AULA cof 53

  • Uploaded by: Diego Villela
  • Size: 105 KB
  • Type: PDF
  • Words: 1,876
  • Pages: 4
Report this file Bookmark

* The preview only shows a few pages of manuals at random. You can get the complete content by filling out the form below.

The preview is currently being created... Please pause for a moment!

Description

(01) Em primeiro lugar, vocês não podem esquecer que todos os conceitos que são utilizados na lógica são válidos na medida em que você está falando da função que os vários termos desempenham no raciocínio, e somente sob este aspecto.

No estudo da própria lógica nós verificamos que as ciências nunca lidam com objetos reais; é impossível uma ciência do objeto real. O objeto real é sempre o objeto material tal como ele aparece na experiência, e todo objeto material efetivamente presente tem uma multiplicidade de aspectos e de dimensões que tornam impossível uma ciência que o considere na sua concretude. (02) E finalmente existe e distinção puramente mental, que você só distingue mentalmente e não corresponde a uma diferença real na estrutura do indivíduo. Um exemplo característico disso é que todo mundo tem um nome e um sobrenome. O nome o designa enquanto indivíduo distinto e o sobrenome o designa enquanto membro da família. Mas o indivíduo distinto e o membro da família não são a mesma pessoa? Todos os objetos que são estudados pelas várias ciências são obtidos através de distinções que podem ser reais, reais-mentais ou puramente mentais. (03) Tome o ser como sinônimo de existência em geral. Dá pra você entender o ser em contra-distinção ao nada. De um lado há aquilo que existe, e do outro aquilo que não existe, nunca existiu e nunca existirá. A existência é a pré-condição de qualquer conhecimento possível. Todas as ciências, todo o conhecimento que você tenha, versam sobre algo que existe. Se o objeto de uma ciência não existe, nunca existiu nem pode existir, essa ciência seria o que se chama meontologia. O que é então a meontologia? É o estudo do não ser. Nós podemos até estudar o não-ser por contra-distinção ao ser, mas não em si mesmo. Portanto, quanto mais você estuda e usa essas distinções todas pelas quais começa a lógica, você percebe que, em vez de elas darem uma estrutura ao conhecimento, elas também tem de ser estruturadas. É por isso mesmo que eu não acredito que possa existir uma lógica sem considerações ontológicas gerais. (04) O objeto da lógica, no fim das contas, é somente isto: o raciocínio considerado não como fenômeno psicológico real, mas apenas como estrutura e ordem. O próprio objeto da lógica não é um objeto material. Ele é obtido através de uma série de abstrações. (05) Também não esqueça que não há nenhum jeito de você separar qualquer sentença humana do fato de que o discurso tem aqueles quatro níveis que nós já estudamos na teoria dos quatro discursos. Tem um nível poético; um nível de comunicação ou retórico; um nível dialético, na medida em que cada sentença se opõe à sua contrária; e finalmente ele vai ter uma dimensão lógica, ou seja, ele representa algo dentro da estrutura da ordem do raciocínio. (06) Se não existissem a verdade e a beleza infinitas, também não existiriam as finitas. A coisa mais necessária no mundo é o infinito. Esta é a primeira noção que todo mundo tem de ter: se você não compreende que o infinito existe necessariamente, e que tudo o mais pode ser contingente, então não dá nem pra você começar a raciocinar.

