~\()riadores se dediquem
"111,li ividade e sobre sua profissão". E esta segunda ,I",que se faria a partir de um ponto de vista Illosófi-
M'li
possua essa espl'l 1
que ele chama "Historiologia"
Dito isto, a teoria do conhecimento
()~
1l1,1I111~ hl\lúricos,
hiSloriog"HllI"
de inst i11111'11111
de \1111.1 cr"I("
Ilt- MlolSohr,», IIERMEJO IIi\RltERi\, J. C. HlIIIII,I ti, Mudrid: i\k.II, 1987. p. li. c 1:1//111111111'/1/'11 11)// /,, ;,iHl" /1/ I,,'liltllll 111)1/ 11 111 I/I~/()I ill /1'6/ ;('11. M,Idl id: Akul, 1'lI)I. ". '7,1(111', plirl!l 'VI'I, 1'\111111.1 tlll i0'1,11 1Il'lI te II"llltrmlu,(.Íóll" \10 \"Slllll\llk,,\li~ dOI'" ii
11111.ruuu I' tI\I."
I 'II.Ii')'," /1"
118 ORTEGA Y GASSET, J. Una interpretación de Ia l listoria UnivCI,~1I1, 1'11 1')111; Toynbee. In: Obras completas. Madrid: Revisto de Occidcntc-Allnnzu I:dilfi!ioil 1983. v. IX, p. 147-148.
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",,"11 r I""", "'w"Ji": 1 '''"'''"101
Parte I Teoria, história e Iristoriograjia
••
'li
do que depois nos ocuparemos de forma detalhada em toda a terceira IMII desta obra. O primeiro problema que esta análise traz é que a palavra método, I vezes também a palavra metodologia, como ocorre com ciência, com filom/i" com técnica e outras, aplica-se a tantas coisas e integra tantos contextos dll rentes que, cada vez que se quer usá-Ia com rigor, é preciso primeiro umn d puração do sentido em que é empregada. Não apenas na linguagem COIII'III mas também no terreno da produção filosófica ou científica, a palavra I1U'" do acaba sendo muito pouco unívoca. Em sua forma mais primária, na l'IlIltt lógica.rcuja alusão resulta sempre útil na hora de oferecer precisões, m~lllti quer dizer o percurso de um "caminho': o que, por uma associação sirnph não forçada, nos leva à idéia de "processo", "procedimento", maneira ou /111111 de fazer algo. A partir de uma posição um pouco mais restritiva, as fOllllllLi ções filosóficas e técnicas clássicas, por exemplo, falam de método COIIIO prograI?a que regula previamente uma série de operações que devem cumpridas e uma/série de erros que devem ser evitados para se alcanç.n li! resultado deterrninado'l'" ou como "um procedimento que aplica u rnn 111di' j racional e sistemática para a compreensão de um objeto"!" Método de uma determinada forma de conhecimento será, pois. o fl)l junto de prescrições que devem ser observadas e de decisões que devem M I il madas em certa disciplina para garantir, na medida do possível, um ((111111 mento adequado de seu objeto. Dizemos prescrições porque um método •..!!I conjunto de. operações que estã reguladas, que não são arbitrários. 111.1', iji têm uma ordem e uma obrigatoriedade. Mas dizemos também deciso •.•.I que um método não é um sistema fechado, mas sim que, dentro de SII.IIII,-I.;I de operações, o sujeito que o emprega deve decidir muitas vezes pOI ~ili! mo. Em todo caso, há determinadas prescrições às quais o método (''>1.1 Illdi soluvelmente ligado: as da lógica. As questões do método histórico foram também objeto de 1-I1.lIldl,1\ ção por parte de muitos historiadores a partir da segunda metade do ~llIil l
II~II
120
LALANDE, A. Vocabuiaire I, p. 624. ,
121
REYES, R. (Dir.). Terminologta cientíjico-social. Aproxintacián ..,1,,1'1I Anthropos, J 988. p. 609, A definição aqui IOO1adn de M. lto COIII'II !lil die ot Social Scieuccs.
technique
et critique de ia Philosopliie.
