AULA cof 51

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Description

(01) O que interessa não é você adquirir uma técnica que vai, como diziam os escolásticos, dirigir o seu pensamento, mas você adquirir o hábito de pensar, meditar muito seriamente sobre as dificuldades do pensamento humano e do conhecimento em geral. A consciência dessas dificuldades é bom que você a cultive até mesmo que isso se torne um pouco paralisante — se torne uma força inibidora — não tem importância, com o tempo esta inibição revelará toda a sua utilidade. (02) O que eu expliquei a vocês a respeito da simples apreensão, é, em primeiro lugar, que ela não é simples. Qualquer tratado de lógica lhe dirá que a simples apreensão simplesmente capta uma essência da qual ela nada afirma nem nega. Mas nós não podemos esquecer que desde o tempo de Aristóteles já se tinha a ideia de que aquilo que você apreende no objeto não coincide inteiramente com o objeto, mas somente com alguns aspectos dele. A substância é aquilo que pode ser concebida então em si mesmo, não como qualidade nem como parte de um outro. Ora, isso não define substância absolutamente! Isso é apenas um indicador, é uma maneira, é o critério de reconhecimento e não propriamente uma definição. (03) O que é uma essência? É o que uma substância é independentemente da sua existência ou não e independentemente do seu estado, etc. Acontece que você jamais verá uma essência, não existem essências na verdade, o que existe são substâncias, são entes reais. A essência é apenas a sua a resposta à pergunta. O que é isto? tomado na sua simplicidade e independentemente de se considerar se a resposta que você obteve é adequada ao objeto na sua totalidade ou não. A lógica antiga dizia que a simples apreensão entre várias classificações que ela faz da simples apreensão, uma delas é, se a apreensão é compreensiva, quer dizer, abrangente ou não abrangente. A simples apreensão abrangente somente Deus tem. Porque seria a apreensão de uma essência numa substância acompanhada imediatamente de todas as relações que esta substância pode ter com todas as outras substâncias do mundo. (04) Ora, como só Deus pode ter a simples apreensão compreensiva, o que a lógica fez desde o início? Desistiu disso e passou a lidar apenas com as essências puras, e começou a estudar então as relações que mentalmente nós podemos estabelecer entre várias essências puras e daí vem toda a silogística, todas as possibilidades de predicação e combinação de conceitos que você tem. Se a lógica alcançasse seus últimos resultados o que que seria? Seria uma técnica que dirige a razão no ato do conhecimento. Mas a lógica tal como nós a conhecemos, tal como foi desenvolvida por Aristóteles, pelos escolásticos e pelos lógicos modernos, ela não chega a ser isso de maneira alguma, mas alguma coisa ela é. O que que ela é? Ela é um estudo da estrutura da possibilidade, tal como se expressa nas combinações possíveis entre essências puras. Então nós temos de um lado o mundo da experiência que nos chega através dos sentidos internos e externos, na sua imensa, inesgotável e irredutível complexidade, e do outro lado nós temos uma série de esquemas de possibilidades, e o que nós chamamos de ciência — prestem bem atenção que isso aqui é fundamental — Tudo o que nós chamamos de ciência consiste em transpor o mundo da realidade para o mundo da possibilidade, quando nós sabemos a que tipo de possibilidade, a que ordem e a que grau de possibilidade pertence um determinado fato ou uma sequência de fatos, nós dissemos que temos um conhecimento científico deles. Porém todos esses elos de [00:20] necessidade se verificam não entre entes da realidade mas entre essências puras; por exemplo, mesmo na própria lógica, quando nós pegamos duas premissas, duas frases e dizemos que dada a premissa maior e a premissa menor se segue inapelavelmente uma conseqüência, nós estamos fazendo abstração do uso real da linguagem.