Ora, existem muitas atividades humanas que simbolizam este senso de direção – entre as quais a Filosofia, a Moral, a Religião etc. Mas elas apenas a representam; elas também são símbolos, não são a realidade. Isso quer dizer que qualquer dessas atividades na qual você se encaixa para ir na direção da verdade eterna, beleza eterna que você vislumbrou, cada uma delas tem, com este seu referente metafísico, por assim dizer, uma relação ambígua. Assim como todo símbolo tem uma relação ambígua com o seu significado, porque ele indica o seu significado, mas não é exatamente aquilo. Portanto, nem mesmo a religião é isto que você está buscando. A filosofia, então, nem falar. A filosofia sempre foi a busca da verdade, mas por entre o erro, a estupidez, a ilusão, a mentira, o auto-engano etc. Ou seja, não há nenhuma atividade humana que satisfaça esta finalidade, mas todas elas servem para isso na medida em que você se recorde dessa experiência e entenda o que ela lhe mostrou e o que é para ser buscado. É este o principal critério de diferenciação dos seres humanos: há aqueles que recordam, e há aqueles que se esquecem. (07) Você ter ao mesmo tempo a clareza no plano do raciocínio, que não confunde uma substância com seus atributos, com seus acidentes, e também não apaga a existência dos acidentes, da complexidade toda; e por outro lado você guardar a consciência metafísica de que essas coisas, consideradas no plano da infinitude são meramente adjetivas, isso aí é uma tensão, que eu considero um elemento essencial da inteligência humana. [0:40] Quando você perde essa tensão, você se abre para aquela dimensão de infinitude, e então tudo lhe parece inexistente e irrelevante. (08) Para um lado, você está aberto para o infinito. O que existe para além do infinito? Nada. E para o outro lado, você está aberto para uma dimensão de finitude imediata abaixo da qual também não existe nada. Esta é a régua da inteligência humana. Como preceito de método, nós podemos adotar esta regra: você só está antenado, sintonizado na verdade quando está vendo as coisas com esta amplitude. E é isto também o que deve orientar a sua compreensão de todo o sistema das ciências, de todo o sistema do conhecimento humano. Tudo vai ter um determinado lugar dentro desta escala, que vai do infinito para o finito. O que também significa que todo o conhecimento humano só pode ter algum sentido se ele for considerado dialeticamente. O elemento opositivo, paradoxal, está presente em tudo, e, se amputado dele, o conhecimento está totalmente coisificado, transformado em um fetiche. As pessoas querem entrar em discussões teológicas a respeito da pessoa do Nosso Senhor Jesus Cristo. Ora, a pessoa de Cristo condensa exatamente essa mesma tensão que eu estou mostrando. Quando se diz que ele é homem e Deus ao mesmo tempo, que tem duas naturezas inseparáveis, a mentalidade simplória pode dizer que isso é impossível; eu digo que só isso é possível. Se não fosse assim, as duas dimensões seriam separadas e nenhuma delas poderia existir como tal, nem o infinito poderia existir. Se nada existe de finito, então o infinito só poderia existir como potência nesse caso. (10) Então, se nós perguntarmos o que é propriamente a Filosofia, eu digo que é sobretudo uma reflexão sobre este ato do conhecimento concreto. Ela tenta elucidar o que se passa no ato do conhecimento para que ele se torne mais consciente de si mesmo, e portanto possa ser vivenciado com uma consequência clara de todo o seu alcance, de