é
PolI j,
1'1)
I
II,II.:~I , ",,~
(lS
11111
\I,11I1"m'nlo em que a historiografia começou a se (0111, 1I.1i1l,1,llIlÓlloma e seus estudiosos tenderam a se prolis fCIISll1 C~ 11.1 •• universidades. Os debates sobre () método !llll .\,I~ 1"'''LllIisas sociais foram sempre prcsididos por um.i nll\i'\"I.I\.IO de que O que existia realmente, c unicamcn /111que estava à disposição de todas as ciências sociais
'''li
'li,
li" 1IIIIIl'Xtos determinados; ou a consideração de 'lu" lI!lIil !Ii~llplín,1 dCl1tlfica, a historiografia, que era a prutic.m II\IIIII'IIIIIII\.'.em função disso, esta disciplina reclamava UIlI d,l '1Il kd.\de. Veremos que essas alternativas nno S,IO, ~IIlIIknles: existe um método próprio da pesquisa d.1 lU \1'1111'0,uma perspectiva histórica de toda pesquisa do \I11hl 1II'''I','diva sociológica, económíca ou politológic.1 d,I I~ II IlIIlhl'(.Ímcnto da história e seus problemas n.ío M'
\I iH~IIIIIII. " 1111'111I10 d.1 pesquisa histórica é, sem dúvida, urnu 1'.11It~ luh,I d,l ~oul'dadc, da pesquisa social ou, se preferirmos, tb Ocl,III'IIII.IIIIO, o método do historiador coincide. em \)Ilil DIIIIII~drsdp\inas como a economia, a sociologia ou .1.111 !HI'III, ( ) hi~lOriador estuda, como o fazem os esttrdlO\os Jilh,.,~, /I'/ltl,/lC/lOS sociais. Mas existe uma peculiarid.ldl' qur lí,dllp,I,llllO 11\'" cspccificidade inequívoca e é () ["10 dt, qlH' IIlIIIm 1.1111' sociuis scmpre em relação com seu coinno! 11"'/1'/1 01111,I I\"t' 11.1historiografia é normal que mio possa hólVt'1 1NtI"Ilt'IHu (\•. "11\"t'I v.içao direta" da realidade. Por essa c OUII.I'>1;1 ••••Ilh •• ' íl'lll ~IIrhltll iOI\rll!ia é, sem dúvida, a disciplina socia] que li, 111111111I1i'llIdo menos formalizado, menos estruturudo solu
IN~III"I,III1I1S. l'Xi:.le cspcci fica meu te um método
Iri"lúlÍlIl, 1',
Illívd '11H,.1!'esquis., ~1()b.11do processo lelll!'()\.rI d.ls.,1ll ktl. ílith ti dI' lotlll" ilS \ll'squis.ls e por isso n 1lIl'lodololll.I do \1ll1
Parte J Teoria, história e hisloriograJia
tem tendido com bastante freqüência dos os fenômenos
:1'/'/11I10 J J tistôri« c his/oriograJiIl: os [undamentos
a fazer abstração do suceder em que 111
e processos sociais estão imersos. A pesquisa da História
I{llillll~ pr cjudicaram
no passado o progresso disciplinar
IIlli """h' de informação
nunca é neutra, nem é dada de antemão.