(05) o conceito básico de qualquer ciência é o elo de necessidade, e necessidade vamos dizer, é o contrário da possibilidade, é impossibilidade de alguma coisa. A necessidade se expressa mediante uma impossibilidade. Ou seja, o mundo em que nós vivemos, ele não se compõe nem de possibilidades e nem de impossibilidades, ele se compõe de fatos e coisas. Os fatos e coisas jamais nos aparecem sob a forma de necessidade absoluta ou de arbitrariedade absoluta, nunca temos nem uma situação nem a outra, é por isso que as discussões sobre determinismo e livre arbítrio em geral são absolutamente inócuas, porque não há nada na experiência que corresponda nem à uma coisa nem à outra. Este fundo da acidentalidade é o que dá para nós o senso da concretude por trás, por baixo e por dentro das essências puras com as quais nós lidamos. E esta tensão entre uma essência pura que está bem definidinha, arrumadinha, recortadinha como uma figura geométrica e um fundo de acidentalidade indefinido, essa tensão é que é o problema fundamental do conhecimento. Porque se nós lidamos só com essências puras então é só entregar tudo para um computador, que ele faz o resto sozinho. (06) O ponto que estou querendo chegar é o seguinte: o portador do conhecimento é a consciência individual vivente, e esta é capaz não apenas de praticar abstração em vários níveis, mas de praticar o contrário, praticar a concreção. A capacidade de abstração é uma coisa tão imensamente louvada ao longo dos séculos que frequentemente nós nos esquecemos que, sem a capacidade contrária, ela não vale absolutamente nada. Ela vai criar apenas uma série simulacros de conhecimento sem relação com o mundo da experiência. Então, nós já podemos tirar aqui uma conclusão de ordem metafísica: realidade é precisamente aquilo que não chega a se reduzir a essas formas, a esse conjunto de formas. (07) Em suma, o que foi esquecido com muita freqüência na tradição filosófica e científica é o seguinte: o sujeito e o portador do conhecimento é a consciência humana individual. O resto são apenas registros escritos, gravados ou qualquer coisa, ou seja, é conhecimento potencial. Conhecimento mesmo é só aquele que o sujeito humano concreto consegue ter efetivamente; aquilo que eu consigo saber, que você consegue saber e que o outro consegue saber. (08) Da simples apreensão nós puxamos um negócio que chamamos “conceito”, que expressa o que, em lógica, chamamos o “termo”. Um termo não é uma palavra, ele pode ser duas, três ou quatro palavras; por exemplo, quando você apreende a noção de este homem, esta pessoa: são duas palavras mas isto é um único termo. O termo traduz a simples apreensão que você está tendo não de ser humano em geral mas desse ser humano tem particular. Uma coisa é o conceito de uma idéia que você teve, e outra coisa é o conceito da coisa. (09) Quando eu penso este conceito, eu posso pensá-lo como conceito do gato ou como puro conceito, um conceito que está na minha mente; e é isso que os lógicos antigos chamavam de primeira intenção e segunda intenção. Quando eu penso um conceito com a intenção de referi-lo a um objeto real, isto chama-se primeira intenção. O que eu estou fazendo aqui? Estou falando do conceito e não do gato, então isto se chama segunda intenção. Na passagem da primeira para a segunda intenção nós atravessamos universos inteiros. E a maneira correta de nós conservarmos o senso dessa latência é uma tensão. O que é esta tensão? É a consciência permanente do hiato entre o meu conceito e a realidade. Sem este hiato o meu conceito perde toda realidade, ou seja, nós só podemos dizer que estamos pensando a realidade quando sabemos que não estamos pensando a realidade. Este pensamento de dois andares – por um lado eu tenho aqui o esquema