toda amplitude do seu significado e, por assim dizer, da importância interna que tem o mais mínimo ato de conhecimento. (11) E porque o vizinho não fez aquele cursinho, não leu aqueles livros, então você começa a se achar importante porque tem aquele conhecimento e o outro não. Na quase totalidade dos casos, aquilo que nos é vendido como autoridade científica não é nada mais do que isto: um grupo de pessoas que acreditam em certas coisas em comum cujo significado maior não são capazes de dizer, cujo encaixe ontológico desconhecem totalmente, mas que lhes custou um bocado de trabalho. Isso lhes custou a mensalidade da Universidade, e eles têm de valorizar porque isso lhes dá um prestígio social tremendo – é assim que começa a corrupção no mundo da ciência. É claro que os melhores praticantes de cada ciência não caem nisto. Eles têm a humildade de reconhecer a nebulosidade ontológica daquilo que estão dizendo; eles sabem que não entendem o que estão dizendo. Mas o praticante vulgar da ciência nunca pensa nisso. Ele acredita que está num mundo de realidades muito sólidas. Nós pegamos as inteligências especializadas; que são especializadas precisamente em autolimitar-se e afastar-se ilimitadamente da consciência ontológica geral e valorizamos exatamente isto, que é uma espécie de automutilação; ou seja, valorizamos mais as habilidades especializadas do que a sabedoria! Notem bem que este não é um discurso contra a especialização científica – o que eu estou falando não tem nada a ver com especialização científica! Ao contrário, a especialização científica subentende a existência de um quadro ontológico geral dentro do qual as espécies se especializam! O que estou falando é o contrário: quando aquela espécie tomada em si mesma adquire a presunção de ser a totalidade do ser e nega tudo o mais. Isso começa no instante em que Bacon, Descartes, Galileu e outros fazem abstração das qualidades sensíveis e dizem que vão estudar a matéria – o que é uma coisa inteiramente absurda! Se só o que sobrou foram propriedades matemáticas, não há matéria alguma, meu filho! As entidades matemáticas não têm propriedades físicas reconhecíveis. (13) Então o conhecimento humano é, de fato, limitado a uma certa apreensão de um conjunto de fenômenos limitados no qual ele entrevê, simbolicamente, o infinito. Tanto que a ciência moderna se impôs, não pelos seus resultados cognitivos, mas pelos seus subprodutos técnicos. É claro que, do ponto de vista cognitivo, esta direção que Galileu, Bacon e outros deram ao conhecimento é perfeitamente estéril. Ela nunca pode chegar aos seus objetivos, jamais. Mas, no caminho, você vai tirando um ou outro proveito de ordem técnica, que não é o objetivo dessas ciências, mas que é, por assim dizer, um fringe benefit. E estamos nós até hoje curtindo esta modalidade de conhecimento não pelo seu poder efetivo de nos dar uma visão clara da realidade, mas pelos subprodutos técnicos que tiramos dela e das vantagens econômicas que isso nos confere. No fim, tudo virou uma questão de dinheiro. E a justificação última da existência das ciências modernas é o dinheiro que elas produzem, não o conhecimento. Mas está embutida em todos esses processos a negação da sabedoria, o ódio à sabedoria; portanto a anti-filosofia. E olha, à medida que tomam esta direção, então a semente da corrupção já está lá dentro. (14) Agora, vocês imaginem o seguinte: todas as decisões de governo no mundo são escoradas em conhecimentos científicos. A autoridade, em última instância, é a

ciência. Mas, espere aí, a ciência já pirou, está maluca, não tem mais critério. Eu estou falando em notícias que me chegam, mas e a bibliografia que existe sobre a fraude e a confusão no mundo das ciências? Tem uma bibliografia imensa! Eu comecei a comprar livro sobre isso e falei: "vou parar, porque estou começando a ficar com medo." Você fica na mesma situação de quem está dentro de um avião pilotado por um sujeito bêbado, louco, tarado e que você não sabe o que vai fazer com o seu avião. A humanidade presente está assim. Mas por que que estamos numa época de tanto descontrole, onde tudo parece absolutamente incerto? Porque os camaradas encarregados de nos dizer o que é a realidade não têm a menor idéia do que ela é, não querem ter e treinaram para ignorá-la. Ou seja, eles estão investigando coisas extremamente complicadas, extremamente difíceis, que requerem muita atenção, muita exatidão e estão fazendo isso sem fundamento ontológico nenhum! Quer coisa mais perigosa do que isto?

Similar documents

AULA cof 53

Diego Villela - 105 KB

AULA cof 51

Diego Villela - 99.9 KB

AULA cof 50

Diego Villela - 93.7 KB

AULA cof 127

Diego Villela - 141.4 KB

AULA cof 40

Diego Villela - 79.9 KB

AULA cof 52

Diego Villela - 107.4 KB

Aula 1_Curso_A

Ana Paula Paulos - 280.2 KB

Aula - NR10

edson vale - 7.3 MB

Material Aula

ZeRø - 69.9 KB

aula-19-adm (1)

Rafael Ramalho - 3.5 MB

2.1 - Aula 1 (Material)

Feliphe Santos - 1.8 MB

Aula 09 - Josiane Minardi

Alda Laise - 1 MB

© 2024 VDOCS.RO. Our members: VDOCS.TIPS [GLOBAL] | VDOCS.CZ [CZ] | VDOCS.MX [ES] | VDOCS.PL [PL] | VDOCS.RO [RO]