sempre que se entenda que é uma pesquisa do passado, estará ligada a alguum
hl!jdl~'" absurda a idéia da "finitude"
peculiaridades
tillii""
e constrangimentos
que não se apresentam,
ou não se apresou poli
tam da mesma forma, em outras ciências sociais. De tais peculiaridades ríamos destacar os problemas temporalidade
derivados
da observação
e os que provêm da globalidade
tarnos, portanto, pode conceber. A primeira
diante da realidade com o maior número de variáveis qll! especificidade
e a mais censurada
sobre a qual o historiador
que o histórico
administrativos,
etc. Tem
1.11
SI'
correto e que o histórico 11,11,
o passado mas o temporal, porém, o fato é que as fontes dnijj
,nit
formação indiretas, o que constitui os vestígios, restos ou testemunhos, matéria informativa normal do historiador. clássico da documentação
to, não seja hoje o único, e se aproximam sido o arquivo. A característica atividade do passado humano dos pela própria
drásticas no futuro,
de todos esses materiais que se referem
atividade do historiador,
suas fontes, elas já se encontram certo, nem na concepção
mudanças
11lIill
a encoutu: "
que deve limitar-se
feitas. Isso não é, tarnpouco,
1[1
nem pll'l'dl
é a ciência social que não pode
1"/1/1'/
absollll,""NiI
do gue significam os dados, que nunca Silo II',dl.l
nem na própria natureza do histórico, pois existe UIIIII/Ii
ria do presente cada vez mais afíançada, onde a questão se apresenta di' 111;111 ra muito distinta. A ligação do método historiogrãfico
ao assunto das
que durante muito tempo a maioria dos tratamentos toriográfico
limitou-se
JO/lIL'~
~
deve, como qualquer
outro
suas fontes, ainda que se encontre no tempo. Pesquisar a
'" mudo algum, transcrever o que as fontes existentes dizem ... h'IIt\lv('1 (' explicável
final do método de pesquisa, tem
o que as fontes oferecem como informação. do método
historiográfico
é a
IlIlwr~IH'1 tiv" essencial da temporalidade como natureza do histó1i1c'lmlll historiográfico
correto é o que entende que investigar e
111~t(lII,111,10é meramente
descobrir coisas ocorridas
no passa-
\(' h.rviu perdido, mas dar conta de como as sociedades se
••111('111 110tempo. Daí que se tenha dito que atuar sempre de 111111 IfI/llI/oR;lI é outra das características 111,1'qll(' .1cronologia
mais determinantes
de forma alguma representa
do
por 'Si rnes-
IId,,,t.-. N.lO há história possível que não esteja pautada pela su-
histórica, ainda que, em ilhMll1I
é que não podem ser procurados
Diz-se, por isso, que a historiografia
des espontâneas,
também
11011,1 J(',lIizá-lo à medida que retrocede
I ia
não pode ser outra coisa scru«
passado"; veremos que isso não é inteiramente
a depósito
h~I,II,"construir"
!Ii!lhl d,l\ grandes determinações
relatos escritos, relatos orais, textos de qllillqlll'l
gênero, vestígios de todo tipo, documentos
. precisamente
1II1
trabalha é de caráter muito peculiar: restos 111.11
riais de atividades humanas, tradicionalmente
do método historiogi
de suas fontes de informação. A "rnureu
das fontes da História, tal
.uuores de preceitos como Langlois e Seignobos. Mes-
1('11'11 vi~l.l não pareça, o historiador
1II11""11 i.t, que é o resultado
co reside, sem dúvida, na natureza
tendido
dJ
e documentação,
de todo o devir histórico. I
011
da histo-
lall 1''111
clássicos do 111(01011" I1
a tratar de forma quase exclusiva o problem, Ik
!' 11 estabelecimento
de "épocas" históricas tem sido tradi-
1111,1 d." lu nçoes da historiografia,
mas a cronologia,
de forma
!ti 1I1"11111('111" do tempo histórico e não acaba nela a necessidade dll IIIl'todo historiográfico
de considerar
todos os fenômenos
Ii I,lvd tempo. 1'11W.lIllk aspecto, no que diz respeito às particularidades ,\lI
Llto de que o processo histórico
Ilhll'lllr, IlIst;\ncia humana
de qualquer
do
sociedade,
específica, tanto como a própria his-
!ti IIlIiv!'",d, suo realidades globais. Quer dizer, a história de uma 1111(1 tHII /11 lor/(/s as atividades que os homens realizam e que estão (1~1I111,1 uulissolúvel. A história de todas as sociedades do muneJ1~11l Ollt ru também entrelaçada, e!IIII"\' global.
a problema
ou tende a estar.Dessa
do método histórico
for-
reside aqui
tOl
tes da História". E isso também deu lugar à criação do conceito dI' '\ jtlll i:1 xiliares da História". Essa falsa idéia de que a [oute é tudo pM., o lIi"IIIII.1
Ipll,"
!li". I,III"U'III1I1,Ibadiante lima atenção especial à natureza do tempo histó-
95
Parte 1 Teoria, história e historiografia
Capítulo 2 em como dar conta ou como representar essa história global, o que contluu , sendo um problema não resolvido, por mais que a idéia de uma história //11/1 tenha sido proposta
muitas vezes. Na prática historiográfica
concreta, o qll
ocorre com maior freqüência é o contrário: a fragmentação da história eUI tores, em especialidades, que ameaçam com fraturas a unidade da discipllu. mas que são inevitáveis na prática científica de hoje. . Um último ponto é a preparação técnica do historiador
E O DESENVOLVIMENTO DA HISTORIOGRAFIA:
a que nos Id
rimos anteriormente. Mas o fato é que um dos problemas mais comuns 'li! afetam a preparação e a prática, não somente do historiador mas de qu.ilqu. pesquisador social, é a freqüente confusão entre método e técnicas. Para (,,,_L, recer esse assunto, que é importante
"
•
na prática
científica, dedicamos
S GRANDES PARADIGMAS
111:,
adiante espaço suficiente. Podemos aqui adiantar que o método é um (()III"I
o incluídas sob o nome das ciências morais e sao uma parte delas.