lógico que estou montando, mas por outro eu tenho, dentro de mim, o senso, o sentimento daquela latência e, portanto, da inadequação do que eu estou dizendo. (10) Todos estes conceitos usados em lógica só valem alguma coisa se você tiver, permanentemente, essa espécie de inquietação, ou de tensão, para adivinhar o mundo da experiência real humana por trás desses esquemas verbais usados para transmitir isto ou aquilo. Ou seja, a melhor maneira de entender o que as pessoas estão dizendo, o que um filósofo está dizendo é saber que você não está entendendo, que está faltando coisa e que muito terá de ser adivinhado. Se você se recusa a esta adivinhação então você saiu do mundo da experiência real e entrou no mundo das puras relações lógicas ente essências. De modo mais particularizado, toda e qualquer explicação científica, do que quer que seja, deixa em aberto, a possibilidade de outras explicações em número indefinido, ou seja, não há uma explicação científica terminal de nada! Não há e não pode haver! Isso quer dizer que, toda a ciência do mundo, somada, organizada e arrumada, ela continua sabendo menos que qualquer consciência individual vivente, mesmo que seja de um sujeito idiota. Um idiota sabe mais, concretamente, do que toda a ciência universal, porque ele tem a percepção da realidade concreta; e esta é sempre imensamente mais rica que todos os esquemas de possibilidades que nós possamos montar. Então, se eu puder, desde o início da sua formação, infundir em vocês este respeito pela realidade existente e fazer vocês entenderem que o próprio conjunto dos conhecimentos humanos não é senão um item a mais dentro dessa realidade – um item criado pelo homem, evidentemente –, mas ele não é senão uma parcela a mais, um elemento a mais; e desenvolver em vocês o senso de que este respeito pela realidade efetiva que chega até nós é muito mais importando do que o respeito pela totalidade dos conhecimentos existentes, então terei chegado a algum resultado. O universo é um depósito de conhecimentos. Se ele não fosse um depósito de conhecimentos, se não houvesse nele uma sugestão de ordem, nós jamais poderíamos, pela simples força do nosso cérebro, criar esse conjunto de esquemas de possibilidades que nós chamamos de ciência. Mesmo porque o cérebro não é uma invenção da ciência, cérebro é uma coisa física que existe. (11) Vejam que quase todos os conceitos que nós usamos em Filosofia e Ciência são figuras de linguagem tiradas da nossa experiência do espaço-tempo. Como nós podemos ser imbecis ao ponto de supor que todo este conhecimento que nós criamos foi pura criação humana e que somos nós que estamos botando ordem em um mundo caótico, como supunha Kant? Eu tenho certeza, hoje, que todo o princípio da organização da nossa mente é imposto sobre nós pela estrutura do universo, pela estrutura do espaço-tempo – não pela estrutura do espaço-tempo físicos que se estuda na Física, mas do espaço-tempo da experiência real. É justamente por causa desta força que o universo em torno tem de conter conhecimentos, contê-los organizadamente, oferecê-los a nós de alguma maneira, e de conservar o seu registro pelos séculos do séculos. É por isso que nós conseguimos pensar. Aristóteles dizia que tudo que nós predicamos, tudo que nós dizemos, está contido em uma coleção relativamente pequena de possibilidades que ele chamava as categorias. Ou seja, a primeira coisa que você pode dizer de algo é o que aquilo é. Por exemplo: isto é um gato, isto é uma casa, isto é uma mesa e assim por diante. (12) Aí nós já temos um problema terrível: quais substâncias existem e quais apenas podem ser tratadas logicamente como substâncias sem sê-lo realmente? Podem anotar isto, porque 80% das discussões em Filosofia são exatamente sobre isto. O conceito de substância, tal como está explicado em Aristóteles, está bastante claro, porém, o fato de

que nós possamos dar nomes a coisas que não existem, que nem são coisas e tratá-las como se fossem substâncias já nos cria um problema terrível. Se nós não pudéssemos fazer isto nós não teríamos pensamento abstrato, mas como nós podemos, segue-se uma série inumerável de confusões. Por exemplo, o sujeito usa uma palavra assim: a História nos ensina que...Opa! Espere aí! Ele está usando a História como um termo que designa uma substância. A qual substância corresponde exatamente este termo História? OBS: REFLEXÃO INTERESSANTE SOBRE O CONCEITO DE HISTÓRIA (1:05) REFLEXÃO SOBRE A TEORIA DA EVOLUÇÃO (1:19) (14) Quando nós entramos no terreno das teorias históricas, sociológicas, políticas etc., então aí a coisa vira um Deus nos acuda. Em geral, nessas discussões, o que nós estamos vendo é o uso de figuras de linguagem que expressam expectativas, anseios e sentimentos de certos grupos ou pessoas, mas cuja relação com a realidade da experiência é extremamente problemática. rarissimamente você vê alguém que está empenhado em entender realmente o assunto do qual está falando. Isso não quer dizer que essa multidão de livros não contenha conhecimentos úteis, verdadeiros e até essenciais, mas, em primeiro lugar, como regra geral você deve considerar tudo isso como discurso poético. São figuras de linguagem para tudo quanto é lado: uma coisa quer dizer outra, que quer dizer outra, que quer dizer outra, e cujo sentido último evanesce, desaparece em névoas, e, no entanto, nós conseguimos mais ou menos nos orientar nesse mundo. (16) A própria inteligibilidade dos conceitos básicos de uma ciência é uma coisa altamente problemática. Então vamos partir para a última instância e dizer o seguinte: toda a ciência existente é uma tentativa de explicar, como diziam os latinos, obscurum per obscurus, uma coisa que já está obscura por outra que é mais obscura ainda. (23) O que contém conhecimento é a consciência humana. Então, vejam: quando Moisés subiu ao alto do Sinai, o que Deus deu a ele? Um texto. Parece que não funcionou. Na outra vez o que ele fez? Ele veio não como livro, veio como pessoa, veio pessoalmente. Acho que isto aqui é uma lição que a gente não deve esquecer. A origem, o centro, o topo da nossa civilização, não é um livro, não é um escrito, não é uma doutrina, é uma Pessoa. E pouco importa se você é cristão ou não, dá na mesma. Continuamos vivendo dentro de um círculo cujo eixo é uma pessoa. Também, acho, que a educação deve ter em vista isto: qualificar pessoas, fortalecer pessoas. E não simplesmente meter uma idéia na sua cabeça. (30) Agora pergunto: por que tenho que ter um intermediário como a Igreja, formada por homens, para interpretar aquilo que já tenho direto de Jesus Cristo? Olavo: Primeiro, porque estas palavras chegaram a você através da Igreja, e não diretamente; diretamente, seria só se Jesus Cristo aparecesse na sua frente e te dissesse. Estas palavras foram registradas por esses mesmos homens cuja interpretação você está desprezando. Se não fosse eles, não teria Evangelho algum! Então, o Evangelho é obra da Igreja e, note bem, em parte alguma se diz que aquilo foi “ditado” por Deus: foi inspirado. Inclusive, nos trechos que são reproduzidos textualmente, que são palavras de Nosso Senhor Jesus Cristo, se você somar tudo o que Jesus Cristo disse, que está lá textualmente — em algumas edições vêm até em vermelho — não dá vinte páginas. Você acha que Jesus Cristo disse só isso? Não, ele disse muito mais; no entanto, o que foi guardado e registrado foram estas palavras. Portanto, houve uma seleção. Quem fez

esta seleção? A Igreja. Autorizada e inspirada por Nosso Senhor Jesus Cristo. Quando você está lendo a Bíblia você ouve a palavra de quem? Da Igreja. Não é diretamente a palavra de Deus; a expressão “palavra de Deus” é uma metonímia, uma figura de linguagem. Palavra de Deus foi só aquilo que Deus disse diretamente; o que ele inspirou e autorizou não é diretamente d’Ele, mas tem a Sua autoridade através de uma autoria humana, que é exatamente a Igreja. Então o que você está lendo é o material da Igreja, e não tem saída: você pode ser batista, metodista, católico, “católico do b”, ortodoxo, isto é um simples fato histórico; não tem como escapar disto.

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