to de princípios sempre ligados à teoria, enquanto as técnicas, que são II~"U realmente devem se- adaptar em cada caso à natureza do objeto invc/itlf'"ld podem ser compartilhadas e são intercambiáveis entre diferentes disciplur« Uma boa imagem do que seria a preparação técnica de um "P('\'IIII dor social" foi descrita por J. Hughes nos seguintes termos: "consist i1'1'1 li' malmente em aprender a dominar as técnicas do questionário; os 1'1ill( 11'1 do esquema e da análise da pesquisa; as complexidades da verificação, If I' I' são e correlação estatísticas; análise de trajetória, análise fatorial e, ti!lVI
JOHANN
IIistorik ... (iII' 11'1/' SI/lei
sl/flcientemente estudada a história de nossa ciência.
1,1., nllltlm/el, de preferência, o aspecto externo ... mas não o desc;, volvimento interno da pesquisa e da concepção ";516,;('(/,
programação de computadores, formatação e técnicas similares"!" 1'11111 pese o tom irremediavelmente tecnicista, inclusive mecanicista, dess,1 ti ção, é indubitável que nela se faça um inventário de habilidades sei" II~ til! não se concebe hoje o treinamentoda matéria social. t, tendo em vj~ll' III! historiografia é uma forma de pesquisa social, seria possível pcns.u q\ló I habilidades
se incluiriam
no perfil da formação
de um historiador!
A 111
GUSTAV DROYSIlN
ERNST BEIlNIII'IM
Lehrbuch der historischen Mcthmk .., IllYf'ltlllltlS, este não é um livro de História da Historiogral1.l. In
í'
!,Illll o pluuslvel que o propósito
de estabelecer uma tcoriu
realidade atual, isso poderia não passar de uma perigosa utopia 0\1, lill", clusive, uma profanação ... No entanto, ainda que custe a alguns, () Iuuu« li
ItI I",h 1I10f\1.ifiu possa ser levado a cabo sem uma considcruçao.
porá muitas dessas técnicas também ao historiador. É evidente q\lt ti impor algumas outras, por exemplo a prática da exploração do .lIqllll'lI
flUI
outros tipos de fontes não escritas. Mas seria nos enganar uma suficiente
preparação
metodológica
11l1o
.\111111111 I1
e técnica ocupa um IIIW" (111111
mental no horizonte do futuro da tarefa do historiador. nos condenarmos a fazer uma "má" História.
O conu auu ~lltldi
{(liit.,I. dm (ll~sl'llv()lvimentos prévios do pensamento
e da
ult~';1' ("('gar Õ situaçao atual. A historiografia,
COIllO
social. México: JlCH, 11JI17 \', ~\II
",,\! i a
tO
1i\11·M~.11ravés de um processo cuja análise não pode M'I
11111110 ü,ml 111,11',1111
l'xplk.1I tanto os avanços como as cart:ncias de
lima
disl i
li llll ,111"1 101111,11, tem pouco menos de dois séculos de cx ist~1lli,\. 1 I !nU
1>1 dl'Vl' estur (lcompanhada
11M ,I llilltt"lli,1 do surgilllcllto
li, 1\1',1111 \I'f\I,IIli\ 123 HUGHES, J, Lajilosofí« de Ia. ;/111('51;R(/(;(\II
tal
é,
da história quanto o (01111.\110 da disdplilHI
e dcscnvolvimcnlo
pOI t.uuo, urna tarefa prdilllillllr
c illl'vitilv(·1.